1 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 2 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España DIRETORIA GERAL DA INTERCOM 2011 – 2014 Presidente - Antonio Carlos Hohlfeldt Vice - Presidente - Marialva Carlos Barbosa Diretor Editorial - Osvando J. de Morais Diretor Financeiro - Fernando Ferreira de Almeida Diretor Administrativo - José Carlos Marques Diretora de Relações Internacionais -Sonia Virginia Moreira Diretora Cultural - Rosa Maria Cardoso Dalla Costa Diretora de Documentação - Nélia Rodrigues Del Bianco Diretor de Projetos - Adolpho Carlos Françoso Queiroz Diretora Científica - Raquel Paiva de Araújo Soares Secretaria Maria do Carmo Silva Barbosa Genio Nascimento Mariana Beltramini Jovina Fonseca Direção Editorial Osvando J. de Morais Presidência Muniz Sodré (UFRJ) Alex Primo (UFRGS) Alexandre Barbalho (UFCE) Ana Sílvia Davi Lopes Médola (UNESP) Christa Berger (UNISINOS) Cicília M. Krohling Peruzzo (UMESP) Erick Felinto (UERJ) Etienne Samain (UNICAMP) Giovandro Ferreira (UFBA) José Manuel Rebelo (ISCTE, Portugal) Jeronimo C. S. Braga (PUC-RS) José Marques de Melo (UMESP) Juremir Machado da Silva (PUCRS) Luciano Arcella (Universidade d’Aquila, Itália) Luiz C. Martino (UnB) Marcio Guerra (UFJF) Margarida M. Krohling Kunsch (USP) Maria Teresa Quiroz (Universidade de Lima/Felafacs) Marialva Barbosa (UFF) Mohammed Elhajii (UFRJ) Muniz Sodré (UFRJ) Nélia R. Del Bianco (UnB) Norval Baitelo (PUC-SP) Olgária Chain Féres Matos (UNIFESP) Osvando J. de Morais (Intercom) Paulo B. C. Schettino Pedro Russi Duarte (UnB) Sandra Reimão (USP) Sérgio Augusto Soares Mattos (UFRB) Conselho Editorial - Intercom 3 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Manuel Fernández Sande Antonio Adami (orgs.) São Paulo INTERCOM 2012 4 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Ficha Catalográfica Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha = Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España [recurso eletrônico] / Organizadores, Manuel Fernández Sande, Antonio Adami. – São Paulo : INTERCOM, 2012. 788 p. Obra bilíngue. E-book. ISBN 978-85-8208-015-3 1. Comunicação – Pesquisa. 2. Comunicação – Aspectos políticos. 3. Comunicação – Aspectos sociais. 4. Comunicação Empresarial. 5. Comunicação Mediática. 6. Comunicação e Cultura. 7. Interações Mediáticas. 8. Ética na Comunicação. 9. Comunicação de Massa I. Sande, Manuel Fernández. II. Adami, Antonio III. Título. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Copyright © 2012 dos autores dos textos, cedidos para esta edição à Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM Direção Osvando J. de Morais Coordenação Editorial Elaine Nogueira Dias Manuseio de Originais Antonio Adami Manuel Fernández Sande Elaine Nogueira Dias Bruno Domingues Micheletti Projeto Gráfico e Diagramação Marina Real e Mariana Real Capa Marina Real Todos os direitos desta edição reservados à: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM Rua Joaquim Antunes, 705 – Pinheiros CEP: 05415 - 012 - São Paulo - SP - Brasil - Tel: (11) 2574 - 8477 / 3596 - 4747 / 3384 - 0303 / 3596 - 9494 http://www.intercom.org.br – E-mail: intercom@usp.br As informações, referências e imagens contidas nos textos apresentados neste e‐book, inclusive correções que sejam necessárias, são de inteira responsabili- dade de seus autores. 5 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Sumário Prefácio ........................................................................12 José Marques de Melo Prólogo .........................................................................16 Fernando Peinado-Miguel Apresentação ............................................................... 20 Antonio Adami Manuel Fernández Sande PARTE I Empresa e Multimídia / Empresa y Multimedia 1. El Fenómeno Multi-Mediático ................................. 32 José Ignacio Población Bernardo 6 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 2. O uso ferramental das novas plataformas midiáticas e suas implicações na empregabilidade dos profissionais de comunicação no Brasil. .............................................55 Jesuino Irineu Argentino Junior Maria Isabel Galvão de França 3. Aspectos da mídia terciária e suas interações no ambiente virtual ...................................................... 82 Giovanna Capomaccio 4. A ética na imprensa: desafios no exercício ético da profissão de jornalista no Brasil e na Espanha .................91 Elaine Nogueira Dias Bruno Henrique Bezerra Rebouças 5. Novos meios e novos formatos: a reinvenção da indústria da música no Brasil. .................................. 115 Ivaldo Moreira Svea Kroner 6. Disección analítica en tres planos de las empresas de comunicación. Propuesta metodológica y aplicación al caso de España ........................................ 133 María José Pérez Serrano 7. O pêndulo de um só lado – Breve panorama da posição ideológica da mídia na Espanha, América Latina e Brasil ...............................................154 Vinicius Souza 7 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España PARTE II Imprensa / Prensa 8. La Cocina en Papel Pasado y Presente del Periodismo Gastronómico Español ..............................179 Nuria Blanco Hernández 9. Análisis de los contenidos fotográficos de la revista Destino durante la II Guerra Mundial...............203 Rafael Cros López 10. Do “caos” ao equilíbrio: a mudança paradigmática do fotojornalismo analógico para o digital ...................227 José Alexandre Cury Sacomano 11. As representações midiáticas da presidente Dilma Rousseff no site do jornal El País ......................250 Carla Montuori Fernandes 12. Revista Realidade – marcas de um sucesso editorial nos anos 1966/1967 ......................................272 Talita Franco de Godoy Bruno César dos Santos 13. Quem tem medo de Carmen da Silva? Breve análise da militância feminista de Carmen da Silva nas edições da revista Realidade (janeiro e feveriro de 1967) .........................................293 Barbara Heller 14. Reflexões sobre o poder na cultura midiática ......... 314 Carla Reis Longhi 8 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 15. Raúl del Pozo, periodista y escritor ........................337 Eduardo Martínez Rico 16. La influencia de los factores políticos en la empresa periodística que edita prensa gratuita en la Comunidad de Madrid .......................................356 Víctor Núñez Fernández PARTE III Rádio / Radio 17. Explode a guerra civil no Brasil: O rádio nas trincheiras constitucionalistas de 1932 .........................370 Antonio Adami 18. Radio Musical en España ......................................402 David Álvarez 19. Génesis y evolución de la radio deportiva nocturna en España: 1982-2012 ..................................421 Antonio Arenas 20. “O Crime Não Compensa”, histórias da crônica policial paulista transmitidos pela PRB-9 Rádio Record com roteiros de Osvaldo Moles e Thalma de Oliveira .....................................................453 Bruno Domingues Micheletti Karen Cruz 9 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 21. El capital intangible como clave estratégica en la empresa radiofónica española: El caso de la Cadena SER .....................................................473 Miriam Rodríguez Pallares 22. PRISA Radio: la mayor red de radiodifusión dirigida a hispanohablantes ..........................................496 Laura Vallejo Romero PARTE IV Televisão e Cinema / Televisión y Cine 23. A (re) configuração do discurso cinematográfico no documentário brasileiro contemporâneo: filme-ensaio, opacidade e convergência das mídias .............................................. 517 Djair Brito Amorim 24. Medios de comunicación social confesionales: La televisión y la Iglesia católica en España .................539 Javier Fariñas Martín 25. Duopolio de Mediaset España y el Grupo Antena 3 ..........................................................568 Fernando García Chamizo 26. Retratos de “Gabriela” – um recorte cronológico/cultural na teledramaturgia brasileira sob o olhar da mídia ............593 Gláucia Jacuk Herman 10 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 27. Perspectivas sobre a conversação no telejornalismo ........................................................624 Fernanda Mauricio da Silva 28. Eça de Queirós na Rede Globo: objetos reconfigurados nas minisséries Primo Basílio e Os Maias ............................................646 Solange Wajnman PARTE V Educação e Comunicação / Educación y Comunicación 29. Futebol, política e identidade: a questão independentista na Catalunha e sua repercussão no Brasil e na Espanha ..............................670 Aurea Cardoso Elaine Nogueira Dias Bruno Domingues Micheletti 30. Estado de la comunicación en Brasil y España. Análisis comparativo ...................................................704 Manuel Fernández Sande Yolanda Román Morán 31. Símbolos e os Códigos da Comunicação: a semiótica de Vilém Flusser ........................................720 Michael Hanke 11 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 32. Principales factores que motivan cursar estudios de grado en comunicación en la Comunidad de Madrid: análisis del perfil de entrada de estos estudiantes 2010-2012 ........................................744 Fernando Peinado Miguel Miguel Angel Ortiz Sobrino María Dolores Rodriguez Barba 33. Cultura Digital, Felicidade e Entretenimento na Publicidade ............................................................769 Lucimara Rett 12 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Prefácio José Marques de Melo1 A cooperação e o intercâmbio Brasil-Espanha no campo da comunicação remontam aos tempos pós-autoritários, ou seja, ao declínio do getulismo e do franquismo (e seus pro- longamentos ou desdobramentos). Ou seja, à segunda meta- de do século XX, ainda que o calendário da redemocratiza- ção não seja cronologicamente coincidente, nas duas nações. Apesar disso, como já evidenciara previamente, “a com- paração Brasil/Espanha é importante para detectar as dife- renças em relação ao controle dos meios de comunicação e às saídas para conquistar a modernidade” (Marques de Melo, Comunicação Comparada: Brasil/Espanha (São Paulo, Loyola, 1990, p. 9). 1. Sócio-fundador e Presidente de Honra da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM 13 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Não deixa de ser curioso que essa tentativa de colabora- ção tenha sido deslanchada justamente quando a Espanha, pressionada pelo entorno democrático europeu, dava os pri- meiros passos para finalizar a gestão autocrática resultante da guerra civil. Enquanto os espanhóis assimilavam os precei- tos democráticos, os brasileiros claudicavam em sua aplica- ção, embalados pelos golpistas que provocaram o suicídio de Getúlio Vargas e tomaram as rédeas do poder em 1964. Interrompia-se desta maneira o interregno constitucional lastreado, em 1945, pelo clima democratizante do pó-guerra. Naquele momento, o aparato diplomático espanhol in- tensificava o trabalho de persuasão junto aos países ibero- -americanos, na tentativa de mudar a imagem do regime ali dominante, preparando o cenário para a transição polí- tica habilmente capitaneada pelo herdeiro imperial, D. Juan Carlos de Borbón, sucesssor do Generalissimo e fiador do Pacto de la Moncloa. Por isso mesmo, as relações acadêmicas entre os dois paí- ses não prosperaram, no campo comunicacional, limitando- -se a programas de mão única, simbolizado pela presença de jornalistas espanhóis ministrando cursos ou proferindo palestras em nossas emergentes escolas de comunicação. A mão dupla só se configurou no final dos anos 90, mo- tivada pela Constituição cidadã de 1988, que nos garantia liberdade de pensamento e de comunicação. Por sua vez, a Espanha experimentava situação política favorável, sob a égide de uma monarquia parlamentar, embora seus meios de comunicação, especialmente os audiovisuais, ainda esti- vessem fortemente monopolizados pelo Estado. De qualquer maneira, aos acadêmicos brasileiros interessa- va conhecer os fluxos da modernização espanhola, com seus contrastes regionais e suas peculiaridades culturais. Tal conjun- tura está explícita no meu livro Espanha: sociedade e comunicação de massa (São Paulo, Summus, 1990). As premissas da desejável 14 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España cooperação universitária ficaram delineadas na coletânea Ibero- -América: integração e comunicação (São Paulo,ECA-USP, 1990). Elas estavam emolduradas pelos avanços institucionais explí- citos nas escolas de comunicação dos dois países, cujas condi- ções materiais (infra-estrutura, laboratórios, insumos didáticos), bem como recursos humanos (massa crítica) eram suficientes para propiciar a cooperação. Desde então, inúmeros projetos interativos tem sido lan- çados. São poucos, no entanto, os que alcançam resultados satisfatórios, principalmente aqueles de natureza investigativa. As experiências mais bem sucedidas parecem ser inega- velmente as de pequeno porte, lideradas por pesquisadores jovens, ousados e competentes. Este é o caso do mutirão cognitivo, liderado por An- tonio Adami e Manuel Fernandez Sande, para esboçar um panorama da comunicação e da mídia nos dois países. Ainda que a intenção dos organizadores tenha sido com- parativa, a riqueza do material reunido pelos coordenadores está exatamente na liberdade concedida aos pesquisadores participantes para recortar a realidade de acordo com as suas motivações acadêmicas ou empresariais. Trata-se, portanto, de um mosaico desafiadoramente assimétrico, descortinando os objetos de pesquisa preferi- dos pelos acadêmicos de duas universidades distintas, cujo ponto de interseção reside na grandeza organizacional. A equipe espanhola está bem situada na principal uni- versidade pública do país – a Complutense de Madrid – herdeira do espólio acadêmico deixado pelas escolas profissionais do antigo Ministério da Informação, porém reciclado pela adesão nacional aos padrões educacionais da União Européia. Por sua vez, a equipe brasileira, beneficiada pela aderên- cia aos requisitos adotados pelo Ministério da Educação, move-se com agilidade, a partir das regras consuetudinárias 15 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España vigentes na maior instituição privada do nosso comple- xo de ensino superior – a Universidade Paulista. Herdeira da tradição supletiva do Cursinho Objetivo, a UNIP vem garantindo aos seus alunos desempenho excepcional nos concursos anuais ou exames vestibulares das universidades brasileiras. Ao difundir em e-book este manancial de experiências acumuladas nos dois lados do mundo ibérico, a INTER- COM presta relevantes serviços às novas gerações. Desta maneira, dá continuidade ao seu programa de intercâmbio Brasil-Espanha, iniciado em 1996 (Londrina - Paraná) e continuado nos anos seguintes, alternando cidades brasi- leiras (Manaus e Brasília) e espanholas (Santiago de Com- postela e Málaga). São Paulo, dezembro de 2012 16 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Prólogo Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Fernando Peinado-Miguel1 Es un momento realmente difícil para afrontar un estudio de estas características y que además facilite un mejor cono- cimiento sobre dos escenarios tan diferentes. Dos realidades unidas por la Comunicación. Y aún más, por la investigación. Tribunas abiertas para cuantos van a participar en esta obra, investigadores, docentes, profesionales de la comunicación y de la información de uno y otro país. Sugerencias que hacen posible acercar el presente y plantear las tendencias. Lo que ocurre y lo que va a pasar. Una suma de trabajos que han com- pilado los doctores Fernández Sande y Antonio Adami para que podamos apreciar desde esta panorámica como es el mer- cado de la comunicación en Brasil y en España. Todo un reto. 1. Investigador Responsable del Grupo de Investigación “MediaCom UCM” y Director del Departamento de Periodismo IV (Empresa Informativa): peinado@ccinf.ucm.es 17 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Con la ilusión y el sacrificio de cuantos apuestan con su primera investigación; con la paciencia y la esperanza de aquellos que depositan unos trabajos más, sabedores del poso que significa la labor bien hecha; con la motivación de quie- nes comprenden y creen en un proyecto nuevo como este. Y con la pluralidad que contempla el espacio recorrido por el conocimiento, ya sea en un libro en papel, ya sea en un e-book, cuando somos muchos los que colaboramos, desde muchos puntos de vista, con el interés de querer triunfar. Y en esa libertad de cada uno, defendemos todos lo que debe ser la ciencia. En esta ocasión y con el respeto que se tiene por el individuo, la parte este del Atlántico a la que re- presento tiene sentido gracias a la oportunidad de defender un acuerdo de colaboración entre dos grandes Universida- des: la Universidade Paulista y la Universidad Complutense. No quiero identificar a ninguna con el apellido del país al que pertenecen pues, además de conocido, el propio concep- to universal en donde se yuxtapone docencia e investigación implica ir más allá de límites geográficos. Desde la Universi- dad se llega al cielo del conocimiento, de la reflexión, que la Ciencia nos otorga para poder aportar a nuestras sociedades el juicio de la verdad. Y esto no tiene fronteras. Dos grandes Universidades cuyo acuerdo pretende rea- lizar investigaciones conjuntas, promover el intercambio de profesores e investigadores de ambas instituciones, de estu- diantes de postgrado, de material bibliográfico y colaborar en el desarrollo de cursos, seminarios, congresos, publica- ciones científicas y cuantas otras formas de colaboración se estime resulten de interés para la comunidad universitaria de ambas instituciones. Y en este ánimo por colaborar, se ha facilitado el en- cuentro de dos grupos de investigación: el Grupo de in- vestigación “Midia, Cultura e Memória” cuyo investigador responsable es el doctor Adami, y el Grupo “Research and 18 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Learning of Media and Communications Management/ Investigación y enseñanza de la Gestión de los Medios y de la Comunicación (MediaCom UCM) del que soy máximo responsable. MediaCom UCM cuenta entre sus integrantes con do- centes e investigadores de la UCM y de la Universidad de Málaga (UMA) además de doctorandos y colaboradores honoríficos profesionales en activo y con responsabilidades en el marco de sus empresas, todos ellos comprometidos con el proyecto. Desde MediaCom UCM se desarrollan diferentes líneas de investigación relacionadas con la Gestión de las Empresas de Comunicación y de los contenidos; los profesionales y la pro- fesión periodística; la credibilidad de los medios y la estructu- ra organizacional de las empresas informativas y la innovación educativa. Siempre con una filosofía que MediaCom contem- pla en favor de la investigación aplicada a mercados objetivos, ya sean los Ministerios del Gobierno de la Nación como Empleo, Economía y Competitividad, Fomento, Educación y Cultura, o de las administraciones autonómicas y locales. También se contemplan los Centros de Estudios Superiores de Posgrado, las Universidades Públicas y Privadas, nacionales e Internacio- nales, los departamentos de recursos humanos de empresas de comunicación, asociaciones profesionales, de editores, etc. Los orígenes del grupo están, precisamente, fundamen- tados en una investigación para el Ministerio de Ciencia e Innovación apoyada en el proyecto I+D+i CSO2008- 05125 (Análisis crítico del Sistema de Medios en España), y en diferentes proyectos OTRI, entre los que destaca el realizado conjuntamente con la Asociación Española de la Prensa Gratuita (AEPG) y el Ayuntamiento de Madrid ti- tulado “Análisis de la Prensa Gratuita en Madrid”. Acciones para mejorar y potenciar el sentido de la inves- tigación en un momento, como expongo al principio, muy 19 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España difícil para los mercados, para los medios, para los profe- sionales y para la Universidad en España. Es esta una etapa de sufrimiento en el Estado del bienestar. Es este libro un bonito detalle de colaboración y participación entre dos maneras de vivir. 20 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Apresentação A Pesquisa dos Grupos Mídia, Cultura e Memória e Mediacom UCM Antonio Adami1 Manuel Fernández Sande2 A obra Panorama da Comunicação e dos Meios no Brasil e Espanha (Panorámica de la comunicación y los medios en Brasil y España) é o resultado de uma colaboração entre os 1. Antonio Adami é Doutor pela FFLCH-USP, Pós-doutor pela PUCSP, com estágio de pesquisa na Universitat Autònoma de Bar- celona. É professor na Universidade Paulista (UNIP) e na Univer- sidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Realiza pesquisas no grupo “Mídia, Cultura e Memória”, cadastrado junto ao CNPq. Endereço eletrônico: antonioadami@uol.com.br 2. Manuel Fernández Sande (UCM) Profesor Doctor en la Facul- tad de Ciencias de la Información de la UCM - Departamento de Periodismo IV -. Coordinador del Grado de Periodismo de la Universidad Complutense de Madrid. Integrante de los grupos de investigación Mediacom UCM y Mídia, Cultura e Memória. ma- nuel.fernandez@ccinf.ucm.es 21 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España grupos de pesquisa “Mídia, Cultura e Memória” e “Media- com UCM” que se iniciou em 2011. Em um sistema eco- nômico globalizado resulta necessário impulsionar estudos comparativos internacionais que possibilitem uma análise conjunta da realidade e da estrutura dos meios de comuni- cação e de seus efeitos em nossas sociedades. Ambos os gru- pos de pesquisa cooperam no âmbito docente e de pesquisa com esse objetivo comum. Os estudos comparativos da co- municação e dos meios no Brasil e na Espanha permitem encontrar chaves de análises que ajudam a compreender a realidade do setor e suas complexas interações. O grupo “Mídia, Cultura e Memória”, cadastrado pelo CNPq é dirigido pelo professor Antonio Adami e tem ori- gem no programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Paulista. Nos últimos anos foram incorpora- dos pesquisadores de outras universidades brasileiras, portu- guesas e espanholas fazendo com que, hoje, o grupo tenha um caráter internacional. O livro Panorama da Comunica- ção e dos Meios no Brasil e Espanha supõe a cristalização dessa primeira fase de colaboração entre ambas as equipes. Na orientação desta obra coletiva prevaleceu o interesse de envolver a pesquisa em curso de mais de trinta autores – professores e alunos de mestrado e doutorado que per- tencem, ou de alguma maneira mantêm algum tipo de re- lação com estes grupos de pesquisa – através da publicação de vinte sete artigos, cuja leitura permite aproximar-se da realidade da comunicação e dos meios no Brasil e na Espa- nha. Tendo em vista que o objetivo principal era capturar as tendências das pesquisas desenvolvidas em ambos os gru- pos, no lugar de determinar os temas de pesquisa de cada autor, optou-se que cada autor propusesse aqueles trabalhos mais representativos dentro de suas linhas atuais de estudos. Portanto, com esta obra não se perseguia uma visão exaustiva ou mesmo sistemática das diferentes áreas de pesquisa que 22 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España podem suscitar a Comunicação Social, mas sim escolher um bom número de trabalhos produzidos por parte dos auto- res vinculados a ambos os grupos de pesquisa. Sem que esta abordagem impeça que o resultado, que evidentemente cabe ao leitor avaliar, constitua um corpo de trabalho rico e varia- do, oferecendo uma imagem bem elaborada da história e da realidade dos meios de comunicação no Brasil e na Espanha. A obra está estruturada em cinco grandes seções: Em- presa e Multimídia, que agrega os textos sobre as empresas informativas, os profissionais da comunicação e algumas das indústrias culturais; Imprensa; Rádio; Televisão e Cinema; e o último capítulo dedicado a diferentes trabalhos que analisam aspectos relacionados com a educação e a comunicação. José Ignacio Población Bernardo, catedrático de Empresa Informativa e atualmente vice-decano de Master y Docto- rado da Facultad de Ciencias de La Información de la Uni- versidad Complutense de Madrid, no capítulo “O fenómeno multi-midiático” oferece as chaves teóricas da configuração das empresas informativas como corporações multimídia. Jesuino Irineu e Maria Isabel França, ambos doutoran- dos da Universidade Paulista - UNIP, relatam de forma construtiva o uso ferramental das novas plataformas midi- áticas e suas implicações na empregabilidade dos profissio- nais de comunicação no Brasil, relacionando esses assuntos com as novas plataformas midiáticas. Giovanna Capomaccio, aluna de doutorado na UNIP, fornece um interessante estudo crítico sobre as novas for- mas de interação pessoal, condicionadas pelas novas tecnolo- gias da comunicação. A autora explica a evolução que experi- mentam nossas formas de relacionarmos nos ambientes virtuais que se caracterizam por um contato físico cada vez menor. Elaine Dias e Bruno Rebouças escrevem sobre a dimen- são ética e deontológica dos jornalistas no Brasil e na Espa- nha. A partir de uma análise comparativa das metodologias 23 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España de trabalho dos profissionais nos dois países. Os autores ma- nifestam a necessidade de que a ética e o rigor profissional devem ser instituídos como elementos garantidos em sua importante função social. Ivaldo Moreira e Svea Kroner aprofundam-se na situ- ação da indústria musical no Brasil desde uma perspecti- va histórica. Os novos sistemas de distribuição gerados na Internet e seu impacto na transformação nos modelos de negócio do setor são alguns dos temas tratados neste artigo. A professora da Universidad Complutense de Madrid e integrante do grupo Mediacom, María José Pérez Serrano, propõe um modelo de estudo da empresa de comunicação, a partir da análise PEST – que inclui os fatores político-legal, econômico, social e tecnológico – permitindo um melhor aproveitamento das oportunidades da empresa no mercado. O doutorando da Universidade Paulista - UNIP e pro- fessor do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da ECA-USP, Vinicius Souza, tra- ça em seu artigo um breve panorama histórico e compa- rativo das posições ideológicas dos grandes conglomerados midiáticos na Espanha e na América Latina, com destaque para o Brasil e os novos meios digitais. A seção dedicada à imprensa começa com um traba- lho da pesquisadora da Universidad Complutense, Nuria Blanco. Seu capítulo nos oferece um repasso completo pela evolução da informação gastronômica na Espanha. A gas- tronomia constitui um ramo de especialização jornalística que vive um período de particular esplendor. Seus conteúdos ganham espaço nos diários de informação geral e é constante a aparição de numerosas revistas dedicadas a esta temática, apesar da crise que sofre o mercado impresso na Espanha. Rafael Cros López, doutor em Jornalismo pela Univer- sidad Complutense, especialista no tratamento fotográfico da II Guerra Mundial, na imprensa espanhola, revisa o papel 24 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España da revista catalã ‘Destino’ – uma das mais importantes da época – na informação desse conflito bélico internacional. O brasileiro José Alexandre Sacomano, aluno de dou- torado na Universidade Paulista, fotojornalista, centraliza sua pesquisa na profunda transformação que experimentou o fo- tojornalismo na mudança da era analógica para a era digital. O capítulo indica as mudanças que ocorreram tanto na forma de produzir, como na de consumir as fotografias na imprensa. A professora Carla Montuori Fernandes, doutora em Ciências Políticas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pesquisa o tratamento informativo que a versão digital do jornal El País realizou sobre o pri- meiro mandato da presidente do Brasil, Dilma Rouseff. Talita Godoy e Bruno dos Santos, fornecem um estudo his- tórico da revista brasileira Realidade, que teve um importante êxito no mercado brasileiro, no final da década de 1960. O texto mostra algumas das causas deste sucesso editorial e também os fatores que influenciaram a crise e posteriormente o fechamen- to da revista que alcançou uma tiragem de 470 mil exemplares. A doutora Barbara Heller, representando a Universidade Metodista e Universidade Paulista – UNIP, apresenta uma intrigante discussão sobre a militância feminina, utilizando como objeto de pesquisa, uma das principais formadoras de opinião nas décadas de 60 a 80 no Brasil, a jornalista Carmen da Silva. Neste artigo, ela demonstra de forma elu- cidativa a participação e posicionamento político na revista Realidade. As características e a importância da revista tam- bém são tratadas no artigo, uma vez que Carmen da Silva inaugurou o chamado “novo jornalismo” no Brasil, con- tando com uma equipe inicial de esquerda, numa editora como a Abril, cujas relações com o poder autoritário e com o capital estrangeiro já vinham sendo denunciadas. Carla Reis Longhi, doutora em História Social pela USP, professora titular do programa de Pós-Graduação em 25 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Comunicação da Universidade Paulista e professora do De- partamento de História da PUC-SP propõe uma reflexão sobre o poder dentro do contexto midiático através da aná- lise do jornal Folha de S. Paulo. A autora utiliza como base as reflexões de Michel Foucault, Hannah Arendt, Bragança de Miranda, entre outros, sempre ponderando sobre as ca- racterísticas e modos de constituição do poder, dentro da lógica midiática. Eduardo Martínez Rico, doutor em Filologia pela Uni- versidad Complutense, oferece uma análise da personali- dade e obra de um dos colunistas mais prestigiados da im- prensa espanhol: Raúl del Pozo. O capítulo aprofunda-se na relação entre jornalismo e literatura, sempre presente em cada um dos seus artigos; o estudo do seu estilo e um passeio por alguns de seus principais textos. O texto forne- ce a visão mais completa que se escreveu até o momento sobre este jornalista e escritor espanhol que assina cada dia a contracapa do diário ‘El Mundo’. Víctor Núñez, doutor em jornalismo pela Universida- de Complutense, professor na Universidad a Distancia de Madrid - UDIMA - e diretor Geral da AEPG – Associação Espanhola de Imprensa Gratuita –, realiza um certeiro diag- nóstico do setor da imprensa gratuita. Um dos setores que sofrem com maior dureza a crise do investimento publici- tário, uma recessão que inclusive ameaça a viabilidade da imprensa gratuita na Espanha. O trabalho concentra-se na influência de diferentes fatores políticos e na evolução des- te tipo de imprensa na comunidade Autônoma de Madrid. A rádio foi um dos meios mais abordados pelos pesquisa- dores participantes desta obra. Antonio Adami, Doutor pela FFLCH-USP e pós-doutor pela PUCSP, com estágio de pesquisa na Universitat Autònoma de Barcelona e fundador do Programa de Pós-Graduação da UNIP e pesquisador do grupo de pesquisa “Mídia, Cultura e Memória”, fala 26 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España sobre o papel da PRB-9 Rádio Record e seus principais atores durante a Revolução Constitucionalista que eclodiu no Brasil em 1932, impulsionada pelos paulistas contra o regime ditatorial de Getúlio Vargas. David Álvarez, estudante de doutorado, com mestrado em Jornalismo pela Universidad Complutense de Ma- drid e profissional da Máxima FM – uma das principais redes musicais pertencentes a Prisa Rádio –, analisa a situação da rádio musical na Espanha. Além de descrever a oferta existente, indica algumas das tendências de fu- turo que se percebe nesta parte do mercado radiofônico que atinge mais de 50% da audiência e do faturamento publicitário do setor. Antonio Arenas, doutor em Jornalismo pela Complu- tense, professor na Universidad a Distancia de Madrid - UDIMA - e profissional da Rádio Marca, dedica seu ca- pítulo a análise dos programas radiofônicos esportivos que, desde os anos 1980, dominam a programação noturna da rádio convencional na Espanha. As origens, o desenvolvi- mento e as razões da atual estagnação da audiência destes tipos de ‘revistas’, são abordados ao longo deste texto. Bruno Micheletti e Karen Cruz, realizam uma pesquisa que se enquadra nos trabalhos sobre a história do meio ra- diofônico, uma das principais linhas de trabalho do grupo “Mídia, Cultura e Memória”. O objeto de estudo neste capítulo foi o programa “O crime não compensa”, trans- mitido pela PRB-9 Rádio Record de São Paulo, a partir do final dos anos 1940 e que permaneceu no ar por mais de uma década. O programa tinha os roteiros escritos pelos radialistas Osvaldo Moles e Thalma de Oliveira, sendo de grande interesse histórico pelo que representou o gênero da crônica de sucessos na rádio brasileira. Miriam Rodríguez Pallares, pesquisadora do grupo Me- diacom UCM aborda um estudo de caso sobre o modelo 27 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España de gestão de conteúdos. A autora expõe neste trabalho o impacto que uma gestão correta deste ativo intangível pode ter nos resultados econômicos das empresas radiofônicas. Laura Vallejo, estudante de doutorado da Universidad Complutense, analisa a expansão internacional do grupo Prisa Rádio. O texto permite que conheçamos melhor este grande projeto radiofônico, a partir do estudo desta rede de emissoras, da gestão de diferentes marcas e da análise de sua estrutura organizacional, assim como da evolução de suas estratégias nos últimos anos. A Televisão e o cinema são os temas das pesquisas abor- dadas, pelos artigos que estão inclusos na quarta parte do livro. Djair Amorim, aluno de doutorado da UNIP, escreve sobre a configuração do discurso e a narrativa cinemato- gráfica no cinema documental-informativo brasileiro no século XXI. O autor expõe a importante influência que as novas tecnologias tiveram na evolução deste gênero cine- matográfico. Javier Fariñas, professor da Universidad CEU San Pablo e doutor em Jornalismo pela Universidade Complutense, analisa os diferentes projetos impulsionados pela Igreja Ca- tólica no mercado televisivo espanhol. A presença dos con- teúdos religiosos nos meios de informação. O antecedente da Popular TV e a atual estratégia da 13 TV, são alguns dos conteúdos desenvolvidos neste capítulo. Fernando García Chamizo, doutor em Jornalismo pela Universidad Complutense de Madrid, oferece um diagnós- tico do mercado da televisão privada, na Espanha, a partir da concorrência entre dois grandes grupos: Mediaset Espa- nha e o grupo Antena 3 TV, além dos diferentes processos de fusão desenvolvidos no setor nos últimos anos. Gláucia Jacuk Herman, doutoranda na UNIP, apresenta uma excelente prévia de sua tese de doutorado ao nos pre- sentear com o artigo: Retratos de “Gabriela” – um recorte 28 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España cronológico/cultural na teledramaturgia brasileira sob o olhar da mídia, tecendo uma abordagem comparativa entre as duas “Gabrielas” da Rede Globo - 1975 e 2012 -, assinalando as aproximações e os distanciamentos através da apreciação da mídia ao tratar de um “remake” que resgata uma das persona- gens femininas mais emblemáticas da literatura e da teledra- maturgia nacional. A professora do programa de Pós-Graduação em Comuni- cação da Universidade Paulista – UNIP, Fernanda Mauricio da Silva, doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia, traz uma importante refle- xão sobre o relevante papel da conversação no telejornalismo e sua relação com a audiência no Brasil. Solange Wajnman, Professora do programa de Pós-Gra- duação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP, Doutora em Sciences Sociales pela Sorbonne, faz um paralelo das obras do autor Eça de Queirós na TV brasileira Rede Glo- bo, a partir de objetos reconfigurados nas minisséries Primo Basílio e Os Maias. O artigo trata da reconstrução da narra- tiva de Eça de Queiróz para minisséries na Rede Globo de televisão do ponto de vista da reconfiguração de objetos e o estudo da materialização dos objetos do cenário e figu- rino do século XIX, com um século de distância e em um suporte diferente daquele do livro. A quinta e última parte do livro agrupa diferentes tra- balhos, dedicados a comunicação corporativa e a forma- ção dos profissionais. Áurea Cardoso, Elaine Dias e Bruno Micheletti, participantes do grupo “Mídia, Cultura e Me- mória”, estudaram a relação existente entre a política e o futebol, a partir da causa independentista Catalã e sua re- percussão nos meios de informação da Espanha e do Brasil. Manuel Fernández Sande, professor doutor e coordena- dor do curso de graduação em jornalismo da Universidad Complutense de Madrid e integrante dos grupos de pesquisa 29 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España “Mediacom UCM” e “Mídia, Cultura e Memória” e, Yolan- da Román, estudante de doutorado na Universidad Com- plutense e consultora especialista em comunicação, oferecem uma visão comparativa do estado da comunicação corpora- tiva na Espanha e no Brasil, a partir de diferentes pesquisas publicadas nos últimos anos. Michael Hanke, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, trata da obra de Vilém Flusser e escreve que esta abrange uma grande variedade de temas, entre eles, a semiótica, influenciada entre outros por Aris- tóteles, Ernst Cassirer, Edmund Husserl e Umberto Eco. O artigo apresenta ainda, uma sistematização conceitual do tema da semiótica em Flusser no contexto da teoria da comunicação a partir da obra publicada e dos artigos não publicados “Como ler sintomas e Códigos”. A Professora Lucimara Rett, pesquisadora do grupo “Mídia, Cultura e Memória”, doutora em Comunicação pela UMESP e professora da UFRJ, apresenta uma ana- logia entre Cultura Digital, Felicidade e Entretenimento na Publicidade. A convergência das mídias e a cultura di- gital são fatores que vêm influenciando o posicionamento e transformando a comunicação das marcas. Este estudo exploratório compila algumas ações recentes, de 2009 a 2011, da Volkswagen – The Fun Theory do McDonald’s – Piccadilly Circus e Playland, da Coca-Cola – The Real Life Like e Máquina da Felicidade, e da Nike - Umbabarauma, a fim de propiciar uma reflexão acerca das tendências na co- municação publicitária e a utilização criativa de pontos de contato alternativos, que complementam ou não, campa- nhas de comunicação veiculadas nos meios convencionais. Os professores da Universidad Complutense e membros do grupo de pesquisa “Mediacom UCM”: Fernando Pei- nado – diretor deste grupo –, Miguel Ángel Ortiz Sobrino e Dolores Rodríguez Barba, oferecem os resultados de uma 30 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España pesquisa iniciada em 2010, sobre os principais fatores mo- tivacionais que impulsionam aos alunos de jornalismo, co- municação audiovisual e publicidade a escolher estes cursos nas Universidades espanholas. Esta obra, editada pela Intercom, constitui um passo im- portante no desenvolvimento de um trabalho conjunto dos dois grupos de pesquisa, que pretendem desenvolver linhas de pesquisa interdisciplinares que contribuem ao intercam- bio de conhecimentos e experiências. Esta colaboração entre os pesquisadores brasileiros e espanhóis, sem dúvida, permite o enriquecimento das respectivas visões científicas sobre a comunicação social. A leitura completa deste livro permite uma boa aproxi- mação da realidade tão distinta que, na atualidade vivem os meios e o setor da comunicação em ambos os países. Além de representar um bom reflexo de alguns dos temas que suscitam um maior interesse dos pesquisadores das diferen- tes Universidades espanholas e brasileiras participantes. 31 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España PARTE I. EMPRESA E MULTIMÍDIA/ EMPRESA Y MULTIMEDIA 32 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 1. El Fenómeno Multi-Mediático José Ignacio Población Bernardo1 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Madrid, España Resumen Resulta necesario manejar una serie de fundamentos teóricos que permitan un conocimiento científico de la empresa informativa. El presente texto conceptualiza la función de la empresa en general y la empresa informativa en particular, identifica las principales características pre- sentes en las empresas multimedia que hoy dominan nues- tros mercados, define la personalidad jurídica de las empre- sas propietarias de los medios de comunicación, y se analiza su relación con el sistema social y cultural, en especial el 1. José Ignacio Población Bernardo, catedrático de Empresa Informa- tiva de la Universidad Complutense de Madrid y vicedecano de Master y Doctorado de la Facultad de Ciencias de la Información de la UCM. Correo: jipobla@ccinf.ucm.es 33 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España impacto que su interés por conseguir el máximo beneficio posible tiene en el pluralismo informativo. Palabras clave: Empresa informativa, comunicación mul- timedia, información, economía de la información. 1. Evolución Científica del concepto de Empresa Informativa El origen de la empresa está íntimamente ligado a la propia naturaleza del ser humano, cuya razón le impele a hallar una solución al problema de sus necesidades habida cuenta del hecho de la escasez de bienes capaces de satis- facerlas. La Historia de nuestra Civilización nos demuestra que, mediante la combinación de su propio trabajo y el descubrimiento de ciertas leyes naturales y técnicas más o menos rudimentarias, obtiene parte de lo que necesita para él mismo y para su familia, pero aún así no obtiene todo cuanto desea. Ahora bien; de no ser el hombre un animal social racional, nunca estaría en situación de descubrir que lo que le ocurre a él mismo, le ocurre también a sus seme- jantes: todos ellos trabajan, todos disponen de unas técnicas determinadas, todos obtienen algunos bienes que necesitan, pero no todos los bienes que necesitan para satisfacer todas sus necesidades. Sin embargo, observa enseguida dos hechos importantes: que ciertos bienes son obtenidos con más facilidad que otros y que de los que él obtiene, parte le sobran porque su fa- milia no los consume totalmente. Naturalmente la facilidad o dificultad en la producción depende de un conjunto de circunstancias por completo ajenas a su voluntad y así quien al lado de ríos o mares se hace pescador, y quien habita cerca de un bosque se hace cazador. Transcurrido cierto tiempo, 34 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España un observador imparcial constataría un hecho aparentemen- te inexplicable: que el cazador, aunque no pesca, consume pescado y que el pescador, aunque no caza consume carne. ¿Qué ha ocurrido? Sencillamente que el cazador y el pes- cador se han encontrado; se han percatado de que sus bienes eran valiosos para ambos y se los han cambiado de modo que después de este cambio los dos consumen carne y pescado. Conviene, pues, a ambos seguir obteniendo pescado y carne siempre y cuando exista un proceso de cambio que facilite la transmisión de los dos bienes de nuestro ejemplo. Ahora podemos ampliar este sencillo ejemplo estable- ciendo que son muchas las familias que actúen del mismo modo; muchos, por lo tanto, los bienes que obtienen y tam- bién los intercambios que les permiten cambiar el sobrante, de modo que al final todos disponen de muchos bienes, aunque únicamente hayan obtenido uno, pues el denomi- nador común es la utilidad, o capacidad que tiene un bien para satisfacer una necesidad humana. Se comprende fá- cilmente que una familia dispondrá de tantos más bienes, cuanto más disponga de aquel en cuya producción se ha especializado, de modo que ideará el modo de incremen- tar dicha producción en función del nivel tecnológico que existe en ese momento y de su capacidad de trabajo. En definitiva, y ante el problema de la escasez y la incapacidad de obtener todos los bienes que se necesi- tan `para la satisfacción de las necesidades, la familia ha creado una empresa o unidad económica de produc- ción. Es éste, pues el primer elemento esencial que nos permitirá formular el concepto de empresa. La unidad económica de producción aparece, pues, en el seno de una institución que es la familia, por lo tanto es también una institución y en la medida que en ella coexis- ten elementos independientes relacionados entre sí para la obtención de un fin concreto también es un sistema. En este 35 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España sentido, nos convendría tener una noción clara de lo que se entiende como Sistema y de las muchas definiciones que se han hecho seleccionar aquellas que resultan más adecuadas a la naturaleza de la empresa2. Tras analizar las diferentes definiciones creemos que la que más se adecua a la realidad de la empresa es aquella que define un sistema como Conjunto de elementos interrelacionados y regidos por normas propias, de modo tal que puedan ser vistos y analizados como una totalidad y que se organicen de modo que pue- dan producir efectos determinados y funciones diversas. La aparente impersonalidad de la anterior definición desparece en cuanto nos damos cuenta de que tras el ver- bo organizar se encuentra siempre un ser inteligente y que en el concepto de elemento cabe perfectamente la defini- ción de persona humana: Naturaleza racional con sustancia individual, que alcanza su perfección mediante el roce con sus semejantes. Así pues, la empresa no es un sistema me- cánico, en el cual el ser humano es un elemento más, sino que es éste quien lo crea, quien lo controla y quien dicta las normas de funcionamiento. En cierto modo, la consideración de que la empresa es un sistema similar a cualquier otro ha sido una con- secuencia de formas de pensamiento relativamente mo- dernas y más concretamente una consecuencia del ex- 2. En su sentido más genérico, Sistema es un conjunto de elementos organizados que interactúan entre sí y con su ambiente para lograr objetivos comunes, operando sobre información, sobre energía ma- teria u organismos para producir como salida información, energía, materia u organismos. La amplitud de esta definición permite apli- carla en multitud de campos científicos, desde la Física a la Geo- grafía, o desde la Literatura a la Economía. Así por ejemplo: En Física es un sistema “todo conjunto de elementos que interactúan para producir un resultado. En Geografía, es sistema un conjunto de montañas y así sucesivamente. 36 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España pansionismo, la Teleología y la Lógica de síntesis aplicada precisamente a los sistemas.3 Según el expansionismo todos los sucesos y experiencias forman parte de conjuntos más amplios y aunque puedan descomponerse en partes esenciales el expansionismo se cen- tra sobre todo en el análisis de los conjuntos formados por ellas a los que formalmente se les denomina sistemas. Estruc- turalmente un sistema puede dividirse en partes pero funcio- nalmente es indivisible, puesto que si se realiza ésta operación se pierde algunas de sus propiedades esenciales. En este or- den de ideas cabe asegurar que la empresa se configura ante todo como un sistema porque es una organización cuyo carácter es finalista al permitir la elección tanto de medios como de fines, pero no es indivisible en sí mismo al no ser puramente mecánico sino racional. Es abierto, porque de forma constante se está relacionando con su entorno, el cual a su vez influye constantemente en su organización y funcio- namiento pero esta propiedad no es consecuencia del sistema mismo, sino de la naturaleza de su principal elemento: el ser humano. El entorno es influenciado por dicho ser humano, en tanto que forma parte de la empresa y el todo no es supe- 3. El método de pensamiento denominado reduccionismo se basa en la idea de que cualquier tratamiento científico de una cuestión exige su reducción a elementos simples, indivisibles y que no requieran ninguna explicación para ser comprendidos por la mente humana. El método denominado analítico consiste en la descomposición de una realidad digna de ser estudiada aislándola previamente de su en- torno y descomponiéndola luego en partes individuales que se es- tudian con independencia de todas las demás para después volverlas a unir y explicar racionalmente el conjunto. La denominada lógica causal utiliza como razonamiento exclusivo la relación causa-efecto en la explicación de los fenómenos y asegura que si una cosa o su- ceso es causa de otra cosa o suceso, ésta era el efecto de la primera y causa a su vez de otras. 37 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España rior a cada una de sus partes, en la medida de que una de ellas es precisamente el ser humano, que presta sus características al sistema mismo haciéndolo así racional. Cualquier influen- cia sobre uno o varios de los elementos que se integran en la actividad empresarial repercute sobre los demás y sobre el conjunto y está autorregulado y autocontrolado debido a que, dentro de la propia empresa, se originan fuerzas suficien- tes como para mantenerlo en funcionamiento, haciendo así que crezca y se desarrolle de un modo continuo. Las anteriores razones configuran el concepto de em- presa como unidad económica de producción de bienes econó- micos y sistema institucional que sirve para la satisfacción de las necesidades humanas. Dichas necesidades, aunque son individuales, se ponen de manifiesto a través de lo que los economistas llaman demanda a la que la empresa da respuesta ofreciendo bienes útiles. Tal respuesta exige, como ya se ha dicho, que se pon- gan en marcha un conjunto de iniciativas capaces de obtener aquellos bienes o servicios demandados y así primero será necesario hacer que los denominados factores de la produc- ción se reúnan, después será preciso ordenarlos en función de una o varias tecnologías que les permitan producir y en todo momento tendrán que ser controlados y dirigidos para que dicha actividad productiva se mantenga a lo largo del tiempo, porque la actividad empresarial tiene que mantenerse toda vez que las necesidades humanas también se mantienen. Así pues, y en si misma, la empresa requiere el trabajo de alguien: el empresario, concebido siempre en el sentido económico y no en sentido jurídico. Por otro lado su problemática es muy compleja, pues desarrolla su actividad en el seno de un determinado orden social sobre el que influye y por el que a su vez es influi- da. Quiénes aportan trabajo al proceso de producción son hombres y éstos poseen derechos y obligaciones estando 38 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España además sometidos a leyes físicas y sociales. Los procesos técnicos necesarios para la producción de los bienes tam- bién están sometidos a leyes científicas que evolucionan sin cesar, etc. Por consiguiente un estudio completo de lo que son las empresas exige la consideración de aspectos muy variados. Económicos y sociales, desde luego; pero también sociales, laborales, técnicos, jurídicos y hasta psicológicos. Concebida la empresa informativa como unidad de pro- ducción e institución social libremente dirigida por el em- presario para la producción de informaciones, ideas juicios y opiniones sobre hechos noticiables con el fin de obtener el beneficio máximo, posible y lícito” es obvio que su crea- ción se ha debido a la existencia previa de demanda y de un cierto nivel tecnológico. Sin perjuicio de que tratemos más adelante y con cierto detenimiento la cuestión del con- cepto de empresa multimedia informativa, estas precisiones previas no las creemos ociosas. En cuanto al concepto de Empresa multimedia, hemos de indicar que si bien es posible perfilarlo, es imposible am- pliarlo a los denominados “Grupos multimedia” porque, en primer lugar, las uniones jurídicas se realizan entre empre- sarios, no entre empresas y, en segundo, porque al ser éstas “unidades de producción”, solo tienen sentido como tales y no como “grupos productivos”. La misma palabra “multimedia” ha de ser interpretada en su exacto sentido: del latín multi, que significa numeroso, y de media, plural de médium, que significa intermediario. De modo que multimedia será lo que se expresa, transcribe, o percibe a través de varios medios. Aplicado el término a la empresa, es obvio que los medios son de comunicación y es en este sentido en el que cabe hablar de “empresa de co- municación multimedia”, más que de empresa informativa multimedia, porque solo en el caso de que los medios de comunicación se configuren expresamente para informar 39 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España puede hablarse con `propiedad de “Empresa informativa multimedia”. La distinción entre lo que es comunicación y lo que es información resulta importante para la correcta inter- pretación de lo que se entiende como empresa informa- tiva multimedia. Nos daremos cuenta entonces de que la tradicional Empresa Informativa sólo es un caso particular de empresa de comunicación. La simple yuxtaposición de medios de comunicación da origen a diversos productos que no tienen que ser necesariamente informativos, por- que no hay razón alguna que justifique una relación de tipo informativo entre todos ellos. No debemos confun- dir, además “yuxtaposición de medios” con “yuxtaposición de empresas” porque, como hemos dicho, las empresas no pueden yuxtaponerse sin dejar de ser empresas ni tampoco unirse, al no ser sujetos de Derecho. Por lo tanto tampoco puede hablarse de “integración multimedia”, ni desde el punto de vista meramente comunicativo, ni desde la óptica informativa, ni desde la vertiente del Derecho. Existen notables dificultades a la hora de determinar los elementos esenciales de la comunicación multimedia, sin que quepa en este sentido admitir como esenciales las condiciones tecnológicas que se requieren para conseguir la comunicación. La tecnología digital, desde luego, es una condición instru- mental imprescindible para elaborar y hacer circular conte- nidos comunicativos, pero esa condición no forma parte de la esencia del concepto, como tampoco forma parte de ella la denominada interactividad debido a que el consumidor del producto adopta muchas veces una actitud completamente pasiva ante el mismo, pues solo el creador del producto decide realmente el modo en que en dicho producto se conjugan contenidos textuales y audiovisuales , siendo la única decisión soberana del consumidor la de i acceder o no al producto. En cambio, lo verdaderamente esencial en el producto 40 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España multimedia es la integración sincrónica y unitaria de conte- nidos - informativos o no -, expresados en diversos códigos como son textos, imágenes, sonidos, etc.; pero además dicho producto debe ser unitario ya que no existiría mensaje de no existir una armónica combinación de estos códigos. En efecto: Si accedemos por separado, a un texto, a un video o a un sonido no hay mensaje multimedia, pues en definitiva estamos en el mismo caso de cuando leemos, la prensa, escuchamos la radio o vemos la televisión. Es cierto que en este último caso se utilizan diversos códigos, pero aunque aparezcan armónicamente unidos no conforman por sí mismos una unidad de comunicación. Siguiendo ahora al Profesor Salavarría4 (Salavarría, 2001), diremos que la expresión multimedia es la cualidad de la que gozan algunos productos de índole comunica- tiva para armonizar diversos elementos comunicativos, que se relacionan entre sí a través de modos o códigos di- ferentes. Aunque el citado profesor se limita a aplicar esta definición a productos y elementos de índole informativa, creemos que nada se opone a que los ampliemos habida cuenta que la información no es sino un caso particular del fenómeno comunicativo. 2. Consecuencias del fenómeno multi-mediático en las Empresas Informativas Es un hecho más que evidente que las actuales tecno- logías de la comunicación se han extendido a todo tipo de empresas, de modo que en cierto modo existe actualmente 4. Cfr: SALAVARRÍA, R: Aproximación al concepto de multimedia desde los planos comunicativo e instrumental. 41 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España una comunicación universal y por lo tanto la utilización masiva y global de una tecnología de naturaleza comu- nicativa, que por este hecho deja de ser un elemento de especificidad en las empresas informativas. La necesidad de explicar la diferencia entre los términos especial y específico se debe a que, siendo la empresa infor- mativa unidad lucrativa de producción de información, no podía ser especial porque eso significaría que se diferen- ciaba de otras empresas, lo que quizá condujera a la equi- vocada conclusión de que si las empresas informativas eran especiales requerían un tratamiento especial, cosa incon- cebible en un sistema económico de libre mercado sin el cual, además, no puede concebirse empresa alguna. (Pobla- ción y García Alonso, 1997) En cambio, las empresas infor- mativas son específicas porque poseen unas características que las distinguen, claramente y en tan alto grado de otras unidades económicas de producción que merecía la pena estudiarlas como caso particular. Entre los factores de espe- cificidad figuraba el de poseer una tecnología de naturaleza comunicativa, que podía configurarse para informar, dando origen así a empresas de prensa, de radio, y de televisión. Pues bien, el fenómeno multi-mediático ha hecho des- aparecer ese factor de especificidad porque las tecnologías de la comunicación, no solo las poseen la práctica totalidad de empresarios, sino también los particulares, que pueden elaborar su propia información a partir de terminales como el teléfono móvil o el ordenador personal. Esto significa, ni más ni menos, la posibilidad de elaborar información sin empresas informativas de corte tradicional. Afortunadamente los otros factores de especificidad si- guen existiendo, ya que la información es el máximo expo- nente de la libertad de expresión; sigue siendo objeto mate- rial y formar de una Ciencia; la naturaleza del factor trabajo goza de las propiedades de ser genuino, original profesional 42 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España y creativo y el empresario busca la obtención del beneficio y el máximo grado de difusión de los contenidos. No obs- tante, las tradicionales empresas informativas de prensa, radio y televisión al transformarse en muti-mediáticas sólo serán informativas en la medida en que utilicen sus tecnologías para informar en lugar de hacerlo para hacer circular otros productos. La idea de informar es, pues, factor determinante en cuanto a la naturaleza de la empresa multimedia y como dicha idea corresponde a los dueños promotores de la mis- ma, viene a resultar que la importante función de informar está en manos del capital ya sea privado o público. En las condiciones anteriores el peligro de la manipu- lación de contenidos es muy grande, porque no es lógico suponer que el capital deje de defender sus intereses en aras de una solidaridad que, en la filosofía relativista, se predi- ca pero raras veces se practica con el ejemplo. En lo que respecta a empresas informativas de titularidad pública, la tentación de influir en la opinión pública a través de in- formaciones parciales es tan grande que la ciencia justifica la interposición de un estatuto, aún estando en un sistema económico de libre competencia. En realidad, sólo el im- perio de la Ley y sobre todo la deontología del profesional de la información pueden evitar esta manipulación. Otra consecuencia que creemos necesario comentar es la posibilidad de que un empresario dirija al mismo tiempo empresas de comunicación, configurando algunas de ellas para informar pero confiriendo a otras misiones que no tie- nen nada que ver con la información. El concepto científico de empresario es oscuro, ya que a menudo se confunde con el concepto de promotor o dueño de la empresa y así la cuestión de la globalización se complica extraordinariamen- te, pues se atribuyen a los empresarios funciones que no tie- nen y una vez más los intereses del capital se esconden bajo ropajes jurídicos, que encubren ante la opinión pública su 43 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España enorme poder. Recordamos, en este sentido, que una Socie- dad Anónima es un empresario jurídico y que las personas físicas que en ella ejercen funciones empresariales lo hacen según poder notarial, reciben por su trabajo un sueldo y no un beneficio, y que ésta última retribución corresponde al capitalista o dueño de la empresa. Ahora bien; como en la mayoría de las empresas de comunicación sus empresarios son sociedades anónimas, la formación de los grandes grupos multimedia podría atri- buirse como una de las funciones que ciertas personas físi- cas ejercen en nombre del tal empresario jurídico, que en realidad no existe. La identificación instintiva que hacemos entre el capitalista y el empresario facilita mucho las cosas, ya que el promotor queda difuminado por el ropaje jurí- dico al que antes aludíamos y así, aunque parece que no decide, lo hace, y aunque parece que no interviene en la toma de decisiones, no hay decisión en la que no participe. La cuestión se complica aún más si consideramos que, a través de la Bolsa, pueden adquirirse acciones de todas las sociedades anónimas que en ella se compran o se venden de parecida manera a lo que ocurre en cualquier mercado. En los procesos de concentración empresarial, la actividad bursátil es muy intensa, aunque raras veces trasciende al gran público, que conoce en el mejor de los casos sus re- sultados, pero en casi ninguno su verdadero alcance. Aparte de la Bolsa, el instrumento legal por excelencia, verdadero esqueleto y soporte del sistema capitalista o neo-liberal es la Ley de Sociedades Anónimas, que entre otras cosas permite ampliaciones de capital, absorciones, fusiones, creación de empresarios interpuestos, etc. Si ponemos un ejemplo quizás lleguemos a entender dicho alcance. En España todo el mundo conoce al empre- sario denominado EL PAÍS, S.A. porque cada día aparece un periódico que lleva ese nombre y que los ciudadanos 44 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España identifican con la empresa informativa que lo elabora. Sin embargo, a los dueños de esa empresa, que naturalmente hoy es multi-mediática, no se les conoce salvo si desempa- ñan cargos importantes en el Consejo de Administración. Nadie puede saber, por lo tanto, si dicho empresario jurí- dico controla a otros empresarios, qué tipo de relaciones existen con la Banca, si ha llegado o no a un pacto con ella o con el Estado, si tiene intereses políticos además de eco- nómicos, etc. El gran público no puede saber estas cosas por- que se deciden en la Junta General de Accionistas, en la cual una acción es un voto y así aquel que más acciones posea decide sobre todas las cuestiones anteriores. ¿Qué ocurriría si la mayoría de las acciones de este empresario jurídico, sujeto de derechos y obligaciones, estuviera en manos de la Banca? ¿Cuáles serían las consecuencias si este empresario jurídico poseyera titularidad publica y, por lo tanto dependiera del Gobierno ya sea este el “central” o el autonómico? La formulación de preguntas como las anteriores po- dría hacer resurgir la idea de que el capitalista es nocivo, porque sus intereses no coinciden con los de la mayoría. Nada menos cierto, puesto que sin capital ni beneficio no hay empresa y sin empresas la demanda de trabajo exce- dería a la oferta en tal medida, que los salarios serían muy bajos, no se obtendrían bienes capaces de satisfacer las ne- cesidades humanas y en definitiva se entraría en un estado de regresión como al que se ha llegado en nuestros días. Sobra añadir que la transformación de un sistema econó- mico basado en el derecho de propiedad por otro en que la propiedad fuera común es una utopía y jamás se producirá, ni mediante la revolución, ni mucho menos como conse- cuencia de la elevación del nivel cultural de los pueblos. Los tres factores de producción poseen igual impor- tancia de modo que, en ausencia de alguno de ellos, no es posible la existencia de empresas. Tampoco de empresas 45 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España informativas, por lo que se impone hallar una solución que modere el deseo ilimitado de beneficios, inherente al siste- ma, y garantice que los ciudadanos reciban la información a la que tienen derecho y no la que interesa divulgar en función de los intereses de quiénes gobiernen, o en función de cualquier otra circunstancia. Es importante señalar que la limitación de beneficios a la que conduce el sistema de mercado de libre competencia no es operativa en el mercado de la información porque éste es un oligopolio por el lado de la oferta en lucha respecto de los con- tenidos y en coalición respecto del beneficio. Así pues, el precio de la información no se forma por el libre juego de la oferta y de la demanda, sino que es el resultado de acuerdos entre los diferentes promotores de empresas informativas. En el caso de que posean titularidad pública, como son financiadas con cargo a los presupuestos del Estado, aunque no haya que pagar un precio de todos modos hay que pagar para recibir información pues, como se sabe, uno de los capítulos presupuestarios más importante es el de los ingresos impositivos. El recurso de establecer leyes que prohíban la manipula- ción de la información y confisquen los beneficios extraor- dinarios obtenidos de modo ilícito no es operativo al me- nos en la actualidad, puesto que el ejercicio de los derechos que asisten al ciudadano no es gratuito y, pese a lo que se dice reiterativamente por nuestra decadente clase política, en España al menos la Ley no es igual para todos. Así pues la cuestión no se resuelve mediante leyes, sino como siempre ha ocurrido en la Historia a través de la elevación del grado de cultura de la ciudadanía y el restablecimiento de unas normas de conducta ética, que por estar en franca decaden- cia trascienden de la deontología profesional convirtien- do al profesional de la información en un mero asalariado o encomendando labores de gran responsabilidad social a personas que no están debidamente capacitadas para ello. 46 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 3. Cultura, Información y Comunicación En nuestra opinión, y siguiendo a Lledó (Lledó, 1994), Cultura es todo cuanto hemos sido capaces de crear o inven- tar y que, en principio, no formaba parte del orden natural, es decir: el “conjunto de representaciones, reglas de conducta, ideas, valores, formas de comunicación y pautas de comportamiento apren- didas que caracterizan a un grupo social”(Quintanilla, 1992). Pues bien; aceptando esta definición notaremos ense- guida que existe relación entre la tecnología, la aparición de la empresa informativa y la elevación del grado de cultu- ra de la sociedad y así nos percatamos de que en sociedades poco cultas la información es escasa y que conforme el gra- do de cultura se ha ido elevando, la demanda de informa- ción también ha ido creciendo, acelerándose gracias a las actuales tecnología de la comunicación, que han permitido una oferta variada de productos informativos de una cali- dad en todo caso discutible. Estas tecnologías, sin embargo, han iniciado un nuevo ciclo evolutivo cuya culminación es indudablemente la aparición de la empresa multimedia, de un lado, y la posibilidad de elaborar información al margen de las empresas informativas tradicionales, del otro. Estos hechos introducen notables novedades tanto en lo referente al concepto como en lo referente a su actividad. En efecto: las empresas multimedia no tienen por qué con- figurarse expresamente como informativas, aunque puedan serlo si es que su producto reúne una serie de condiciones. En primer lugar no hay información si no hay noti- cia. Si el contenido de una comunicación está basado en un hecho que no es verdadero, actual, inédito o de interés general no debemos aplicarle tal término, ya que si lo ha- cemos jamás podremos referirnos luego a la Información como objeto material o formal de una Ciencia puesto que todo sería información. Por otro lado, la comunicación que 47 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España se hace al público requiere recogida del hecho, interpreta- ción del mismo y una cierta valoración. Ciertamente, en la recogida del hecho se puede ser objetivo, pero no en su interpretación ni mucho menos en la valoración. De lo que se sigue que la información en su conjunto no puede ser objetiva por simple definición. Los sujetos promotores no pueden ser otros que los hasta ahora dueños de empresas informativas. La afirmación de los profesores Nieto y Tallón de que “no puede haber información sin la existencia de empresas informativas” no se sostiene hoy día. Sin embargo, ni aún hoy en día pueden ser sujeto promotor, porque carecen de personalidad jurídica al ser, simplemente, organizaciones. En este sentido señala el Profesor Farias que los esfuerzos realizados en orden a dotar a la empresa de persona- lidad jurídica no han dado resultado porque el Derecho se re- fiere fundamentalmente a personas y no unidades económicas de producción, como son las empresas. Constituye otro error, a nuestro juicio, considerar que el sujeto promotor de la in- formación es el empresario. Cuando se trata de un empresario jurídico, quiénes ejercen funciones empresariales son personas físicas a las que se faculta para ello mediante un poder notarial, de modo que las ejercen en nombre del empresario, pero éste en realidad no existe. Pues bien; si por definición estas personas físicas no son empresarios y si, al revés de lo que ocurre con los dueños de la empresa, no pueden existir dos empresarios que ejerzan idénticas funciones en una misma empresa – por- que eso supondría un incremento en los costes no justificado -, la conclusión que se sigue al razonamiento es evidente: Las personas físicas que ejercen funciones empresariales, cuando el empresario es jurídico, no pueden ser otra cosa que trabaja- dores por cuenta ajena contratados por el empresario para la realización de cierto trabajo. La cuestión es algo diferente si el empresario es, en efecto, una persona física. En este caso puede actuar por sí 48 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España mismo y no por delegación; pero si no es, asimismo, due- ño de la empresa también en definitiva es un trabajador contratado, cuyo sueldo o salario se carga en la Cuenta de Pérdidas y Ganancias como un coste que es. Así que, en uno y otro caso, y exceptuando la circunstancia de que el empresario sea asimismo dueño de la empresa, éste no es sino un trabajador contratado y pagado con cargo al valor creado por la transformación en el mercado de los productos obtenidos. Ni más ni menos de lo que ocurre con el más humilde de los asalariados, al cual se le paga por trabajar y no por cualquier otra cosa. Si sustituimos ahora en la definición del Profesor Martínez Albertos referida a la noticia la expresión “su- jeto promotor” por su equivalente, es decir “capitalista”, dicha definición queda como sigue: “Noticia es un hecho verdadero, inédito o actual, de interés general que se comunica a un público masivo, una vez que ha sido recogido, interpretado y valorado por los capitalistas que controlan el medio utilizado para la difusión”. Expresada en estos términos, la definición no nos pare- ce tan atractiva como antes y, sin embargo, no deja de ser correcta desde el punto de vista científico, porque si antes lo era no puede dejar de serlo ahora cuando lo único que hemos hecho es identificar al promotor de la empresa in- formativa. Más la expresión “capitalista” está tan cargada de negatividad que se nos hace instintivamente antipática. Lamentablemente, la denominada cultura de la informa- ción de la que tanto se habla en nuestros días tiene a nues- tro juicio muy poco de cultura y casi nada de información. Durante la década de los años ochenta las entonces llama- das nuevas tecnologías de la comunicación transformaron y corrompieron el concepto científico de información al ampliarlo a todo tipo de contenidos propagados por vídeo y por una creciente diversidad de canales de televisión a 49 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España los que la fibra óptica agilizó de modo casi milagroso. Al segmentarse la audiencia debido a tal diversidad, no puede ya hablarse, propiamente, de audiencia masiva y, sin embar- go, la mayoría de la programación se diferencia tan poco entre sí debido al creciente proceso de globalización, que en la práctica esta segmentada audiencia se comporta de un modo homogéneo, sea cual fuere el periódico que lea, la radio que escuche o la televisión que sintonice. Desgracia- damente, la mayoría de esos contenidos no son de índole informativa, por lo que la cultura que están creando es más bien comunicativa. Teniendo en cuenta estas observaciones, la denominación de “Sociedad de la Información” no es científicamente correcta aunque nos resulte muy atractiva porque no se corresponde con la realidad. Intentaremos demostrar esta última afirmación. En efec- to; tras el fenómeno de diversificación de contenidos se esconde el hecho cierto de que es precisamente la infor- mación el menos diversificado de todos ellos y que sólo es una de las muchas posibilidades que ofrecen los medios de comunicación, además relativamente poco utilizada en mu- chos casos. Por otra parte, la demanda de cultura a través de los medios está bajo arbitrio de la moda, del relativismo, de la comodidad o del entretenimiento y eso produce una agu- da crisis en las culturas nacionales en detrimento de otras mucho menos avanzadas, por muy alto que sea el grado de civilización que exista en el país originario. Las innova- ciones tecnológicas de la microelectrónica, la informática y las telecomunicaciones hacen que a diario recibamos, al- macenemos, procesemos e incorporemos textos, imágenes y sonidos de modo indiscriminado gracias a un sistema uniforme basado en los dígitos 1 y 0. No obstante, solo la auténtica información puede calificarse como un modo de conocimiento conscientemente comunicado; por lo tanto, si nuestra sociedad fuera auténticamente “de la información” 50 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España se basaría ciertamente en ella y no en los subproductos y sucedáneos que llegan a los hogares a través de la televisión, los ordenadores e, incluso, los teléfonos móviles. Desde un punto de vista económico no es cierto tam- poco lo que a menudo se dice: que la información ha sustituido a los factores de producción tradicionales en la creación de riqueza. En realidad la abundancia de conte- nidos, informativos o no, ha contribuido a generalizar una idea que a nuestro juicio es sumamente peligrosa: La admi- sión por parte de la ciudadanía de que el llamado sistema económico neo-liberal es la cosa más natural del mundo, lo que conduce a la tolerancia de situaciones de desigual- dad lacerantes, pero que ya no causan escándalo alguno. La escalofriante naturalidad con la que se contemplan hechos tales como la existencia de naciones ricas y naciones po- bres y la inigualable frescura que supone asegurar que los ciudadanos que hemos tenido la suerte de nacer en países desarrollados no tenemos ninguna obligación moral hacia los habitantes de las naciones subdesarrolladas, con los que en el mejor de los casos practicamos una falsa virtud que algunos llaman solidaridad olvidándonos de la Justicia son algunas de las consecuencias a las que nos ha llevado esa sociedad. Así pues, y siempre a nuestro juicio, llamarla So- ciedad de la Información y del Conocimiento no deja de ser un doloroso sarcasmo y una cruel ironía. Nunca como hoy, aunque vivamos en sistemas políticos democráticos, el poder ha sido más despótico para el pue- blo y menos gravoso para aquellos que lo ostentan, porque antaño dicho poder se basaba en el Ejército, la Economía o la Religión, mientras que hoy se concentra en la capacidad de crear, gestionar, distribuir o administrar la “informa- ción” que al gran capital le interesa, de modo que nada es verdad ni nada es mentira hasta que no aparece en la prensa o en la televisión. Muy particularmente éste último medio 51 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España puede hacer popular el más extravagante de los pensamien- tos, la más absurda de las políticas, el sistema más irracional de Economía o comportamientos manifiestamente poco éticos, que se presentan ante un público heterogéneo ti- ñéndolos de una pretendida modernidad. Así pues la erróneamente denominada Sociedad de la In- formación viene ante todo presidida por la imposición a nivel mundial de los intereses del capital internacional, que no son otros que ampliar sus beneficios ganando audiencia en el mercado de contenidos, pero ofreciendo una muy baja o nula calidad informativa y creando, de paso, una cultura en la que el ordenador y la televisión sustituyen al libro, a la en- señanza tradicional y al intercambio de opiniones diversas. Como es natural la internacionalización de estos contenidos arrumba las ricas culturas que algunas naciones poseyeron y convierte en nada las denominadas libertades de expresión y de información, que quedan sometidas a un monopolio dictador de contenidos y “filtro” de informaciones. Por otro lado, la creciente solidez económica y política de los que se llaman “grupos multimedia” es tan grande, que presiona sobre todos los aspectos individuales y sociales de la persona y origina, al cabo, una pérdida de identidad incluso en los medios de comunicación de carácter públi- co. Todo ello, como es natural, limita el pluralismo infor- mativo en beneficio del beneficio económico y adormece a la población, como si los medios de comunicación fueran verdaderamente “el opio de los pueblos”. Esta nueva y extraña “cultura”, cuya única doctrina ética es el relativismo moral y cuyo estímulo es el enriquecimiento sin importar los medios que se utilicen para conseguirlo comenzó el siglo pasado, en los años de la década de los setenta y en el país más civilizado pero menos culto de todos los desarrollados: Los Estados Unidos de América del Norte. Vencedores indis- cutibles de dos guerras mundiales, con una población que en- 52 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España cuentra satisfacción en el trabajo bien hecho y amplios recur- sos naturales sabiamente aprovechados, extendieron por todo el mundo un modelo de sociedad basado en el consumo masivo y, al cabo, consiguieron la ruina de casi todas las ideologías, ex- cluida naturalmente la suya, capitalista y neoliberal. Se habla entonces, con una naturalidad auténticamente escalofriante, que para la consecución de altos beneficios es necesaria una integración vertical de empresas pertene- cientes al mismo sector económico, pero lo que no se dice es que eso equivale a imperfeccionar el mercado por el lado de la oferta mediante la creación de oligopolios en régimen de coalición, muy peligrosos para el consumidor porque fijan precio o cantidades vendidas y las distribuyen de antemano entre ellos. Se añade, además, que es necesaria la creación de economías de escala o externas mediante la diversificación de productos dentro de un mismo sector, previamente controlado por la integración vertical, inclu- yendo los productos multimedia ya fueran informativos o no. Por último, se postula la creación de entramados finan- cieros, que ligaran la Banca con la producción y distribu- ción de bienes, incluidos los productos informativos. Re- sulta muy curioso que durante al menos los últimos veinte años estas directrices económicas tan perjudiciales para las naciones menos desarrolladas fueran seguidas a rajatabla y con total impunidad y que el espectacular incremento de beneficios resultante apenas fuera denunciado por econo- mistas y sociólogos. Es justamente en nuestros días cuando se está compro- bando que el proceso acumulativo de miseria y riqueza abismales abre un período sumamente inquietante para la Humanidad del que son buena prueba todos los funda- mentalismos y buena parte de los nacionalismos. Dado que el avance de la tecnología comunicativa así lo permitía, ya en los años 90 del pasado siglo la sociedad esta- 53 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España ba debidamente concienciada para aceptar el crecimiento de todos los sectores productivos previamente concentra- dos a través de operaciones bursátiles de gran envergadu- ra, absorciones y fusiones de difícil justificación y extraños convenios, que bajo el pretexto de elevar la productividad, originaron un notable incremento del desempleo primero y una precaria contratación laboral después. Esta “reprocultura” o “cultura clónica” influye también so- bre la demanda hasta tal punto que origina transformacio- nes importantes en las programaciones de la mayoría de los medios de comunicación, porque debiendo ser financiados fundamentalmente por ingresos publicitarios el imperfecto mercado “expulsa” de la programación a productos deci- didamente informativos sustituyéndolos por otros que en- tretengan y amenicen la vida de un público complaciente, pasivo y en muy buena medida ignorante. Un público que, en lugar de aprender dialogando, se limita a contemplar sin ningún esfuerzo mental lo que otros tengan a bien ense- ñarle; que en lugar de formarse leyendo prefiere que otros lean para él o le presenten sucesos espectaculares, aunque vacíos, mientras por otro lado se degrada más y más la pro- fesión periodística por la consciente y calculada corrupción del denominado “poder de informar”. De esta contaminación no está libre ningún medio de comunicación, incluyendo al más serio de todos ellos, que sigue siendo la Prensa. A modo de conclusión diremos que existe una re- lación clara y directa entre grado de cultura, cantidad y calidad de la información y desarrollo económico y social. Concluimos, asimismo, que a pesar de los adelan- tos técnicos el ciudadano medio de nuestra decadente sociedad recibe muy poca información a pesar de la abundancia de contenidos. 54 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Referencias LLEDÓ, E. (1994) Memoria de la ética. Una reflexión sobre los orígenes de la teoría moral en Aristóteles. Taurus, Madrid POBLACIÖN, J. I. y GARCÍA-ALONSO, P (1997): Or- ganización y Gestión de la Empresa Informativa. Dossat 2000, Madrid QUINTANILLA, M. A. (1992) Tecnología: un enfoque filosó- fico. FUNDESCO, Madrid SALAVARRÍA, R. (2001) “Aproximación al concepto de multimedia desde los planos comunicativo e instrumental” En Estudios sobre el mensaje periodístico, nº 7 2001, Madrid 55 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 2. O uso ferramental das novas plataformas midiáticas e suas implicações na empregabilidade dos profissionais de comunicação no Brasil. Jesuino Irineu Argentino Junior1 Maria Isabel Galvão de França2 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo O presente artigo busca relacionar a empregabilida- de dos profissionais de comunicação de mídia impressa e os usos ferramentais das novas plataformas midiáticas. Ten- do como exemplo o fechamento do Jornal da Tarde em 1. Jesuíno Irineu Argentino Júnior, doutorando do Programa de Pós- -Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – Unip – São Paulo, Brasil, email: prof_jr@unip.br. 2. Maria Isabel Galvão de França, doutoranda do Programa de Pós- -Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – Unip – São Paulo, Brasil, email: maria.isabel@uol.com.br. mailto:prof_jr@unip.br 56 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 31 de outubro de 2012, o artigo retrata as relações entre empregabilidade profissional e a tendência de os veículos de comunicação utilizarem e transformarem sua platafor- ma impressa em digital para assim, atenderem aos apelos mercadológicos e à redução de custos físicos, estruturais e salariais.Seguiremos a pista da convergência, limites e possi- bilidades que acarretarão sobre a relação empresa, tendência mercadológica, custos e empregabilidade. Um pressupos- to das tendências de mudança das mídias convencionais off-line, como serão assistidas, ouvidas e lidas, diante dos recursos tecnológicos que o mundo on-line oferece, mu- danças de comportamento de seus consumidores e sua estabilização enquanto meio de comunicação.Há uma proposta de questionamento da dinâmica do ser produ- cente e uma análise das mudanças a essa dinâmica refém do capital, algoz do emprego, porém uma visão de ajuste e acomodação e retorno para qualidade e certificação de conteúdo. Um caminho sem volta, o qual exige, por parte de todos: empresários, profissionais de comunica- ção e consumidores, uma readaptação condizente com a realidade que se anuncia não tão lenta. Palavras-chave: Plataformas midiáticas; mídias digitais; revolução tecnológica; empregabilidade. 1. Introdução Nosso artigo propõe uma reflexão sobre a configura- ção atual das novas plataformas midiáticas que se formatam através da internet e transformam mídias sem resposta dire- ta, chamadas off-line em digitais, chamadas on-line e sua re- lação mercadológica e de empregabilidade dos profissionais de comunicação e da informação no Brasil 57 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Usando como exemplo o fechamento do Jornal da Tarde do grupo Estado, em 31 de outubro de 2012, partimos não só para uma análise da nova configuração em função da es- tratégia comercial de redução de custos e adaptação do mer- cado em relação aos leitores, como a empregabilidade dos profissionais de comunicação e da informação do grupo. Para tanto, analisamos a convergência natural dos meios de comunicação, impressos e eletrônicos, os limites dos meios enquanto meios, sua fluidez e possibilidades advin- das das novas plataformas, ou seja, como serão consumidas pelos leitores, ouvintes, telespectadores e agora diante dos recursos digitais e como internautas e, o que muda na car- reira dos profissionais da comunicação e da informação que exercem suas profissões nestes meios. Uma tendência de redução de cargos, através da tecnologia. O artigo está organizado em três partes: a primeira par- te falamos sobre o Jornal da Tarde, sua proposta midiáti- ca, sua consagração como veículo de comunicação e sua despedida. A altura, o exemplo, vem a calhar não só pela representatividade e expressividade do veículo como pelo calor da hora em relação ao seu fechamento, que fomenta o ineditismo do assunto aqui apresentado. Apesar disso, o mais importante sobre o que estamos abordando para cum- prir o objetivo do artigo, é como um exemplo de tendência de digitalização dos meios de comunicação que se anuncia com exatidão e segue por um caminho sem volta, uma ruptura de harmonia, que durante muitos anos se adaptou ao mercado porém agora podemos dizer assertivamente que estas adaptações causarão muitas diferenças nas relações de empregabilidade dos profissionais das áreas da comuni- cação e da informação. Dando segmento, exploramos o que as novas platafor- mas podem transformar os meios e, como estes disponibi- lizarão seus conteúdos. Nossa argumentação foi baseada no 58 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España processo já existente de modernização para todos os meios: jornal, rádio, revista e televisão, como são, seus limites, suas possibilidades e a convergência entre eles e as novas plata- formas e, desta forma, nos deparamos com os pressupostos baseados na maturidade das plataformas digitais, o que po- dem transformar no meio e também oferecer ao consumi- dor destes meios, em contrapartida, como se paga o preço da perda do emprego, partindo da ideia que ao aderir as novas plataformas, diminui e requer especialidade técnica, além dos limites dos profissionais, nos apropriamos de lei- turas sobre o tema, periódicos e livros. Nosso objetivo principal é uma reflexão sobre o ajus- te, adaptação e empregabilidade dos profissionais da co- municação e da informação e os papéis exercidos diante de um tempo onde tecnologia é precursora das modi- ficações da própria tecnologia, transformando a velo- cidade das relações socioculturais, econômicas, morais e afetivas e, consequentemente alterando a forma e missão dos meios como transmissor de conteúdo, sem ignorar a forma de recepção deste por parte do consumidor como também as novas conjecturas de empregabilidade dos profissionais da área. 2. Jornal da Tarde saindo de cena e descortinando o futuro Em 31 de outubro de 2012, último dia de sua publi- cação, ao final de seu editorial o Jornal da Tarde, publica a frase:O JT faz parte desta obra ao abrir novos caminhos. Cabe- -nos continuar a percorrê-lose, com ela e a foto emblemática do Terraço Itália que também empresta beleza aos cartões postais da cidade e ocupou a primeira página numa foto majestosa se despedindo de São Paulo. 59 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España O jargão jornalístico fechamento, que representa o andamento e vida do jornal, perdeu e inverteu o sentido para o fechamento empresarial que representa sua mor- te, neste caso estratégica para as novas adaptações que o mercado atual exige. O Jornal da Tarde aos 46 anos, precocemente, se foi, deixando seus leitoresórfãos da inovação fotográfica, de prêmios jornalísticos, do arrojo de seu designgráfico e da fina sofisticação do texto. Ainda que sejam poucos, seus leitores filhos e bem por isso: missão cumprida como disseram,resta-nos apenas lamentar e agradecer o mundo “melhor” e menor, minguando-se e recolhendo-se diante do novo que se anuncia, dizimando a memória elegante num réquiem inesperado. O Jornal da Tarde nasceu, de parto natural induzido, pe- las mãos dos jornalistas Mino Carta e Murilo Felisberto, em 4 de janeiro de 1966, sob o signo do jornalismo-literatu- ra, que na época era uma tendência americana e chamada de “new journalism”, em tradução livre, novo jornalismo que tinha como expoentes do gênero, Gay Talese, Norman Mailer, Truman Capote e Tom Wolfe. Nunca foi o título principal do grupo, mas talvez, o pre- ferido dos leitores intelectualizados do grupo. Permitiu ino- vações jornalísticas, arrebatando prêmios honrosos, edições bombásticas, bem cuidadas e até épicas. Um compromisso com a sofisticação e embalando o leitor culto. Trouxe leveza ao grupo que lhe “proporcionou” uma eutanásia calculada. Apesar do fechamento do Jornal da Tarde terum argu- mento estratégico empresarial, alguns pontos devem ser observados: o caderno Jornal do Carro será adotado e pu- blicado pelo principal título do grupo o jornal O Estado de S. Paulo na quinta-feira, sábado e domingo, novas se- ções surgirão no caderno e terá uma plataforma multimídia que, lhe dará visibilidade nacional e, em 2013 vai agregar 60 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España o portal do setor com dicas e tabelas on-line. O JT também deixa a herança da qualidade para aos classificados e alguns cadernos do Estadão, é como se a morte do irmão mais novo implantasse seupróprio DNA como uma herança, no mais velho. A marca JT permanece por enquanto com o Grupo Estado e sem planos futuros e, cerca de 50 jornalistas devem ser absorvidos por outros títulos da casa, mas, ainda em acordo com sindicato da classe, se demissões houverem devem ser comunicadas à justiça do trabalho. Usando a principal missão do Jornal da Tarde: ser exem- plo, inclusive pela sua morte, quaisquer pressupostos que possamos fazer sobre o comportamento das mídias ditas off- -line, ou seja, que não proporcionam respostas diretas como as digitais3, mas nas novas plataformas tecnológicas serão baseadas nas tendências mercadológicas, comportamento do consumidor e recursos econômicos. Alguns meios de comunicação de massa, preparados para as novas plataformas midiáticas já utilizam seus recursos e disponibilizam seus conteúdos de forma que o seu consu- midor-leitor-ouvinte-telespectador possa interagir. Alguns veículos, ainda em compasso de espera. É bastante clara a tendência de convergência e integração entre estes meios. Esta convergência de mídias que são as ações simultâneas do uso dos meios de comunicação a fim de amarrar todas as possibilidades de informar sobre as campanhas publici- tárias e conteúdos jornalísticos e interagir com o público alvo. Esta convergência é denominada pelos profissionais de marketing e publicidade de cross media,“a realidade cross- -media coloca a produção ou instância produtora, diante de outros dilemas, dentre eles a interação dialógica com o 3. Que possui um suporte de conexão à internet, computadores, dis- positivos móveis com conteúdos audiovisuais. 61 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España público”Giovagnoli (2009), Desta forma, com o objetivo claro de atingir a todos, em todos os momentos e por várias formas de mídia. Bem por isso acreditamos que nenhum meio de comunicação, seja off-line ou on-line se basta por si ou pode atingir sozinho o público alvo desejado, bem porque, o senhor“Público Alvo”, tem potencialidades ini- magináveis de procura e absorção de conteúdos. Acaba por ter necessidades e fome de buscá-las. Seguiremos a pista da convergência, fluidez, limites e possibilidades. Na década de 50, quando houve a introdução do meio televisão, no Brasil, é bem fácil de imaginar o mesmo con- ceito que hoje vivemos de que uma nova tecnologia supera e mata outra, por ser agora obsoleta ao que parece, pelo menos no primeiro instante. Anteriormente, na década de 20 quando o rádio foi lançado, libertou as pessoas de pre- cisarem saber ler. O censo de 1920 indicava que 65% da população com 15 anos ou mais era analfabeta (RIBEIRO, 1989 apud ALMEIDA, 2004, p. 27).Nem por isso, o gover- no, eficaz ou não, deixou de ter uma atitude para alfabetizar pessoas. Seria um retrocesso se assim não fosse. O meio jor- nal não deixou de existir, porque muitas pessoas não sabiam ler, da mesma forma o rádio não deixou de existir porque não tem a imagem como recurso. Apontar um único meio como total e completo e, por consequência único,seja talvez um sonho arrogante e, tam- bém denominar que os meios são limitados por serem o que são. A questão é: estariam os meios de comunicação de massa, questionados e réus num processo condenatório cujo o crime é ser o que é? Os meios de comunicação de massa, se usam dos pró- prios sentidos humanos tais como audição e visão, por ve- zes olfativos e táteis, quando algumas mídias impressas se utilizam de anúncios interativos que lhe conferem maior 62 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España competência ao flertar com o algo a mais e, isso parecia ser legítimo e honrado, mas agora parece caber uma condena- ção do estar ultrapassado e precisar evoluir e acompanhar outros sentidos que parecem surgir agora mas são humanos. Claro que ainda não o detectamos e chamamos de sentido, mas o fato é que praticamente passou a ser orgânica a tec- nologia. A maneira de pensar agregou-se a necessidade de opções que a tecnologia nos “presenteou”. Opções apenas, mas abrindo portas lacradas e dizendo subjetivamente que há mais vida lá fora, ou melhor, dentro do computador. Si- lenciosamente, os meios de comunicação de massa se con- figuraram não só se bastando por si, mas criando também necessidades midiáticas diferentes para atender as conjec- turas sociais da interação do homem com suas formas de saber e atualizar-se do socialmente anunciado. O meio jornal por exemplo precisa de um leitor e, para sê-lo entretanto, há uma exigência de uma habilidade que se aprende ainda criança: a leitura, mas nem tão simples as- sim, o meio jornal, manteve-se intacto sob o manto da pro- fundidade intelectual da notícia e a riqueza analítica que o editor proporcionava.Com o passar dos anos, o meio jornal foi se adaptando diária e cotidianamente e, embora o mer- cado produzisse novidades, o meio, na mesma velocidade produzia cadernos a respeito das novidades. Neste ciclo vi- cioso o leitor exigia a novidade, profundidade e análise e, o jornal um leitor pensante e não pacífico, ávido pela notícia, pelo desafio da profundidade e discussão do tema.A mídia impressa curva-se, retalha-se e, por fim se adapta como que por mágica às mudanças. Porém a partir do evento inaugural do meio rádio no Brasil, em 1922, foi libertador no sentido de não exigir um leitor e sim um ouvinte que, neste caso, podem ser todas as pessoas nascidas, dotadas de audição. Também se pagava uma única vez pelo aparelho de rádio e, se 63 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España dispunha a qualquer momento bastava ter um ouvinte, estava em casa, à mão e ao pé d’ouvido. Parece que como por castigo, em 1950, uma nova tec- nologia, a televisão, apresenta uma nova expressão midiáti- ca e propõe um meio que liberta literalmente as pessoas de precisarem armazenar informações e analisar conteúdo. Tudo pronto resolvido era só sonhar e sonhar talvez seja o que atrai e seduz tanto o ser humano para o entretenimento. Além disso, assistir passivamente outras vidas folhetinescas também nos liberta da nossa própria realidade e, opinar seriamente sobre o absolutamente irreal também nos livra das consequ- ências das decisões reais.O compromisso televisivo, é apenas nos colocar numa deliciosa poltrona e nos convidar para uma pausa, nos livrar da análise, do real, do pensar e do pensar analítico cheio de consequências. Seja bem vindo! Os meios de comunicação de massa, não foram total- mente irredutíveis, foram avisados sobre coisas novas e, tra- taram de se adaptar e comprar novos paradigmas de trans- posição e plataformas sem perder a identidade. Pois bem: os jornais, antes apenas com letras em preto no papel branco, introduziram imagens e, aos poucos imagens coloridas que muitas vezes explicavam mais do que completavam maté- rias. Por vezes completam os títulos de caixa alta que dis- pensando o leitor da completa leitura. Os jornais, enquanto veículos de comunicação, rapida- mente se articulam, pela própria dinâmica. Surgem cader- nos e suplementos temáticos pela madrugada, prontos para o café da manhã, e para o mercado. Seu formato e tamanho são pensados para melhor aproveitamento de papel e, en- tendem que seu consumidor não só aceita suas condições dimensionais como se adapta perfeitamente e cria dobra- duras em busca de conteúdo. A poesia do meio se dá no encontro matinal e no hábito cotidiano, sendo protagonis- ta das primeiras horas do dia e garantindo a informação 64 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España que muitas vezes pode significar o emprego, o tempo ou o dinheiro. Se existe poesia neste encontro, ela é capaz de sobrepor e aliviar às más notícias. Em uma visão lúdica e, portanto bem perto do “verda- deiro” para a maioria das pessoas ouvintes do rádio temos um planeta inteiro dentro da caixinha de voz. Por ele, o saber de guerra, de invasões interplanetárias4, de eleições políticas, de futebol, de ensinar música nova, de lembrar de músicas antigas, entretenimentos, entrevistas, de ouvir o ouvinte, de dar conselhos, de ser companheiro, de nascer estrelas, de fazer sonhar e de sonhar com anjos falantes, de “levar a vida a cantar”...“num forte abraço, corações de norte a sul”5. Capaz de estar em todos os lares como convi- dado especial e ocupar um lugar especial da casa ou passear com o ouvinte no jogo de final de campeonato, ajudar a dirigir e burlar o tempo. Conduz o pensamento, ao mesmo tempo que o deixa livre para imaginar e se deliciar. Apesar de muitas pessoas estarem ouvindo, o rádio con- segue manter uma relação intimista a partir do uso da lin- 4. Em 30 de outubro de 1938, as 21h, véspera do halloween, evento americano (dia das bruxas), foi transmitido pela rádio CBS - Co- lumbia Broadcasting System - no programa Radio teatro Mercury, um capítulo do livro A Guerra dos Mundos do escritor inglês H.G.Wells. O capítulo era uma narrativa sobre a invasão dos mar- cianos em New Jersey na cidade de Grover’s Mill. A adaptação, produção e direção do programa foi do ator e diretor norte ame- ricano Orson Welles, que usou todos os recursos de uma cobertura jornalística da época, efeitos sonoros e entrevistas. A dramatização que foi ouvida de costa a costa provocou pânico geral na popula- ção dos Estados Unidos, anunciado no jornal New York Times de 01.11.38, cuja manchete foi: Ouvintes de rádio em pânico tomam drama de guerra como verdade. 5. Marcha brasileira composta por A. Ribeiro, Josué de Barros e La- martine Babo. 65 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España guagem que, além de informal, se refere à você pois usa o verbo neste tempo.Com tudo isso, tem limites. O meio rádio, foi o meio que mais sofreu muitas acusações, sob uma única bandeira: falta imagem. Para os que defendem, alegam que os produtos publicitários são realmente publi- citários porque se bastam sem a imagem e mesmo assim se vendem produtos. E vendem mesmo. Aos que criticam o meio também alegam falta de segmentação e seletividade de público alvo. Diante disso, como sobreviver como ex- pressão midiática? Foi encontrando as mulheres, que o meio revista pode se expandir tranquilamente e, para não dizer que não fa- lamos dos cravos, criou-se sim alguns poucos títulos bem específicos para os homens, assuntos diversos e de interesse geral, porém a mulher também consome títulos não para ela direcionados, assim descobriram a capacidade feminina para a leitura de periódicos tipo revista. As editoras têm suas rainhas e as coroam e, assim como no rádio, a revista é inti- mista. O verbo é conjugado de forma a falar com um único leitor. Apenas uma pessoa por vez, pode manusear e apenas ela ler, se identificar com a leitura convidativa e didática e, assim se pode explicar, ensinar e propor, também percebe- ram que podem publicar o mesmo assunto com diferentes abordagens e será lido por elas. Mesmo depois de lidas, a revistas permanecem nas es- tantes das residências, disponíveis em salões de beleza e es- tética e consultórios médicos, pelo cuidado, pela vontade de que o que há de precioso se perpetue e esteja disponível quando a lembrança e o prazer da leitura lhe pedir a con- sulta. É perene. Sua plástica, não combina com o lixo. Publicitariamente, embora possa proporcionar vida útil ao produto anunciado pela periodicidade de alguns títu- los, mas não é geradora o impacto publicitário, nem se compromete com isso. Tem baixo alcance populacional 66 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España e geográfico. A maioria dos títulos de revista são elitistas, tem preço alto e é cara como produto midiático, diferente dos outros meios, não se paga para ver TV aberta, nem ouvir rádio e pelo jornal, embora diário a sensação é de um produto midiático relativamente barato. As tiragens, sejam semanais ou mensais ainda são baixas em compa- ração ao meio jornal. Embora a maior parte dos títulos de revista, os produtos anunciados não têm compromissos com a classe C e D as inspira e se engrandecem por isso se tornando objeto de desejo e luxo e, como isso deman- da tempo e seu tempo não é imediatista. Os títulos de revistas destinados às classes C e D, divulgam conteúdos tele novelísticos, celebridades novelísticas, em que se pode explorar o imediatismo devido a periodicidade semanal destes títulos e, os produtos anunciados, também “conver- sam” com o público alvo da revista. Não existe receitas de bolo para conquistas amorosas. Porém o meio revista, deve ter aprendido com Vinícius de Moraes a arte da conquista em que: “...para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar- -se de fora com uma espada — para viver um gran- de amor, poema que dá título ao livro lançado em 1962 pelo poeta”. Assim, o meio revista entendeu e, colocou em prática a conquista das mulheres e, para isso descobriram que preci- sam ser amadas e preservadas, isso tudo porque são elas que decidem e, decidir é um poder de super-herói. 67 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Helena Pêra6, tem 1,77m e, apesar de ter 3 filhos pesa 56 kg, bem magra. Ser esbelta, além de lhe conferir muita beleza, também faz parte de sua identidade secreta que aqui vamos revelar, mas só a você leitor: ela É, A Mulher Elástico. Tem muitas, mas muitas habilidades: filha, adolescente, filho capeta e um bebê que é fogo, cuida bem da casa e tem marido. Satisfeito? Não é só isso. Polivalente, além de virar, bote salva-vidas e paraquedas, é ergonomicamente a mais com- pleta das criaturas. Basta esticar um pouco o braço estando na cozinha do 10o. andar e pegar bolinha de ping pong que seu filho jogou pela janela e, mesmo com o poder de correr muito não quer ir buscar. Ela não é única no mundo, quase todas as mulheres têm superpoderes e, muitas não entendem porque os homens não funcionam como elas. Mas as revistas entenderam que é com elas que precisam falar e conquistar e, assim criaram títulos para tudo: relacio- namentos, moda e beleza, saúde, filhos, culinária, assuntos econômicos, renda, artesanato, esportes, dietas, crônicas. São títulos e títulos falando a mesma coisa de diferentes formas, encontrando leitoras com disposição o tempo todo, desco- brindo uma palavra e outra, ruminando assuntos temáti- cos, por vezes repetitivos. Impresso ou digital é um sucesso. Coisas de mulher dando sobrevida ao meio que, esperto, está atento também atento às novas plataformas midiáticas e, nelas disponibiliza seus conteúdos. Imperador absoluto, o meio TV ocupa na percepção mi- diática, um status de complexidade e do ser completo. Em seu início, o meio televisão preconcebia a ideia de que se decretava o término do rádio por ter o limite da não ima- 6. Personagem do filme de animação americano: The Incredibles , no Bra- sil: Os Incríveis. lançado em 2004 pela Pixar Animation Studios e distri- buído pela Walt Disney Pictures. Escrito e desenvolvido por Brad Bird, também diretor de animação do filme O Gigante de Ferro. 68 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España gem porém, antes do advento internet podia suprir todas as necessidades exceto a profundidade dos textos e assun- tos que podiam requerer pesquisas. Com mais polidez a internet não decreta o término do meio TV, ao contrário sucumbe-se a ela. Assim é fácil de imaginar as tecnologias dos aparelhos smarts TVs7 agregarem a tecnologia wireless8 e acesso ao conteúdo digital. No início o meio televisão começou limitado, primeiro porque não se tinha a ideia de programação televisiva então herdou-se do rádio os gêneros que podiam ser adaptados à televisão, juntou-se com o cinema e, segundo porque não sabiam do potencial midiático e da gama de possibilidades existentes, ao passar dos anos isso foi mostrado, exposto e explorado e ainda é assim. Sua exploração baseia-se no re- corte e desenvolvimento de conteúdo, rapidez e simultanei- dade da informação.Comercialmente proporciona a fixação da mensagem e por isso geradora de moda e opinião e, in- discutivelmente, reúne o mix som, imagem e movimento. Diante da boa promessa comercial, que envolve plane- jamento, criação e mídia qual seria a limitação? Enquanto meio, primeiro o fato de não interagir, conceito pós di- gital, mas também o fato de tornar o expectador refém da programação num ciclo vicioso de prisão domiciliar voluntária na grade de programação estipulada pela emis- sora, além da passividade da falta de escolha e a prontidão e definição programática. 7. Aparelho de televisão hibrido que, além de emitir sinal televisivo, mantém o telespectador conectado à internet ao mesmo tempo. 8. Aparelho que permite a conexão à internet de vários dispositivos, ao mesmo tempo, sem a necessidade do uso de cabos e fios. 69 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 3. A Internet A internet, na década de 90, ao entrar no mercado, não sabíamos de todas as possibilidades que poderiam ser empregadas e desenvolvidas e, ainda não sabemos. O que sabemos, por agora, é que a forma do pensar mudou, a velocidade mudou, o relacionar-se mudou, o espaço geo- gráfico e seus limites perecem não mais existir. A economia transformou-se e a tecnologia foi totalmente absorvida e, principalmente surgiram e surgirão novas profissões e ou- tras desaparecerão. Incomodados, provocados e cercados estamos e, agora, nossas opções são: ou mudar ou mudar, pois está sendo cria- da mais uma dependência e nos entregamos como reféns do “estar conectado”. Tudo bem, também somos reféns por exemplo, da energia elétrica, água encanada, da companhia de gás e redes de esgoto. É apenas mais um subterfúgio de conforto do qual será impossível viver sem. Em se tratando de mídia impressa, os já preparados, como as revistas e alguns jornais, disponibilizam seu conteúdo via internet e, através de aplicativos que parecem oferecer mais opções a fim de agradar a todos, leitores e leitores internau- tascom a vantagem da interatividade, o conteúdo modifica a forma e convida à interação das múltiplas potencialida- desque esta tecnologia pode oferecer. Contudo, ao leitor, pesquisador, internauta, mais atento, existe a preocupação constante da fonte, que dado a quantidade se perde em falso e verdadeiro. É preciso paciência, poder investigativo e também um “certo faro”. A princípio, o acesso, praticamente se paga, ou até gratuito se torna, a partir do momento que, podemos acessar diversos conteúdos sem pagar por eles ou pagar por conteúdos exclusivos, fazendo valer o poder da informação. 70 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Em termos publicitários, o calor da hora é todo com- partilhado e curtido, porém a efemeridade é o custo alto dos assuntos na internet. O telespectador-leitor-ouvinte-internauta é o senhor absoluto na escolha do conteúdo e do horário que pode e quer. Os meios perderam esta imposição. Ponto para o consumidor. A internet oferece um“Saara” de acessibilida- de e com total liberdade de expressão histórica, econômica, administrativa, jornalística, publicitária, entre outros, além de não ter fronteiras geográficas ocidentais. Acreditamos também que, ainda haverão estudos com- parativos, sob os impactos ambientais do uso tanto da mídia impressa versus o uso da plataforma tecnológica. É bem verdade que o uso indiscriminado do papel provoca um impacto negativo e das baterias que mantém dispositivos eletrônicos acesos também, resta apenas saber o grau do comprometimento do impacto de cada um deles. Porém em termos de capacidade, um tablete ou computador po- tente, pode caber as edições jornalísticas mensais de qua- se todos os países economizando papel. Quem sabe uma proposta de reutilização sustentável das baterias, fosse um caminho para seus fabricantes. Outro questionamento seria a forma de medir a audiência, que na forma impressa, es- tabelece uma quantidade viável x de leitores por exemplar, já os dispositivos móveis, tais como tabletes, computadores portáteis GPS’s e celulares, são individuais, mas com a cer- teza da leitura e capacidade de análise do comportamento de quem realmente está lendo, o que gosta, o que compra pelo que interagiu. Vejamos o que nos aguarda no futuro próximo e distante e que tenhamos sabedoria para lidar e propor ajustes saudáveis para todos. O meios parecem se renderem, por exemplo:o rádio, ao ser transmitido pela internet, rompe totalmente com fron- teiras geográficas o que vem a calhar pois a própria música 71 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España tem esta característica, além de missionária a proposta de influências e misturas enriquecendo autores musicais. As- sim podemos ouvir uma rádio francesa e, quem sabe esta possa anunciar produtos brasileiros. Sobre o meio televisão, ainda que percebido completo, como expressão midiática, exceto por não garantir profun- didade dos textos, vem se beneficiar com a interferência da internet, talvez com o mínimo de interferência de con- teúdo e sem descaracterizar ou macular seu princípio. Ao contrário dos outros meios a internet é que sucumbe ao meio. Obviamente ninguém compraria um computador para assistir televisão e sim uma televisão com acesso ao conteúdo digital e, bem por isso, os aparelhos serão do- tados de tecnologia wireless, aplicativos e dispositivos que garantam telespectador internauta esteja ao mesmo tempo assistindo conteúdo televisivo e conectado à. Além de tudo, o ato de assistir TV, não mais se restringe ao quarto ou a sala de uma residência. Dispositivos móveis, disponibilizarão o conteúdo televisivo, além deles, estarão disponíveis apare- lhagem em não lugares9, como aeroportos, metrô, ônibus, táxi, entre outros. Mais uma vez, estão nos avisando que o rei está nu10 e que com os olhos de uma criança não desavisada podemos ver que tecidos mágicos não existem e vaidade e arrogância cegam o que parece óbvio, porém agora, se pré anuncia que podemos vesti-lo e trocá-lo como queremos, possibilidades infinitas das formas linguísticas e da interatividade intuitiva 9. Conceito desenvolvido e proposto pelo antropólogo francês Marc Augé, para designar o espaço destinado a passagem que é incapaz de dar identidade ou forma. 10. A roupa nova do rei (BR) / As roupas novas do imperador (PT). Fábula de Hans Christian Andersen, publicada em 1837. 72 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España e assistida, algo que os anunciantes possam fazer uso publi- citário, jornalistas possam transmitir conteúdo e, o telespec- tador comprar de forma on-line o vestido da mocinha da novela das 21h, não que seja necessário mas possível. 4. A Convergência Ao atentarmos sobre todas estas mudanças, observamos uma revolução tecnológica que permite a disseminação de grande quantidade de informação, que influencia o modo de vida das pessoas e das empresas, como consomem, como produzem, como vendem e como se relacionam. Esta ino- vação disruptiva11 exige a adaptação para os novos métodos e formatos ou o risco do fracasso. Muitas organizações veem a redução de seus negócios, profissionais perdem sua ocupação principal (emprego). Todos afetados de forma direta, porem não imprevista, pelas inovações tecnológicas. Igor Gielow citando Fernando Henrique Cardoso12 no Jornal Folha de S. Paulo em 8 de abril de 1997: “O processo global de desenvolvimento econômi- co cria pessoas dispensáveis no processo produtivo, que são crescentemente ‘inempregáveis’, por falta de qualificação e pelo desinteresse em empregá-las”. 11. Christensen, Clayton M. The Innovator’s Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail. Boston, MA: Harvard Bu- siness School Press, 1997. 12. Presidente Fernando Henrique Cardoso, sociólogo brasileiro, co- nhecido por FHC, em exercício por dois mandatos entre os anos de 1995 e 2002. 73 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Os ‘inempregáveis’ são aqueles trabalhadores que foram “engolidos” pelo desenvolvimento tecnológico e não têm mais lugar natural na economia. Em especial a área da comunicação, por sua dinâmica, sua abertura e sua receptividade para inovações, parece sempre percussora de mudanças que afetarão toda a so- ciedade como um termômetro.O aumento na aceleração da convergência digital nos últimos 30 anos está intrinsi- camente ligado ao desenvolvimento e a acessibilidade as novas tecnologias, um ciclo virtuoso retroalimentado pelo consumo, produção e marketing. Como Ramón Salaverría, et all propõem a seguinte definição: “La convergencia periodística es un proceso multi- dimensional que, facilitado por la implantación ge- neralizada de las tecnologías digitales de telecomu- nicación, afecta al ámbito tecnológico, empresarial, profesional y editorial de los medios de comunica- ción, propiciando una integración de herramientas, espacios, métodos de trabajo y lenguajes anterior- mente disgregados, de forma que los periodistas elaboran contenidos que se distribuyen a través de múltiples plataformas, mediante los lenguajes pro- pios de cada una.” Contudo, o impacto da internet sobre a produção de notícias vai muito mais além da simples ampliação de ten- dências já visíveis – ele muda o próprio “emprego” de um profissional da comunicação e da informação. Os jornais mostram a tendência para informar on-line e a eliminação de suas edições em papel. “Nos EUA mais e mais jornais estão fechando sua edição em papel a fim de manter apenas uma edição on-line, que nem sempre é lu- crativa! Dez jornais diários dos EUA estavam à venda em 74 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 2009 sem encontrar compradores; 19 dos 50 maiores estão perdendo dinheiro. Em 2008, 5.000 empregos de jornalis- tas foram eliminados, e 2009 não foi muito melhor.”(DE TARLÉ, 2009). Em 18 de outubro de 2012, a revista americana Newswe- ek anunciou que a partir de janeiro de 2013 passará a ser totalmente digital, portanto sua última edição impressa será dia 31 de dezembro de 2012. A partir da reflexão de ErikNeveu em 2011. O formato empresarial, a concentração dos títulos de imprensa sob o domínio de grandes grupos de mídia, a gestão de custos, a visão mercantilista da informação, o crescimento da inter- net e o baixo custo da publicação on-line nos parece con- tribuir para a redução das redações profissionais no mundo. O estudo de Marc François Bernier em 2008sobre jornalistas franco-canadenses mostrou uma taxa alta de rotatividade e a afirmação de um entrevistado que as empresas têm mais interesse em recrutar “bons empre- gados do que bons jornalistas”. O custo para o lançamento de uma revista impressa mensal, de alcance nacional, nos Estados Unidos é esti- mado em US$ 15 milhões. Já para uma publicação digi- tal, semelhante na Web, estima-se em aproximados US$ 100 mil.(GONÇALVES, op. cit., nota 14). Um exemplo, representado no gráfico abaixo, de- monstra a migração do dinheiro para os novos forma- tos de mídia. Segundo o site statista.com o google com 14 anos de idade teve um faturamento global de US$ 20,8 bilhões em receita publicitária no 1º semestre de 2012, quando a soma de toda a receita publicitária para a centenária mídia impressa do maior mercado de pu- blicidade do mundo foi de US$ 19,2 bilhões no mesmo período. Também podemos observar como a “crise” a partir de 2008 afetou esta receita. 75 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 5. Os tempos modernos dos tempos modernos é sempre muito antigo Sob os efeitos da era tecnológica, o ser producente muda o tempo todo como se fizesse parte de um roteiro, assim é determinante o desempenho, a rapidez e fluidez, facilitan- do e prolongando o lazer. Assim é desde que o mundo é mundo e, de posse deste argumento, Charles Chaplin, que dirigiu e atuou no filme Tempos Modernos, cuja primeira frase do filme, ainda mudo foi:“Tempos Modernos: uma história sobre a indústria, a iniciativa privada e a cruzada da humanidade em busca da felicidade.”13 O filme de 1936, tem como pano de fundo a grande depressão americana, depois da quebra da bolsa de valores de New York de 29, o desemprego, a queda do PIB, pelo declínio da produção industrial e o preço das ações no 13. Modern Times, EUA, 1936, com direção e atuação de Charles Chaplin. 76 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España período subsequente. Difícil de acreditar, mas nem to- dos perderam, assim como na guerra, em crises também há fendas para o enriquecimento mas, obviamente, não para o trabalhador comum. O mesmo desenho que causa desigualdades e privilégios, cerceia a esperança, acentua padrões estéticos excludentes. A irreverência e humor de Chaplin dão voz e grito a crítica da produção capitalista e a busca do homem pela felicidade através do capital.Chaplin dá vida a um operário de uma indústria de componentes elétricos: Electro Steel Corp, apesar da notada inspiração fordista14, Chaplin não deixa que se perceba o que de fato se fabrica na indústria, fragmentando atividade, numa alusão clara de que, como operários fazemos apenas parte de um todo (que inclusive é grandioso), o operário, não só, convenientemente, não tem noção do todo, do produto fabricado, como também é con- duzido de forma condicionada e de vigília, lhe desajustando biologicamente através de sinais que lhe avisam qualquer coisa e pela fiscalização, também usada no filme Metrópo- les de Fritz Lang (1926). O objetivo de seus superiores é a maior produção e a maior velocidade, mesmo que para isso seja literalmente engolido pela máquina e sendo parte dela. Brilhantemente a estreia da ergonomia (tecnologia da época) se dá através de uma máquina alimentadora Belows, um artefato “prático” para alimentar o trabalhador sem que pare o que está fazendo, sai de cena, quando entra em pane e 14. Henry Ford – 1863-1947 fundou em 1903 a Ford Motor Com- pany, o primeiro empresário a utilizar o conceito de linha de mon- tagem a fim de produzir carros em massa com menos tempo e a baixo custo, sem o processo artesanal. Conceito este desenvolvido pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor, administração científi- ca, que se caracteriza pela ênfase nas atividades objetivando maior eficiência operacional, também conhecido como taylorismo. 77 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España eletrocuta o próprio industrial e posteriormente a indústria declara falência. Não podemos dizer que é um filme apenas sobre o trabalho, a produtividade e o resultado, mas é com estes valores que Chaplin explica o capitalismo através da desigualdade e, portanto não podemos deixar de abordar que esta, está a serviço do serviço e este, a serviço do capital, que aqui não nos cabe questionar, apenas aguardar os ajustes econômicos que estão por vir e ter a esperança que não seja tão avassalador para tantos profissionais trabalhadores. 6. Considerações Finais Como atualmente observamos que o processo de mu- dança na plataforma da comunicação é irreversível, pode- mos supor que também pede um novo modelo na forma do trabalho em prática para os profissionais poderem ex- plorar seu potencial. A internet é o atual ambiente da con- vergência multimídia e traz desafios e propriedades como a instantaneidade, o alcance, a interatividade, a fluidez e a liberdade de conteúdo proporcionada pela ampliação dos limites de trabalho permitindo a inclusão de maior quanti- dade de informação em um espaço virtualmente ilimitado. Uma boa estratégia comercial capaz de explorar este po- tencial pode trazer rentabilidade aos produtores de con- teúdo de qualidade em qualquer segmento da informação Uma previsão positiva seria um processo de acomoda- ção, ajuste e a volta para a qualidade. Os profissionais da comunicação eda informação, capacitados e adaptados aos novos meios e formatos, conciliarão a forma tradicional e séria de se produzir notícias em projetos jornalísticos mul- timídia com alto valor de mercado e capaz de despertar o interesse empresarial, assim também será na publicidade. “A volta aos jornalistas e ao jornalismo significa que a 78 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España sua capacidade de atrair as audiências também reabilita o discurso crítico. As vantagens comparativas dos jornalistas continuam claras e perfeitamente identificadas, mesmo pe- los responsáveis pelo recrutamento para as empresas multi- mídia” (FAHMY, 2008). No Brasil em 2012, após o fechamento de importantes jornais como o Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, A Gazeta Esportiva, A Gazeta Mercantil e outras dezenas, podemos observar uma reação dos controladores de jornais nacio- nais contra a “revenda” de seus conteúdos jornalísticos e a exposição de suas marcas em sites de notícias sem uma contrapartida financeira por essa utilização. Concluin- do, em outubro de 2012 um total de 154 jornais seguiu a recomendação da ANJ – Associação Nacional de Jornais do Brasil de retirar a autorização para a exposição de suas manchetes no site de notícias do Google®. Também em contrapartida ao Jornal da Tarde, temos o exemplo: The Daily, é um jornal exclusivamente idealizado e formatado para o dispositivo IPad15 com a última edição publicada em 15 de dezembro de 2012 tendo menos um ano de vida. Para seu editor-chefe, Lance Ulanoff, o motivo foi o fato de sua publicação estar disponível apenas para o tablete da marca em questão e apesar da empresa de apostar suas fichas na inovação da publicação digital, não conse- guiu gerar a audiência necessária e se consolidar como um modelo de negócio sustentável e promissor. Sua estrutura tecnológica e parte de seus empregados, serão transferidos para o New York Post, que também pertence ao grupo 15. IPad é um dispositivo em formato de tablete da marca Apple Inc. Reúne os recursos de um MacBook, que é um computador portátil e de um aparelho de celular, ambos da mesma marca. Embora, com a promessa de reunir vários recursos tecnológicos, possui limitações, mas grande facilidade de interação em sua interface. 79 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España News Corp16. O Total de assinantes do veículo era de 100 mil pessoas anuais e era o aplicativo de mais downloads17 do I Tunes18 em 2011. A empresa, se posicionou para o fe- chamento, alegando necessitar de pelo menos, o dobro de assinantes para viabilizar o projeto e a “mea culpa” foi jus- tamente o fato de apostarem num único tipo de dispositivo e aplicativo. No Brasil, segundo o Instituto Verificador de Circulação – IVC, o crescimento da circulação do meio jornal no pri- meiro (1º) semestre de 2012 foi de 2,3% trazendo um novo recorde histórico para os jornais nacionais. No segmento mobile, em 2011,os acessos por smartphoens e tabletesau- mentaram 321% e 563% respectivamente, demonstrando a força das novas tecnologias e novos formatos. Concluímos então, que a tecnologia promovida pela própria tecnologia também promove e modifica a velo- cidade das relações socioculturais, econômicas, morais e afetivas e, com isso altera da mesma forma os modelos de comunicação e as relações comerciais e de empregabilida- de, numa dialética constante entre os profissionais de co- municação e da informação e as empresas que têm como missão o conteúdo midiático. 16. A News Corporation, empresa de capital aberto grupo de comuni- cação social norte americana, fundada em 1979, por Rupert Mur- doch. 17. Termo em inglês utilizado quando se quer baixar, puxar, pegar, ob- ter, descarregar e sacar um arquivo de dados ou imagem de um dispositivo através de um canal de comunicação e desta forma se obtém um conteúdo disponível on-line. 18. Aplicativo da Apple Inc que reproduz e organiza áudio e vídeo, disponibiliza conteúdos gratuitos e pagos no formato gestor de di- reitos digitais. 80 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Referências ALMEIDA, Patrícia Teixeira: Representações sociais do analfabetismo na perspectivade adultos não alfabetizados. Dissertação (Mestrado em Educação)- Universidade Cató- lica de Brasília, Brasília (DF), 2004. AUGÉ, Marc, Não-Lugares, 90o, Lisboa, 2005 (1992). CHRISTENSEN, Clayton M: O dilema do inovador: quando as novas tecnologias levam empresas ao fracasso. Harvard Business Review Press, 1997 BERNIER, Marc-François. Journalistes au pays de la con- vergence. Sérénité, malaise et détresse dans la profession . Québec, QC: Presses de l’Université Laval, 2008. FAHMY, Shahira: How on-line journalists rank importan- ce of News. SkillsNewspaper Research Journal • Vol. 29, No. 2 • Spring 2008, pp 23-39. FRANCISCATO, Carlos Eduardo & GUERRA, Josenildo Luiz, 2006, Contributions of Qualitative research to journalis- tic reporting, Brazilian journalism review, vol 2 (2), pp 83-97. GIOVAGNOLI, Max. Cross-media: le nuove narrazioni. Milano: Apogeo, 2009. GONÇALVES, Elias M. Jornalismo na internet [on line]. Pauta Geral, facom ufba ano 3, n. 4, maio/ago 1997. Google fakes in more ad dollars than U.S. print media by Felix Richter, http://www.statista.com/topics/1001/goo- gle/chart/709/google-s-ad-revenue-since-2004/acessado em 20/11/2012. http://www.correiobraziliense.com.br/app/.../10/.../imdex.shtml http://www.correiobraziliense.com.br/app/.../10/.../imdex.shtml http://www.correiobraziliense.com.br/app/.../10/.../imdex.shtml http://www.correiobraziliense.com.br/app/.../10/.../imdex.shtml mailto:felix.richter@statista.com http://www.statista.com/topics/1001/google/chart/709/google-s-ad-revenue-since-2004/ http://www.statista.com/topics/1001/google/chart/709/google-s-ad-revenue-since-2004/ 81 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España I-MediaPlanner , Instituto Verificador de Circulação - IVC Brasil, 2011,http://www.ivcbrasil.org.br/iInfoGrafi- co2011.asp, acessado em 01/12/2012. MORAES, Vinícius de. Para viver um grande amor. Rio de Janeiro. Editora do Autor, 1962. MORRIS, M. and Ogan, C. (1996), The Internet as Mass Me- dium. Journal of Communication, 46:  39–50. doi:  10.1111/ j.1460-2466.1996.tb01460.x NEVEU, Erik, News without journalists. Real threat or horror story? Brazilian Journalism Research - Volume 6 - Number 1 - 2010. RIBEIRO, Vera Masagão, Analfabetismo e alfabetismo funcional no Brasil. Boletim INAF. São Paulo: Instituo Paulo Montene- gro, jul-ago 2006. Disponível em:http://www.cereja.org.br/.../ vera_masagao_ribeiro_analf_alfa_func.pdf->. Acesso: 15/11/12 SALAVERRÍA, R.; GARCÍA AVILÉS, J.A.; MASIP, P. Con- vergencia Periodística. Propuesta de definición teórica y opera- tiva. Documento de trabajo original e inédito elaborado para el proyecto “Convergencia digital en los medios de comunicación” (SEJ2006-14828-C06). SILVA, P. IVC registra aumento de 2,3% na circulação do meio Jornal no primeiro semestre, 7/2012. Disponível em: http:// www.ivcbrasil.org.br/artigoBlog.asp?Artigo=238 - acessado em 01/12/2012. TAHARA, Mizuho. Mídia. 8ª. Ed. São Paulo: Global, 2004. TARLE, Antoine de, La presse écrite face à internet. Etudes, n° 4, 2009,pp 29-39. Washington Post, Na Internet, os jornais nunca dormem, 7 set. 1999. http://www.ivcbrasil.org.br/iInfoGrafico2011.asp http://www.ivcbrasil.org.br/iInfoGrafico2011.asp http://www.cereja.org.br/.../vera_masagao_ribeiro_analf_alfa_func.pdf-%3e.%20Acesso:%2015/11/12. http://www.cereja.org.br/.../vera_masagao_ribeiro_analf_alfa_func.pdf-%3e.%20Acesso:%2015/11/12. http://www.ivcbrasil.org.br/artigoBlog.asp?Artigo=238 http://www.ivcbrasil.org.br/artigoBlog.asp?Artigo=238 82 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 3. Aspectos da mídia terciária e suas interações no ambiente virtual Giovanna Capomaccio1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo A proposta deste artigo é analisar através de uma teoria crítica, as formas de interação na mídia terciária, onde os aparatos tecnológicos passam a ocupar a presença do cor- po, e a ausência deste, passa a ser comum nesse ambiente de mediação. Na contemporaneidade ocorre um distancia- mento no contato físico entre as pessoas, no qual não temos mais a presença do corpo e este precisa sair de seu ambien- te real para se transpor a um espaço relativamente novo (imaterial), mediado por computadores, celulares e outros equipamentos tecnológicos. 1. Giovanna Capomaccio (UNIP), mestranda do Programa de Pós- -Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil, endereço eletrônico: gicapomaccio@terra.com.br 83 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Palavras-chave: mediação; imaterial; virtual. Quando falamos em cultura midiática e suas formas de comunicação, é fundamental que citemos Harry Pross. Jornalista alemão, foi soldado na segunda guerra mundial, exerceu o cargo de reitor na Universidade Livre de Berlim e se afastou a pedido dos alunos. Assumiu a partir de então, a direção de um jornal e fazia convenções denominadas de ‘Celeiro’, onde reunia os mais importantes pensadores, estudiosos, pesquisadores para debaterem sobre temas da Comunicação. Em seus estudos, Pross aponta três níveis de comunicação como mídia: a mídia primária, secundária e terciária. Na mídia primária o contato é feito pelo próprio corpo humano, a base da comunicação humana, este se co- munica através do olhar, do andar, do gesto entre outros. O contato, segundo o autor é sempre no tempo presente. Na mídia secundária inauguramos um tempo projetado, a mediação acontece através da imagem, dos desenhos, das pinturas rupestres, até o surgimento da escrita. Ganhamos a amplificação do corpo no tempo e espaço, mas perdemos a complexidade. Aqueles meios de comunicação que transportam a mensagem ao receptor, sem que este necessite de um aparato para captar seu significado, portanto são mídia secundária a imagem, a escrita, o impresso, a gravura, a fotografia, também em seus desdobra- mentos enquanto carta, panfleto, livro, revista, jornal [...] (PROSS, 1971 apud BAITELLO, Jr. 2000, p.10) A mídia terciária nasce com o advento da Eletricidade (séc. XVIII), e juntamente com a Revolução Industrial (séc. XVIII), onde máquinas começam a substituir gradualmen- te o trabalho humano, este já superado pela era agrícola (manufatura). A industrialização adquire uma aceleração 84 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España em sua produção a partir do maquinário, e com isso, o Ca- pitalismo assume as diretrizes da economia, passando ao rá- pido escoamento de produtos e bens de consumo. O tempo de vida em troca do capital O trabalho humano de produção material, regido pelo sistema de produção com sua avaliação e medição através de unidades de tempo, foi a base para muitos trabalhadores vinculados a empresas públicas e privadas ao longo das últi- mas décadas. O trabalho era validado através da quantidade de horas trabalhadas e tudo o que se produzia durante essa jornada. Esse método de trabalho vem sendo substituído ao longo do tempo por um novo tipo de produção, a imate- rial. Os investimentos a partir do intelecto e do tempo que o próprio indivíduo disponibiliza para si, tornam-se ‘exi- gências’, apontadas como diferenciais pelas empresas e cor- porações. GORZ (2005) denomina de “capital humano”, essas novas atribuições aos trabalhadores, onde as atividades são desenvolvidas e avaliadas de modo subjetivo. O tempo livre é revertido em atividades artísticas, cursos de atualiza- ção profissional, idiomas, sempre em busca de algo novo, é uma forma de superação do próprio individuo e ocupação de todo o tempo livre. A informatização da indústria tende a transformar o trabalho em gestão de um fluxo continuo de in- formações. O operador deve “se dar” ou “se en- tregar” de maneira contínua a essa gestão de fluxo; ele tem de se produzir como sujeito para assumi-lo. (GORZ, 2005 p.17) Nesse cenário observamos que o tempo livre e disponível para realizar atividades de lazer que não estejam relacionadas 85 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España a trabalho, não necessariamente ocorre desta forma. A busca em aprimorar os conhecimentos, sejam eles, profissionais, técnicos, culturais, é realizado de forma continua, contudo, uma extensão da atividade exercida e dedicação de tempo disponibilizada para tal, porém, sem remuneração. O fun- cionário assume dois papéis no ambiente de trabalho con- temporâneo: o de colaborador e o de gestor, neste último, se torna um canal vital para os resultados nos negócios da em- presa, sendo também responsável pelos seus lucros (GORZ, 2005). Essa é a forma que o capitalismo pós-moderno se utiliza de forma hegemônica na seleção e contratação de colaboradores nas empresas. É o que GORZ (2005, p.20) constata: “ ‘capital humano’ é um recurso gratuito que as empresas buscam”, e o desempenho desses colaboradores passa a ser avaliado pela motivação atribuída nesse fluxo de tarefas e dos resultados obtidos. A comunicação na mídia terciária A comunicação na mídia terciária não tem a presença do corpo, esta necessita de aparatos onde possa ser codificada e decodificada para ser recebida, portanto é imaterial. Imaterial, no sentido de máquinas se comunicarem entre si e não mais os indivíduos, são avatares (imagens representativas) como repre- sentação. Para que a mediação aconteça é necessária a obtenção de diversos recursos, afinal estamos no contexto capitalista. Para o acesso via computadores, são necessários alguns tipos de su- porte: possuir equipamento (notebook, tablet, desktop), ter uma conta de acesso à internet, possuir energia elétrica, é preciso de uma condição financeira adequada para ter acesso a todas essas tecnologias e mantê-las no aspecto de sustentar essa forma de mediação, caso contrário, o indivíduo encontra-se excluí- do desse ambiente, diferentemente da mídia primária, onde o 86 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España corpo é a mídia em si. Temos a lógica do consumo presente a cada momento, as máquinas que se conectam possuem um fabricante, os espaços visitados possuem uma marca, o que você pesquisa é rastreado de forma a captar as suas preferências de navegação e, futuramente gerar lucro para as empresas. Não apenas o que transmite mensagens precisa de um aparelho, mas também aqueles que a recebem. Rádio e televisão exemplificam bem esta fase: não apenas as emissoras necessitam estar aparelhadas, mas cada pessoa que queira receber seus sinais pre- cisa de um aparelho. Com isto amplia-se o alcance do sinal. Mas para ampliá-lo são necessários altos investimentos que, por sua vez, requerem um al- cance ainda maior para manter esta economia. Esta dinâmica é a “economia do sinal”. (PROSS, 1971 apud BAITELLO Jr., BARRETO, 1992, p.10) Como o corpo não está presente na mídia terciária, so- mente na interface entre máquinas, não há uma realida- de vivenciada, apenas a presença de imagens técnicas que transparecem no lugar do corpo, um espaço vazio, nulo. O filósofo tcheco, Vilém FLUSSER (1985), afirma que vivemos num ambiente ditado pelas tecnoimagens ou ima- gens técnicas, no qual são produzidas pelos aparatos tecno- lógicos, seja através de pixels de uma câmera digital, onde pode ser programado ou programável entre seus bits de 0 e 1, essa projeção das imagens de forma plástica, cria uma enorme dimensão no qual as pessoas (usuários) buscam se ‘espelhar’, mas na verdade é somente uma ilusão, pois o ambiente é virtual se torna projetado. KAMPER esclarece: O virtual é possível, aquilo que a todo momento e em toda parte também é possível de outra maneira. Consiste na despedida do corpóreo uma vez que 87 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España nega as condições do tempo e do espaço renegando com isso sua própria gênese. (KAMPER, 1997, p.1) Em A Filosofia da caixa preta, FLUSSER (1985) concei- tua que um funcionário faz a programação do equipamento para que este funcione, e os usuários, no caso quem vai ope- rar aquela máquina, devem seguir as etapas de acordo com quem as programou (funcionário) daí vivenciamos uma re- tração de nossa inteligência, onde somos impedidos de fazer uma exploração de forma livre nesses equipamentos e seguir a de quem as programou naquele aparato tecnológico. Com a perda do presente, a mídia sincroniza tempos individuais em coletivos, podemos exemplificar a partir de um vídeo disponível na rede mundial de computadores, onde cada usuário acessa o mesmo vídeo em um deter- minado momento quantas vezes desejar e o ‘tempo real’ é diferente para cada um deles. A mídia terciária promove uma realidade midiatizada onde se busca uma realidade não vivenciada pelo individuo, com isso, vivemos sempre no passado, a partir da presença conservada nesse ambiente. A eletricidade é uma dimensão mágica, é a força ab- soluta do nada. Dizemos isto, pois espaço e tempo são imateriais, míticos na mídia terciária, algo absolutamen- te controlável. O espaço e tempo são totalmente abo- lidos no ambiente virtual, não há mais distinção entre classes sociais, dia/noite, geolocalização, entre outros. BAITELLO reforça: a mídia terciária possui um alcance espacial impen- sável nos outros tipos de mídia que exigem o trans- porte ou do corpo ou de um suporte de sua men- sagem. A mídia terciária transporta impulsos que se transformam em mensagem perceptível no aparato receptor. (BAITELLO, 1998, p.13) 88 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Para FLUSSER (1985), vivemos outra realidade temporal e deixamos de ser sujeitos para sermos objetos. É dessa imaterialidade das imagens, das ações simbó- licas dos sinais que nascem essas novas sociedades in- dustrializadas e suas perspectivas distópicas por meio da difusão maciça das imagens que reproduzem a lógi- ca hegemônica do capital. (PELEGRINI, 2010, p.83) Considerações Finais Harry Pross apontou três níveis na comunicação como mídia: a mídia primária acontece no tempo presente e o próprio corpo humano é a mídia, seja através do olhar, do gesto. Já na mídia secundária, o tempo projetado assume o seu espaço e a imagem, o desenho, as pinturas rupestres são as formas de mediação. E na mídia terciária, temos o imaterial, onde tempo e espaço se diluem, as formas de interação são através de aparatos tecnológicos, comunica- ção entre máquinas. André Gorz indica na era da contemporaneidade, uma nova forma de seleção de colaboradores em empresas e corporações, atribuída de “capital humano”, onde o bem principal de cada individuo é a sua inteligência e de como mantém seu intelecto atualizado. Dessa forma, o tempo considerável livre para atividades de lazer, torna-se reverti- do para investir indiretamente na carreira profissional e esse que seria um diferencial, é tido como padrão para contrata- ção nas empresas. “A vida se torna o capital mais precioso.” (GORZ, 2005, p. 24-25). Esse tipo de “capital humano” é quem vai gerenciar os resultados e retornos obtidos pela corporação, através de sua motivação junto aos demais co- laboradores dentro do fluxo produtivo-intelectual. 89 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Vivemos na era da visualidade, onde as imagens estão prontas, não é preciso refletir, analisar, pensar, são superfi- ciais, só reproduzimos modelos. Estamos sob um ambiente no qual espaço e tempo são imateriais, o monitoramento acontece integralmente, não há liberdade e as imagens pas- sam a ser soberanas, elas que ditam as regras e o imaginário se dilui. As questões funcionalistas geram a in-comunicação na mídia terciária, onde a imagem prevalece através de pa- drões criados pela cultura midiática e há um grande esfor- ço para alcançá-los, pois não existe uma aspiração própria, apenas uma aspiração conduzida pela mídia, através da ló- gica produtiva que impõe sua ordem num espaço nulo e vazio, e assim vivemos numa esquizofrenia constante. Referências BAITELLO Jr., Norval. O tempo lento e o espaço nulo. Mídia primária, secundária e terciária. Texto apresentado no Grupo de Trabalho - GT Comunicação e Cultura, du- rante o IX encontro anual da Associação Nacional dos Pro- gramas de Pós-Graduação em Comunicação - COMPÓS. Porto Alegre, 2000. BAITELLO Jr., Norval; BARRETO, José Roberto. A co- municação e os ritos do calendário – Entrevista com Harry Pross. Projekt – Revista de Cultura Brasileira e Alemã. São Paulo, n° 7, p. 7-10, Junho 1992. BAITELLO Jr., Norval. Comunicação Mídia e Cultura. São Paulo em Perspectiva 12 (4). São Paulo, p.11-16, 1998. CONTRERA. Malena. Ontem, hoje e amanhã: sobre os rituais midiáticos. Revista FAMECOS. Porto Alegre, nº 28, p.115-123, Dezembro 2005. 90 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. São Paulo: Hucitec, 1985. GORZ, André. O imaterial: conhecimento, valor e capi- tal. Tradução de Celso Azzan Júnior. São Paulo: Annablu- me, 2005. KAMPER, Dietmar. Corpus Absconditum. O Virtual como Variante da Ausência. CISC – Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia. São Paulo, p. 1-3, 1997. PELEGRINI, Milton. Imagens Técnicas e Distopias. A So- ciedade Programada no Pensamento de Vilém Flusser. Sig- nificação – Revista de Cultura Audiovisual, ed. 33, p.79-89, São Paulo, 2010. PROSS, Harry. Estructura simbólica del poder. Barcelona: Gustavo Gili, 1980. 91 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 4. A ética na imprensa: desafios no exercício ético da profissão de jornalista no Brasil e na Espanha Elaine Nogueira Dias1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Bruno Henrique Bezerra Rebouças2 Universitat Autònoma de Barcelona – UAB, Barcelona, Espanha Resumo Ainda que a informação e o acesso a ela tenham sem- pre sido questões de suma importância em nossas vidas, a rapidez com a qual a informação “viaja” nos dias atuais acarreta em determinados problemas e exige reflexões so- 1. Elaine Nogueira Dias, mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP – São Paulo, Brasil, email: elainedias@gmail.com 2. Bruno Henrique Bezerra Rebouças, mestrando em Comunicação e Jornalismo pela Universitat Autònoma de Barcelona - UAB - Barcelona, Espanha, email: brunohbb@gmail.com 92 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España bre o que seria o papel do jornalista na sociedade e como tratar as questões éticas no exercício desta profissão em todo o mundo. Nesta breve pesquisa, pretendemos veri- ficar as diferenças e similaridades na forma de se tratar a metodologia de trabalho do jornalista no Brasil e na Espanha, a partir da ética como conceito geral e de suas especificidades para o jornalismo e para a atuação do jor- nalista em ambos os países. Palavras chave: Ética; jornalismo; imprensa; Brasil; Espanha. Introdução O estudo sobre a ética percorre os séculos. Um dos pri- meiros filósofos a tratá-la foi Aristóteles, com a autoria do livro Ética a Nicômaco, escrito de pai para filho, na qual Aris- tóteles estava preocupado com a felicidade e o bem estar de seu filho. Porém, o propósito da obra não era somente guiar Nicômaco ao caminho da felicidade e da boa conduta e sim, a sociedade ter em vista que a ética é o comportamen- to coletivo, assim como os homens são seres sociais e não individuais. A partir de tal obra, Aristóteles é considerado o primeiro filósofo a formalizar o conhecimento, sendo assim considerado o primeiro pesquisador científico. A ética está relacionada, segundo as definições, ao bem estar e a busca da felicidade, como defendeu Aristóteles (2001). Sem os bons costumes do ser social é impossível ser feliz, pois o comportamento e os costumes são inerentes ao homem para viver em sociedade. Para o filósofo, tudo têm seus fins. “O fim da medicina é a saúde, o da constru- ção naval é um navio, o da estratégia militar é a vitória, e o da economia é a riqueza” (2001, p. 5) e o da ética, para os antigos, é a felicidade e o exercício do soberano bem. 93 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Com o passar dos anos, a ética ganhou outra conotação se- melhante a que conhecemos hoje em dia. De acordo com Adauto Novaes (2007, p. 8 e 9): a ética sofreu uma perda irreparável, no que consiste na ideia de felicidade que car- regava, em “substituição pelas noções de obrigação, dever, obediência; [...] e o surgimento das normas éticas e dos preceitos a que se deve obedecer”. Adolfo Sánchez Vázquez (2010, p. 23) define ética de forma mais científica. Para ele “a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano”. Porém, à ética como ciência não cabe formular juízos de valores e normas de condutas. A função da ética como disciplina e ciência, de acordo com Vázquez (2010, p. 21) “está naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas”. Para ele, a ética não tem o poder de formular conceitos e práticas, embora possa contribuir com certa forma de com- portamento moral da sociedade. O autor de Ética, explica que essa ciência não pode ser resumida a desenvolver nor- mas e prescrições. A ética tem como objetivo explicar as condutas morais. Mesmo assim, de acordo com Vázquez a ética pode influir nas práticas morais dos homens. A moral não é ciência, mas objeto da ciência; e, nes- te sentido, é por ela estudada e investigada. A ética não é a moral e, portanto, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições; sua missão é explicar a moral efetiva e, neste sentido, pode influir na própria moral (VÁZQUEZ, 2010, p. 24); Seguindo o raciocínio, a ética é coletiva e a moral é individual. Os problemas éticos são marcados por sua generalidade. É devido a esta que distinguimos os pro- 94 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España blemas morais da vida cotidiana que são aqueles que se apresentam nas situações concretas. Para José Manuel Santos (2001, p. 15) a ética “é muitas vezes utilizada para designar a disciplina ou a ciência que te- matiza as normas morais”. E “‘Moral’ é utilizado para de- signar as normas morais que um grupo humano se dá es- pontaneamente a si próprio, sejam elas objeto de teorização ou não”. Ou seja, as dificuldades que o indivíduo enfrenta diariamente, as decisões que ele toma são baseadas em sua subjetividade, formação e em sua moral prática. Essa moral prática é guiada pela ciência que chamamos de ética e que está ligada ao ser humano desde os primórdios. O que faz um Ser agir de uma forma é a sua moral e, o que determina se essa conduta foi correta dentro das normas sociais, é o estudo da ética que, de acordo com Vázquez, varia de socie- dade a sociedade assim não tendo uma fórmula geral que englobe o mundo inteiro. Não lhe cabe formular juízos de valor sobre a práti- ca moral de outras sociedades, de outras épocas, em nome de uma moral absoluta e universal, as deve, antes, explicar a razão de ser desta pluralidade e das mudanças de moral; isto é, deve esclarecer o fato de os homens terem recorrido a práticas morais dife- rentes e até opostas (VÁZQUEZ, 2010, p. 21); Deste trecho é importante salientar que a ética é mu- tável conforme o passar do tempo. Assim sendo, costumes tidos como imorais no século XVIII não foram os mesmos do século seguinte e, estes, não continuam a ser os mesmos do século vigente. Com o passar dos anos, saberemos com maior clareza quais tipos de conduta moral deixaram de existir nos anos 2000 e quais permaneceram. 95 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Ética e política – de inseparável a dispensável Aristóteles e Platão conceberam o estudo da ética em constante unidade com a política, pois consideravam ambas as ciências voltadas para prática do bem estar social, o que é denominado de eudaimonía, ou seja, vida boa. Maquiavel, em O Príncipe (2005) também concebe a ética de forma inseparável da política, mas de maneira como vemos essa dicotomia hoje. A ética é necessária para o político alcançar seus fins. Sendo assim, acreditava Maquiavel que ela é ape- nas um depósito de nossas representações. Para os filósofos gregos, a ética é fundamental para o político alcançar seus fins, levando em conta a virtude que deve acompanhá-lo. Virtude essa, que não pode ser ensina- da e parte da ética, em busca da prática do bem coletivo. Se, para os antigos, o fim da política era o ‘bem’ e o da ética era a felicidade, Maquiavel ressalta que não é necessário reunir todas as virtudes para exercer a política, apenas aparentar possuí-las, o que não exclui a ideia de que “a virtude é essencial ao exercício do poder, mesmo quando apenas si- muladas” (BIGNOTTO, 2007, p. 161). Ao longo do tempo, a relação de virtude ética e exercício político foram se sepa- rando, pois a ‘barreira’ ética sempre perdeu e perderá força e importância para os meios utilizados que buscam chegar aos fins de interesse meramente políticos e individuais. Para Bignotto (2007), o discurso ético parece impotente para iluminar a significação da ação humana. O autor ressalta, em artigo intitulado de As fronteiras da ética: Maquiavel, no livro Ética – vários autores, a ruptura entre ética e política se dar na formação da modernidade. Bignotto (2007, p. 155) acredita que: “Para falar de ética hoje em dia, temos de ter consciência de que qualquer tentativa de cons- truir uma ciência dos valores terá diante de si a árdua tarefa de desvendar a trama da ruptura da ética com a política”. 96 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Essa ruptura acontece na necessidade de alguns tipos de políticos, que Maquiavel intitula de príncipe, em exercer a prática do poder mesmo não tendo nenhuma vocação e virtude para isso, porém exercendo o posto pela aparên- cia de ser um líder, seja Tradicional, Carismático ou Legal como assinalou Max Weber. Tendo em vista a ruptura entre ética e política, Santos (2001, p. 19) afirma que: “A ideia da independência do político em relação ao ético, do político como pura arte do equilíbrio dos poderes, da sua distribui- ção justa, e do exercício do poder, será sublinhada na Mo- dernidade a partir de Maquiavel” [...]. Apesar de a ruptura existir e, acompanharmos os casos de corrupção que movem o cenário político, tanto no Bra- sil como na Espanha, a ética é necessária aos políticos e aos partidos, especialmente nos momentos de sufrágio universal, onde a grande massa do eleitorado não consegue distinguir o caráter dos profissionais da política. “A política depen- de dos julgamentos éticos morais, uma vez que os homens sempre avaliam seus governantes a partir de noções herdadas da tradição, embora não sejam de discernir a verdade das palavras do príncipe” (BIGNOTTO, 2007, p. 161). Podemos questionar, quando houve a ruptura da po- lítica com a ética. É evidente que é impossível afirmar uma data concreta, pois déspotas, tiranos, agentes públicos corruptos e etc. sempre existiram. Mesmo sendo usada como aspiração de representações por partes dos agentes políticos, não podemos dizer que a ética não tem ligação com a política e vice-versa. Ao dizer que a política não pode separar-se da ética, uma vez que depende da representação que os homens fazem dos atos dos governantes, esta- mos assegurando um lugar para ela na vida públi- ca, mas não esclarecemos inteiramente a natureza 97 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España da relação existente entre as duas esferas de ação (BIGNOTTO, 2007, p.162). Devido a isso, exigir uma política ética, ou ética na política é necessário para que se perceba as ações dos que exercem cargos públicos, não somente no contexto do certo e do errado, mas para julgá-los dentro da virtude (Aristóteles) e da vocação (Weber) que cada político deve ter. Celso Lafer (2007, p. 18) afirma que o “desencontro entre ética e a política incomoda e indigna a todos que querem ver e sentir a presença de virtudes na condução dos negócios públicos”. É preciso abordar que a ética política, no Brasil, não tem muita voga. A começar pelo Congresso Nacional e a pom- posa ‘Comissão de Ética’, que julga antiético um deputado federal ou senador não chamar o par de vossa excelência. Enquanto que, gravações com deputados federais, seja dos partidos aliados ou do eixo adversário, recebendo propina e dinheiro de caixa dois é apenas ‘intriga da oposição’. Na Espanha, onde o sistema de governo é a Monarquia Parlamentarista, casos de corrupção envolvendo políticos não estão presentes na mídia com a mesma intensidade com a qual ocorre no Brasil, mas atinge inclusive a mo- narquia, como no caso Iñaki Urdangarin, genro do Rei Juan Carlos, que realizou negócios ilegais milionários com dinheiro de fundos públicos (EL PAÍS, 2012). Outro caso recente é a acusação contra o alcalde (prefeito) do muni- cípio de Sabadell, na província de Barcelona, de autorizar a construção e instalação de grandes empresas na região mediante pagamento de propinas de no mínimo 120.000 Euros por obra, valor que era dividido entre os políticos e funcionários públicos envolvidos (EL MUNDO, 2012). Exigir ética dos políticos nestes países é uma questão controversa. Como a ética não é uma barreira física e a 98 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España moral parte dos princípios e costumes de cada indivíduo, ambas são ultrapassadas facilmente de acordo com o in- teresse político-econômico-partidário. Quando a ‘barreira’ ética é quebrada para suprir interesses escusos, ela passa de fundamental a dispensável e de inseparável a separável, virando apenas uma disciplina acadêmica ou somente uma palavra má empregada no linguajar cotidiano. Santos (2001, p.19) aborda, em Ética da Comunicação, que na Antígona, de Sófocles, o conflito entre ética e política “foi magistralmente levado à cena. A ordem política acaba por levar a melhor sobre a revolta da consciência moral que teimou em cumprir o seu dever”. Assim sendo, a política sempre vencerá a ética, quando esta se interpuser aos inte- resses dos agentes do Estado. Os meios, os fins e a violência legítima Uma das citações mais conhecidas é aquela pronunciada em O Príncipe, de Maquiavel (2005): “os fins justificam os meios”. Na política tal frase é muito usada para justificar o uso de métodos ilícitos para alcançar os fins que sejam bons. Tal formulação é meramente ética. Ainda na mesma obra de Maquiavel, há uma passagem que diz: “as violências devem ser feitas todas ao mesmo tempo, a fim de que seu gosto, persistindo menos tempo, ofenda menos”. Para We- ber (2003) a relação entre ética e política passa pelo “o uso legítimo da violência”. Seguindo o pensamento de Ma- quiavel, Weber aborda também a questão dos meios e dos fins e afirma que a ética deve considerar que há vários casos que o individuo se vê obrigado a recorrer a meios não tão lícitos e, assim perigosos, para alcançar um resultado final bom, mesmo tendo em vista a possibilidade de uma conse- quência, segundo o autor, desagradável. 99 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Vale salientar que Weber (2003, p. 102), acredita que o instrumento decisivo da política é a violência. Para ele, “o específico dos problemas éticos na área da po- lítica reside na relação existente entre ética e violência legítima, de que a associação humana se apresenta como portadora”. Ou seja, sociologicamente, a relação ética e política passa pelo uso da força que o Estado é legítimo em usar, tornando-a normal em tais parâmetros. Nesse sentido, as formas de dominação do homem pelo ho- mem, além de histórica é também natural. Weber (2003) divide a dominação em três. São elas: Tradicional, Carismática e Legal. A dominação Tradicional consiste na crença dos súditos no poder do patriarca ou do príncipe, para usar as palavras do autor. Nesse tipo de do- minação, o súdito crê que deve obediência ao senhor por uma virtude, por uma tradição (como o poder pertencente, historicamente de uma família e seus membros) e etc. É um tipo de relação vertical. O senhor manda e o súdito obedece. Podemos citar, nessa dominação, os escravos, prin- cipalmente os negros, que eram ‘propriedade’ dos senhores e os obedeciam, mesmo não entendendo por quê. O que Weber intitula de “passado eterno”, ou seja, é o costume de uma disposição de respeitar a quem dar ordens. Já a dominação Carismática, intitulada de “dom da graça”, pelo autor, é muito comum em governo de frente popular e no ocidente. Ela tem seus princípios na devoção dos súditos na figura de um líder, através de suas virtudes, seja heroísmo, coragem ou qualquer outra qualidade pessoal. Podem exer- cer tal dominação o “profeta ou – no campo da política – pelo chefe guerreiro eleito, pelo governante empossado por plebiscito, pelo grande demagogo e pelo chefe de um parti- do político” (WEBER, 2003, p.11). Para esse tipo de domi- nação, podemos citar a devoção dos seguidores de Canudos, a Antonio Conselheiro; Por último, a dominação Legal que é 100 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España mais comum em nosso tempo. Esta é baseada na validade do “estatuto legal e da competência funcional baseada em nor- mas racionalmente definidas” (WEBER, 2003, p. 11). Essa dominação é exercida pelos modernos servidores do Estado e “por todos os detentores do poder” a ela ligada. É nesse sentido, após analisar a formas de dominação que o patriarca, o príncipe e/ou herói exercem sobres seus súditos ou seguidores, que Weber divide a ética em duas, sendo elas: “dos fins (ou das convicções)” e “das res- ponsabilidades”. A diferença entre as duas está no fato de que a primeira é a ética do cristão moralista que toma suas atitudes e “deixa os resultados nas mãos do Senhor” (We- ber, 2003, p. 94). Já a segunda, consiste no prestar contas das consequências das próprias ações. A ética das respon- sabilidades é, ou deve ser a ética do político. Santos (2001, p. 19), define a ética das convicções como “a ética do moralista que aplica cegamente princípios morais, recusando-se a fazer qualquer balanço das consequências da sua aplicação”. Santos cita o exemplo do “pacifista convicto”, que recusa o uso da violência em qualquer circunstância. A ética das responsabilidades trata das ações do político “que aceita males limitados para evitar males ainda maiores”. Nes- te caso o objetivo final da política é a atitude ética. Ainda dentro da dicotomia da ética geral, alguns autores trabalham com os conceitos de Teleologia e Deontologia. A primeira está ligada aos gregos e cristãos da antiguidade. Segundo Santos (2001), Teleologia vem de télos, significan- do ‘fim’. Ou seja, tal ética está ligada a ideia que os antigos tinham que suas ações éticas serviam e estavam a favor de um bem que caracterizava a vida dos homens. Já a pala- vra Deontologia, originária do grego déon, significa ‘dever’. Esta ética carrega consigo os conceitos que temos hoje em dia, sobre ética, da necessidade de se seguir as normas e cumprir os deveres estabelecidos socialmente. 101 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Santos (2001, p. 21) esclarece que há um segundo sig- nificado para tal ética, diferente e mais comum do que a explicação abordada. Esta é referente aos “procedimen- tos considerados jurídicos e moralmente bons numa dada área profissional”. Ou seja, ética deontológica pode ser aplicada ao exercício de uma profissão, mesmo submetidas à ética geral, porém com alguns casos regulados por ações jurídicas e específicas, principalmente nas profissões na qual o exercício da função é regulado não só moralmente, como juridicamente. Ética e jornalismo Como todo conhecimento científico, os estudos éticos prismam pela racionalidade e pela objetividade dos fatos, a fim de criar um conhecimento sistemático e metódico, com o intuito de no mínimo comprová-los (VÁZQUEZ, 2010). Podemos submeter tal pensamento à Comunicação, em especial ao Jornalismo que, historicamente, presa pela obje- tividade dos fatos, o que indica subtrair toda a subjetividade, preconceitos, ideologias e etc. para alcançar e levar ao públi- co, de maneira racional, a informação. Fica evidenciado que a busca de tal objetividade se tornou uma teoria metódica visando o desenvolvimento mais isento de reportagens le- vadas ao público. Porém, na prática, o resultado da busca da objetividade jornalística esbarra na linha editorial do veícu- lo de comunicação, bem como em seus interesses e na sub- jetividade do repórter em descrever os fatos. “A objetividade no jornalismo, que é intersubjetividade, não pede isenção total – pede equilíbrio” (BUCCI, 2000, p.95). Seguindo o pensamento de Vázquez, referente à ética buscar estudar fatos objetivos e racionais, é que talvez o jornalismo e a ética se aproximem tanto em sua for- 102 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España mulação, pois, assim como a ética é voltada para a socie- dade, o jornalismo exerce uma função social de comu- nicar, informar e formar cidadãos baseado na verdade, inerente a profissão. Porém, os abusos e os erros come- tidos, com ou sem intenção, demonstram que a questão ética é ultrapassada facilmente pela conduta moral dos jornalistas e seus superiores. No Brasil, para tentar guiar a conduta ética dos jornalis- tas, foi criado em 1985 pela Federação Nacional dos Jorna- listas (Fenaj) o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Este, contém 19 artigos que abordam desde a defesa da li- berdade de imprensa e de expressão até o que o jornalista pode, deve e não deve. O Código de Ética dos Jornalistas é uma prescrição de como o profissional do jornalismo deve agir em seu cotidiano, assim como todo código de ética. As leis de imprensa na Espanha nasceram a partir da pró- pria Constituição Espanhola de 1876, e foi sofrendo alte- rações ao longo das décadas, e conforme a situação política do país, até os dias atuais. O último intento de formalizar um Estatuto começou em 1994, com base da Lei de Im- prensa de 1966, e os debates sobre o tema seguem até os dias de hoje sendo a principal complicação a aparente im- possibilidade de definir quem é jornalista e no que consiste a profissão (Pombo in ROCA, 2002). Ética na imprensa: um paralelo entre Brasil e Espanha No Brasil, o Código de Ética dos Jornalistas, reeditado em 2008, contém 19 artigos. Tendo em vista os ensina- mentos sobre ética de Adolfo Sanchez Vázquez, como a ética não é tratada como prescrições e afazeres é correto intitular um código de ética? Nesse caso sim, pois caso a titulação fosse Código Moral, seria voltado para o indiví- 103 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España duo e não a generalidade social, como também é caracte- rizada o estudo da ética como ciência. Pois, o Código dos Jornalistas trata a questão de forma geral e, apesar de não ser uma barreira física, o código tem a intenção de guiar o conjunto dos profissionais naquilo que é considerado uma boa prática jornalística. O primeiro artigo do Código de Ética dos Jornalistas Profissionais é referente ao intuito do código que nesse caso é: “O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito fundamental do cidadão à informação, que abrange direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação (FENAJ, 2008, p. 1)”. Ou seja, é dever do jornalista defender a liberdade de imprensa, a democracia, a liberdade de expressão e a plura- lidade de ideia, pois só assim, será dado ao cidadão o direito ao acesso à informação. Sendo assim, “A ética jornalística não é apenas um atributo intrínseco do profissional ou da redação, mas é, acima disso, um pacto de confiança entre a instituição do jornalismo e o público” (BUCCI, 2000, p.25). Na Espanha, existe um regime normativo que visa al- cançar não apenas os profissionais jornalistas, mas também as empresas de comunicação, porém não há um código de ética propriamente dito. Roca (2002, p. 79) explica que os direitos e deveres dos jornalistas na Espanha são, pri- meiramente, as mesmas de qualquer outra profissão, como consta no Real Decreto Legislativo 1/1995, do Estatuto de los Trabajadores, e as convenções referentes à prática do jor- nalismo: “são resultado da negociação entre trabalhadores e empresários (reconhecido como direito no art. 37.1 da Constituição Espanhola)” (idem, tradução nossa). Mas é comum verificar que não há uma comoção ou interação entre a categoria, quando um veículo ou jornalista é censurado no livre exercício da profissão. Bucci (2000) alerta que o principal dever de um veículo de comunicação 104 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España é assegurar o direito do público à informação. O autor ainda afirma que o jornalista é democrata por definição, já que, o jornalismo, tal como o conhecemos hoje, é uma invenção da democracia moderna. Neste sentido, o Código de Ética dos Jornalistas no Brasil assinala, no artigo 6º, do “Dever do Jor- nalista”, “opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos”. É o que Bucci (2000, p. 49) afirma: “Quem não é democrata não pode ser jornalista. O jornalismo a favor de uma ditadura é algo tão despropo- sitado quanto um sindicato a favor do pelourinho”. Mesmo instituído no Código da profissão e condenado pelos principais teóricos da comunicação social é possível notar diariamente, o uso dos veículos de comunicação para a defesa intransigente de interesses que não são os dos cida- dãos. Além, da não solidariedade, digamos assim, da categoria com seus pares em caso de desrespeito, censura e arbítrio. Nesta temática, verificamos que a normas deontológicas que regem a atuação do jornalista na Espanha acabam por emanar de princípios mais globais em combinação com os direitos constitucionais espanhóis, como por exemplo, os Princípios Internacionais de Ética Profissional do Jorna- lismo da UNESCO, e a Resolução 1003 do Conselho da Europa sobre a Ética no Jornalismo. As normas relativas aos direitos fundamentais e às liberdades que a Constituição reconhece serão interpretadas em conformidade com […] os tra- tados e acordos internacionais sobre os mesmos temas ratificadas pela Espanha” (ROCA, 2002, p. 94, tradução nossa). Considerar a normativa de tais documentos de valor universal facilita o entendimento do que se pode con- 105 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España siderar ‘certo ou errado’ no jornalismo, mas sob o risco de faltar clareza sobre as sanções empregáveis no caso de descumprimento. A ética jornalística se resume em contar a verdade dos fatos (BUCCI, 2000) relatados pelo profissional do jorna- lismo. Esse princípio já distorceria muitos dos abusos da imprensa contra a sociedade e os indivíduos. É necessário abordar que os jornalistas desenvolvem uma função inte- lectual natural, ou seja, assim como todos os seres humanos os profissionais do jornalismo são dotados de subjetividade, ideologia e preconceitos. Ou seja, nada difere o jornalista dos não jornalistas. Porém, o profissional da referida área tem o compromisso social de ser o mediador dos diversos discursos expostos na sociedade como um todo, que possa vir a ser de interesse público. É baseado no interesse público que Bernardo kucinski (2005), retrata que o jornalismo clássico é orientado por uma “ética de princípios”, o que significa que os critérios, ou os meios para determinar se a conduta é correta não dependem dos fins. Nesse caso, o que importa é a busca e a socialização, usando as palavras do autor, da verdade dos fatos, o que Kucinski chama de “o imperativo categórico da verdade”. Para o autor, nesse tipo de ética, não é dever do jornalista mediar a verdade “que devem ser reveladas, ou suprimir informações por razões táticas” (KUCINSKI, 2005, p. 2). Ao suprimir ou esconder a verdade total ou par- cialmente o jornalista torna-se “cúmplice de todas as más consequências da sua supressão”. No caso do profissional espanhol, segundo Roca (2002, p 224, tradução nossa), “os deveres profissionais dos jorna- listas estão formulados apenas como normas morais, nunca em normas jurídicas. Não há, portanto, deveres jurídicos específicos aos jornalistas”. Há, portanto, uma contradição com a deontología da profissão na Espanha, incluso no to- 106 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España cante às normas internacionais já citadas, como a Decla- ração da UNESCO, se consideradas o que o autor define como as três categorias principais que envolvem os deveres do jornalista neste país: 1) Obtenção da informação de for- ma lícita; 2) Compromisso com a veracidade dos fatos; 3) Respeito aos direitos e princípios constitucionais. Em geral, tais premissas se parecem muito com as que conhecemos no Brasil, porém com a problemática de não haver clareza quanto às sanções. A ética é inerente ao exercício do jornalismo e com o dia-a-dia dos profissionais e falta de reflexão de práticas e atitudes, abre-se o questionamento de quão importante é o ensino da ética nos cursos de comunicação. Repetimos o questionamento sobre quando a política abandonou a ética para alcançar seus fins. Será que o jornalismo abandonou a ética? Embora acreditemos que não, é razoável pensarmos que em todos os casos a ética é facilmente superada pe- los interesses particulares. Tendo em vista que ética é para causar o soberano bem-estar, como pensava os antigos, ou para cumprir um dever ou uma norma, para os modernos, o Código de Ética aparece mais como um mero enfeite ca- tegórico que ilustra o dia a dia do profissional, do que algo relevante e discutido entre os pares. Para Bucci (2000), a ética no jornalismo não deveria se resumir a uma normatização de comportamento. A ética deve ser encarnada em valores que devem ser seguidos por todos os funcionários de um veículo de comunicação e não somente de seus empregados, mas partindo, também, dos empregadores. O que acreditava também Cláudio Abramo (1988, p. 109): “É preciso uma atitude muito ética dentro da redação: os chefes e os responsáveis pelo jornal têm de dar o exemplo ao pessoal mais novo, senão é o caos”. Na Espanha, segundo Roca (2002), poucos jornais possuem um manual de redação, citando apenas alguns 107 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España como o El País, o El Mundo, o La Voz de Galicia e o El Periódico de Catalunha como jornais mais relevantes e que possuem este recurso. O autor explica que, de maneira geral, o setor de imprensa diária (impressa e digital), com mais de 12 mil trabalhadores na Espanha, possui um con- vênio próprio desde 2001, sendo esta a mais importante convenção de normas entre os jornalistas espanhóis. O texto vigente foi assinado em Julho de 2001, após mais de um ano de negociações com representantes da Unión General de Trabajadores, Comisiones Obreras e da Asociación de Editores de Diarios Españoles (associa- ção patronal que agrupa más de 90% da imprensa espanhola). O texto foi rejeitado pelo Sindicado de Periodistas de Cataluña, por excluir as agencias in- formativas e os jornalistas autônomos [...] (ROCA, 2002, p. 81, tradução nossa). A aplicação da normativa constante neste convênio, porém, não inclui os executivos da imprensa (conselhei- ros, diretores e altos executivos) ou o superior do redator chefe (ou os jornalistas autônomos, ou freelancers, como já mencionado). A exclusão destes do que seria a aplicação de normas éticas na prática da profissão pode acarretar na pro- blemática onde os interesses capitais da empresa jornalística estarão em choque com os interesses sociais e morais da prática do jornalismo. Acreditamos que deveria haver um maior aprofunda- mento, nessa questão ética por parte dos profissionais do jornalismo e, que, por exemplo, a Fenaj, no Brasil, não de- veria só disponibilizar em seu site os 19 artigos do Código, mas realizar uma campanha e abrir um espaço para os pro- fissionais da área discutir seu cotidiano. O ato de discutir o dia a dia, não necessariamente deva partir da Fenaj, mas poderia partir dos Sindicatos ou até mesmo dos profissio- 108 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España nais, fazendo algo parecido com o Comitê dos Jornalistas Pre- ocupados, nos Estados Unidos, abordado no livro de Bill Ko- vach e Tom Rosenstiel, Os elementos do jornalismo: o que os Jornalistas devem saber e o público deve exigir (2003), ou como o Observatório da Imprensa. Por justamente não haver um espaço comum para dis- cussão ética profissional, salvo as tentativas de discussão no âmbito acadêmico, é que Bucci (2000) defende que os vi- gilantes das atitudes éticas, ou antiéticas da imprensa e dos jornalistas deve ser o cidadão. Seguindo o mesmo rumo, Rogério Christofoletti (2008, p. 12) afirma que: “a ética no campo do jornalismo deve preocupar não só quem produz informação, mas também quem a consome”. Para o autor de Ética no Jornalismo (2008), a ética não deve ser apenas um rótulo ou um acessório que ilustra as paredes da redação. A ética jornalística é tão importante quanto à “qualidade técnica de produção do trabalho” desenvolvi- do nos veículos de comunicação. O que caracteriza a ética do jornalismo e de seus profis- sionais é o equilíbrio entre sua subjetividade e a realidade dos fatos. É contando a verdade, inerente a função que o profissional conquista a credibilidade do público. “A im- prensa é a materialização de uma relação de confiança, e não simplesmente um serviço de fornecimento de produ- tos informativos para o consumo” (BUCCI, 2000, p.52). Villegas (1999, p. 52) trata desta questão entre ética e credibilidade acrescentando que “a credibilidade vende”, ou seja, além de uma questão de comportamento ético dentro das normas morais inerentes a qualquer profissio- nal ou específicos do jornalismo, há também a questão mercantilista, a partir da qual a falta de credibilidade de um jornal pode levar o mesmo a sua extinção, um ciclo destrutivo pelo qual a imprensa espanhola está passando neste mesmo momento. 109 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España A transformação do jornalismo em consumo trouxe a falta de reflexão ética dos seus agentes com o passar dos anos. A necessidade de transformar tudo em espetáculo, a pressão do deadline, e a auto-suficiência que emanam os jornalistas diários, permitem que equívocos aconteçam diariamente. Alguns casos se tornaram históricos como, no Brasil, o caso da Escola Base (1994) e a edição do debate entre Collor e Lula (1989), produzido pela Rede Globo. Além destas questões de consumo, há também o proble- ma ético na manipulação da informação. Um erro histórico na Espanha trata do atentado a bomba na estação Atocha, em Madrid, quando governo e imprensa, por vários dias, culparam a organização basca ETA pelo ataque quando na verdade havia sido um atentado de autoria da Al Qaeda. Neste caso específico, o erro foi interpretado como uma manobra do governo para não perder votos nas eleições que aconteceriam no país nos próximos dias: culpar a ETA faria com que a população ficasse do lado do governo, en- quanto culpar a Al Qaeda faria com que a população ficasse contra o governo em razão do apoio espanhol à invasão do Iraque (EL PAÍS, 2004). Com a ascensão da internet como canal de informação e produção de conteúdo, o jornalismo vive um dilema ain- da mais forte, pois é necessário mais velocidade na apuração das informações o que resulta mais erros e abusos cometidos pelos veículos de comunicação. A web trouxe a necessidade do mercado em procurar profissionais multimídias, conver- gentes com as diversas tecnologias, o que produz o efeito de ‘especialista em generalidades’, como assinalou Cláudio Abramo (1988) em A regra do jogo. Com profissionais cada vez mais interligados a tecnolo- gia e, esta permitindo a diminuição do tempo de produção é notável a redução no tamanho das redações no Brasil e na Espanha, principalmente onde repórter fotografa, entrevista 110 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España e escreve, em alguns casos, até dirige o carro para se loco- mover. Esta demanda a um profissional multitarefa pode ser considerado um dos fatores que levam aos problemas que presenciamos hoje no meio jornalístico. Nós [os jornalistas] estamos impondo a nós mes- mos uma censura e uma forma de trabalho na qual exercer a autocrítica, a revisão diária de comporta- mentos e os modos de trabalho é incômoda e por isso e como tal, a evitamos. Esta rotina está fazendo com que os novos jornalistas se incorporem a reda- ções nas quais a essência do jornalismo como ser- viço público está mais do que ausente, adormecida, e que o conceito de democracia informativa seja a reivindicação de ‘uns poucos loucos’ que clamam pela cláusula de consciência, o segredo profissional, os Estatutos [ou os Códigos de Ética], ou os Conse- lhos de Redação (VILLEGAS, 1999, p. 54, tradução nossa, grifos nossos) Alinhado a essas questões, a má remuneração está con- tribuindo cada vez mais para a migração de jornalistas de redação para as assessorias de imprensa, o que é natural pela melhor remuneração e relação de trabalho. Quando não há a migração, há a junção de tarefas. Ou seja, profissionais que exercem ambas as funções, tanto de assessor de imprensa, quanto de jornalista de redação. Um no período da manhã e outro à tarde, o que a médio e longo prazo pode trazer consequências graves a sociedade. Considerações Finais Com esta breve pesquisa, buscamos elucidar o tema da ética do jornalismo no Brasil e na Espanha a partir 111 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España do conceito geral de ética como filosofia e passando pela relação entre ética e política e finalmente a ética na prática profissional do jornalista em seu dia a dia em ambos os países. Primeiramente, podemos perceber que há, em ambos os países, um problema geral de definição (quem é e o que faz um jornalista?) e também de responsabilida- de (quais são os reais deveres e direitos do jornalista?). E, além desses, as questões políticas e econômicas que atingem às empresas jornalísticas e que contribuem para uma desqualificação geral da profissão, e como consequ- ência da informação em si, e portanto do nível de credi- bilidade que o receptor tem na notícia e vice−versa, um círculo vicioso destrutivo tanto para o jornalista como indivíduo e como profissional, como para as empresas de comunicação, e para toda a sociedade. A tentativa de definir estas questões e de se criarem estatutos e códigos de ética (ou de se impor as que já existam) torna-se algo complexo, pois diferente de ou- tras profissões que são regidas por normas e métodos mais claros, o jornalismo é uma prática que funciona no entremeio da mudança e do inesperado, ou seja, a forma de se conseguir, trabalhar e finalmente veicular a notícia precisa acompanhar as rápidas mudanças sociais, políticas, culturais, econômicas locais e globais, o que complica o estabelecimento de uma metodologia geral na atuação do jornalista. Villegas (1999, p. 53) explica que uma questão a se pen- sar no jornalismo é o próprio interesse do jornalista em “buscar a notícia”. O autor afirma que “a inércia, a falta de vontade, a incompetência profissional, a ausência de ética pessoal e coletiva” está convertendo os jornalistas em meros “escravos do Fax e das convocações de Rodas de Impren- sa”, em um fenômeno no qual o jornalista deixa de buscar 112 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España a notícia, e acaba por esperar que esta chegue até ele ape- nas para repassá−la adiante sem agregar a ela valor, o valor crítico típico do que em tese seria o papel do jornalismo, fundamental em qualquer democracia. Mas o que realmente devemos considerar e refletir a respeito é como se chegou a este ponto. Esta “inércia” não é fruto apenas da vontade do jornalista em sua função, mas de toda uma conjuntura que é a máquina de comunicação de massa, e todos os desafios que vêm de encontro a esta categoria profissional desde a educação universitária, até os recursos (ou falta deles) que este profissional encontrará no mercado de trabalho. Referências ABRAMO, Cláudio. A regra do jogo: o jornalismo e a ética do marceneiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1988 ANDRÉ, Alberto. Ética e Códigos da comunicação social. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto, 2000. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2001. BIGNOTTO, Newton. As fronteiras da ética: Maquiavel. In: NOVAES, Adauto (org.). Ética - vários autores. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007. BUCCI, Eugênio. Assessor de imprensa é jornalis- ta? Observatório da Imprensa, set. 2010. Disponível em: . Acesso em: dez. 2010. _____________. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 113 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España CARVALHO, Claudia; Reis, Léa Maria Aarão. Manual prático de Assessoria de Imprensa. Rio de Janeiro: El- sevier, 2009. CHRISTOFOLETTI, Rogério. Ética no Jornalismo. São Paulo: Ed. Contexto, 2008 El PAÍS. El ‘caso Urdangarin’. Madrid. Editorial Opi- nión. 22 nov. 2012. Disponível em: Acesso em: 24 nov. 2012 _______. Tres días de marzo: Las contradicciones en la información del Gobierno sobre el 11-M Edición Im- presa: Archivo. 27 mar. 2004. Disponível em: http://elpais. com/diario/2004/03/27/espana/1080342024_850215. html Acesso em: 18 nov. 2012 EL MUNDO. Imputado el alcalde de Sabadell por presunto delito de corrupción urbanística. Barcelo- na. 27 nov. 2012. Disponível em: Acesso em: 27 nov. 2012 FENAJ. Código de ética dos Jornalistas, São Paulo, 2007. FENAJ. Manual de Assessoria de Comunicação, São Paulo, 2007. 4 ed. KUCINSKI, Bernardo. A síndrome da antena para- bólica: ética no jornalismo brasileiro. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1998. LAFER, Celso. A mentira: um capítulo das relações entre a ética e a política. In: NOVAES, Adauto (org.). Ética - vá- rios autores. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007. 114 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Escala, 2005 MARCONDES FILHO, Ciro. A saga dos cães perdi- dos. 2ed. São Paulo: Hackers Editores, 2002. NOVAES, Adauto. Ética- vários autores. (org. Adauto No- vaes). São Paulo: Companhia de Bolso, 2007. ROCA, Guillermo Escobar. Estatuto de los Periodistas. Régimen normativo de la profesión y organización de las empresas de comunicación. Madrid: Editorial Tecnos, 2002. SANTOS, José Manuel. Ética da Comunicação. Covi- lhã – Portugal: Universidade da Beira Interior (UBI), 2001. Disponível em: < http://www.bocc.uff.br/pag/santos-jose- -manuel-etica-comunicacao.pdf>. Acessado em: Nov. 2010. VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 31ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2010. VILLEGAS, Juan Carlos Suárez. Medios de comunica- ción y autocontrol. Entre la ética y el derecho. Sevilla: Editorial Mad, 1999. WEBER, MAX. A política como vocação. Brasília: UNB, 2003. 115 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 5. Novos meios e novos formatos: a reinvenção da indústria da música no Brasil. Ivaldo Moreira1 Svea Kroner2 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo Neste artigo fizemos uma breve retrospectiva da trama histórica pela qual a indústria da música no Brasil vem sen- do processualmente transformada. A partir da tríade ‘artista, gravadora, público’ e sua relação com os agentes midiá- ticos de difusão, buscamos compreender como os novos 1. MOREIRA, Ivaldo. Pedagogo, Radialista, Músico. Mestrando em Comunicação pela Universidade Paulista – UNIP. Membro do gru- po de pesquisa ‘Mídia, Cultura e Memória’, sob a orientação do Prof. Dr. Antônio Adami. São Paulo, Brasil. ivaldomusico@gmail.com 2. KRONER, Svea. Representante da Deutsche Welle no Brasil. Mes- tre em Comunicação pela Universidade Paulista – UNIP. Membro do grupo de pesquisa ‘Mídia, Cultura e Memória’ – UNIP. São Paulo, Brasil. sveakroner@gmail.com 116 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España dispositivos e plataformas têm transformado as dinâmicas de distribuição, tanto de gravadoras quanto de artistas in- dependentes. Por fim, convidamos o leitor a uma reflexão sobre esta questão (e suas possíveis consequências) no com- petitivo mercado da música. Palavras-chave: Formatos; meios; indústria da música; tecnologia; produção musical. Introdução No início do século passado, a música popular no Brasil começava a fazer os seus primeiros ensaios rumo ao mo- desto mercado do entretenimento e com ele, suas aventu- ras, mazelas e certa inocência, fruto da inabilidade daqueles que operavam naquele novo cenário que se anunciava. Até aquele momento, os ganhos financeiros através da música, pairavam sobre as vendas de partituras de piano, do empre- go em casas de comércio, e também dos trabalhos eventuais em teatros, cinemas e concertos estrangeiros de passagem pelo país. A grande revolução se deu de fato quando se tor- nou possível a gravação de músicas para a venda de discos, o que viria a acontecer de forma mais abrangente quando se apostou nos flat-discs, como explica Tinhorão (1981, p. 22) os “celuloides inquebráveis”, “os únicos que uma vez sujos podem ser lavados com água e sabão”. Esta mudança de comportamento em relação ao que até então predominava no mundo da música, permitiu a pro- fissionalização de músicos que antes se bastavam pela gene- rosidade de alguns trocados – agrados em forma de cachê – que vinham dos bailes, aniversários, eventos populares ou, quando muito, pelo simples prazer de tocar. 117 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Com o início da produção de discos em massa, a partir de 1904 – o que seria facilitado pela fraca expansão dos fonógrafos de cilindro3, olhados até então no Brasil mais como curiosidades – Frederi- co Figner4 precisou enfrentar o problema da pro- dução artística, o que resultou em uma série de providências altamente benéficas para a música po- pular brasileira, ao menos nesse primeiro momento das relações entre a criação popular e a tecnologia. Uma das vantagens iniciais da transformação da música em produto industrial, para os músicos populares, foi a ampliação do seu mercado de tra- balho. (TINHORÃO 1981, p. 23). Os processos que durante algum tempo nutriram a re- lação artista, meio e gravadora passaram a exigir, a partir da década de 1930, quando o rádio se tornou ainda mais popular e abrangente, uma nova postura: cantar ou falar no rádio deixou de ser uma atração que estava acima do interesse financeiro. Uma nova mentalidade se instituía na forma de se pensar o meio, “Embora não houvesse anún- cios e a situação econômica das rádios só permitisse pagar “cachês que variavam de cinco a trinta mil-réis”, como recorda Almirante5[...]” (TINHORÃO, 1981,p.40-41), a 3. O fonógrafo de cilindro tinha uma gravação de som literalmente gravado na superfície do lado de fora, que podia ser reproduzido em um fonógrafo mecânico. 4. Frederico Figner: Imigrante tcheco de origem judaica, nascido em Milevsko, na então Boêmia em 02 de dezembro de 1866. Fred Figner, foi o mais bem sucedido de todos os pioneiros propagandis- tas do fonógrafo. 5. Henrique Foréis Domingues - Rio de Janeiro ( 1908-1980) foi um cantor, compositor e radialista. Na Era de Ouro do Rádio era conhecido por Almirante “a mais alta patente do Rádio”. http://es.wikipedia.org/wiki/Fon%C3%B3grafo 118 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España notoriedade na transmissão avançava e ficava patente que falar ou cantar diante dos microfones alimentava a vaidade pessoal e consequentemente tanto artistas quanto o pró- prio rádio, começavam a conquistar popularidade e com ela uma ideia mais contestadora e cobiçosa. Diante deste fato, uma nova ordem comercial se configurou, abrindo es- paço para o rádio moderno. Atendendo a todos os gostos populares, ampliou a venda das mensagens publicitárias nos intervalos de sua programação, tornando-se mais eficiente enquanto veículo. Duas décadas depois, surgiu a televisão. De início, o alto custo dos aparelhos e o acesso à sua programação eram res- tritos a um público de alto poder aquisitivo, ocasionando uma espécie de filtro, dando-lhe um status de glamour. O seu potencial na divulgação da música popular começou a se manifestar, no Brasil, somente a partir de meados da década de 1960, quando os artistas eram convidados a par- ticipar dos programas - e ganhavam até cachê por essa par- ticipação. No entanto, a sorte dos artistas começou a mu- dar quando os dirigentes das emissoras se deram conta do enorme alcance e do poder da nova mídia. O espaço na programação se tornou cada vez mais dis- putado e as grandes gravadoras não poupavam esforços para ver os seus artistas brilhando na telinha e ganhando cada vez mais popularidade. Para elas, todo aquele investimento revertia na venda de discos, o seu principal produto até então. Com a concorrência aumentando e o espaço fican- do cada vez mais restrito, as gravadoras passaram a oferecer às emissoras, arranjos promocionais em forma de brindes como aparelhos domésticos, discos, carros, ingressos de sho- ws e até viagens. Nas rádios para os ouvintes e nas tevês para os telespectadores. Porém, essa prática foi sendo ampliada, chegou até os corredores das emissoras e com ela vieram os acertos financeiros que passaram a ser tratados diretamente 119 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España com as pessoas que respondiam pela produção dos progra- mas e/ou pela programação, instituindo o que ficou co- nhecido no meio como o ‘jabá’6. Dessa forma, o artista que não tinha como se beneficiar desse tipo de recurso, passou a ter menos visibilidade na mídia e, consequentemente, mais dificuldades em difundir sua obra no mainstream7. Tornava-se necessário, portanto, encontrar uma grava- dora que investisse no artista e em sua obra. No entanto, na negociação entre artista e gravadora, a tomada de decisão quanto ao repertório e estratégias de divulgação, duran- te este período, era prioridade da gravadora - que ditava as regras para alcançar suas metas no mercado fonográfico. Eram estabelecidos segmentos e estilos musicais específicos, que acabavam por moldar um panorama de total depen- dência do artista em relação ao universo artístico fabrica- do por gravadoras e veículos, de acordo com seus interes- ses comerciais. Muitas vezes, em detrimento de uma nova onda mercadológica, de uma demanda, de um estilo ou de uma tendência, o artista era seduzido e deixava-se levar pe- los encantamentos, abrindo mão de sua autenticidade e de sua criação original para não perder aquela que poderia ser a grande oportunidade da sua vida profissional e artística: o sonho do estrelato! É claro que não podemos e nem deve- mos generalizar, mas via de regra, quem dava as cartas eram sempre elas: as grandes gravadoras, sempre atentas ao que, supostamente, agrada ao mainstream. Era a gravadora – e não o artista - quem detinha todo o aparato organizacional 6. Jabá é um termo utilizado na  indústria da música brasileira para denominar uma espécie de  suborno  em que  gravadoras  pagam a emissoras de rádio ou TV pela execução de determinada músi- ca de um artista.[1] 7. Mainstream: corrente de opinião dominante da maioria da população. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria_da_m%C3%BAsica http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil http://pt.wikipedia.org/wiki/Suborno http://pt.wikipedia.org/wiki/Gravadora http://pt.wikipedia.org/wiki/Radiodifus%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_de_televis%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica http://pt.wikipedia.org/wiki/Artista 120 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España para conduzir e/ou definir a carreira de um músico rumo à fama ou reconhecimento. Com o surgimento do mp3,8 que permitia o download,9 o armazenamento e o compartilhamento digital de arquivos de áudio quase que instantaneamente e de forma gratuita, o músico encontrou na internet e em outros dispositivos a sua grande oportunidade de emancipação. Dessa forma, cria-se uma situação absolutamente nova no cenário fonográfico-musical brasileiro: os artistas não precisam das gravadoras para produzir suas obras e levá-las ao mercado. Não apenas eles podem gravar suas músicas como também escolher como distribuí-las – se através de discos físicos ou meios digitais – utilizando, para tanto, canais al- ternativos de distribuição (distribuidoras indepen- dentes, internet etc.). Isso significa que as empresas fonográficas se tornaram, enquanto “gravadoras”, dispensáveis para a comunidade artística. (MAR- CHI, 2011, p.155) Os músicos passaram a criar seus próprios sites e a ofere- cer gratuitamente seus fonogramas em mp3 com o objetivo de difundir suas obras e ampliar sua agenda de shows. Al- gumas práticas individuais se mostraram eficientes no mer- cado, conforme exemplo apresentado por Salazar (2012), a que levou o músico paulista  Johann Brehmer, radicado em Olinda há dez anos, a fazer uso do Canvas – Quadro 8. Mp3 (MPEG-1/2 Audio Layer 3) foi um dos primeiros tipos de compressão de áudio digital com perdas quase imperceptíveis ao ouvido humano. É um padrão de arquivos digitais de áudio 9. Download: Baixar, descarregar. Termo utilizado na obtenção de da- dos de um dispositivo através de um canal de comunicação. Expres- são usual: Fazer o download de um arquivo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Compress%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81udio http://pt.wikipedia.org/wiki/Compress%C3%A3o_com_perda_de_dados 121 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España de Modelo de Negócios10 – como ferramenta para visu- alizar sua carreira musical de maneira global e integrada. Entre os nove componentes que compõe essa metodologia (segmentos de clientes, proposta de valor, canais, relaciona- mento com clientes, fontes de receita, recursos principais, atividades-chave, parcerias principais e estrutura de custos), o seu maior investimento é na convicção. E o artista passou a ser também, um empresário. As gravadoras por sua vez, passaram a conviver com ou- tra realidade e foram obrigadas a aprimorar a criatividade para encontrar no mercado, modelos alternativos àqueles tradicionais e conservadores, dependentes das vendas dire- tas de seus produtos. Além da interferência no orçamento, a indústria fonográfica praticamente perdeu o controle de suas vendas, abrindo uma enorme brecha para as gravadoras independentes e também para pirataria: o custo de um CD tornou-se irrisório e, em muitos casos, esta mídia passou a ser oferecida gratuitamente para fins promocionais ao públi- co interessado - seja pelos próprios músicos, como também por distribuidoras independentes. Isto graças às facilidades de gravação e copiagem no próprio computador pessoal. Também as redes sociais foram de grande ajuda para a di- fusão destes músicos, sobretudo redes internacionais como o MySpace e o Fandalism e a brasileira Clube Caiubi que têm contribuído não apenas para a mera divulgação, mas também para intercâmbios entre artistas de diversas regiões no Brasil e do mundo, inclusive promovendo algumas bem sucedidas parcerias entre músicos independentes de diferentes países. É fato que as mudanças são ingredientes constantes na história. Por meio delas novos caminhos e possibilidades 10. Canvas: Este modelo de negócios está amplamente difundido no livro: Business Model Generation, Inovações em modelos de negócios de autoria de Alexander Osterwalder. 122 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España nos são constantemente ofertados, garantindo assim a re- novação. Muito além das questões jurídicas e burocráticas, a história da música se faz com inspiração, ousadia e criati- vidade. A indústria da música, seja ela brasileira ou interna- cional, compreende um palco de várias conjunturas em sua trajetória. Uma trajetória que vem sendo construída através da evolução do disco, dos meios de divulgação, produção, fabricação e, sobretudo, da própria música em sua essência. O rádio: O principal meio e um dos protagonistas da indústria da música. A maior contribuição para a divulgação da música no território brasileiro em conformidade e unanimida- de com o mundo foi e continua sendo o rádio, graças à sua enorme capacidade de difusão coletiva. Já é sa- bido que o rádio agrega, democratiza e permite gran- de interação entre os seus atores. Conforme já definia Tinhorão (1981, p.33), “A radiocomunicação, ou seja, a transmissão, através do espaço, de ondas eletromagné- ticas capazes de reproduzir sons da mesma altura (ra- diotelegrafia) ou modulados (radiotelefonia), começou a ser tentada no Brasil ainda no séc XIX.” No início, as tímidas transmissões nos ambientes das Rádios Clube ainda não apontavam para a grandiosidade que se vin- cularia ao novo meio e com ele, à sua evolução constan- te. O rádio em ondas curtas, médias, longas e tropicais através do processo de transmissão usando o sistema de modulação em amplitude, as AMs (como são conhecidas popularmente), ganharam notoriedade e esboçaram um cenário promissor para o desenvolvimento da indústria da música, uma vez que se tornaram fortes agentes de divulgação de produtos fonográficos, entre outros. 123 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Concomitantemente à história do rádio, se deu de for- ma adjacente e, segundo Kischinhevsky, (2011, p.167 grifo nosso) “as indústrias fonográfica e do rádio desenvolveram- -se de forma simbiótica ao longo do século XX, notada- mente entre as décadas de 50 e 90, período que coincide com a ocupação e a explosão comercial da Frequência Mo- dulada”. Este cenário revelava uma relação de dependên- cia. Desde a sua descoberta e invenção, o rádio tem agluti- nado popularidade e ainda hoje reserva para si significativa presença no mercado da música, sendo ele ainda considera- do o grande catalisador promocional, instituidor no apreço de seus ouvintes e responsável pela figura do formador de opinião. As formas de reprodução são inúmeras, e utilizam vários métodos. Porém, hoje se vê obrigada a se balizar pe- los formatos analógico e digital. Esta dupla oferta de opção de formato, foi a maior responsável pela drástica mudança de comportamento na distribuição e difusão radiofônica. E suas consequências foram inevitáveis... “As tecnologias digitais continuam não só dimi- nuindo o tamanho dos equipamentos mas tornan- do-os bem mais versáteis, de tal sorte que os re- cursos de todo um estúdio – contato com a fonte, apresentação, entrevista, mixagem, gravação de vá- rias pistas (multitrack) e edição – podem ser conden- sados num pacote portátil de execução automatiza- da.” (MCLEISH, 2001, p 13). Com a propagação digital, por experiência notou-se que muito do que se havia conquistado no formato analógico em termos de qualidade sonora, como profundidade, corpo e volume, deixaram de ser percebidos na carga sonora di- gital. Porém, os softwares rapidamente se atualizaram e hoje fica praticamente impossível perceber essa diferença. Gran- de parte de um imenso catálogo em vinil, tornou-se um 124 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España amontoado de registros que, ora simplesmente ocupavam espaço, ora traziam consigo todo um apego e romantismo ao que foi um dia construído e poderia eventualmente ser tocado e rememorado. Com o passar do tempo, as gravado- ras começaram a lançar CDs de remix11 e também a remas- terizar obras clássicas lançadas em vinil. Este processo de transição e atualização trouxe consigo reflexos e discussões. Enquanto alguns ponderavam com a novidade, outros cria- vam fortes resistências que, aos poucos, foram sendo supe- radas - principalmente com o anúncio de melhor qualidade de transmissão, por meio do rádio digital. Até hoje, ainda não existe de fato um sistema defi- nido para o padrão tecnológico a ser adotado no Brasil (SBRD)12 o que segundo Freire (2012), embora tenham acontecido manifestos em defesa do padrão RDM (Rádio Digital Mundial)13, as decisões ainda têm se limitado à esfe- ra do Ministério das Comunicações sem um debate públi- co aberto. Enquanto não se define o padrão a ser adotado e não ocorre o desenvolvimento dos aparelhos e receptores digitais para atender o mercado dos ouvintes brasileiros, a Internet tornou-se uma plataforma alternativa para o rádio, originando um novo rádio: as rádios embutidas em grandes portais e as webradios, com vida própria. Nesta nova pla- taforma, além de dispor de uma transmissão mais clara, de qualidade superior, tornou-se possível investir em progra- mações mais ecléticas e simultâneas. No espaço da Inter- net, o rádio agregou novas peculiaridades tornando-se uma 11. Remix:  Nome dado para uma música modificada por outra pessoa ou pelo próprio produtor. 12. SBRD: Sistema Brasileiro de Radiodifusão Digital 13 RDM: Rádio Digital Mundial – Sistema europeu para, Digital Ra- dio Mondiale. http://pt.wikipedia.org/wiki/Produtor 125 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España plataforma multimídia, que traz não somente transmissões sonoras, mas também disponibiliza textos e imagens, e con- verge com outros dispositivos receptores. O artista: a estética e a realidade O vértice principal nessa tríade da indústria da música e categoricamente reconhecido como a parte criativa do processo, é o artista, durante muito tempo controlado pela base da pirâmide, formado pelas gravadoras e pelo público, seu consumidor final. Essa condição que imperou desde o momento da implantação e da consolidação da indústria fonográfica no Brasil ainda no início do século passado, prosseguiu até o final da década de 1980; Período em que teve início o processo de reformulação na indústria da mú- sica por conta da abertura política iniciada em 1974 e ter- minou com a promulgação da nova Constituição brasileira em 05 de outubro de 1988. O período comandado pelas grandes gravadoras - as ma- jors14 como são conhecidas - foi favorável a poucos mú- sicos brasileiros, recheando de glamour e magnetismo suas brilhantes carreiras, temporárias ou duradouras, porém em muitos artistas deixou traumas profundos. Parecia na- tural que empresários, produtores, gravadoras, governo e até mesmo entidades que representavam estes artistas (sin- dicatos, associações etc.), fizessem uso de suas obras, sem dar-lhes qualquer tipo de assistência, conforme esclarece o parceiro constante de Milton Nascimento15, o compositor 14. Majors: Termo utilizado no mercado fonográfico que faz referência às maiores gravadoras. 15. Milton Nascimento: cantor e compositor brasileiro, reconhecido 126 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Fernando Brant16: Hoje tem uma geração de músicos muito mais es- clarecida e responsável. O pessoal antigamente se bastava fazendo música, mas aí não tem previdência, não tem aposentadoria, perspectiva, não tem assim garantia nenhuma, não tem casa pra morar (pró- pria) está sempre alugando, o dinheiro vai entrando e vai saindo [...]. A garotada nova de músicos que tá surgindo os que eu conheço, aqui, no Rio e em São Paulo [...] eles estão mais centrados na realidade do dia a dia deles, quer dizer eles são músicos mas ao mesmo tempo eles têm que cuidar de sobreviver. Eu conheço vários casos que começaram com a gente lá na mesma época, e o cara não tem nada... ”vou ser despejado”, não tem nada, quer dizer, e aí ele começa a ser menos solicitado pra trabalho, porque a concorrência tá cada vez maior, então é um negócio que está a todo o momento rolando e a gente tem notícias de algum ou de alguns casos! (entrevista concedida em sua residência em Belo Horizonte, em Julho/2012) Diante disso, fica evidente que o artista hoje está mais atento às questões que falam diretamente à sua carreira, aos cuidados demandados no trato de seus direitos, obrigações e benefícios. A informação chega mais rápido, o acesso a ela é mais abrangente e mais concreto, permitindo-lhe assumir com mais consciência, as rédeas de sua carreira. mundialmente como um dos mais influentes e talentosos cantores e compositores da Música Popular Brasileira. 16. Fernando Brant: letrista, compositor, jornalista e atual Diretor presidente da UBC - União Brasileira de Compositores. 127 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Interfaces digitais Observamos, assim, um artista cada vez mais mergu- lhado no universo que não é o da arte propriamente dita. Tendo que suportar individualmente seus custos e carreira, transformou-se num autogestor, transferindo para si todos os afazeres e obrigações que envolvem a conduta de uma carreira artística. Isso porque, além das facilidades de grava- ção no computador pessoal, a Internet tornou-se a grande aliada na divulgação e distribuição do trabalho artístico que hoje acontece em sites ou blogs pessoais, em plataformas de vídeo como o You Tube e o Vimeo e em redes sociais di- versas, sejam elas nacionais ou internacionais - disponível a todo e qualquer usuário-consumidor em vários dispositivos. Segundo Boulay (2009, p. 49) “[...] a diversidade cultural, a “criatividade multiplicada” é, atualmente, uma fonte essen- cial para o público acessar as obras dos artistas, que não são mais canalizadas somente por grandes multinacionais [...]”. Dentre as plataformas de rede social mais populares atu- almente, estão, sem dúvida, o You Tube e o Facebook. Mas há também redes sociais específicas, destinadas a usuários do universo musical. No Brasil, alguns exemplos são a rede independente Clube Caiubi, construída por composito- res de música popular brasileira sobre a plataforma Ning e Palco MP3, embutida no portal Terra, ao lado de outras páginas de conteúdo musical como o Cifra Club. Quanto a redes de difusão internacionais de música independente, podemos citar: 1) Fandalism – uma espécie de LinkedIn de profis- sionais da música, em que os artistas criam seus perfis, postam seus vídeos, fotos e mp3 e interagem entre si. 2) Sonicbids – funciona como uma vitrine na qual o artista organiza suas informações para divulgar o seu 128 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España trabalho a jornalistas e empresários e passar especifica- ções de palco a produtores. 3) Merlin – sem fins lucrativos, esta organização tem como objetivo defender os direitos autorais de gravado- ras independentes em âmbito internacional. Além dos espaços em formatos como os que acabamos de citar, qualquer músico tem a possibilidade de depositar seu fonograma em lojas virtuais como o iTunes, através de distribuidoras digitais como: ONErpm, imúsica e o CD Baby, além de produzir video-clipes que podem ser mone- tizados no You Tube, gerando receita através de um aplicati- vo de publicidade gratuito do Google, o AdSense. Este panorama exposto aqui de maneira bem resumi- da, está disponível a qualquer um que queira apropriar-se dele e de suas vantagens. Sendo ou não um artista, grava- dora ou até mesmo um canal de mídia, a Internet recebe e aceita todo e qualquer tipo de conteúdo, sem julgamentos ou preferências. O problema do volume de informações exposto nos dispositivos de acesso, é que ele já está tão alto que espontaneamente os usuários estão criando filtros e se- lecionando somente o que lhes interessa, criando um novo desafio para provedores de conteúdo musical: destacar o produto, o artista. Tal como algumas redes já nasceram fazendo, as mí- dias sociais mais populares como You Tube e o Facebook que no início permitiam acessos e publicações totalmente gratuitas, vêm cobrando por espaços e recursos auxilia- res para ações promocionais. Dessa forma, ganha destaque aquele que tiver mais recursos financeiros. Uma prática muito semelhante à que occoria nos auros tempos do rá- dio e depois da televisão... A história parece retornar ao ponto de virada. E o artista torna-se novamente refém. 129 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Conclusão Os avanços tecnológicos obrigaram a indústria da música a se reinventar, sobretudo na forma de gerar receita por meio da distribuição. A adaptação na linguagem, forma e estilo, sobretu- do nas questões e práticas dos direitos autorais, dos acessos, na distribuição e nos downloads não está sendo tão imediata como se poderia desejar, mas já está acontecendo. A música é uma poderosa via de acesso e um virtuoso produto de manifestação cultural e de hu- manidades, muito presente nas novas mídias que se apresentam aos já não mais ouvintes e sim usuários. Já não se compram tantos discos como antigamente, em compensação aparelhos como iPods17 com enorme capacidade de armazenamento, incentivam a aquisição de fonogramas baixados de lojas e distribuidoras virtuais, cli- ques em ‘curtir’ estimulam anunciantes e patrocinadores e assim por diante. Porém, nesse mar de ofertas, é preciso destacar-se. E, para se destacar, o artista precisa de um plano estratégico bem realizado, que atue em várias frentes. Isto exige dedicação, investimento financeiro e atualização constante, em um mer- cado altamente competitivo, que perdeu sua solidez e está em constante mutação. E além de tudo isso, o artista, que tornou-se um produtor multitarefa, ainda precisa criar. Referências BOULAY, Marinilda Bertolete (Org). Musica: Cultura em Movimento: As interfaces digitais da musica. br, São Paulo: Totem, 2009. 17. iPods: O iPod é uma linha de tocadores de mídia portáteis conce- bidos e comercializados pela Apple Inc. A primeira linha foi lançada em 10 de novembro de 2001. Estes aparelhos tem uma enorme capacidade de armazenamento digital. 130 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España HERSCHMANN, Micael (Org.). Nas bordas e fora do mainstream musical: Novas tendências da música inde- pendente no início do século XXI. São Paulo, FA- PERJ, Estação das Letras e Cores, 2011. KISCHINHEVSKY, Marcelo. O rádio e a música inde- pendente no Brasil, in HERSCHMANN, Micael (Org.). Nas bordas e fora do mainstream musical: Novas tendências da música independente no início do século XXI. São Pau- lo, FAPERJ, Estação das Letras e Cores, 2011. MARCHI, Leonardo de. Discutindo o papel da pro- dução independente brasileira no mercado fonográ- fico em rede, in HERSCHMANN, Micael (Org.). Nas bordas e fora do mainstream musical: Novas tendências da música independente no início do século XXI. São Paulo, FAPERJ, Estação das Letras e Cores, 2011 MCLEISH, Robert. Produção de Rádio: Um guia abrangente de produção radiofônica. Tradução Mauro Silva, vol.62-Novas buscas em comunicação. São Paulo: Summus, 2001. OSTERWALDER, Alexander; PIGNEUR, Yves. Busi- ness Model Generation: Inovação em modelos de ne- gócios. Tradução: Raphael Bonelli. Rio de Janeiro, Alta Books, 2011 RITTO, Beth; GANDELMAN, Marisa. UBC 70 anos: O autor existe. Pesquisa: Elisa Eisenlorh e Haline Tavares. Projeto comemorativo UBC 70 anos, Rio de Janeiro, 2012 TINHORÃO, José Ramos. Música Popular - do gramo- fone ao rádio e TV. Série, ensaios, vol. 69 . São Paulo: Ática, 1981. 131 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Referências na WEB GUIA BRASIL BLOG. A indústria da música está em cri- se? Disponível em: acesso em 14/11/2012. FANDALISM. Disponível em acesso em21/11/2012. FREIRE, Rita. Qual será a rádio digital no Brasil? Disponível em Publicado em 27 de março de 2012, acesso em 201/11/2012. GUGELMIN, Felipe. 2010, o ano da rádio digi- tal no Brasil: Novo sistema de radiodifusão oferece uma maior qualidade de recepção, além de permitir que emissoras transmitam vários programas simultaneamen- te. Disponível em: publicado em 12 de janeiro de 210, acesso em 2011/2012. MERLIN. Disponível em: PINHEIRO, Raimundo. Redes internacionais para difusão da música. Disponível em publicado em 21 de agosto de 2009, acesso em 21/11/2012. SALAZAR, Leo. Músico desenha o seu modelo de negócio. Disponível em: < http://www.musicaltda.com. br/> Publicado em, 03 de outubro de 2012, acesso em 19/11/2012. http://www.guiabrasilblog.com/a-industria-da-musica-esta-em-crise/ http://www.guiabrasilblog.com/a-industria-da-musica-esta-em-crise/ http://www.fandalism.com/ivaldo2008 http://www.fandalism.com/ivaldo2008 http://www.ciranda.net/article6196.html http://www.ciranda.net/article6196.html http://www.cidadedosaber.org.br/wp/2009/08/21/redes-internacionais-para-difusao-da-musica/ http://www.cidadedosaber.org.br/wp/2009/08/21/redes-internacionais-para-difusao-da-musica/ http://www.cidadedosaber.org.br/wp/2009/08/21/redes-internacionais-para-difusao-da-musica/ http://www.musicaltda.com.br/ http://www.musicaltda.com.br/ 132 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España SENA, Carlos. A cauda longa. Chris Anderson, The Long Tail, Campus, 2006, Postado por Carlos Sena, 11/mai/07. Disponível em: < http://blog.carlossena.com/resenhas/ resenha-a-cauda-longa/ > acesso em: 13/10/2011. Entrevista BRANT, Fernando. Entrevista realizada em sua residencia em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 24/07/2012. 133 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 6. Disección analítica en tres planos de las empresas de comunicación. Propuesta metodológica y aplicación al caso de España María José Pérez Serrano1 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Madrid, España Resumen El análisis de la empresa de comunicación, tradicional- mente, ha conjugado su explicación normativizada como ente con personalidad jurídica, y presencia externa y forma- ción interna como sujeto económico, con los rasgos especí- ficos de la materia prima que utiliza y el output que genera. 1. María José Pérez Serrano (UCM), doctora en Ciencias de la In- formación por la Universidad Complutense de Madrid – UCM – Madrid, España, y miembro del grupo de investigación Mediacom UCM, email: mariajoseperezserrano@pdi.ucm.es. 134 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España En esta ocasión, el trabajo que se presenta a continuación tiene como base la aplicación singular de la herramienta de medición de negocios denominada análisis PEST (Político- Legal, Económico, Social y Tecnológico) al estudio de esta tipología empresarial, poniendo atención en el plano conta- ble. Asimismo, el objetivo marcado se completa con la expo- sición ejemplificadora y sucinta del análisis del caso español. Palabras clave: Empresa de Comunicación; metodología; España; gestión. 1. Introducción En diversas ocasiones, voces cualificadas han criticado que las más modernas de técnicas de gestión empresarial han llegado con cierto retraso al sector de la comunicación. Incluso, productos periodísticos de éxito –también digi- tales- precisan ineludiblemente, después de pasada su fase inicial donde la preocupación máxima es asentarse en un mercado atomizado, enfatizar sus esfuerzos en lo que sus mismos gestores denominan “hacer empresa”. Desde el punto de vista teórico, el análisis de la Empresa de Comunicación ha conjugado su explicación normativiza- da como ente con personalidad jurídica, y presencia externa y formación interna como sujeto económico, con los rasgos es- pecíficos de la materia prima que utiliza y el output que genera. Pero, tal vez, lo que no ha logrado completamente es asimilar como propio el lenguaje vanguardista, anglófi- lo, eufemístico, basado en siglas y circunloquios de las tendencias empresariales, destiladas, muchas veces, por otra parte, de discursos y variados gurús, cosa que sí ha hecho, por ejemplo, la mercadotecnia – el marketing – y la comunicación empresarial. 135 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Por supuesto, que no pretendemos aquí entrar en si es positiva o negativa esta inmersión progresiva de la realidad bajo ese peculiar barniz. La pretensión es más modesta, más limitada, más constreñida a un planteamiento reflexivo, que se vincula a un método, que tiene como objeto la tradi- cionalmente conocida como empresa informativa y cuya circunscripción territorial servirá de referente para la ejem- plificación del análisis de caso. 2. Coordenadas científicas En un trabajo de investigación, asentar las reglas de juego, establecer las pautas de entendimiento y definir los términos que sirven de pilares al discurso ayuda a la evo- lución y a la evaluación posterior. Mas este afán no es pro- piedad exclusiva de lo académico, sino que, en cualquier faceta, y también en la empresarial, “fijar metas, organizar, planificar y gestionar son actividades principales de la ges- tión de un proyecto, pero que, aunque se asocian con la novedad, seguramente se practicaron de una forma u otra en el pasado” (Harvard, 2002: X). 2.1. Fundamentación metodológica La hipótesis de partida, tan imprescindible en la inves- tigación científica, sirve aquí como marco más que como plasmación cerrada de una declaración conjetural. Aquí lo esencial es la aplicación singular de la herramienta de medi- ción de negocios denominada análisis PEST (Político-Legal, Económico, Social y Tecnológico) al estudio de la Empresa de Comunicación, poniendo atención en el plano contable. Asimismo, el objetivo marcado se contempla con la exposi- ción ejemplificadora, en forma del análisis del caso español. 136 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Este trabajo ha de ser entendido metodológicamente a partir de una definición de Empresa de Comunicación y las bases del análisis PEST, todo ello inserto en un proce- der discursivo marcado por la deducción. Partiendo de los mimbres citados, se aplicará el método científico, y se com- pletará con una estructura lógico-secuencial con el fin de sustentar sus conclusiones. Restaría por señalar tres aspectos importantes: - El primero representa los límites de este trabajo y su hitada novedad. En este sentido la concepción que Medi- na (2005: 25) tiene de la estructura del sistema audiovisual, como “el conjunto de elementos que están estrechamen- te interrelacionados entre sí y configuran un todo relacio- nado a su vez con los sistemas informativos de los demás países, depende de una serie de elementos externos, cuya influencia no puede ser directamente controlada por los su- jetos, que es lo que se denomina entorno externo, y por las decisiones libres de los sujetos, mediada por los elemen- tos externos y las reglas del propio mercado y del negocio, que se identifica con el entorno interno”, condicionada por el entorno económico, el medioambiental, el político, el tecnológico, el socio-cultural y el legal, como elementos externos, es clave como base conceptual. En este proceder discursivo tomaremos en cuenta esas esferas concéntricas y haremos una extrapolación al sector y al país que nos ocupa, otorgándoles una intención de environment condicionador del sujeto protagonista. - En segundo lugar, la metodología del caso: tan positi- vamente ponderada en la nueva docencia universitaria definida como “el examen de un ejemplo en acción” (Walker, 1983: 42). - El tercer elemento tiene que ver con las conclusio- nes: se infiere que en la construcción de las Ciencias de 137 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España la Comunicación las metodologías específicas se sitúan como un cayado fundamental de la imprescindible evo- lución de un campo epistemológicamente joven como es el que nos ocupa. 2.2. Bases conceptuales El binomio teórico que sustenta estas páginas es, por una parte, la definición de Empresa de Comunicación y la consecuente diferenciación entre ella y su producto y, por otra, el análisis PEST. Con respecto al primero, convenimos en que el concep- to “Empresa de Comunicación” es un constructo teórico que emana del estudio sistematizado de los elementos, es- tructura, funciones y funcionamiento de las organizaciones cuyo objeto resulta ser la información en sentido amplio. En el contexto académico, se trata de un corpus teórico in- serto en los estudios de Comunicación cuyas ramificacio- nes exigen un conocimiento interdisciplinar de un mundo más que cambiante. En el contexto práctico es un negocio asentado en la economía de mercado que presenta elemen- tos de estabilidad, que le hacen tener una estructura propia y resistente, y también elementos que fluctúan con el paso del tiempo; que se dedica a producir noticias, entreteni- miento, contenidos, etc., y que contribuye a completar uno de los derechos fundamentales del ser humano: recibir in- formación plural. Bretones y Zeller nos sirven para refutar esta idea cuan- do señalar que que “las sociedades democráticas están constituidas por ciudadanos capacitados para informarse. Poseen, además, los medios (las empresas, los entornos or- ganizacionales y los profesionales) con los que se aseguran la difusión de la información necesaria para el desarrollo del tipo de vida social en libertad que tales sistemas propor- 138 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España cionan. Este es, probablemente, el principio democrático más básico. También es su objetivo, tal vez el principal, pero también una de sus mayores quimeras. Para alcanzar este objetivo todo está, en un sentido formal, aparentemente claro y establecido: la libertad social es el resultado óptimo de aplicar las garantías establecidas tanto para el suministro como para el acceso a toda clase de información” (Hallin & Mancini, 2008: XIII). Pero no siempre ese suministro ha venido de organiza- ciones empresariales como las que tenemos hoy, hasta hace bien poco –señala Quintana (2007: 31)- en España “las Em- presas de Comunicación, a diferencia de las europeas, eran débiles, de carácter familiar, susceptibles de recibir capitales extranjeros, que fueron creciendo levemente en el mercado interno mediante estrategias a corto plazo. Mientras que en Europa, a principios de los 80, puede hablarse de una incipiente convergencia de las telecomunicaciones con el sector audiovisual; en España, no comenzó hasta los 90”. Sobre el análisis PEST (factores Políticos, Económicos, Sociales y Tecnológicos), hay que decir, siguiendo a Chap- man (2004), que “es una herramienta de gran utilidad para comprender el crecimiento o declive de un mercado, y en consecuencia, la posición, potencial y dirección de un ne- gocio; funciona como un marco para analizar una situación; es de utilidad para revisar la estrategia, posición, dirección de la empresa, propuesta de marketing o idea”. Dicho de otra forma es un “marco que los consultores de la estrategia utilizan para explorar el macro-entorno externo en el cual opera la firma”. Los factores PEST desempeñan un importante papel en las oportunidades de creación de valor de una estrategia. Sin embargo, están generalmente fuera de control de la corpora- ción y deben ser considerados normalmente como amena- zas u oportunidades (aunque difiere de un análisis DAFO). 139 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España A veces, se utilizan formatos más complejos como el análisis PESTL (que disgrega el componente legal) o el PESTELE (factores políticos, económicos, sociales/demográficos, tec- nológicos, legales y éticos) y, en algunas ocasiones, los facto- res geográficos, también, pueden ser importantes. 3. Claves del análisis PEST de la Empresa de Comu- nicación en España En resumen, lo que tratamos de hacer aquí es evaluar el mercado en el que se encuentra la Empresa de Comunica- ción, para, identificando los factores clave de dicho merca- do (para ver el empleo del análisis PEST en otras áreas de la gestión, V. Sastre & Aguilar, 2003: 122), conocerla mejor y observar que los cambios que se producen en esas cuatro dimensiones afectan tanto a su estructura interna, como aquella que configura el mapa mundial de la comunicación. Para adaptar la metodología a nuestros intereses, rompe- remos el estándar del PEST y, tomándolo como referente, dividiremos el análisis en dos partes: un contexto legislati- vo y otro tecnológico. Con este planteamiento parece que se excluyen los factores económico y social, pero hay que tener en cuenta que aquí miramos lo económico bajo el prisma contable (que se incardina con el nuevo contexto legislativo en nuestro caso) y lo social, como indispensable coordenada espacio-temporal. 3.1. Nuevo contexto legislativo Trataremos de tres aspectos en concreto: de la normativa específica de la Empresa de Comunicación, de la de defensa de la competencia y de la contabilidad. 140 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 3.1.1. Normativa audiovisual En el sector de la comunicación, sea cual sea su produc- to, las transformaciones en el marco jurídico han ido siem- pre por detrás de los avances tecnológicos. Así, podemos afirmar que detallar la transformación legislativa en torno a las empresas y estructuras comunicativas actuales es plan- tear la exégesis de un asunto que tiene, por lo menos, dos enfoques fundamentales. De un lado, la globalización y los procesos de concentración legislados específicamente, y, de otro, los procesos de desregulación o la tendencia opuesta de profusión legislativa en torno a algunos de los medios de comunicación hasta ahora tradicionales. Con respecto al primero de los asuntos, el aumento del tamaño de las compañías, así como su internacionalización, y la interacción societaria de entidades financieras de muy diversa índole forman un complejo entramado que se des- envuelve en el mercado sin tener en cuenta las fronteras políticas, en algunos casos, ya inexistentes. Estas circunstan- cias, junto con los procesos de crecimiento externo, que se producen a ritmo análogo al de los avances tecnológicos, es lo que origina unas modificaciones en las estructuras de las compañías, sistemas de difusión e interacciones, que han motivado una preocupación constante por parte de las autoridades encargadas de la protección de la libre compe- tencia en todo el mundo. En cuanto a las pautas legislativas del marco empresarial de la comunicación en España y sus cambios, habría que detenerse en qué aspectos están regulados, cuál es el poder coercitivo de la norma legal, quién ostenta el control de su cumplimiento, cuá- les son los márgenes de actuación del empresario, quién con- cede las licencias y cuáles son las condiciones (Medina, 2005). De todos modos, esos detalles exceden el cometido de estas páginas y lo que nos interesa es conocer las conclu- 141 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España siones. En este sentido, el sistema legislativo español ha sido criticado por muy diversas razones, tales como que algunas de sus disposiciones se muestran favorables hacia el poder político gobernante; que los nuevos proyectos han sido promovidos desde una voluntad política que, a veces, no ha tenido en cuenta las exigencias del mercado; que, en muchos casos, la tecnología ha ido por delante, y algunas normas legales se han quedado obsoletas antes de ser publi- cadas; que algunas leyes se han redactado precipitadamente, no han contado con el parecer de los expertos y, en oca- siones, se expresan en términos excesivamente vagos; que se prestan a interpretaciones diferentes y tienen defectos de aplicación; que requieren un desarrollo posterior, etc. Ante este panorama y la profusión de normas en cuanto a medios audiovisuales, que contrasta con la escasez de las que son específicas sobre medios impresos, uno de los in- tentos de cambio más destacable vino del primer Gobierno (socialista) de José Luis Rodríguez Zapatero, que puso en marcha nuevas disposiciones sobre radio y televisión, de- jando al margen a la prensa. En esta línea, el Plan de Refor- ma Audiovisual pretendió hacer un esfuerzo por modificar la estructura de un sector que vivió uno de sus momentos cruciales con el apagón analógico y con el creciente uso de las nuevas tecnologías basadas en internet. Ese intento de cambio ha tenido continuidad con el Gobierno Popular de Mariano Rajoy, que, entre otras cosas, ha planteado a lo largo de este año 2012 la reforma de la Ley 7/2010, de 31 de marzo, General de la Comunicación Audiovisual, como un instrumento para mejorar la eficiencia de las televisiones autonómicas (Ley 6/2012, de 1 de agosto) en un contexto de profunda crisis que está llevando a recortes importantí- simos en diversas esferas del país. 142 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 3.1.2. Defensa de la competencia Lo dicho anteriormente en torno a la globalización y a los procesos de concentración está vinculado a la libre competencia, entendida como principio básico de la eco- nomía de mercado, que tiene como presupuesto la liber- tad de iniciativa económica de los particulares, el cual –es sabido- se considera un postulado esencial del Ordena- miento Jurídico–Constitucional, desde que el artículo 38 de la Constitución Española (CE) reconociese la libertad e empresa en el marco de la economía de mercado y la garantía y protección de la misma por los poderes públicos, de acuerdo con las exigencias de la economía en general y, en su caso, de la planificación (Sánchez Calero & Sánchez Calero Guilarte, 2004: 110). Admitido ese principio, el Ordenamiento jurídico ha de reconocer otro que deriva de él directamente: el de la libre competencia. En general y ya desde antiguo, “la competen- cia se asocia a la idea de rivalidad u oposición entre dos o más sujetos para el logro de un objetivo, como puede ser la utilidad personal o la ganancia económica privada. En economía, esta concepción se ha visto completada por otra que la considera como mecanismo de organización de los mercados, es decir, como una forma de determinar los pre- cios, y las cantidades de equilibrio” (Mochón, 1995: 119). Explicado de una forma u otra, de lo que no cabe duda es que la experiencia ha demostrado que la existencia de una competencia efectiva supone una ganancia neta para los individuos; constituye “uno de los elementos definito- rios de la economía de mercado; disciplina la actuación de las empresas, y reasigna los recursos productivos a favor de los operadores o las técnicas más eficientes. Además, existe un acuerdo generalizado con respecto a la creciente im- portancia de la defensa de la competencia, que se ha con- 143 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España solidado como uno de los elementos principales de la po- lítica económica en la actualidad. Dentro de las políticas de oferta, la defensa de la competencia complementa a otras actuaciones de regulación de la actividad económica y es un instrumento de primer orden para promover la pro- ductividad de los factores y la competitividad general de la economía” (Ley 15/2007, de 3 julio, de Defensa de la Competencia –LDC-). Todo ello concluyó organizativamente en que el entra- mado de la defensa de la libre competencia en España, es decir, el Tribunal de Defensa de la Competencia (TDC) y del Servicio de Defensa de la Competencia (SDC) en su momento, y, después, la Comisión Nacional de la Com- petencia (CNC), fueran piedras angulares en la misión de velar por las adecuadas condiciones de libertad en el mer- cado. Este organismo, que, en resumen, constituye el siste- ma de Defensa de la Competencia español, es el resultado de que a partir del 1 de septiembre de 2007, con la entrada en vigor de la nueva LDC, la Comisión Nacional de la Competencia (CNC) integrase a los dos anteriores y fuera el órgano competente para adoptar las decisiones sobre las operaciones de concentración y el Consejo de Ministros sólo pudiera intervenir, de forma motivada, por razones de interés general y únicamente en los casos en que la CNC prohíba una concentración o la sujete a condiciones. Queda por ver, al cierre de estas páginas, si es defini- tivamente aprobado el Proyecto de Ley de creación de la Comisión Nacional de los Mercados y la Competencia (CNMC), que, con fecha 10 de octubre de 2012 y referen- cia del Consejo de Ministros de 27 de septiembre de 2012, remitió dicho Consejo a las Cortes Generales para su apro- bación. Este nuevo órgano persigue asegurar el correcto funcionamiento, la transparencia y la existencia de compe- tencia efectiva en todos los mercados y sectores productivos 144 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España y agrupa en una única institución las funciones que desa- rrollan la Comisión Nacional de Energía, la Comisión del Mercado de las Telecomunicaciones, la Comisión Nacional de la Competencia, el Comité de Regulación Ferroviaria, la Comisión Nacional del Sector Postal, la Comisión de Regulación Económica Aeroportuaria y el Consejo Estatal de Medios Audiovisuales. Este nuevo panorama tiene una translación importantísi- ma al ámbito de la información, ya que en él la competencia adquiere su mayor relevancia porque se debe adecuar a los límites constitucionales del derecho a la libre y plural in- formación, lo que, a lo largo del tiempo, se ha traducido en interés nacional, pero también supranacional (Unión Euro- pea), y lo que nos lleva a concluir que las mismas personas, organismos y sistemas, que regulan los entramados que pue- den llevar a reducir la libre competencia en cualquier sector económico en España, servirán para las Empresas de Comu- nicación y sus procesos de crecimiento externo, aunque sus motivaciones y problemática son –obviamente- singulares. 3.1.3. Contabilidad Las sociedades mercantiles, sea cual sea su objeto, tie- nen que tomar continuamente decisiones. Y basándose en la tradicional ecuación de que una decisión es igual a in- formación más riesgo más la personalidad del sujeto deci- sor (según Urcola –2003: 97-106- “de ahí se deriva que una buena decisión es, en gran medida, un 90 % de información y un 10 % de inspiración”), debe analizar perfectamente sus fuentes, para intentar minimizar el segundo de los factores. Una de esas fuentes es la contabilidad: peculiar cuanto menos en las empresas periodísticas ya que, por ejemplo, su estructura de ingresos se basa en una doble venta (al lector y al anuncian- te), o en las empresas audiovisuales, por la, a veces, singular 145 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España consideración de sus materias primas. Pero no entremos en ese tipo de disquisiciones. Analicemos, eso sí, el contexto contable de las Empresas de Comunicación. Este aspecto, escasamente tratado, se puede entender bajo un doble prisma: como un elemento económico, tradicionalmente intraempresarial y microeconómico, y desde la visión legislativa, ya que en España se planteó no hace tanto una modificación global de la norma que regula el Plan General de Contabi- lidad (PGC), cambio que las Empresa de Comunicación de comunicación, así como el resto, absorbieron y adaptaron con diligencia, y que perseguía el acercamiento a los criterios de las Normas Internacionales de Información Financiera (NIIF) (V. Asla & Herreros, 2008 y § Legislación, en Bibliografía). Mattessich considera a la contabilidad como “ciencia empírica de naturaleza económica” (Quesada, 1994: 24). Completando esta idea, se puede decir que esa “ciencia económica estudia el patrimonio empresarial, las normas y los fundamentos científicos en los que se basa el registro de la información económica de la empresa, y que ese estu- dio se realiza estáticamente, observando el patrimonio y la situación en un momento determinado, y dinámicamente, registrando las variaciones que se producen en el curso del tiempo” (Alfaro, González & Pina, 2001: 201). O también se puede definir como el “un conjunto de conocimientos elaborados de acuerdo a una metodología científica para generar una información económico-financiera sobre el estado del patrimonio o riqueza y sobre las rentas o resulta- dos de cada periodo de las diversas organizaciones o agen- tes económicos a los que se aplique” (VV.AA., 2008a: IX). Así como un sistema comunicacional entre los diferentes sujetos económicos que intervienen en el sistema empresa- rial, lo que requiere que la presentación de la información contable cumpla los requisitos de la imagen fiel de la reali- dad económica (Quesada et al., 1993). 146 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Sea cual sea la definición que adoptemos, estamos tratan- do de un código especial que también ha tenido que cambiar con el paso del tiempo. “El rápido desarrollo de las tecnolo- gías de la información y las comunicaciones ha modificado la forma en que los inversores y usuarios acceden a la infor- mación financiera de la empresa. Cada vez más, los inversores quieren tomar decisiones basadas en una serie continua y normalizada de información financiera que, asimismo, tie- ne también un papel crucial para asegurar la transparencia, proporcionar salvaguardas a los inversores y contribuir a la estabilidad global de los mercados” (Ferrer, 2008: 9). En esta línea se impulsó el nuevo Plan General de la Contabilidad publicado por Real Decreto 1514/2007, de 16 de noviembre2, que tenía como “objetivo conseguir una lectura homogénea de los estados financieros de las empre- sas españolas y aumentar, así, la transparencia y la compara- bilidad de las cuentas de las sociedades con las del resto de la Unión Europea” (Exp. de mot. RD 1514/2007, de 16 de noviembre); que sigue manteniendo la imagen fiel como objetivo de las cuentas anuales, que, formando una unidad, 2. Como desarrollo de la disposición final primera de la Ley 16/2007, de 4 de julio, de reforma y adaptación de la legislación mercantil en materia contable para su armonización internacional con base en la normativa de la Unión Europea, siendo de aplicación obligatoria para todas las empresas cualquiera que sea su forma jurídica, indi- vidual y societaria, excepto para las empresas que, cumpliendo las condiciones establecidas en el art. 175 del Texto Refundido de la Ley de Sociedades Anónimas, aprobado por Real Decreto Legisla- tivo 1564/1989, de 22 de diciembre, para la formulación de balance y estado de cambios en el patrimonio neto abreviados, elijan, de forma voluntaria, llevar la contabilidad según el PGC de PYMES aprobado por Real Decreto 1515/2007, de 16 de noviembre. Am- bos Planes de Contabilidad entraron en vigor en España el 1 de enero de 2008 para los ejercicios que se inicien a partir de dicha fecha (VV.AA., 2008b: IX). 147 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España han incorporado a los ya tradicionales balance, cuenta de pérdidas y ganancias y memoria dos nuevos documentos: el estado de cambios en el patrimonio neto y el estado de flujos de efectivo (art. 1, RD 1514/2007). En resumen, el nuevo PGC se plantea como un camino hacia la protección del mercado, a los inversores y a los analistas, para evaluar la situación presente y futura de, entre otras, la Empresa (García, 2012) de Comunicación. 3.2. Apunte sobre el nuevo contexto tecnológico Por último, la clave del contexto tecnológico actual pasa por internet, que ha dejado de ser, estrictamente, una co- nexión integrada de redes interconectadas para variar mu- chos de los aspectos comunicacionales y estructurales de las organizaciones. Asimismo, lo digital ha supuesto el descu- brimiento de un horizonte nuevo no solamente en la dis- tribución de contenidos, sino también en las estrategias y en el proceso productivo de todas las empresas, incluidas las de comunicación, que han visto como, además, se embarcaban en un proceso de convergencia mediática para crear produc- tos complementarios a los ya existentes y alcanzar nuevos nichos de mercado. Muchos son los que explican las bondades de lo que Salaverría (V. Salaverría, 2005) ha denominado “el meta- medio que aglutina el audio, el texto y las imágenes; tiene la inmediatez de la radio, la profundidad de contenidos del periódico y el impacto de la imagen televisiva” (V. Sala- verría, 2005). Y también muchos los que diseccionan sus características, como por ejemplo Murray, que habla de las cuatro características principales de los entornos digitales: - Secuencialidad o habilidad para ejecutar secuencias de órdenes. 148 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España - Participación, ya que es el usuario el que provoca el comportamiento del sistema. - Espacial, puesto que simula espacios posibles de nave- gación. - Enciclopédico, porque supone la acumulación de da- tos (Gasalla, 2006: 65). Pero también existen detractores de tal avance que opi- nan que puede ayudarnos a “humanizar” las organizaciones, y, al mismo tiempo representar un riesgo en el camino de un posible “neomecanismo”. Lo cierto es que esta inicial novedad mecánica se ha convertido en una forma de comunicación de uso común (por eso, lo escribimos en minúscula) que ha transformado, incluso, la rutina diaria de muchos ciudadanos, y ha incidi- do en el día a día de empresas intensivas en conocimiento con especial influencia en cada una de las formas tradicio- nales de comunicación masiva. 4. A modo de final Para concluir, debemos señalar que este trabajo repre- senta un paso, minúsculo tal vez por tamaño, pero firme, con- tundente, positivo y hacia adelante en la fundamentación me- todológica del estudio de la Empresa de Comunicación. No se atisba ingenuidad en lo párvulo de la propuesta y se es cons- ciente de que el contenido, en algunas aspectos –sobre todo los vinculados a internet- son, actualmente referente de muchos y muy variados análisis. Eso sí, desde estas páginas se apuesta por una inclusión no conceptual, pero sí de significante y nomen- clatura, de métodos, definiciones y conceptos comúnmente utilizados en la praxis empresarial diaria de otros sectores. 149 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España El apunte al caso español podrá servir para mostrarse como ejemplo de un panorama marcado por las transforma- ciones y los cambios en una sociedad, la del Conocimiento –la de la Comunicación-, que demanda de todos una ac- tualización constante para reinterpretar las necesidades y la actitud personal ante las fluctuaciones que acontecen. Quizás hay dos aspectos que pueden poseer la pincelada novedosa exigida en todo trabajo como este: el primero es el contable, que, siendo imprescindible, apenas se vincula con el análisis de la estructura interna de la Empresa de Comunicación; y el segundo, las vías de análisis que atisba. Hemos estudiado el entorno externo de la Empresa de Co- municación como su marco influyente, dejando al margen la sociedad, porque esta lleva la impronta del tiempo y el espacio y porque conduciría a investigar el mensaje que se transmite. He ahí un compromiso de secuencialidad, que habrá que completar. Referencias Generales ALFARO GIMÉNEZ, José; GONZÁLEZ FERNÁN- DEZ, Clara; PINA I MASSACHS, Montserrat. Economía y organización de empresas. Madrid: McGraw Hill, 2001. 344 p. 28 cm. ISBN: 978-84-48128-05-0. ASLA GARCÍA, Enrique; HERREROS ESCAMILLA, Jorge (Dirs.). Reforma contable 2008. Alcance y Mar- co Legal. Barcelona: Unidad Editorial Información Eco- nómica, 2008. 10 v. ISBN: 978-84-92433-00-1. 150 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España BRETONES, María Trinidad; ZELLER, Carlos: “Prólogo a la edición española. La comunicación en las sociedad de- mocráticas”. En HALLIN, Daniel C.; MANCINI, Paolo: Sistemas mediáticos comparados tres modelos de relación entre los medios de comunicación y la po- lítica. Barcelona: Hacer Editorial, 2008. 298 p. 24 cm. Bi- bliografía: p. XIII-XVI. ISNB: 978-84-96913-12-7. CHAPMAN, Alan. “Análisis DOFA y análisis PEST”. En degerencia.com. Publicado 22/08/2004. http://www. degerencia.com/articulos.php?artid=544. [Recuperado e17/11/2012]. FERRER PASTOR, César: “Contexto y alcance de la re- forma contable”. En ASLA GARCÍA, Enrique; HERRE- ROS ESCAMILLA, Jorge (Dirs.). Reforma contable 2008. Alcance y Marco Legal. Barcelona: Unidad Edi- torial Información Económica, 2008. 10 v. ISBN: 978-84- 92433-00-1. GARCÍA PÉREZ DE LEMA, Domingo. “En los últimos años han aparecido diversos instrumentos de financia- ción alternativos dirigidos a favorecer la innovación de la Pyme”. En Actualidad contable, (75) 2012. http://www. aeca.es/actualidadnic/articulodgarcia.htm. [Recuperado e17/11/2012]. GASALLA, José María. La nueva dirección de perso- nas. Marco paradójico del talento directivo. Madrid, Pirámide, 2006. 352 p. 22 cm. ISBN: 978-84-368-0755-4. HARVARD BUSINESS SCHOOL. Managing projects large and small. The fundamental skills for delive- ring on budget an on time. Boston: HBS, 2002. 178 p. 23,5 cm. ISBN: 15-91393-21-3. 151 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España MEDINA, Mercedes. Estructura y gestión de las em- presas audiovisuales. Pamplona: EUNSA, 2005. 296 p. 24 cm. ISBN: 978-84-313-2265-6. MOCHÓN, Francisco. Economía básica. Madrid: Mc- Graw Hill, 1995. 400 p. 24 cm. ISBN: 978-84-48116-55-2. QUESADA SÁNCHEZ, Francisco Javier (Dir. y Coord.); ALONSO CARRILLO, Inmaculada; JIMÉNEZ MON- TAÑÉS, María Ángela; PRECIOSO GARCÍA, Isabelñ; GIL FABRA, Jorge Manuel: Contabilidad e inflación. Madrid: Pirámide, 1993. 252 p. 23 cm. ISBN: 978-84-368-0777-6. QUESADA SÁNCHEZ, Francisco Javier. Fundamentos de contabilidad. Autoed.: Albacete, 1992. 193 p. 24 cm. ISBN: 84-604-4123-7. QUINTANA PAZ, Nuria. Televisión y prensa duran- te la UCD. Premios y castigos mediático-guberna- mentales. Madrid: Fragua, 2007. 250 p. 21 cm. ISBN: 978- 84-7074-233-0. SALAVERRÍA, Ramón. Redacción periodística en Internet. Pamplona: Eunsa, 2005. 184 p. 24 cm. ISBN: 978-84-313-2259-5. SÁNCHEZ CALERO, Fernando; SÁNCHEZ–CALERO GUILARTE Juan. Instituciones de Derecho Mercantil. Madrid: McGraw Hill, 2004. 26ª ed. ISBN: 84-481-3982-8. SASTRE CASTILLO, Miguel Ángel; AGUILAR PAS- TRO, Eva María. Dirección de Recursos Humanos. Un enfoque estratégico. McGraw Hill: Madrid, 2003. 414 p. 23 cm. ISBN: 84-481-3918-6. 152 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España URCOLA, Juan Luis. Dirigir personas: fondo y forma. Madrid: ESIC, 2003. 446 p. 24 cm. ISBN: 978-84-7356-369-7. VV.AA. Nuevo Plan General de Contabilidad. Real Decreto 1514/2007, de 16 de noviembre, BOE 20- 11-2007. Madrid: Paraninfo, 2008b. 320 p. 24 cm. ISBN: 978-84-28330-21-3. VV.AA. Plan General de Contabilidad de Pequeñas y Medianas Empresas y los criterios contables especí- ficos para microempresas. Real Decreto 1515/2007, de 16 de noviembre, BOE 20-11-2007. Madrid: Para- ninfo, 2008a. 240 p. 24 cm. 978-84-283-3022-0. WALKER, Rob. “La realización de estudios de casos en educación. Ética, teoría y Procedimientos”. En DOC- KRELL, William B.; HAMILTON, David (Eds.). Nuevas reflexiones sobre la investigación educativa. Madrid: Narcea, 2003. 240 p. 21 cm. Bibliografía: p. 42-82. ISBN: 978-84-277-0574-6. Legislación Ley 15/2007, de 3 de julio, de Defensa de la Compe- tencia. Ley 16/2007, de 4 de julio, de reforma y adaptación de la legislación mercantil en materia contable para su ar- monización internacional con base en la normativa de la Unión Europea. Ley 7/2010, de 31 de marzo, General de la Comunica- ción Audiovisual. 153 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Ley 6/2012, de 1 de agosto, de modificación de la Ley 7/2010, de 31 de marzo, General de la Comunicación Audiovi- sual, para flexibilizar los modos de gestión de los servicios públicos de comunicación audiovisual autonómicos. Proyecto de Ley de creación de la Comisión Nacional de los Mercados y la Competencia (CNMC), de 10 de octubre de 2012. Real Decreto 1514/2007, de 16 de noviembre, por el que se aprueba el Plan General de Contabilidad. Real Decreto 1515/2007, de 16 de noviembre, por el que se aprueba el Plan General de Contabilidad de Pe- queñas y Medianas Empresas y los criterios contables específicos para microempresas. Referencia del Consejo de Ministros sobre la creación de la Comisión Nacional de los Mercados y la Compe- tencia (CNMC), de 27 de septiembre de 2012. 154 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 7. O pêndulo de um só lado – Breve panorama da posição ideológica da mídia na Espanha, América Latina e Brasil Vinicius Souza1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo Diferente da Espanha, onde a formação dos grandes gru- pos de comunicação contou com governos de matizes ideo- lógicas antagônicas, na América Latina, os meios hegemôni- cos sempre estiveram à direita do espectro político. A partir da vitória de partidos mais à esquerda, esse modelo passa a ser contestado, levando a embates que persistem até hoje. 1. Vinicius Souza (UNIP/USP). doutorando em Comunicação pela Universidade Paulista – UNIP. Jornalista, fotógrafo e documenta- rista. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Popular e Alternativo – Alterjor, da Escola de Comunicação e Artes da Uni- versidade de São Paulo – ECA USP. Professor de Produção Midi- ática para a Área Cultural no Centro Latino Americano de Comu- nicação e Cultura – CELACC – ECA – USP. São Paulo – Brasil. Contato: vgpsouza@uol.com.br 155 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España No Brasil, os principais meios seguem concentrados nas mãos de poucas e influentes famílias. Mas a entrada em cena de novos meios digitais têm tido cada vez mais influência nos processos políticos. Para traçar um panorama da divisão ideológica da mídia no continente iremos recorrer a dados históricos análises de pesquisadores e estudiosos da área. Palavras-chave: Meios de comunicação; hegemonia; ide- ologia; política; América Latina Raízes do jornalismo partidário O jornalismo dito isento, imparcial, objetivo, puro fac- tual, é uma construção muito mais de marketing das publi- cações do que propriamente realidade no mercado. Afinal, toda narrativa criada a partir de um fato seria, necessaria- mente, uma redução dos acontecimentos. Trata-se do que muitos estudiosos2 chamam de primeira realidade, o fato presenciado com o que o teórico de mídia alemão Harry Pross (Baitello Jr, 2005) chama de mídia primária, o corpo, com sua incrível capacidade de absorção tridimensional das informações, como analisa o filósofo tcheco Vilém Flusser (2008), em distinção à segunda realidade, que seria a realidade da representação, carregada da ideologia e dos significados impostos ao documento por todos aqueles que o produ- zem, manipulam e veiculam. ‘Fatos’ e ‘notícias’ não existem por si só, como en- tidades ‘naturais’. Ao contrário, são assim designa- dos por alguém (por exemplo, por um editor), por motivos (culturais, sociais, econômicos, políticos) 2 Como por exemplo o professor e historiador Boris Kossoy. 156 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España que nem sempre são óbvios. Mas essa operação fica oculta sob o manto mistificador da suposta ‘objeti- vidade jornalística’. (Arbex Jr, 2001: 90) Por obvio, as escolhas sobre o que será veiculado ou não nos meios de comunicação em massa são fortemente base- adas nas ideologias das pessoas, empresas e instituições que participam do processo de produção e difusão das notícias. Como “nas sociedades midiatizadas [...] fato não veicula- do é fato praticamente inexistente” (Contrera, 2000), existe uma grande parcela de poder nas mãos de quem seleciona, organiza, edita e veicula os acontecimentos. O jornalismo não é uma atividade como qualquer outra. É certo que os homens que produzem nos- so noticiário cotidiano não se distinguem muito do homem comum, mas há uma diferença, algo adicio- nal, que é a de exercerem a função de reconstruir diariamente o mundo, despejando verdades crista- lizadas sobre as pessoas, exercendo uma tranqüiliza- dora e gratificante atividade de manter o mundo exa- tamente como ele é. E de protestarem, chantageando com a liberdade de imprensa, ao serem questionados pelo que fazem. (Marcondes Filho, 2009) De fato, o mito da objetividade jornalística, segundo Mar- condes Filho, terá início apenas com as revoluções burguesas, a partir de 1830, para se consolidar no jornalismo de grandes empresas voltadas ao lucro por volta do ano 1875. Para ele, o jornalismo pode ser dividido em quatro grandes eras. Durante o primeiro jornalismo (da Revolução Francesa em 1789 até a metade do século XIX), os textos eram puramente opinativos. O controle do saber e da informação funciona como forma de dominação, de manutenção da autoridade 157 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España e do poder. [...] É a época de ebulição do jornalismo ‘político-literário’, em que as páginas impressas fun- cionam como caixa acústica de ressonância de ideias, programas político-partidários, plataformas de polí- ticos [...] os jornais são escritos com fins pedagógicos e de formação política. É também característica do período a imprensa partidária, na qual os próprios jornalistas eram políticos, e o jornal seu porta-voz. (Marcondes Filho, 2009) É com as revoluções francesa e alemã de 1848 que surge, pela primeira vez, o termo “liberdade de imprensa” entre as reivindicações3 dos revoltosos. Nos anos seguintes, com o fortalecimento da burguesia, os proprietários dos jornais buscam maiores vendagens para arcar com os altos investi- mentos exigidos. A notícia torna-se mercadoria inserida na lógica capitalista de maior produtividade a menores custos. Essa é a era do segundo jornalismo, a da imprensa de massa, com jornalistas profissionais buscando incessantemente o “furo”, a informação mais atualizada, o fato mais bizarro, a descrição mais crua e sangrenta da “realidade”. Nesse mo- mento histórico, o alinhamento político passa a ser visto com desconfiança pelos leitores, podendo impactar negati- vamente as vendas. Ao mesmo tempo, entram em cena os interesses publicitários, substituindo os político-ideológicos como principal fonte de recursos para os jornais. A partir do ano 1900, a imprensa se torna cada vez mais refém da publicidade por meio das agências, assessorias de imprensa e escritórios de relações públicas, mas também dos 3. Os textos europeus anteriores a essa data, inclusive a famosa De- claração dos Direitos do Homem e do Cidadão, francesa de 1789, e o panfleto Aeropagítica, do inglês John Milton (1644) utilizam a expressão print, que significa imprimir, sendo diferente da palavra press, imprensa, segundo o professor Venício Lima (2010). 158 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España governos de plantão, para garantir a entrada contínua dos recursos necessários para as mudanças tecnológicas. Já não basta, contudo, ser o mais ágil e sensacionalista para vender mais. É preciso dominar totalmente o mercado eliminan- do a concorrência. A tendência ao monopólio é uma ca- racterística importante no que Marcondes Filho chama de terceiro jornalismo, mas isso só é possível por meio do apoio e/ou cooptação dos governos. A “imparcialidade” conti- nua como uma bandeira sem significado real, uma imagem transferida de contexto, como é usual na publicidade. A crise do terceiro jornalismo se inicia nos anos 1970 e irá se intensificar na virada do milênio com a introdução das tecnologias digitais em rede. Os antigos meios de produção de altíssimo custo deixam de ser essenciais para a criação de notícias. Se na indústria da grande mídia, dos meios unidire- cionais de comunicação em massa, aprofunda-se o modelo capitalista de redução de custos eliminando a mão-de-obra especializada (os jornalistas) e tenta-se manter os monopó- lios e impulsionar o “mercado” com promessas de alta de- finição de imagens, convergência de mídias e “interativida- de”; do outro lado o jornalismo contra-hegemônico busca novas formas cooperativas e colaborativas de financiamento para o bom e velho trabalho de investigação jornalística. O livre compartilhamento de informações na internet traz de volta, de certa forma, o ideal de liberdade de expres- são para todos que havia sido capturado e monopolizado pela imprensa hegemônica. Mas se na Espanha e outros pa- íses regulações tentaram manter a pluralidade de opiniões na outorga de concessões de uso das freqüências de rádio e televisão, e mesmo em jornais e revistas, isso nunca esteve em pauta na América Latina. Por aqui, o governo e as em- presas estadunidenses, além de braços institucionais como a Sociedad Interamericana de Prensa – SIP, sempre garanti- ram o monopólio das comunicações em massa nas mãos de 159 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España poucas famílias com grande influência nos meios políticos. Com a entrada em cena de governos mais à esquerda no espectro ideológico a partir do ano 1998 (primeira eleição de Hugo Chavéz na Venezuela), contudo, esses oligopólios midiáticos passam a ser questionados e desafiados. Las políticas vinculadas con la estructura de pro- piedad de los medios de comunicación se han convertido en un factor esencial y polémico para garantizar la diversidad de la información. Para al- gunos, esta última se garantiza a través de los dife- rentes intereses de los propietarios de los medios de comunicación. Para muchos, la concentración de la propiedad reduciría esa posibilidad. (Becerra e Mastrini, 2004) A divisão ideológica da mídia na Espanha Conforme explicou o professor Manuel Fernández Sande (2012), quase todos os grandes meios de mídia privada no país foram criados ou totalmente remodelados a partir dos anos 1970-1980, portanto dentro do período do terceiro jornalismo. A concentração dos meios também se reflete aí. Dos princi- pais jornais do país, 85% pertencem a apenas oito grupos de comunicação. As mais de duas mil emissoras de rádio estão agrupadas em cinco cadeias, sendo que a Cadena Ser controla metade do mercado. As redes de TV e os novos negócios de informação digital também orbitam os mesmos grupos. O maior de todos eles, o Grupo Prisa, passou nessa épo- ca de uma tradicional editora de livros para um complexo empresarial reunindo o principal jornal (El País, lançado em 1976, com estimados 1.9 milhão de leitores), da maior cadeia de rádio (Cadena Ser, rede nacional dos anos 1920, expropriada pelo ditador Francisco Franco na década de 40 160 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España e adquirida pelo grupo em 1985), a primeira TV paga da Espanha (Canal +, inaugurada em 1990) e, ainda, um canal de TV aberta (Cuatro, lançado em 2004). A renovação e ganho de poder do grupo seguiu de perto os passos do Par- tido Socialista Obrero de Espana – PSOE, que abandonou as teorias marxistas em 1979 (após da queda de Franco em 1977) assumindo sua atual posição de social-democrata. Foi com o apoio dos governos de Fernando Gonzaléz (1982 a 1996) e de José Luis Rodríguez Zapatero (2004 a 2012) que o grupo mais se desenvolveu. Alinhados mais à direita e, portanto, ao Partido Popu- lar, atualmente no poder, estão dois outros grandes grupos. O primeiro é o Unidad Editorial, do diário o El Mundo (estimados 1.2 milhão de leitores) e das mais importantes publicações de esporte (como o jornal Marca). Já o Vocento possui os maiores jornais regionais da Espanha, incluindo o ABC (com cerca de 641 mil leitores diários). O grupo expandiu seus negócios também para o ramo do audiovi- sual em 1996 e entrou na internet na virada do milênio, tornando-se um dos principais atores nesse segmento. Desde 2008, no entanto, a crise financeira, social, polí- tica, tecnológica, de confiança, de hábitos dos consumido- res e de modelo de negócio sentida por todos os grupos econômicos do país, tem afetado a imprensa de maneira ainda mais intensa. Uma das maiores vítimas desse proces- so, até aqui, é o diário de esquerda Público (http://www. publico.es), fundado em 2007 e que possuía quase 300 mil leitores diários de acordo com o Estudio General de Medios – EGM. Em fevereiro de 2012, o jornal passou a circular somente na internet. Sem a antiga força de seu braço midiático para man- ter a coesão político-ideológica da população, os partidos políticos amargaram nas últimas eleições presidenciais uma taxa histórica de abstenções (46%) (Souza e Sá, 2011). O http://www.publico.es http://www.publico.es 161 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España novo governo de Mariano Rajoy, do Partido Popular, de inspiração franquista (extrema direita), permanece acossado por movimentos populares, sem representação partidária e organizados pela internet, como o M-15. As forças políticas tradicionais, incluindo a mídia, já não conseguem dialogar com esses setores da sociedade que têm demonstrado gran- de capacidade de mobilização popular, mas ainda não se estruturaram como alternativa viável de poder. Os donos da voz na América Latina Na América Latina, segundo Gilberto Maringoni (in Castro, Melo e Castro: 2010 v1), o desenvolvimento da ati- vidade de imprensa e sua constituição como empresa ca- pitalista (portanto já na virada do segundo para o terceiro jor- nalismo) ocorre apenas nas duas últimas décadas do século XIX, como subproduto da inserção da região no mercado mundial e da Revolução Industrial de 1870. São frutos des- sa primeira geração o Jornal do Brasil4 (fundado em 1891) e o argentino La Nación (1870). Nos anos 1940, especial- mente no pós-guerra, temos a chamada era do rádio, em que a nova tecnologia se associa a governos de cunho populista para gerar, por meio das emissões radiofônicas, as identidades nacionais que se consolidariam mais tarde com a televisão. O traço fundamental da alteração do perfil dos negó- cios da mídia, delineado a partir dos anos 1930-1940 e concretizado após a II Guerra, é a constituição de grupos empresariais de comunicação. Estes se caracte- rizam pela propriedade cruzada de vários meios, como 4. Que, a exemplo do Público, desde setembro de 2010 só circula em versão digital (http://www.jb.com.br/). http://www.jb.com.br/ 162 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España revistas, jornais, emissoras de rádio e, posteriormen- te, de televisão. [...] Isso [TV] acontece na Argentina (1951), como parte da expansão dos meios de comu- nicação durante o governo de Juan Domingo Perón (1946-1955), no Chile (1959), através de universidades católicas, Venezuela (1952), como parte do esforço de legitimação da ditadura do general Marcos Pérez Jime- nez (1948-1958), e na Colômbia (1954), como peça do departamento de propaganda da ditadura do gene- ral Gustavo Rojas Pinilla (1953-1962). (Maringoni in Castro, Melo e Castro, 2010) Se o vínculo das TVs e, por conseguinte, dos grandes grupos de mídia, com governos autoritários e/ou populistas é evidente, no caso do México ele é ainda mais explícito. A gigante Tele- visa cresceu quase em simbiose com o Partido Revolucionário Institucional – PRI, de direita, que governou o país por mais de 70 anos. O grupo possui negócios nas áreas de jogos de apos- tas, telecomunicações, TV por assinatura, TV digital, internet, revistas, distribuição de periódicos, produção cinematográfica e música, além de possuir dois times de futebol e o histórico Es- tádio Azteca5. Após um hiato de 12 anos de governo de Felipe Calderón, do também direitista Partido Ação Nacional – PAN, o poder central voltou em julho desse ano ao PRI, tendo agora como presidente Enrique Peña Nieto, casado com uma atriz da Televisa, Angélica Rivera. Tanto as eleições de Calderón como de Peña Nieto são contestadas como fraudulentas pela esquerda mexicana6. 5 http://www.televisa.com/empresas-del-grupo/ acesso em 20/10/2012. 6. http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2012-07-03/lider-da- -esquerda-mexicana-ameaca-contestar-validade-de-eleicao.html acesso em 20/10/2012. http://www.televisa.com/empresas-del-grupo/ http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2012-07-03/lider-da-esquerda-mexicana-ameaca-contestar-validade-de-eleicao.html http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2012-07-03/lider-da-esquerda-mexicana-ameaca-contestar-validade-de-eleicao.html 163 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España A visão de democracia disseminada pelo discurso da mídia hegemônica se centra na manutenção da atual estrutura monopolista que confere a ela o direito de ser “a voz do povo”. Mais que isto, a mídia evoca para si a condição de uma instituição representante da opinião pública e, portanto, com legitimidade de atuar como partido político. (Oliveira, 2012) Com a oligopolização do setor e o histórico apoio mútuo entre governos de direita e imprensa hegemônica, o poder de influência dos meios de comunicação em massa nos pro- cessos eleitorais do período pós-ditaduras no continente, é inegável. Assim, diversos governantes construíram suas can- didaturas com, no mínimo, a cumplicidade da mídia tradi- cional. Todavia, em alguns casos, não conseguiu manter no cargo presidentes sem real apoio popular. Um exemplo claro é o mandato de apenas 14 meses de Gonzalo Sánchez de Lozada (2002 a 2003) na Bolívia, cuja ascensão, conquistada com a ajuda da empresa de marketing político estadunidense Greenberg, Carville e Shrum – GCS, e queda são apresenta- das no documentário Crise é nosso negócio, de Rachel Boyton. Em parte, isso é um negócio, e as pessoas nos pa- gam. Não é um trabalho voluntário, nem é cari- dade, mas eu e meus sócios estamos nisso porque acreditamos na democracia, num tipo específico de democracia que é progressista, social-demo- crata, baseada no mercado, moderna, com amplos benefícios, e é por isso que estamos na Bolívia. (Jeremy Rosner, estrategista chefe da Greenberg, Carville e Shrum – GCS in Boyton, 20057) 7. In CALIL, Giberto G. A crise é nosso negócio: uma crítica superficial e insuficiente http://site.projetoham.com.br/images/docs/crise.pdf , acesso em 21/12/2012. http://site.projetoham.com.br/images/docs/crise.pdf 164 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Goni, como Lozada era conhecido, tentou aprofundar a política neoliberal baseada na privatização de empresas e recursos naturais que marcou a Bolívia e outros países sula- mericanos nos anos 1990. Sua renúncia em 17 de outubro de 2003 levou a dois governos que não conseguiram se manter (de seu vice-presidente Carlos Mesa – 2003 a 2005, e do interino Eduardo Rodríguez Veltzé – 2005 a 2006). Somente com a eleição do esquerdista Juan Evo Morales Ayma (do Movimiento ao Socialismo – MAS) em 2005, com 53,7% dos votos, apesar de 83% das notícias de jornais, rádio e TV terem sido desfavoráveis a ele (Borges, 2009), o país alcançou a atual estabilidade política. Reeleito em 2010, Morales segue alvo da mídia, como mostra o relató- rio SIP sobre a nação. La estrategia del Gobierno, según sus más altos re- presentantes, es la toma total del Poder para sustituir la República por el Estado, bajo un régimen comu- nitario de control social. Bajo control directo del Órgano Ejecutivo están ya los órganos Legislativo, Judicial y Electoral, que fueron poderes indepen- dientes bajo el antiguo orden constitucional. A través de la nacionalización de las grandes empresas pro- ductivas, el Estado controla ya gran parte del poder económico. El control de los medios de comunicaci- ón es también prioridad del gobierno. (Informes por país – Bolívia. 68ª Assembléia Geral da SIP8). Em sua 68ª Assembleia Geral, realizada em São Pau- lo, Brasil, entre 12 a 16 de outubro de 2012, aliás, a SIP apontou novamente suas baterias para todos os governos de 8. Disponível em http://www.sipiapa.org/v4/det_informe.php?asam blea=49&infoid=871&idioma=sp , acesso em 21/10/2012. http://www.sipiapa.org/v4/det_informe.php?asamblea=49&infoid=871&idioma=sp http://www.sipiapa.org/v4/det_informe.php?asamblea=49&infoid=871&idioma=sp 165 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España orientação à esquerda ou mesmo centro-esquerda, como alvos preferenciais. “Governos democraticamente eleitos estão tratando de promulgar leis que solapam a liberdade de expressão”, disse o então presidente da entidade, Mil- ton Coleman, no discurso de abertura da assembleia. Como bem recorda o diretor do site Opera Mundi e da revista Samuel, Breno Altman, contudo, [A SIP] teve papel fundamental durante a Guerra Fria. Empenhou-se com afinco a etiquetar como “antidemocráticos” os governos latino-americanos que não se alinhavam com a Casa Branca. Consti- tuiu-se em peça decisiva do clima psicológico que antecedeu levantes militares no continente entre os anos 60 e 80. Entre seus membros mais proeminen- tes, por exemplo, está o diário chileno El Mercu- rio, comprometido até a medula com a derrubada do presidente constitucional Salvador Allende, em 1973, e a ditadura do general Augusto Pinochet. Outros grupos filiados são os argentinos La Nación e El Clarín, apoiadores de primeira hora do sangui- nário golpe de 1976. [...] Estes veículos, mais re- centemente, apoiaram o golpe contra o presidente Hugo Chávez (2002), a derrocada do hondurenho Manuel Zelaya (2009) e o afastamento ilegal do pa- raguaio Fernando Lugo (2012). Funcionam, a bem da verdade, como uma aliança intercontinental do conservadorismo. (Altman, 2012). Para não nos alongarmos em casos já bastante debatidos, inclusive em nível acadêmico, como o golpe de 2002 na Ve- nezuela9, e nem em situações por demasiado recentes para 9. Um dos relatos mais difundidos sobre o golpe é o do documentá- rio A revolução não será televisionada (Irlanda, 2003) de Kim Bartley 166 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España uma melhor análise, como o impeachment de Fernado Lugo em junho de 2012 no Paraguai10, decidimos para esse traba- lho restringir a análise da América Latina a apenas mais dois países emblemáticos da região, além do Brasil, até mesmo pelo foco dado pela mais recente reunião da SIP: Equador e Argentina. O Equador torna-se interessante devido a três fatores: a nacionalidade equatoriana do novo presidente da SIP, Jaime Mantilla; o asilo político dado pelo presidente do país, Rafael Correa, ao ativista/jornalista Julian Assange, do site WikiLeaks, confinado na embaixada do Equador em Londres; e a luta por um novo modelo de regulamentação da mídia nos moldes da Ley de Medios Argentina. Ao as- sumir a direção da entidade por video-conferência “pelos graves problemas que tanto o jornal que represento como meu país enfrentam, pela arremetida dos ataques governa- mentais”, Mantilla afirmou que a “imprensa independente do Equador continua acossada por um governo que […] desrespeita inteiramente o direito humano de livremente sonhar, expressar-se e compartilhar as diferentes visões da realidade”. Em seguida, sobre a região, afirmou ainda que: Assumo essa presidência em um momento peri- goso para as liberdades na nossa América. A ten- dência de muitos governos de diversas ideologias e grupos de poder, de uniformizar o pensamento dos cidadãos livres, eliminar as expressões contrá- e Donnacha O’Briain. Disponível em http://www.youtube.com/ watch?v=MTui69j4XvQ acesso em 22/10/2012. 10. A esse respeito ver SOUZA, Vinicius e SÁ, Maria Eugênia. Paraguai: lições do golpe, cem dias depois, Idéias em Revista, Ciranda.Net e Ou- tras Palavras, setembro 2012. Disponível em http://www.outraspa- lavras.net/2012/10/01/paraguai/ acesso em 22/10/2012. http://www.youtube.com/watch?v=MTui69j4XvQ http://www.youtube.com/watch?v=MTui69j4XvQ http://www.outraspalavras.net/2012/10/01/paraguai/ http://www.outraspalavras.net/2012/10/01/paraguai/ 167 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España rias, atacar a mídia independente, amedrontar e in- clusive eliminar aqueles que denunciam os abusos dos poderes aumentou e tende a se generalizar. Os intelectuais do mundo, e os da América Latina, fo- ram tradicionalmente os que formularam a defesa das liberdades. Seus pensamentos orientaram mui- tas rebeliões contra poderes e governos ditatoriais e populistas11. (Mantilla, 2012). Segundo a jornalista Bia Barbosa, no entanto, não é de se estranhar que a SIP e seu principal dirigente temam uma regulamentação da mídia que invista contra os oligopólios, monopólios e grupos com propriedade cruzada de meios de comunicação. O jornal Hoy integra um grupo de comunicação equatoriano, todo dirigido por Mantilla, que pos- sui também a Hoy TV, um canal UHF; a Radio Clássica 1110 AM Digital; os jornais MetroHoy e MetroQuil (periódicos de distribuição gratuita nas cidades de Quito e Guayaquil); o tablóide Popular, especializado em esportes; e que edita e distribui no país o Miami Herald e a revista Newsweek. Ainda integram o grupo Hoy a editora Edimpres, a Edi- satélite, as empresas Sistemas Guía S.A. e Publiquil S.A, a Fundação Hoy para a Educação, e o Explo- red, um arquivo digital de notícias. (Barbosa, 2012). A Argentina, todavia, é o principal campo de batalha no continente entre os meios de comunicação tradicionais e as tentativas governamentais de regular o setor para favo- 11 Discurso de Jaime Mantilla. 68ª Assembleia Geral da SIP. Disponí- vel em http://www.sipiapa.org/v4/det_resolucion.php?asamblea= 49&resid=745&idioma=br acesso em 22/10/2012. http://www.sipiapa.org/v4/det_resolucion.php?asamblea=49&resid=745&idioma=br http://www.sipiapa.org/v4/det_resolucion.php?asamblea=49&resid=745&idioma=br 168 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España recer a pluralidade e diversidade de expressões culturais e jornalísticas. Como explica a professora da Universidade de Buenos Aires, Susana Sel, En Argentina, la concentración mediática fue facili- tada por las privatizaciones de los años ’90 durante la administración menemista12, que consolidaron una nueva fracción hegemônica que combino ca- pital financiero internacional, operadores interna- cionales de servicios públicos y capital nacional, beneficiados por la convergencia tecnológica. (Sel in Oliveira, 2012: p 57). Segundo ela, os dois principais grupos de mídia no país são o Clarín13 e o antigo Telefónica (atualmente Admira). O primeiro reúne ao tradicional jornal homônimo, mais seis diários, sete revistas, três parques gráficos, a agência de notícias DyN, dois canais de TV aberta, sete de TV a cabo, duas redes de rádio AM e duas de FM, uma emissora de rádio por internet, dois prove- dores de internet, três empresas de conteúdo digital e, ainda, a única produtora de papel jornal do país. Já a Admira (que teria 100% de capital espanhol) é o principal player de televisão, com dois dos cinco canais de TV aberta do país, além de oito canais de províncias, televisão a cabo, meios digitais e interativos, uma editora, uma rede de rádio AM e uma FM, um provedor de internet, um portal, duas produtoras e duas companhias telefô- nicas (uma fixa e uma móvel). Juntos, os dois grupos controlam 81% de todas as transmissões de TV da Argentina. Foi exatamente para mudar esse modelo de concentração dos meios de comunicação, que surgiu em 2004 a Coalición por 12. Referente a Carlos Menem, presidente da Argentina de 1989 a 1999 pelo Partido Justicialista (Peronista). 13. http://www.grupoclarin.com/ acesso em 22/10/212. http://www.grupoclarin.com/ 169 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España una radiodifusión democrática – CRD, integrada atualmente por mais de 300 organizações sociais de todos os tipos, de sindica- tos a veículos de comunicação comunitários (Sel in Oliveira, 2012). A coalizão definiu os eixos para a Ley 26.522 de servicios de comunicación audiovisual, conhecida como Ley de Medios14. Promulgada em outubro de 2009, a lei limita a proprie- dade cruzada de meios de comunicação e reparte as frequ- ências disponíveis para rádio e TV de forma igualitária en- tre emissoras comerciais, público/estatais e sem finalidade de lucro (incluindo ONGs, cooperativas e sindicatos). Des- de antes de sua promulgação, contudo, vem sofrendo uma série de ataques para impedir sua aplicação plena, prevista para 7 de dezembro de 2012, quando forçará o grupo Cla- rín a se desfazer de diversas subsidiárias e a devolver con- cessões de rádio e TV. Não por outro motivo, a Argentina se tornou um dos principais alvos da SIP15 e deve receber em dezembro uma “missão” de “observação” da entidade16. La prensa ha enfrentado un clima crecientemente hostil durante el último semestre. Una serie de re- soluciones gubernamentales, maniobras judiciales, declaraciones agraviantes y amedrentadoras de fun- cionarios públicos, medidas de hecho contra me- dios y amenazas y ataques físicos contra periodistas, configuran un escenario oscuro para el ejercicio del periodismo y del derecho de todo ciudadano a ex- presarse libremente. (Informes por país – Argentina. 68ª Assembléia Geral da SIP, 2012) 14. A íntegra da lei pode ser acessada em http://bit.ly/LqSlQL 15. Veja os informes e relatórios da SIP sobre o país em http://bit.ly/ QBLOXW 16. Veja mais em http://bit.ly/T9PYvb http://bit.ly/LqSlQL http://bit.ly/QBLOXW http://bit.ly/QBLOXW http://bit.ly/T9PYvb 170 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Já durante a Contraconferência - liberdade de expressão na América Latina: de que lado está a SIP?17, organizada na mes- ma época por movimentos brasileiros pela liberdade de ex- pressão, Luis Lazzaro, diretor de planejamento da Autoridad Federal de Servicios de Comunicación Audiovisual – AFSCA18, da Argentina, rebateu o argumento da SIP. “É uma necessi- dade da democracia redistribuir o direito à voz. O mono- pólio na Argentina não é metafórico, mas essa é uma luta de toda a América Latina por uma liberdade de expressão que seja real”. O poder da mídia hegemônica no Brasil Apesar de historicamente dar as costas a seus hermanos na América Latina, o Brasil teve um processo de criação e oligopolização dos meios de comunicação similar a ou- tros países da região. Desde o surgimento do primeiro jornal “nacional”, o Correio Braziliense, editado em Lon- dres em 1808, a mídia nacional sempre esteve ligada aos interesses empresariais da elite econômica local. Nunca houve, portanto, uma forte imprensa “popular”, que re- presentasse um pensamento de esquerda. Além disso, num país de dimensões continentais e baixo nível educacional, as mídias sonoras e audiovisuais são o grande fator de co- esão nacional. Para entender un poco más de Brasil, hoy por hoy, en términos de comunicación, de las verbas y de las 17. Sobre a contraconferência veja artigos em http://bit.ly/Rmyk3o e http://bit.ly/RZ5d54 18. http://www.afsca.gob.ar/ http://bit.ly/Rmyk3o http://bit.ly/RZ5d54 http://www.afsca.gob.ar/ 171 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España industrias de los medios de comunicación, etc., no podemos alejarnos de la formación cultural del país ni de la presencia de los medios, particularmente la radio, entre los años 1922 a 1970, como principal mediador de la cultura brasileña, y la televisión, a partir de los años 70, pese a haber sido inaugurada en Brasil el 3 de abril de 1950. (Adami, 2012) Entre 1924 e 1959, Assis Chateaubriand criou o maior império jornalístico do subcontinente, o Diários Associa- dos, com 40 jornais e revistas, 20 estações de rádio, 10 emissoras de TV, uma agência de notícias e uma de pu- blicidade (Borges, 2009). Com o golpe de estado de 1964 (e a morte de Chatô, em 1968, desestruturando os Diá- rios), as Organizações Globo tomam à frente do mercado, fundando a TV Globo em 1965 com apoio financeiro da estadunidense Time-Life, apesar da proibição legal de in- vestimentos estrangeiros no setor. Hoje, o conglomerado da família Marinho reúne 35 grupos afiliados controlando 33 jornais, 52 rádios AM, 76 FM, 11 OC, 105 emissoras de TV, 27 revistas, 17 canais e nove operadoras de TV por assinatura, um provedor de internet e um grande portal, além de 3.305 retransmissoras19. Apesar da hegemonia absoluta, a Globo divide o poder midiático no Brasil com cinco outras famílias: Abravanel (Sistema Brasileiro de Televisão – 37 afiliados e 195 veí- culos, incluindo os jornais, TVs e rádios do antigo Diários Associados), Saad (redes de jornais, TV e rádio Bandeirantes – 166 veículos e 22 grupos), Mesquita (jornal O Estado de São Paulo – 236 mil exemplares/dia/2011), Civita (Edi- tora Abril – sete das 10 maiores revistas do Brasil, 25% do 19. Projeto Donos da Mídia. Disponível em http://donosdamidia.com. br/rede/4023 . Acesso em 25/10/2012. http://donosdamidia.com.br/rede/4023 http://donosdamidia.com.br/rede/4023 172 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España mercado de livros didáticos do país e praticamente toda a distribuição de periódicos em banca) e Frias (Folha de São Paulo – 294 mil exemplares/dia/2011 – e Universo On Line – maior provedor do país e 92º portal mais visitado do mundo20). Outro player importante que recentemente alcançou a segunda posição na audiência de TV é a Rede Record (30 afiliados com 142 veículos e 870 retransmis- soras), comprada há alguns anos pela Igreja Universal do Reino de Deus. Na original classificação de Daniel Herz, funda- dor do Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações (FNDC), quatro “times” operam na mídia nacional. O “primeiro time” é composto pelos “cabeças-de-rede”, geradores de programa- ção nacional, incluindo as principais emissoras de TV, a Editora Abril e os jornais Estadão e Folha. O “segundo time” inclui grupos regionais e nacio- nais com certo alcance, como o Jornal do Brasil e a RBS do Rio Grande do Sul. O “terceiro time” é formado por emissoras regionais afiliadas às redes nacionais de TV; já o “quarto time” inclui milhares de pequenas e frágeis empresas de comunicação”. (Borges, 2009) Mesmo com a eleição de um governo teoricamente de centro-esquerda em 2002, de Luis Inácio Lula da Silva, sua reeleição em 2006 e a eleição de sua sucessora do mesmo Partido dos Trabalhadores – PT em 2010, não houve qual- quer grande progresso na regulação do setor no Brasil com vista a democratizar os atores e vozes. Não há uma lei que proíba a propriedade cruzada de meios de comunicação e o 20. http://www.alexa.com/siteinfo/uol.com.br acesso em 25/10/2012. http://www.alexa.com/siteinfo/uol.com.br 173 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Código Brasileiro de Telecomunicações data de 1962 (Lei nº 4.137), escrito em pleno processo de disputa pelo poder que levaria ao golpe de dois anos depois. Nem mesmo os cinco artigos (220 a 224) da Constituição de 1988 (um ano antes das primeiras eleições diretas para presidente) sobre o setor foram jamais regulamentados ou aplicados. Neles se prevê, entre outras coisas, que “os meios de comunicação não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de mono- pólio ou oligopólio (220)” e se fixa o “princípio de com- plementaridade dos sistemas privado, público e estatal”, as- sim como a nova Ley de Medios na Argentina. Desse modo, os únicos a disputarem os “corações e men- tes” dos brasileiros por um projeto de desenvolvimento mais à esquerda são os pequenos empresários da imprensa contra-he- gemônica (a maioria ligados a sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos) e, mais recentemente, os ativistas digitais (muitos jornalistas que trabalham ou trabalharam para a grande mídia) em blogs e outras experiências de comunicação via in- ternet. Sua atuação, especialmente em períodos eleitorais, tem sido um contraponto fundamental a manipulações políticas, como por exemplo a publicação na primeira página da Folha de São Paulo em 5 de abril de 2009 de uma ficha policial fal- sa apresentando a futura presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, como “sequestradora, terrorista e ladra capturada”21. Foi a rápi- da atuação de jornalistas/blogueiros como Luis Nassif, Carlos Azenha, Rodrigo Vianna e Paulo Henrigue Amorim22, que a farsa se desfez em poucos dias derrubando a credibilidade do que já foi maior jornal do Brasil. 21. Sobre essa e outras manipulações midiáticas, ver Souza 2011. 22. Respectivamente http://www.advivo.com.br/luisnassif , http:// www.viomundo.com.br/ , http://www.rodrigovianna.com.br/ e http://www.conversaafiada.com.br/ http://www.advivo.com.br/luisnassif http://www.viomundo.com.br/ http://www.viomundo.com.br/ http://www.rodrigovianna.com.br/ http://www.conversaafiada.com.br/ 174 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España A cultura digital e seus rebatimentos estéticos (di- versidade cultural e recombinações), éticos (ética do compartilhamento) e políticos (ação cidadã em rede, descentralizada e com menos mediação de es- truturas verticais) são, em termos mais amplos, um importante tema de nuestro tiempo. [...] Há mais condições de heterogeneidade, diversidade, inter e transculturalidade, portanto mais condições (e res- ponsabilidades) dos sujeitos contemporâneos faze- rem a si próprios (Assumção, 2012). A mídia tradicional, entretanto, segue tendo muita força junto às elites e, por conseguinte, aos políticos, enquanto a TV continua tendo grande influência sobre a população de renda mais baixa. Em recente pesquisa publicada pela FSB Comunicações23, vemos que em 2008 70% dos congressis- tas tinham os jornais como a principal fonte de informa- ções e 13% a internet. Em 2012, essa relação mudou para 51% a 34% (se bem que entre os deputados mais jovens, a internet já supera os jornais como principal fonte de infor- mação: 49% a 44%). Telejornais informam 6%, rádio 5% e revistas 2%. Quase 81% ainda leem os jornais em papel e a Folha é o preferido com 78% de votos, contra 38% dO Globo e 33% do Estadão. Dentre os portais, o UOL conta com 66% de leitura, contra 31% do G1 (Globo), 21% do Terra e 10% do Estadão. Para a população em geral, a televisão como principal meio de informação segue imbatível, já que quase 97% das residências possuem o aparelho24. Com isso, a TV manteve em 2011 53% de todos os investimentos em publicidade do país, o mesmo percentual do ano anterior. Já a propa- 23. Disponível em http://bit.ly/RNmM8T acesso em 26/10/2012. 24. Fonte http://www.teleco.com.br/pnad.asp acesso em 21/10/2012. http://bit.ly/RNmM8T http://www.teleco.com.br/pnad.asp 175 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España ganda na internet subiu um ponto percentual, de 5% para 6%. Mas a quantidade de residências com internet subiu de 18% em 2008 para 27% em 2010 (Castro e Melo, 2012 v4) e a quantidade, variedade e disponibilidade de novos apa- relhos para acesso à rede, como tablets e smartphones, não para de crescer. É um novo mundo em que novos atores podem explorar novas maneiras de influenciar os fluxos de informação. Oxalá para melhor! Referências ADAMI, Antonio. La industria de los medios de comunicación en Brasil, la cultura y los nuevos desafíos económicos y comuni- cacionales. In Anuário Dircom 2012. Madri: Asociación de Directivos de Comunicación, 2012. ALTMAN, Breno. Boas razões para a presidente Dilma não ter ido à SIP. Opera Mundi 15/10/2012. Disponível em http:// bit.ly/QMdsSc , acesso em 22/10/2012. ARBEX JUNIOR, José. Showrnalismo: a notícia como espetá- culo. São Paulo: Editora Casa Amarela, 2003. ASSUMÇÃO, Jéferson. Homem-massa: a filosofia de Ortega y Gasset e sua crítica à cultura massificada. Porto Alegre: Bestiá- rio e Fundación Ortega-Marañon, 2012. BAITELLO JUNIOR, Norval. A era da iconofagia – Ensaios de comunicação e cultura. São Paulo: Hakers Editores, 2005. BARBOSA, Bia. Novo presidente da SIP diz que Assange pra- tica jornalismo desonesto. Carta Maior, 18/10/2012. http://bit. ly/VeGMaq . Acesso em 22/10/2012. http://bit.ly/QMdsSc http://bit.ly/QMdsSc http://bit.ly/VeGMaq http://bit.ly/VeGMaq 176 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España BECERRA, Martín; e MASTRINI, Guillermo. Concentra- ción de medios. Buenos Aires: UBA - Facultad de Ciencias So- ciales, 2004. http://bit.ly/SkVQ2d . Acesso em 23/10/2012. BORGES, Altamiro. A ditadura da mídia. São Paulo: Anita Garibaldi, 2009. BOYTON, Rachel. Our Band is Crisis. Documentário. EUA, 2005 - 85 min. CASTRO, Daniel; MELO, José Marques de; CASTRO, Cosette (org.). Panorama da comunicação e das telecomunicações no Brasil – Volume 1. Brasília: Ipea, 2010. ____________. Panorama da comunicação e das telecomunica- ções no Brasil – Volume 3. Brasília: Ipea, 2010. CASTRO, Daniel; MELO, José Marques de (org.). Panora- ma da comunicação e das telecomunicações no Brasil 2011/2012 – Volume 1. Brasília: Ipea, 2012. ____________. Panorama da comunicação e das telecomunica- ções no Brasil 2011/2012 – Volume 4. Brasília: Ipea, 2010. CONTRERA, Malena Segura. O mito na mídia: a pre- sença de conteúdos arcaicos nos meios de comunicação. São Paulo: Annablume, 2000. Donos da Mídia. http://donosdamidia.com.br . Acesso em 25/10/2012. FLUSSER, Vilém. O universo das imagens técnicas – Elogio da superficialidade. São Paulo: Annablume, 2008. KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo: Atelier Editorial, 2002. LIMA, Venício A. de. Liberdade de expressão x liberdade de imprensa - Direito à comunicação e democracia. São Paulo: Publisher, 2009. http://bit.ly/SkVQ2d http://donosdamidia.com.br 177 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España MARCONDES FILHO, Ciro. Ser Jornalista: o desafio das tecnologias e o fim das ilusões. São Paulo: Paulus, 2009. OLIVEIRA, Dennis de (org.). Cultura e Comunicação na América Latina: integrar para além do mercado. São Paulo: Ce- lacc – ECA/USP, 2012. SANDE, Manuel Fernández. Seminário Avançado Interna- cional - Grandes grupos de comunicação em Espanha. Setem- bro 2012. Apresentação disponível em http://bit.ly/P6NLyt . Acesso em 12/10/2012. Sociedad Interamericana de Prensa – SIP - http://www.sipia- pa.org . Acesso em 22/10/2012. SOUZA, Vinicius; SÁ, Maria Eugênia. Ocupar a praça, ocupar o prédio, ocupar-se. Idéias em Revista e Ciranda.net. De- zembro 2011. Disponível em http://bit.ly/rxYuE2 . Acesso em 21/10/2012. ______________. Desafios da Coleta e Distribuição da In- formação em Rede: a importância da confiabilidade e da proteção da fonte no jornalismo via internet. Revista Alter- jor ECA/USP, v. 02, 2011. Disponível em http://www.usp.br/ alterjor/Souza_Internet.pdf . Acesso em 05/10/2012. http://bit.ly/P6NLyt http://www.sipiapa.org http://www.sipiapa.org http://bit.ly/rxYuE2 http://www.usp.br/alterjor/Souza_Internet.pdf http://www.usp.br/alterjor/Souza_Internet.pdf 178 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España PARTE II. IMPRENSA PRENSA 179 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 8. La Cocina en Papel Pasado y Presente del Periodismo Gastronómico Español Nuria Blanco Hernández1 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Madrid, España Resumen La gastronomía ha pasado de información secundaria, colateral o añadida a protagonizar portadas y acaparar sec- ciones en los diarios de información general en España. Con el despegue de la alta cocina y gracias al entorno digital esta información ha posibilitado que el otro gran producto de la prensa, la revista, se haya renovado favore- ciendo, además, la aparición de nuevas publicaciones espe- cializadas. Esta evolución demuestra la importancia de una 1. Nuria Blanco Hernández, doctoranda del Dpto. de Periodismo I: Aná- lisis del mensaje informativo, de la Facultad de Ciencias de la Infor- mación de la Universidad Complutense de Madrid (UCM). Máster en Investigación en Periodismo: discurso y comunicación y Experta en Periodismo Gastronómico por la misma universidad. Líneas de inves- tigación: Génesis y Evolución de la Revista Gastronómica en España, desarrollo en el entorno digital y divulgación de sus contenidos a través de las redes sociales. Email: nuriblan@hotmail.com 180 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España temática que ha superado la escueta publicación de recetas para profesionalizarse y abarcar aspectos tan variados que oscilan desde sus conexiones políticas o económicas hasta la promulgación de una filosofía hedonista abierta y sin complejos. La presente comunicación ofrece un sintético repaso por la evolución de la información gastronómica en periódicos y revistas españolas (desde el siglo XVIII hasta nuestros días) para avanzar su génesis y evolución, así como para demostrar la consolidación de esta especialidad perio- dística en la prensa nacional donde ha conquistado espacios. Palabras clave: periodismo, periodismo gastronómico, gastronomía. Del interés gastronómico en España y su inclusión temática en la prensa y en revistas La cocina ha sido materia de estudio además de fuente de satisfacción en el instante en que el fuego permitió la cocción. Lo ha sido en todas las culturas y civilizaciones, de tal manera que ha acompañado al ser humano desde que la alimentación deja de considerarse exclusivamente la ga- rantía para la vida. Desde la antigüedad hasta nuestros días han sido muchos los tratados y escritos que nos han llegado sobre las cocinas y sus evoluciones, sobre el arte culinario y el disfrute gastronómico. Tal es así que la materia en cues- tión llegó a despegarse de su ámbito natural para introdu- cirse y abordar disciplinas artísticas, científicas o literarias en relación con la alimentación. Una de estas actividades de carácter intelectual es la que tiene que ver con el perio- dismo que ha hecho en los últimos años de la información gastronómica en España una auténtica especialidad profe- sional; y no sólo eso, sino que la gastronomía, y con ella el 181 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España periodismo gastronómico que hemos incorporado como materia especializada con cierto retraso frente a otros países, se ha transformado en nuestro país para llegar a ser objeto de estudio universitario desde diferentes ángulos2. El interés sobre la información gastronómica (sobre sus posibilidades, evoluciones e influencias) es algo rela- tivamente reciente en España a pesar de contar con una extensa tradición culinaria y de haber dado a luz grandes textos de cocina, además de ser reconocida cuna de grandes cocineros. No ha ocurrido así con el resto de sus enfoques de los que tenemos abundante bibliografía. Ya sean rece- tarios, recopilaciones históricas, manuales técnicos o lite- raturas llenas de experiencias y viajes, nuestro país cuenta con multitud de ejemplos de textos que giran en torno a la cocina y su íntima relación con el ser humano; textos que abordan la alimentación de manera práctica, histórica, he- donista e incluso espiritual; o textos que afrontan el hecho alimenticio bajo una perspectiva bio-psico-social3 analizan- do comportamientos, relaciones y conexiones. En el contexto contemporáneo y en relación con el periodismo, que es el tema que nos interesa, han sido los responsables de la alta cocina y las gentes vinculadas al pe- riodismo y la cultura, sobre todo, los que han contribuido, en las últimas décadas, a la evolución de un público lector, que ha pasado de considerar el acto de comer como una actividad básicamente necesaria y nutritiva, a interesarse 2. Buenos ejemplos son la Basque Culinary Center y el curso de Ex- pertos en Periodismo Gastronómico y Nutricional puesto en mar- cha en 2010 por Javier Fdez. del Moral, Catedrático de Periodismo de la UCM en colaboración con los gastroperiodistas Yanet Acosta y José Luis Murcia. 3. Alimentación y cultura, Jesús Contreras Hernández y Mabel Gracia Arnáiz. Editorial Ariel, 2005. Barcelona. 182 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España -siguiendo la estela de grandes personajes de la historia- por el disfrute gastronómico y sus infinitas posibilidades narrativas (como ya hiciera el poeta griego Arkhéstratos de Gela en el siglo IV a. C., quien empleó la palabra gastrono- mía por primera vez en un poema subtitulado Gastrología4; o como el manido Brillant-Savarin5 y su archifamosa Fisio- logía del Gusto, obra que señalaba la necesidad de su estudio; o explotando sus aspectos estéticos y literarios, con autores y artistas que van desde Homero hasta Miró para quien “el cocinero no es sólo una persona aislada, que vive y trabaja únicamente para dar de comer a sus huéspedes. Sino que es capaz de convertirse en un en artista cuando tiene cosas que decir a través de sus platos, exactamente igual que un pintor en un cuadro”. Con todo, tenemos que reconocer que en España no ha sido hasta un pasado relativamente reciente cuando una de estas actividades intelectuales (en ocasiones elevada a la categoría de arte) ha conseguido saltar una barrera que se creía insondable en periodismo, para convertirse en sección con autoridad propia incluida en periódicos de informa- ción general, cuando no en temática específica de publi- caciones especializadas, donde las nuevas tecnologías están abriendo un interesante camino no sólo para la profesión sino para la propia supervivencia de sus profesionales. Sabemos que el periodismo español conlleva caracte- rísticas propias y se incorpora tarde con respecto a la tra- dición anglosajona al desarrollo y práctica de la actividad. 4. Breve diccionario etimológico de la lengua española, Guido Gó- mez de Silva. México, Fondo de Cultura Económica, 1996. 5. Fisiología del gusto o Meditaciones de gastronomía trascendental, Anthel- me Brillat-Savarin, (Trad. Conde de Rodalquilar, 1869). Edición facsímil. Valladolid, Editorial Maxtor, 2010. P. 57. 183 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Lo mismo ocurrirá con el periodismo gastronómico, éste tardará en subirse al tren y lo hará una vez superados ciertos obstáculos como el despojo de prejuicios, el descenso eli- tista y el progresivo ascenso en una escala temática valorada cuyo mínimo viene marcado por la publicación de recetas y cuyo máximo estaría en las incursiones literarias del en- sayo gastronómico. En la prensa escrita española encontramos evidencias sobre alimentación y cocina prácticamente desde mediados del siglo XVIII, aunque la literatura ya se había ocupado de transmitir escenas sociales en torno a la mesa hasta el punto de dar lugar a un género propio: el costumbrismo li- terario practicado y divulgado por escritores (en ocasiones también periodistas) como Mariano José de Larra, Benito Pérez Galdós o Mesoneros Romanos. Sin embargo, hablando únicamente de periodismo, debe- mos ejercer en primer lugar una diferenciación entre la in- formación gastronómica publicada en diarios de información general (prensa en la que a decir verdad siempre ha estado rondando) y aquella información contenida en publicacio- nes especializadas, es decir, en revistas gastronómicas donde el reportaje, el análisis, la entrevista y la crónica han reinado sin problemas desde su origen. O, mejor dicho, debemos especifi- car un recorrido que, a partir de distintas páginas y a lo largo de más de dos siglos, converge en nuestros tiempos en una especialización periodística que ya no se encuentra contenida en el periódico o añadida esporádicamente en suplementos o números especiales, sino que ha dado lugar a secciones fijas en los periódicos de información general. Una información que los españoles ya buscaban en las que fueron novedosas publica- ciones especializadas a partir de los años setenta del siglo XX. Fueron estas primeras revistas, como veremos, las que ofrecían textos profesionales bajo la entonces novedosa for- mulación información/cultura/promoción/ocio, apoyadas 184 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España por contenidos gráficos y estéticos específicos6, con unos contenidos elevados, y con objetivos a largo plazo (tales como fidelizar a un sector de la población con intereses comunes, así como instruir y potenciar la cultura gastro- nómica dentro del territorio nacional). En pocas palabras: a partir de la década de los setenta del pasado siglo XX nace en España un producto periodístico destinado a afianzar lo gastronómico en la sociedad bajo el paraguas cultural que encierra la alimentación junto a su lado más hedonista. Mediante el lanzamiento de estas revistas ligadas a la activi- dad turística, combinando ocio, placer y cultura, comienza la andadura de una temática que en la actualidad forma parte de la demanda de un importante número de lectores. Con la influencia de grandes cocineros, escritores y artistas España decide unirse a una corriente que ya se estaba desa- rrollando en otras partes de Europa y del resto del mundo con mayor tradición o interés en la interrelación letras-ar- te-cocina, para observar (que no mirar) la cocina de cerca. Es entonces cuando se produce un cambio de velocidad en nuestro país y proliferan las revistas gastronómicas moder- nas. Su origen se hallará en la decana Club de Gourmets que publicó su primer número en 1976, recién inaugurada la democracia en España; debemos señalar en nuestra defensa que esa tardía incorporación y ese lento despertar del país y del lector hacia lo gastronómico se deben, en gran medida, a las circunstancias políticas que rodean la historia de Espa- ña que estuvo bajo un gobierno autoritario y controlador más de treinta años. Superada la década de los setenta y inaugurado el proceso democratizador, el desarrollo de la ciudadanía y la modernización del país serán posibles. 6. Esto es, con un diseño centrado exclusivamente en la alimentación y la gastronomía. Aspectos que están muy presentes en la imagen fotográfica gastronómica, cuya evolución ha sido constante. 185 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España La apertura del país, su proceso de transformación política y social tras años de dictadura, también facilitarán la apertura del gusto. No es que los españoles fuesen incapaces de experimen- tar placer con la ingesta de alimentos, con la actividad culinaria en sí misma, o que no reconociesen un manjar que casi siempre estaba destinado a públicos selectos. Si nos rodean clichés, uno de ellos sería, sin duda alguna, nuestra afición por la tapa, o por la reunión y el proceso socializador que se establece en torno a bebidas y comidas, por lo que lo que debemos considerar aquí es que es con la democracia cuando comienza a ser más fácil el acceso y la circulación de determinados productos. Y esa demanda de libertad tanto tiempo contenida por los españoles, superadas las dificultades de los primeros años, desencadenará en el interés por la temática culinaria como vía de satisfacción personal. Un goce que puede ser compartido cuando la cocina desciende del ámbito de las altas esferas para alcanzar a otros sectores de la sociedad. Para desarrollarse. La aparición de la revista Club de Gourmets, en abril de 1976, un mes antes de que lo hiciera el periódico El País7, supondrá un gran hito para el mundo periodístico y gastro- nómico. La publicación, en la que la libertad de la cocina, los productos y los viajes acompañan a la promoción turística y gastronómica nacional, es una muestra de evolución cultural y recuperación social de la cocina como parte de la entidad española. Durante mucho tiempo cercada o disponible sólo para las clases altas, la gastronomía española y por ende su afición, saldrán a la calle a través de esta publicación. Club de Gourmets con su temprana aparición encabeza ese elenco de publicaciones que fueron surgiendo rápida- mente para proponer a la sociedad otros modelos posibles 7. El primer periódico de El País saldrá publicado el 4 de mayo de 1976. Historia del Periodismo Español, Juan Francisco Fuentes y Javier Fernández Sebastián (1998), Madrid, Síntesis. p. 319. 186 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España de convivencia, en los que la libertad de expresión, por encima de todo, pero también las aficiones, entre las que con frecuencia se ubica lo gastronómico, contribuían a la felicidad de los ciudadanos. Ofrecida esta somera explicación socio-política que vie- ne a dar cuenta de los porqués de ese retraso o aparente falta de interés, conviene volver la vista atrás y detenernos en la historia del periodismo español, donde la temática agroalimentaria aparece en primer lugar en los periódicos de finales del siglo XVIII para dar el salto, en lenta progre- sión, al formato revista. La cocina en el papel: de actriz secundaria a estrella Aproximación a la evolución de la información gastronómica en España en periódicos y revistas Abordando en primer lugar el terreno específico de la tradicional prensa escrita del XVIII, debemos señalar que en España, el padre del periodismo moderno, Mariano José de Nipho (1719-1803), ya incluía en 1758 recetas8 en su Diario noticioso, curioso-erudito y comercial, público y económico. No sólo era información sobre el modo de elaboración sino que en la redacción aconsejaba al lector sobre los mé- todos de conservación de los productos de la época. Siendo el clero aficionado a la agricultura como tarea y actividad garante de sustento, no sería extraño que a finales de ese mismo siglo apareciesen también textos periodísticos como 8. Yanet Acosta El periodismo gastronómico. De las recetas a la portada de los periódicos. Análisis del anuncio del cierre temporal de elBulli en los principales diarios. http://bit.ly/hBU1Ta. Consulta 09.10.2012. about:blank 187 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España El Semanario de Agricultura y Artes dirigido a los párrocos9, el cual daba cuenta de variedades y cultivos. Esta será la pri- mera publicación periódica especializada en agricultura. De esa información especializada en materia agraria, de ese otro interés político-económico fundamentalmente, pasamos a la información gastronómica que en el siglo XIX se precipita a pesar de las dificultades sociales. “… pese a que España vive grandes hambrunas, los diarios, especialmente los conservadores, impulsa- ron sus secciones de recetas dirigidas a la mujer. También comenzaron a hablar de restaurantes, fre- cuentados por la nueva sociedad burguesa”10. La docente y periodista gastronómica Yanet Acosta Me- neses, autora del libro Historia de la información agraria. Desde el siglo XVIII hasta la Agenda 2000, señala en estas páginas la inclusión de una sección fija denominada “Noticias gastro- nómicas” dentro de la publicación El Campo11. Destinada a un público selecto e inspirada en publicaciones anglosajo- nas al estilo de Sport tenía un enfoque particular, entre di- vertimento y revelación, que atendía a la gastronomía para ofrecer sobre todo información de productos de tempora- da, recetas y restaurantes uniendo el placer con la utilidad. Lo cierto es que la información gastronómica no lo ha tenido fácil en nuestro país, incluso ha estado rodeada de prejuicios culturales y connotaciones negativas en relación 9. Íbid. 10. Íbid. 11. Publicación quincenal, dirigida por el conde de las Cinco Torres donde escribió el literato Benito Pérez Galdós. Se publicó desde el 1 de diciembre de 1876 al 1 de junio de 1892. 188 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España con la exuberancia, la glotonería o el pecado. También se ha visto arrastrada durante años por aspectos positivos, por otro lado inevitables, como la salud. Del mismo modo la información gastronómica ha teni- do que superar la relación más elemental que existe entre el hombre y la comida: la progresión que va de los aspectos más básicos de la alimentación como su necesidad para la supervivencia hasta alcanzar el concepto evolucionado del gusto. No es hasta el siglo XVII cuando encontramos re- ferencias al “buen gusto alimentario”; en parte fruto de la conexión del acto de comer y la elaboración y dificultad de la alta cocina con las disciplinas artísticas -música, pintura, escultura, arquitectura, teatro, poesía y literatura en todas sus formas-, (Flandrin-Montanari, 2011:862). Un hecho que corre paralelo en la relación culinaria que se establece entre la estética y el paladar, cuyo mensaje se instaló defi- nitivamente en la sociedad moderna de finales del XVIII. Todo lo tocante a la cocina se fue introduciendo en las páginas de los diarios españoles lentamente, despertando progresivamente el interés de los lectores. Al principio lo haría como si de una información colateral, o añadida al resto de temas considerados mayores se tratase. Poco a poco fue buscando el hueco que le correspondía como mate- ria informativa en los diarios nacionales, los cuales ofre- cían contenidos gastronómicos casi siempre bajo el tinte del ocio y/o la diversión; críticas y reseñas fueron también durante muchos años los datos que con frecuencia acom- pañaban a estas informaciones tal y como comprobamos en míticos diarios de finales del XIX como La Vanguardia, El Imparcial o La Época12. 12. Yanet Acosta El periodismo gastronómico. De las recetas a la portada de los periódicos. Análisis del anuncio del cierre temporal de elBulli en los principales diarios. http://bit.ly/hBU1Ta. Consulta 09.10.2012. about:blank 189 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España El cambio de velocidad y de peso temático de la infor- mación gastronómica en España merece ser observada con especial interés dado que se debe, por encima de todo, a la importancia de la revolución de la cocina de vanguardia y su extensión o influencia en el resto del mundo. No obstante, hallamos importantes firmas en diarios nacionales durante todo el siglo XX que se ocuparon de lo gastronómico en la prensa (Néstor Luján, Luis Bettónica, Xavier Domingo, Álvaro Cunqueiro, Josep Plá, Julio Camba…); merece la pena destacar, aunque sea de pasada y como avanzadilla del auge posterior, las columnas gastronómicas del periodista y escritor Manuel Vázquez Montalbán, que aparecieron pu- blicadas durante el verano del año 200013 en la Revista de Verano del diario El País. En el período de tiempo que va desde la década de los cincuenta hasta los primeros años del siglo XXI, este tipo de información progresa y pasa de centrarse en la alimenta- ción (salud, dietética y recetas, sobre todo, pero también so- bre el producto) a abordar la actividad a partir de otros en- foques tales como sus conexiones con la economía, ciencia, política agraria, relación social, conexiones culturales como la cinematografía, literatura… Es evidente la versatilidad que ofrece el terreno gastronómico y agroalimentario, un abanico de posibilidades que se ha ido explotando al tiem- po que crecía su interés. De ser información de “segunda”, la temática gastronómica ha dado origen a una especialidad concreta, definida y ejercida por expertos y especialistas. De estar incluida en páginas de ocio, suplementos y con- traportadas de manera anecdótica o menor, o de ser objeto 13. Revista Electrónica de Estudios Filológicos Tonos, nº 16. La colum- na gastronómica de Manuel Vázquez Montalbán, Fernando Sánchez Gómez (Universidad del País Vasco). http://www.um.es/tonosdi- gital/znum14/secciones/estudios-24-Gastronomia.htm http://www.um.es/tonosdigital/znum14/secciones/estudios-24-Gastronomia.htm http://www.um.es/tonosdigital/znum14/secciones/estudios-24-Gastronomia.htm 190 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España de atención en determinadas fechas del calendario festivo, pasará a protagonizar portadas a nivel nacional e interna- cional, provocando la sorpresa de los más tradicionales en periodismo y el agrado de los que durante años, o bien se habían dedicado a elaborar estas informaciones, o bien dis- frutaban con sus lecturas. Este hecho va a tener no obstante un claro desencade- nante. La importancia de la temática gastronómica en la prensa diaria en España se dispara a partir del protagonis- mo de Ferran Adrià en el panorama culinario internacio- nal como tan acertadamente ha señalado Yanet Acosta14. Sin embargo, serían las publicaciones extranjeras las que mar- carían el camino que posteriormente hemos seguido. El 10 de agosto de 2003 The New York Times Magazine dedicaría su portada y varias páginas al cocinero catalán. Más tarde sería un importante diario francés el que volvía la mirada sobre la cocina española y su mayor protagonista entonces. Adrià fue portada por segunda vez, en esta ocasión, en Le Monde, el 25 de enero de 2004. Mientras tanto en España la información gastronómica hallaba poca repercusión aun- que su avance era notorio. Salvo periódicos como La Van- guardia o El Periódico, ambos editados en Cataluña, región con larga tradición culinaria, la información gastronómica no calaba en el público español lo suficiente como para demandar un espacio por derecho propio. Con frecuencia estos contenidos se incluían en secciones tan variopintas, aunque en cierto modo conectadas con la alimentación o lo gastronómico, como “Viajes”, “Salud”, “Sociedad”, “Gente” o “Cultura”; en los diarios de información eco- nómica, dependiendo del tratamiento informativo, oscilaba 14. Yanet Acosta El periodismo gastronómico. De las recetas a la portada de los periódicos. Análisis del anuncio del cierre temporal de elBulli en los principales diarios. http://bit.ly/hBU1Ta. Consulta 09.10.2012. about:blank 191 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España entre sus secciones, siendo las más habituales “Empresas” y “Estilos de Vida”. La creación de grandes eventos gastro- nómicos influirá sensiblemente en la cobertura de la temá- tica gastronómica y sus actividades en los diarios a finales del siglo XX y principios del XXI. Así, serán protagonistas en páginas interiores de los periódicos durante los días de celebración. Pero no es hasta la irrupción y despegue de Ferrán Adrià cuando ese hueco que buscaba la noticia gas- tronómica en la prensa española alcanza secciones específi- cas abrigadas en algunos casos por el merecido manto de la cultura; tal es el caso del diario El País (en sus dos ediciones: digital y papel). A partir de 2007, este periódico, uno de los principales diarios de información general editados en España, decide incluir la información gastronómica en las páginas de cultura favoreciendo así el reconocimiento de la gastronomía. Ese año además el restaurante elBulli formaba parte como espacio de arte de la exposición Documenta Kassel15, lo que sin duda impulsó un concepto contempo- ráneo gastrocultural dentro de los periódicos que son los que más incidencia en el público provocan. Algo más tarde, el veintiséis de enero de 2010, en el congreso culinario Madrid Fusión, Ferran Adrià anunciaría el cierre temporal del mejor restaurante del mundo. La no- ticia esta vez mereció ser portada en dos de los principales diarios españoles, El País y El Mundo; también lo sería en el Financial Times, pero era la primera vez que una noticia vinculada a la gastronomía ascendía páginas en nuestro país. El salto del tratamiento de la información gastronómica en esta ocasión resultará definitivo para el asentamiento de la misma y desde entonces la inclusión de estas noticias ha 15. Comida para pensar, pensar sobre el comer. Richard Hamilton y Vicen- te Todoli. Editorial Actar, 2009. 192 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España ido en aumento, generando además medios propios, espe- cializados, que diferencian subcategorías temáticas con sus diferentes enfoques entre los que se incluye la necesaria di- visión entre opinión e información. Una tendencia que se aprecia sobre todo en el ámbito digital como lo demuestra el portal Gastroeconomy16, diario de información especia- lizada en contenidos gastroeconómicos liderado por la perio- dista Marta Fernández Guadaño. Ahora bien, comprobado este cambio de velocidad en la prensa diaria que abarca desde la publicación de recetas hasta la profesionalización de la información gastronómi- ca en los diarios de información general, debemos prestar atención a la otra evolución, la de la revista gastronómica en España. Ésta debe ser abordada desde el XIX, momento en el cual comienza un tímido asentamiento más allá del interés por el guiso, para abrirse con fuerza durante los pri- meros treinta años del siglo XX y hacerlo, además, a través de un enfoque especializado, educativo, cultural y práctico. Serán unos años fructíferos tan sólo interrumpidos por el conflicto civil español. Años en los que aparecen diferen- tes fórmulas de publicación que en ocasiones confunden o transgreden sus fronteras y que desembocarán, una vez superada la dictadura militar, en el concepto de revista gas- tronómica tal y como la conocemos en la actualidad. Una vez acometido el proceso democrático en España su recu- peración y proliferación serán posibles. Entrando de lleno en el origen de las revistas gastronó- micas en España, en este período de nuestra gastrohistoria no podemos obviar el papel desempeñado por el conoci- do y particular autor doctor Thebussem. Mariano Pardo de Figueroa (Medina Sidonia 1828-1918), firmó sus textos 16. http://www.gastroeconomy.com/ http://www.gastroeconomy.com/ 193 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España con el seudónimo doctor Thebussem, que es uno de los personajes que ejemplifican la evolución de los contenidos gastronómicos en nuestro país; señala la unión de estilos (informativo y cultural) y señala ese terreno difuso que se produce entre la intersección de dos mundos, de dos siglos. Otros escritores como Ángel Muro (1839-1897), o perio- distas como Isidoro Fernández Florez, conocido también como Fernanflor (1840-1902), aportaron igualmente tex- tos periodísticos y literarios que han alcanzado la categoría de clásicos en nuestro país. En cualquier caso recurro al doctor Thebussem porque procediendo del periodismo del pasado avanzó con fuerza hacia el futuro, señalando además lo que serían los nuevos ejes del periodismo gastronómico de la España del siglo XX, elevando estos textos a través de la prensa (ya fueran diarios o revistas). Su pluma alumbró textos que ponían especial acento en el enfoque cultural17, contribuyendo así a “fomentar la utilización de la palabra gastronomía des- pojándola del carácter negativo que había tenido hasta entonces”18. Y fue de la mano de la primera revista nacio- nal dedicada al profesional de la cocina, El Gorro Blanco (1906-1946)19, donde la singular correspondencia mante- nida por el doctor Thebussem y José de Castro y Serrano 17. Dr. Thebussem. Escritos gastronómicos. Jesús Romero Valiente. Edito- rial Renacimiento, 2011. 18. El periodismo gastronómico. De las recetas a la portada de los periódicos. Análisis del anuncio del cierre temporal de elBulli en los principales diarios. Yanet Acosta. http://bit.ly/hBU1Ta. Consulta 09.10.2012. 19. Propiedad de Ignacio Domènech (Manresa 1874-Barcelona 1956), alumno de Escoffier y fundador de la primera Escuela de Cocina que hubo en España como tal. Además de cocinero fue el director de esta revista culinaria, publicación mensual subtitulada Revista Española del Arte de la Gastronomía en General, Cocina elegante y económica. about:blank 194 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España (autor conocido como ‘Un Cocinero de Su Majestad’), en- tre los años 1876 y 1882, aparecería publicada por segunda vez; lo relevante de este hecho es que es ahora, en el siglo XX, cuando una publicación especializada en cocina profe- sional señala la atención como especialidad de este material epistolar que gira en torno a la gastronomía, cuya primera publicación tuvo lugar en la revista La Ilustración Española y Americana (Romero, 2011:51). El Gorro Blanco le destinaría una sección fija, la última página titulada ‘La Mesa Moderna’; cartas que fueron publicadas exactamente hasta el año 1911. No obstante, antes de que El Gorro Blanco apareciese, España ya contaba con publicaciones que, bajo el abrigo de subtítulos donde figuraba la palabra “periódico”, eran más bien revistas como por ejemplo La Ilustración Venatoria, (1878-1885)20 o la revista del longevo diario ABC, Blanco y Negro fundada en 1891 por Torcuato Luca de Tena21. No obstante, este tipo de publicaciones quedan todavía muy atrás de aquellas otras que serán el origen de la revista gas- tronómica contemporánea. Ya hemos citado una de carácter profesional, El Gorro Blanco (1906-1945), que sin embargo incluye recetas, consejos y sugerencias de aplicación en la cocina doméstica. La revista tenía una clara tendencia a en- salzar el hecho gastronómico y un marcado carácter inter- nacional: incluía reportajes, recetas y entrevistas de grandes cocineros internacionales de la época; esa vocación divulga- tiva y ese matiz internacional, que son a la vez su mayor sin- gularidad. En sus páginas se encuentra de forma habitual el 20. El periodismo gastronómico. De las recetas a la portada de los periódicos. Análisis del anuncio del cierre temporal de elBulli en los principales diarios. Yanet Acosta. http://bit.ly/hBU1Ta. Consulta 09.10.2012. 21. Historia del Periodismo Español, Juan Francisco Fuentes y Javier Fernández Sebastián. Editorial Síntesis, 1998. about:blank 195 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España epígrafe ‘Los grandes maestros de la cocina’ donde aparecen M. Antonin Careme, Urban Dubois, René Anyard, Eugéne Laperruque, Jean Berdou y hasta el propio Auguste Escoffier de cuyo ‘titánico menú’22 dio cuenta la revista. Es ésta una de las características -la publicación se inclina hacia lo pro- fesional pero toca lo social, la cocina, sus secretos y consejos introduciéndose así en el ámbito culinario doméstico- por lo que podemos considerarla una publicación híbrida a la que debemos sumar otras dos revistas, en esta ocasión, clara- mente dedicadas al público femenino. Son Paladar y Menaje. Las revistas de cocina Paladar (1933-1934) y Menage (1931-1956)23 ofrecen un recorrido variado por los riquísi- mos aspectos que alberga la cocina. Estas dos revistas incor- poran la información relacionada con la alimentación y la salud, en especial la de los niños, pero no descuida lo cultural e incluye con frecuencia reportajes a fondo sobre materias primas y productos. Dentro de la filosofía de Paladar, obra de Gonzalo Avello, tienen cabida sentencias y aforismos cuya conexión con la revista gastronómica actual es evidente: mu- chas de sus páginas rezuman una verdadera gastrosofía. Esto convierte a las tres publicaciones en el espejo al que di- rigir la mirada para hallar las bases de la revista gastronómica tal y como la conocemos hoy. Es decir, aquella revista especializada (no profesional, pues entraríamos en otra categoría de revistas que dirige su atención a un público profesional de cocina y/o 22. Auguste Escoffier fue el responsable de la elaboración del menú servido el 14 de abril de 1912 en el comedor de primera clase del Titanic. 23. Manege sufrirá una importante transformación a partir de 1950, se alejará de la cocina para anunciar la que será fórmula de publicación femenina moderna donde se incluyen varias secciones como las de sociedad, moda, ocio e información cinematográfica con especial atención a sus protagonistas, etc. 196 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España hostelería) que ofrece al lector, a grandes rasgos heterogéneo pero con perfil común en torno a la gastronomía. Un lector al que se le ofrece información variada que oscila entre la cocina, el producto y su deleite. En este sentido, la revista gastronómi- ca a la que hemos llegado tras el breve recorrido periodístico anterior, es una revista que informa, divulga, promociona y en- tretiene, fomentando por todos sus flancos la actividad gastro- nómica como veremos a continuación. De nuevo volcamos la mirada sobre la revolución culinaria ocurrida en España en el siglo XX pero esta vez atendemos a las páginas de las revistas no a la de los periódicos. El origen del despegue culinario español que culminará con esa porta- da de Ferran Adrià lo encontramos en dos grandes cocineros, Juan Mari Arzak y Pedro Subijana, con su apuesta, en los años setenta, por la Nueva Cocina Vasca; un hecho que contribuye a que la cocina y lo que entendemos por gastronomía encuen- tren su merecido puesto en el ámbito del periodismo. Con el movimiento gestado en 1976 por ambos coci- neros comienza a hacerse realidad el futuro reinado de la cocina española dentro del complejo panorama de la alta cocina internacional. Un bagaje que se verá impulsado por la primera revista gastronómica editada tras la instauración de la democracia en España. Club de Gourmets (desde 1976 en el quiosco), dirigida en la actualidad por Reyes López, contribuirá y potenciará la gastronomía en general y la es- pañola en particular a través de páginas dedicadas por ente- ro a la cocina y sus protagonistas (desde el producto hasta el chef). Se da la circunstancia de que la revista organizará la famosa Mesa Redonda sobre Gastronomía del año 1977 a la que seguirán algunas más hasta desencadenar finalmente en un salón gastronómico24. 24. Salón de Gourmets, feria anual nacida en 1986 en el que se dan 197 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España En esta primera mesa, que facilita el encuentro entre Juan Mari Arzak y Pedro Subijana, el desaparecido perio- dista Luis Bettónica aludirá a un boom que traduce en la evidencia de que “la gastronomía parece haber perdido ese matiz de elitismo, ese matiz de exclusividad, ese matiz de cosa reservada al recalcitrante pecador de gula, al glotón epicúreo, al parásito de la sociedad”25 para situarse al alcance de todo aquel que quiera inmiscuirse en ella. La propia re- vista es un buen ejemplo. A su estela nacerán otras excelen- tes publicaciones como Vino Selección que nace inmediata- mente después, en 1977, y que con el número 49 de 1984 deviene en otra de las fundamentales revistas gastronómicas nacionales: Sobremesa, publicación mensual que cuenta en la actualidad con otra dirección femenina, la de Maite La- presta. O como Vino+Gastronomía, revista que lleva 20 años en el mercado, que en 1991 recogió el testigo de Vino, viña y gastronomía (1989-1991) y que continua editando Luis Magaña. Ambas poseen una cuidadísima estética, atractiva y acorde con las exigencias actuales de contenidos y diseño, y ambas continúan vigentes a día de hoy. A ellas se suma- rán otras algo más tarde como Cocina Futuro, una publica- ción que nada más aparecer culminando el siglo XX (1999) irrumpió con fuerza por su apuesta estética y el tratamiento de los contenidos, centrados en las novedades y los avances tecnológicos ligados a la actividad de la alta cocina que vivía todo su esplendor. Una publicación que desde sus ini- cios incidió en el concepto de gastrocultura incluido en su subtítulo: “Es cultura gastronómica”. cita profesionales, marcas y gastrónomos y que reúne lo mejor de la gastronomía nacional e internacional. 25. I Mesa Redonda de Gastronomía de Club de Gourmets. Revista Club de Gourmets, nº 10/11, enero/febrero de 1977. p. 48. 198 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Club de Gourmets lleva editados más de cuatrocientos números durante sus 36 años de existencia; la revista So- bremesa supera los trescientos ejemplares, tras 29 años en el mercado; Vino+Gastronomía, con presencia en los quioscos desde principios de los noventa ronda los 250 números; Cocina Futuro con 126 ejemplares publicados, soportó en 2011 una trágica noticia, la muerte de su editor Gaspar Rey cuyo relevo recae desde entonces en Daniela Cenís, con quien además el papel de la mujer en una publicación gastronómica ha pasado definitivamente de la redacción al liderazgo (es un porcentaje mínimo en relación con la di- rección representada por hombres, pero sin duda supone un gran cambio). El reto actual al que se enfrentan todas estas publicacio- nes está determinado por la adaptación o inmersión directa en los nuevos canales digitales. En cierto modo, Internet, donde abundan las campañas de las marcas de alimentación, ha abierto una vía de acceso para atraer o ampliar el círculo de consumidores. Pero una cosa es la publicidad y otra cosa la información gastronómica que no conviene confundir. Algunas apuestas digitales y gastroperiodísticas se están asen- tando a pesar de la crisis que experimentan el sector de la prensa y la economía; existen muchos emprendedores que en el terreno que aquí nos ocupa han puesto en marcha proyectos digitales, con mayor o menor éxito, dirigidos a un público más amplio que no conviene desdeñar. Respec- to a las grandes publicaciones gastronómicas con las que hemos crecido en España, la apuesta por lo digital parece clara, aunque siguiendo lo que ya parece tradición en nues- tro país, los cambios hasta ahora han sido lentos, en parte por cuestiones como la rentabilidad. En cualquier caso, to- das estas publicaciones tienen cuentas en las redes sociales, tienen determinados contenidos en abierto en sus webs, en el mejor de los casos, o tientan al lector permitiéndole 199 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España leer únicamente fragmentos o artículos seleccionados con la clara intención de precipitar la compra del papel, preci- samente por esa falta de modelo de negocio digital claro; algunas otras ofrecen la adaptación de la revista de papel en pantalla, cuya estética es fiel a nuestro concepto de revista de papel, pero cuya lectura es algo más incómoda. Con todo, la versión meramente digital avanza. En una entrevista concedida a la autora, Maite Lapresta (directora de Sobremesa) explicaba que en la actualidad su publi- cación “se ha volcado con lo digital pero se trata de una opción que en ningún caso está encaminada a desterrar el papel”. So- bremesa cuenta en la actualidad con tres productos destinados a un público que ronda los 35 años: revista de papel, web o portal corporativo, y revista digital adaptada a las características pro- pias del formato digital, el cual de cara al futuro se potenciará con valores añadidos tales como material gráfico y audiovisual extra, textos específicos e inclusión de recetas. Por otro lado, la apuesta por el papel -cuyos niveles de venta se mantienen a día de hoy con la fidelidad de las suscripciones- vendrá de la mano de la especialización, es decir, Sobremesa continuará ofreciendo en formato tradicional contenidos en profundidad (entrevistas y reportajes) encaminados a atraer y mantener lectores avan- zados, con especial interés por el conocimiento profundo de la temática gastronómica y con afición por la lectura pausada. En cualquier caso, la realidad es que tarde o temprano todas deberán afrontar el reto digital26 con toda su com- plejidad, pero también con sus importantes beneficios de cara al alcance o difusión. Lamentablemente, la cuestión 26. Donde están apareciendo iniciativas sumamente interesantes de la mano de nuevos emprendedores que ofrecen nuevas cabeceras y/o revistas digitales con enfoques actuales, informativos y con espacios que atienden a aspectos transgresores, cercanos y/o divertidos pre- sentes también en la alimentación y la gastronomía. 200 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España económica continúa sin estar tan clara, pero es sin duda la corriente a seguir27. A modo de conclusión podemos afirmar que estas publica- ciones y el hecho de que la información gastronómica figure entre las páginas de diarios de información general demues- tran la importancia de ese patrimonio cultural que encierra la gastronomía, el cual ha desembocado en el siglo XXI en una especialidad periodística cuya responsabilidad recae en expertos periodistas. Es el periodismo una actividad vital que acerca a los ciudadanos las diferentes realidades que le rodean. Y no sólo en cuanto a política, educación o economía se refiere; como vemos aquí también a través de las cuestiones que tienen que ver con la alimentación y sus múltiples facetas. La información gastronómica es polifacética y en la breve panorámica que suponen estas páginas comprobamos cómo la realidad del periodismo gastronómico español ha conse- guido superar trabas y obstáculos a pesar de trabajar con ella desde hace años; no es hasta prácticamente dos décadas atrás que era considerada una información sin el peso suficiente para ser abordada de manera constante y en profundidad. Muy al contrario de lo que ocurre en la actualidad. El avance es debido a una conjunción de factores como hemos visto. Por un lado, al trabajo y el esfuerzo de grandes profesionales del periodismo; por otro, por el empuje de los principales protagonistas: los cocineros que han elevado la cocina de nuestro tiempo a la categoría de arte además de fuente infor- mativa con una demandada por parte del público creciente. Finalmente, no podemos perder de vista el hecho de que es éste un sector con una potente industria, de actividad y producción incesantes. Con lo que no queda sino concluir 27. 80 claves sobre el periodismo del futuro, José Luis Orihuela. Ediciones Anaya Multimedia, 2012. 201 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España que los principales inconvenientes con el que se topa la prensa gastronómica en estos momentos son comunes al resto: la ac- tual situación de estancamiento económico y la falta de fórmu- las periodísticas rentables (también hay trabajo que hacer en relación con la confianza de los lectores y la revalorización de la profesión y sus profesionales en el conjunto de la sociedad). Aunque la situación es convulsa, todo hace pensar que la infor- mación gastronómica en España continuará creciendo, sobre todo, a través de los nuevos medios digitales por sus múltiples ventajas para las empresas, pero también para sus profesionales que ven aumentados su visibilidad y protagonismo. Referencias ACOSTA MENESES, Yanet (2009): Historia de la Informa- ción Agraria. Desde el siglo XVIII hasta la Agenda 2000. Minis- terio de Medio Ambiente y Medio Rural y Marino. BRILLAT-SAVARIN, Anthelme (Trad. Conde de Rodal- quilar, 1869): Fisiología del gusto o Meditaciones de gastronomía trascendental. Edición facsímil. Valladolid, Editorial Maxtor, 2010. GÓMEZ DE SILVA, Guido (1996). Breve diccionario etimo- lógico de la lengua española, Fondo de Cultura Económica, México. FLANDRIN, Jean-Louis y MONTANARI, Massimo (ed. 2011): Historia de la Alimentación. Ediciones Trea, Gijón (As- turias). FUENTES, Juan Francisco y FERNÁNDEZ SEBAS- TIÁN, Javier (1998): Historia del Periodismo Español, Madrid, Síntesis. 202 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España HAMILTON, Richard y TODOLI, Vicente (2009): Comi- da para pensar, pensar sobre el comer. Barcelona, Actar. ORIHUELA, José Luis, (2012): 80 claves sobre el periodismo del futuro. Madrid, Ediciones Anaya Multimedia. ROMERO VALIENTE, Jesús (2011): Dr. Thebussem. Escri- tos gastronómicos. Sevilla, Editorial Renacimiento. Webgrafía ACOSTA, Yanet. El periodismo gastronómico. De las recetas a la portada de los periódicos. Análisis del anuncio del cierre tem- poral de elBulli en los principales diarios. Ponencia incluida en el programa del V Congreso de Periodismo Internacional Prensa y Periodismo Especializado, mayo 2010 (Guadala- jara, España). http://bit.ly/hBU1Ta, consulta 09.10.2012. SÁNCHEZ GÓMEZ, Fernando (Universidad del País Vas- co). La columna gastronómica de Manuel Vázquez Montalbán. Revista Electrónica de Estudios Filológicos Tonos, nº 16. http://www.um.es/tonosdigital/znum14/secciones/estu- dios-24-Gastronomia.htm, consulta 11.10.2012 Ferran Adrià en la prensa extranjera. New York Times Ma- gazine y Le Monde http://www.elbulli.com/historia/in- dex.php?lang=es&seccion=6 about:blank http://www.um.es/tonosdigital/znum14/secciones/estudios-24-Gastronomia.htm http://www.um.es/tonosdigital/znum14/secciones/estudios-24-Gastronomia.htm http://www.elbulli.com/historia/index.php?lang=es&seccion=6 http://www.elbulli.com/historia/index.php?lang=es&seccion=6 203 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 9. Análisis de los contenidos fo- tográficos de la revista Destino durante la II Guerra Mundial Rafael Cros López1 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Madrid, España Resumen Revisión del papel de la revista catalana Destino durante La II Guerra Mundial. El análisis se realiza a través de las fotografías publicadas durante los acontecimientos de este conflicto que tuvieron una repercusión destacada en Espa- ña, comparando la evolución ideológica de la publicación con la del gobierno de Franco a lo largo de toda la guerra. Los acontecimientos analizados son. El inicio de la guerra, la rendición francesa, la Invasión de la Unión Soviética, la opera- ción Torch, la caída de Mussolini, el desembarco de Norman- día, El final de la guerra en Europa y la rendición de Japón. 1. Rafael Cros López (UCM) Doctorado en el departamento de Do- cumentación de la Universidad Complutense de Madrid – UCM – Madrid, España , email: rafaelcros@yahoo.es 204 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Palabras clave: Revista Destino; Segunda Guerra Mun- dial; fotografía; España; Cataluña La revista Destino surge en plena Guerra Civil Española de la mano de Javier de Salas y José María Fontana Tarratas, con la idea de crear una publicación orientada la parte de la intelectualidad catalana adepta a la sublevación que se encuentra refugiada en la zona nacional. Su primer número sale a la calle en Burgos, el 7 de marzo de 1937. Desde el principio la publicación tiene una marcada vocación cata- lana pero sin renunciar a su ideología falangista que se apre- cia ya desde su propio nombre, sacado de la famosa frase de José Antonio “España, unidad de destino en lo universal”.2 Con la llegada de las tropas sublevadas a Barcelona sale a la calle el último número de la primera época de Desti- no, era precisamente el número cien y salió a la calle dos días después de las tropas nacionales entraran en la ciudad Condal, el 28 de enero de 1939. Los editores decidieron terminar con la revista no por cuestiones políticas, sino porque simplemente consideraban que ya había cumplido su función.3 La publicación reaparece de forma definitiva en Barce- lona el 24 de junio de 1939 de la mano de Josep Vergés e Ignacio Agustí, apoyados por Juan Ramón Masoliver de La Vanguardia Española. En esta segunda época se continúa la numeración anterior saliendo la calle con el 101, de esta manera los nuevos propietarios dejan claro que la revista 2. Wikipedia [Consulta 20 de febrero de 2008] 3. Del Cabo, Isabel. La resistencia cultural bajo el franquismo. Entorno a la revista “Destino” (1957-1961).Madrid. Ediciones Altera. 2001, Pag. 26 http://es.wikipedia.org/w/index.php?title=Josep_Verg%C3%A9s&action=edit http://es.wikipedia.org/wiki/Ignacio_Agust%C3%AD http://es.wikipedia.org/w/index.php?title=Juan_Ram%C3%B3n_Masoliver&action=edit 205 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España va a mantener la misma línea editorial que tenía durante la guerra. Cuando pocos meses después estalla la Segunda Guerra Mundial Destino es una publicación ligada ideo- lógicamente a la Falange pero sin contar con las ventajas administrativas de pertenecer a la prensa del Movimiento. Esta situación provoca que en el número que ilustra el inicio de la guerra, del 9 de septiembre, contenga una po- bre información gráfica, tanto en cantidad como en cali- dad de las imágenes, sobre todo en comparación con los números posteriores de la revista. Solo dos fotografías van a hacer referencia al inicio del conflicto, en relación al did- putado Corredor del Dantzig cuya invasión originó la gue- rra. El resto de las imágenes de este número se centran en un tema secundario pero conflictivito tanto para Falange como para el gobierno español, La Unión Soviética, ante la cual no se tiene claro que papel adoptar tras su pacto de no agresión con la Alemania nazi firmado el 23 de agosto. Destino dedica un amplio reportaje que parte de portada que continua en páginas interiores; las tres fotografías son simplemente vistas generales de Moscú que sirven para ilustrar las veladas críticas que la revista hace en los pies de foto a la legitimidad del régimen de Stalin y a la negación de la religiosidad del mismo. Ni en estos pies ni en los titu- lares del reportaje se hace mención alguna al pacto recién firmado con Alemania. El 22 de junio de 1940 el gobierno francés se rinde ante los alemanes y ese mismo día la revista puede cubrir la no- ticia que aunque no fuera oficial al momento del cierre era más que evidente a nivel militar por lo que Destino tiene capacidad suficiente para cubrir la información. Destaca la mejora tanto en calidad como en la calidad de las fotografías. Destaca en particular la fotografía de portada en la un grupo de soldados alemanes avanzan a través de unas ruinas, muy adecuada para ilustrar la caída de Francia. 206 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Pero para el pie de foto esta interpretación se queda corta, con la caída de Francia ha sido derrotado el sistema demo- crático en Europa. El avance alemán ha herido de muerte a la demo- cracia europea. Francia se vio obligada a capitular… La afirmación no es del todo exagerada, antes que Fran- cia han caído otros países democráticos como Bélgica, No- ruega u Holanda, si a estos se suman los que se rigen por gobiernos absolutistas como España o Italia o los que están ocupados por Alemania como Austria, quedan muy pocas democracias europeas, la más destacable es el Reino Unido. También es momento de recordar que España, sobre todo la Falange esta cercana a la ideología victoriosa y aun- que en teoría no parece vanagloriarse de la derrota francesa, presenta a España como mediadora, no duda en mostrar la guerra civil como un antecedente de la actual. De esta ma- nera el pie dice entre líneas que el levantamiento de 1936 no fue solamente contra el comunismo como se había afir- mado siempre sino contra el sistema democrático; con el grandilocuente estilo falangista …España nacida para los grandes trances de la historia tomó el papel de mediadora. A las órdenes de su Caudillo, tiene la memoria despierta. Pues ella fue la primera en salir de la liza, y en el nuevo tiempo se halla teñido con la sangre de sus héroes. Otro aspecto destacable es la imagen que se da del Rei- no Unido, único contingente que queda en pie en Euro- pa; utilizando imágenes de archivo se hace a través de los pies de foto un claro menosprecio hacia los británicos. En un reportaje titulado “Soldados por el mundo” se muestra a los ejércitos de tres países implicados. En primer lugar los 207 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España belgas, un grupo de combatientes caminan por una carre- tera de espaldas a la cámara, van desarmados por lo que se puede deducir que son prisioneros. El pie indica en su primer tramo “los belgas de regreso…”. La segunda parte del pie “…los alemanes de avance…” acompaña a una fotografía de un grupo de soldados arrastrando de un vehículo con una cuerda. La imagen elegida para representar al ejército inglés es la de una fila de soldados descansando sobre hamacas en la cubierta de algún barco. La elección es un ejemplo de cómo se puede manipular una información utilizando una imagen. Esta foto no representa ninguna actuación concreta del ejer- cito ni su disposición en este momento, es una simple foto de archivo que usada en este momento y con el pie “,,, y los ingleses descansando” provoca en el lector la idea de cómo se comportan los británicos ante la capitulación francesa. En la misma línea Una imagen intranscendente de los alumnos del conocido colegio de Eton realizando ejer- cicios militares sirve de excusa, otra vez, para ridiculizar la posición británica en la guerra que “parecían tomarse a broma”. La revista utiliza como representación del ejército británico una foto que nada tiene que ver con él, usándola fuera de contexto. La contraportada de este número está dedicada con dos fotografías enteramente a Benito Mussolini. Se le mues- tra como protagonista del momento pese a que su única actuación destacable ha sido la declaración de guerra a Francia y Reino Unido lanzada el 10 de junio, momento que recogen las dos imágenes. Destino se suma así a otros medios españoles como Semana, ABC o el falangista Fotos en ensalzar la figura del Duce, figura más cercana cultural y políticamente que la de Hitler (que no aparece en este número) para la prensa española. Los pies de foto no pierden la oportunidad de lanzar otro ataque a los sistemas democráticos... 208 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España “...declara la guerra a las democracias “plutocráticas y reaccionarias de Occidente”. Y por supuesto, contra los británicos. “...Ante el enemigo que queda, ante Inglaterra, Autora del desastre europeo, embaucadora de Polonia y Finlan- dia, de Noruega y de Holanda y Bélgica, responsable de la perduración de la agonía española en los años de la guerra, como antes lo había sido de su aniquilamiento progresivo y de su mediocridad.” Alemania ha roto el pacto de no agresión germano- soviético invadiendo Rusia el 22 de junio de 1941. Gran Bretaña no esta ni mucho menos vencida como parecía hace un año por lo que Destino se torna más convencional en línea con el resto de la prensa española. Los rusos son el enemigo de la civilización y las naciones europeas se vuelcan contra ellos para derrotarles. Pero a diferencia de otros medios que presentan la invasión como una opera- ción multinacional aquí se resalta únicamente al ejército alemán como la fuerza que va a vencer a la Unión Soviéti- ca, destacando su capacidad militar dejando en un segundo plano a sus aliados Finlandia, Hungria y Rumania. Las fotos de los soldados alemanes no son imágenes de acción, tanto en portada como en una de las fotos interio- res, las tropas de la Wehrmacht aparecen desfilando. Esto sumado a los habituales pies de foto grandilocuentes, pre- sentan la Operación Barbarroja como un mero paseo mili- tar ante la superioridad operativa (y moral) de los alemanes. La imagen que se da de la Unión Soviética, libre de la controversia del pacto de agresión de 1939, muestra por un lado un país desorganizado y atrasado representado por un tren abarrotado con la gente subida en los sitios mas diver- sos , en especial la locomotora. 209 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España “Los bolcheviques que no podían justificar los horrores cometidos por su odioso régimen, pretendían justificarse los resultados de su gestión en el gobierno de la U.R.S.S. Sin embargo la realidad se presenta contra ellos: a los veintitrés años de la revolución, la miseria del pueblo ruso es absoluta, y de ello presentamos una prueba gráfica: de este modo tienen que viajar los pobres rusos...” Mientras que con otra imagen se pretende mostrar la maldad del régimen soviético con la foto de una matanza de civiles en las calles de San Petersburgo.   La fotografía publicada de la izquierda es calificada como documento histórico por Destino, en el que se muestra se- gún el pie una de las matanzas ordenada por Lenin y “su torva camarilla”. La foto sirve así como muestra como actúa el comunismo desde el momento mismo en que toma el control convirtiendo en victimas a su propio pueblo. La información que da la revista es falsa, La foto que se aprecia más claramente a la derecha esta tomada el 4 de julio de 1917 en la conocida calle Nevsky Prospekt de San Petesburgo. La gente que huye son manifestantes contra los que el ejército del gobierno provisional acaba de abrir fue- 210 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España go4. Como se ve la realidad nada tiene que ver con lo que la revista cuenta. No solo es el texto el que falsea la imagen, la foto esta además recortada dejando ver, como se aprecia en la copia de arriba solo una parte de la misma que deja fuera del encuadre publicado a los soldados y al principal grupo de manifestantes abatidos. La revista fue desligándose paulatinamente de la ideología falangista; en el número del 28 de mayo de 1940 desaparecie- ron las referencias directas, el yugo y las flechas y la leyenda “FET de las JONS” manteniéndose hasta casi el final de la gue- rra el subtítulo de “Política de unidad”. Este cambio de dirección no sentó bien en los círculos de la Falange local que conside- raban la revista como propia llegando en algunos momentos a solicitar para el Movimiento la propiedad del semanario; fue la intervención de Dionisio Ridruejo la que la que decidió que quedara en propiedad de una empresa privada independiente5. El desplante a la Falange se tradujo en problemas con los cupos de papel y en una vigilancia más cercana de los or- ganismos censores. Ante esta situación adversa Ignasi Agusti buscó un socio y este fue el Conde de Godó, propietario de La Vanguardia Española. El 7 de abril de 1942 fundaron la empresa Publicaciones y Revistas S.A., de la que Agusti con- taba con cuatrocientas acciones, Josep Vergés con quinien- tas y el Conde de Godó con cien. Esta operación alivio la situación económica de la revista y le permitió aumentar su nivel de calidad6, pasando a ser además el lugar de encuen- tro gran cantidad de personajes relevantes de la cultura ca- talana y española hasta la desaparición de la revista en 1981. 4. BBC [Consulta: 13 de marzo de 2008] 5. Del Cabo, Isabel. Op. cit. Pag. 27 6. Del Cabo, Isabel. Op. cit. PagS. 29-30 211 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 1942 También fue el año en que el desarrollo de la guerra empieza a torcerse definitivamente para las fuerzas del Eje por varios frentes; en junio la flota japonesa sufrió un duro revés en Midway del que no se llegaría a recuperar, la batalla de El Alamein solo le deja a Rommel la opción de retirase del norte de África y el VI Ejército de Paulus quedó defini- tivamente cercado a mediados de noviembre en Stalingrado. Mientras tanto otro importante acontecimiento va ha tener una gran relevancia en España, el desembarco aliado en las costas francesas de África, la Operación Torch. La prensa Española en general se vuelve más cauta en el tratamiento de la información, las publicaciones españolas no contaron con material gráfico valido para ilustrar las operacines (ni tan siquiera de archivo), la opción habitual es utilizar imágenes intrascendentes de los puntos de des- embarco como Argel, Fez o Casablanca, o fotos de estudio de los militares implicados; cuando no se opta por desviarse hacia otro punto de la actualidad como el frente ruso. Des- tino sigue más o menos esta pauta, pero sin el tono falangis- ta de antaño. Primeramente la portada la dedica al Norte de África pero en su vertiente oriental, en Egipto donde continúan los enfrentamientos entre británicos y Alemanes. Pese a que la situación se ha vuelto contraria a Alemania tanto la foto del desembarco de suministros como el pie de foto no solo obvian la situación del Eje sino que parece que recalcan como virtud uno de los que han sido los puntos débiles en este escenario, la falta de suministros, en especial de combustible en este teatro de operaciones7 El abastecimiento de las tropas del Eje en África exige enormes cantidades de combustible. En un puerto de Libia 7. Basada en el texto original del teniente Coronel Eddy Bauer. Histo- ria de la II Guerra Mundial. Tomo 6, pag. 48 Editorial Salvat. 1979. 212 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España se procede a la descarga de un buque repleto de bidones de gasolina con destino a las unidades motorizadas del Ejército italogermano. En las páginas interiores se repiten las mismas formulas que en resto de la prensa aunque de forma más interesante. Se sigue hablando de las tropas alemanas en Egipto, se usan fotos de las zonas de desembarco de carácter más “turísti- co” que informativo y se desvía la atención a otros frentes como el Pacífico o el Canal de la Mancha, pero sin men- cionar el frente ruso. Y aunque repite pecados comunes a otros medios, también hay que reconocerle aciertos en los que puede ver la influencia de los nuevos editores. De las fotos más cercanas a la temática de los desembar- cos destaca una imagen del Comandante en jefe de las fuer- zas aliadas un hasta ahora poco conocido general Dwight David Eisenhower que obtuvo su primer cargo de relevan- cia con este nombramiento o la del Residente General de Marruecos Charles Nogues junto al Sultán del Marruecos francés Muhamad V8 y a su hijo (posteriormente conocido como Hassan II) en una visita a alguna localidad marroquí. Estas fotos, sin estar directamente relacionada con los acon- tecimientos al menos incluyen a parte de sus protagonistas más destacados. El giro ideológico de Destino ante la Operación Torch podría achacarse más al cambio de orientación de la guerra o incluso a las variaciones del propio gobierno de Franco (el cese del germanófilo y falangista Serrano Suñer como ministro de asuntos exteriores el tres de septiembre de 8. Ikuska < http://www.ikuska.com/Africa/Historia/biografias/m/ muhammad_v.htm> [Consulta: 20 de marzo de 2008] 213 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 19429). Pero con el número en el que se trata la caída de Benito Mussolini del 31 de julio de 1943 deja claro que el cambio de línea editorial al desligarse de la Prensa del mo- vimiento es mucho más profundo. La destitución y arresto del dictador italiano, del que no podemos olvidar que es ha sido el referente político de la prensa española por encima incluso de Hitler10, es un acon- tecimiento de indiscutible trascendencia en España. Aún así la prensa pasa prácticamente de puntillas ante la noticia, la mayoría de las veces solo aparece una foto del Duce con la información escueta de su dimisión, no de su arresto, y se tiende a desviar la atención a otros puntos como la invasión de Sicilia o la batalla de Kursk en el frente oriental. Destino le va a dar a la figura de Mussolini todo el peso que realmente tiene dedicándole tanto la portada como un amplio reportaje gráfico en sus páginas centrales. La revista aprovecha el momento para realizar una amplia semblanza histórica del personaje que empieza con la foto de portada fechada en septiembre de 1922 en la Udine Mussolini en su juventud fue un hombre de combate y un orador grandilocuente que supo adueñarse de gran parte de las multitudes italianas. La fotografía lo muestra en una de sus actitudes características durante su viaje a Udi- ne, en septiembre de 1922 Si se da por cierta la datación de la imagen esté tomada poco antes de la famosa Marcha sobre Roma con la que 9. Ruhl, Klaus-Jörg. Franco, Falange y III Reich, España durante la Segunda Guerra Mundial. Madrid. Editorial Akal S.A. 1986 pag 39 10. Cros López, Rafael. Cobertura fotográfica y representación de la II Guerra Mundial en la prensa española. Tesis doctoral Universidad Complutense. 2012. Pag 1043 214 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Mussolini se hizo con el poder den Italia, dato que el pie de foto obvia, y tampoco da pistas de como se ha de interpre- tar la afirmación de que era un “orador grandilocuente” o lo de que “supo adueñarse de gran parte de las multitudes italianas” En las páginas interiores sigue la semblanza del perso- naje con tres momentos estelares de su biografía. Una foto suya de uniforme durante la primera guerra mundial den al que se ensalza su patriotismo y la trascendencia que el personaje tendrá en el Partido Socialista Italiano. Queda claro que Destino no tiene ningún reparo en mencionar los orígenes izquierdistas del Duce. En otra imagen se muestra la primera entrevista entre Hitler y Mussolini celebrada en Venecia el 14 de junio de 1934. Aunque durante la guerra se entendiese la relación entre estos dirigentes como una subordinación del italiano frente al alemán lo cierto es que en la fecha de la fotografía es al contrario, Mussolini lleva 12 años en el poder y su fi- gura a sido un referente claro de todos los movimientos ab- solutistas de la época, incluido el partido nacional socialista alemán que ha llegado al poder hace poco más de un año. Es el dictador italiano que en la foto aparece con su vistoso uniforme fascista, quien avala ante el resto de las naciones a un Adolfo Hitler de aspecto mucho más discreto, que si- guiendo sus pasos (intento un golpe similar al de Mussolini en 1923 con el Putsch de Munich que termino en fracaso) acaba de alcanzar el poder. Un año después de recibir a su correligionario alemán Mussolini participa en la conferencia de la localidad italia- na de Stresa, en la que intervienen además Pierre-Étienne Flandin por Francia y James Ramsay MacDonald por Gran Bretaña (en la foto posan el ministro de Asuntos exterio- res Francés Pierre Laval, Mussolini, Mac Donald y Flandin, Ministro sin cartera). La conferencia fue el último acto que reunió a los vencedores de europeos de la I Guerra Mun- 215 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España dial precisamente para intentar frenar el rearme alemán y salvaguardar la integridad de Austria frente a la Anschluss11 La revista no hace ningún tipo de crítica hacia el diri- gente destituido, al contrario, ensalza el papel internacional que ha tenido en los años anteriores al conflicto. Las únicas referencias a la actualidad son las dos últimas fotos de la doble página la del rey Víctor Manuel II y el Mariscal Pie- tro Badoglio, nuevos hombres fuertes de Italia; la revista no escatima elogios para ellos por lo que se entiende que pese a resaltar el papel hasta ahora desempeñado por el Duce se apoya sin ninguna duda el nuevo rumbo que va a tomar Italia en la guerra que no va a ser formando parte del Eje. En este número a diferencia de otros medios españoles no se va a hacer referencia a la situación militar en Sicilia, motivo directo de los acontecimientos del momento ni a la batalla que se desarrolla en la ciudad soviética de Kursk. Pero aunque no se mencione directamente esto último no quiere decir que no se trate el tema del frente Ruso. Esta es otra de las ocasiones en las que la revista catalana mues- tra una línea editorial diferenciada del resto de la prensa española al introducir el tema de la colaboración entre los Estados Unidos y la Unión Soviética con una fotografía que hace referencia a los envíos de material que los nor- teamericanos mandaban a los rusos. Los convoyes marítimos que conducen a Rusia los víveres y el material de guerra facilitado por los Estados unidos han de seguir un camino largo y peligroso, cada expedi- ción da lugar a combates entre los submarinos alemanes y los buques de escolta 11. “Conferencia de Stresa.” Microsoft® Encarta® 2006 [DVD]. Mi- crosoft Corporation, 2005. 216 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Mientras que el resto de la prensa mantiene una postura despectiva hacia la Unión Soviética, Destino, aunque de for- ma escueta plantea el tema de forma totalmente distinta al presentar a los norteamericanos, la potencia militar más im- portante de la guerra y presumible vencedor como aliados de los odiados comunistas rusos. Aunque del pie de foto arriba mencionado pude deducirse una relación de supe- rioridad de los americanos en detrimento de los soviéticos esto no quita que la alianza entre ambos combatientes se muestra como firme hasta el punto de que no solamente es la ayuda material que se presta sino que además esta ayuda implica luchar por sus aliados. El desembarco aliado en las playas de Normandía del 6 de junio de 1944 no deja ya ninguna duda sobre cual va a ser el resultado de la guerra, y en esta ocasión Destino se suma esta idea más aún que otros medios españoles, mientras que otras revistas como Semana o Mundo mantienen dentro de su material gráfico una cierta presencia alemana, esta es mínima en la revista catalana, limitándose a una fotografía de los mariscales Karl Rudolf Gerd von Rundstedt Erwin Rommel como contrapartida del General norteamericano Eisenhower y británico Arthur William Tedder que apare- cen en una fotografía junto a la anterior. La portada de este número lleva una imagen de Wiston Churchill y del General Bernard Law Montgomery en un coche descubierto durante una inspección protocolaría. La imagen de las dos personalices británicas en un desfile no puede resultar más triunfalista, en especial la del primer ministro que aparece de pie en el coche luciendo sus con- decoraciones, lo cual siendo elegida para su primera página marca para el lector la tendencia que la revista toma ante los acontecimientos, por mucho que el pie de foto se esfuerce en suavizarlo. 217 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España “En la madrugada del pasado martes contingentes de tropas aliadas realizaron el gigantesco intento de asalto a Europa sobre las costas occidentales de Francia. -La enorme batalla que las fuerzas de invasión están librando contra los ejércitos alemanes puede conceptuarse como una de las decisivas de la guerra. En la foto vemos al Premier británico, Mr Churchill y el general Montgomery, jefe de las tropas británicas de invasión pocas semanas antes de que ésta se intentara, captados por el objetivo en el curso de un viaje de inspección” El texto insiste en hablar de las operaciones como “in- tento de invasión” pese a que se publica el 10 de junio, cua- tro días después del desembarco y receurda que la foto del desfile obviamente se ha tomado en un acto anterior a los desembarcos. Del resto de las fotografías destacan especialmente las de la doble página central, habitual en la revista y en la que se incluyen las anteriormente mencionadas de los altos man- dos aliados y alemanes. Son una repetición de la idea de la superioridad militar de las tropas invasoras con imágenes de los buques tanto de guerra como de transporte participan- tes en la invasión así como de las tropas desembarcadas y de paracaidistas que han participado en la invasión, aunque también corresponden a operaciones o maniobras anterio- res al 6 de junio. Pero no son solamente las imágenes las que dan sensación de victoria aliada, en el pie de la foto de la flota aliada se habla ya claramente de superioridad “Superioridad aérea y naval son los dos factores, al pa- recer, decisivos en toda la operación de desembarco. Los aliados han construido en estos últimos años inmensas flotas de barcos de guerra y mercantes en previsión del asalto al continente.” 218 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España A la hora de interpretar tanto las fotografías como los textos que las acompañan hay que insistir que no hay fotos ni de tropas ni de armamento alemán, ni tan siquiera las tí- picas imágenes de las defensas de la “Muralla del Atlántico” que aparecen de forma habitual en otros medios españoles. Con la derrota de Alemania, la revista va más allá de la mera celebración de la victoria aliada llegando a una vela- da condena de la ideología nazi personalizada en Hitler a al que acusa de originar esta guerra, pero sin mencionar a Italia dentro de su información gráfica. Otra ausencia des- tacable en este número, más aún que la de Italia es la de la Unión Soviética, de la cual nada se sabe, ni como partici- pante en la victoria aliada, ni en una visión más negativa como sistema político con defectos similares a los que se le achaca al nazismo Mientras que para la portada del número del desembar- co de Normandía se utilizó la imagen de un Wiston Chur- chill pletórico junto a su general más carismático, para la victoria final sobre Alemania recurre lógicamente al prin- cipal representante norteamericano, el general Dwight D. Eisenhower Comandante en Jefe de las tropas angloameri- canas. En teoría el representante idóneo de Estados Unidos debería ser su presidente Harry Truman, pero su reciente nombramiento, hace pocos días en sustitución del fallecido Roosevelt, le convierte en un personaje apenas conocido y que al igual que su antecesor se encuentra lejos de Europa y por tanto del foco de los acontecimientos. En el pie de la foto de portada se encuentra la primera negación consciente del papel realizado por la U.R.S.S. que entro otras cosas a ocupado Berlín “... En poco menos de un año, las tropas aliadas que asaltaron el Continente, han conseguido la más completa y decisiva victoria sobre Alemania. Corresponde al genio 219 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España militar del general Eisenhower, jefe supremo de los ejérci- tos angloamericanos, el alto honor de haber llevado a cabo esta empresa que sienta las bases para una paz basada en un verdadero orden jurídico. Antes de llegar a las paginas centrales en las que se con- centran las principales fotos de la publicación. Tres imá- genes, y sobre todo sus pies, van a lanzar una sutil pero contundente condena a los regímenes totalitarios aunque en teoría solamente se refieran a la Alemania nazi. La primera afirmación comprometida de Destino se en- cuentra en el pie de foto anteriormente mencionado que termina hablando de “...las bases para una paz basada en un verdadero orden jurídico.” Un nuevo orden que no cuenta, como se ha visto con los soviéticos y que queda por tanto en manos de las democracias occidentales. La primera de las fotos “de condena hacia las dictadu- ras” se encuentra en la página cinco dentro de una sección de opinión, se trata de una fotografía de Hitler en un acto público delante de un cañón de marcado tono militarista. Tanto el titular “La catástrofe hitleriana”, como en el pie de foto se repite el mismo mensaje sobre quien es el respon- sable de la guerra y las consecuencias de la misma. “Prepa- rando la catástrofe” Más interesante resulta aún resultan las imágenes y los textos de la página siguiente en un articulo en el que se comparan la semblanzas de Hitler y Churchill en la que la revista deja entrever otra vez cual es su postura ante las dictaduras. Winston Churchill se muestra en su fotografía de forma distendida, con buena parte de los atributos que le identi- fican en todo el mundo, el puro y su eterno bombín, pasea relajadamente por una zona de campo junto a un públi- co compuesto enteramente por mujeres y niños, separado 220 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España de estos únicamente por una cuerda. El Premier británico transmite una clara sensación de cercanía hacia la población a la que gobierna, entre la cual cuenta con una gran popu- laridad. El pie que acompaña la foto reza lo siguiente. “Así ganó Churchill la guerra”. Por el contrario la siguiente imagen muestra (se le intu- ye más que se le ve) a Adolf Hitler en una de las habituales paradas del partido Nacional socialista, subido en una tari- ma con la multitud de participantes a sus pies uniformados y en perfecta formación. Al contrario que el inglés, el líder alemán aparece totalmente separado y por encima de su pueblo, y este a su vez se muestra carente de cualquier tipo de identidad individual y con un pie de foto que continua con el mensaje del anterior “Así perdió Hitler la guerra” La derrota alemana no es una cuestión de capacidad militar o de estrategia de los contendientes. Destino busca las causas en el propio régimen nazi, el mismo que ante- riormente acusó de desencadenar el conflicto, es su propia naturaleza la causante de su derrota. Esta es una afirmación en un principio subjetiva, en ningún momento se habla abiertamente de la victoria de las democracias frente a las dictaduras, algo impensable dentro del contexto político español pero la imagen de cómo se gana o se pierde una guerra lo dice todo sin tener que decirlo expresamente. Se puede interpretar que los editores y lectores de Des- tino creen cándidamente que España se encuentra políti- ca e ideológicamente del lado de los vencedores y que las críticas a al totalitarismo alemán (se a de insistir en que no se menciona a Italia) nada tienen que ver con el gobierno de Franco. Pero esta interpretación resulta poco creíble, en primer lugar no se pretende amparar la posición de España como la de un enemigo exclusivamente del comunismo con las críticas habituales en estas fechas hacia los soviéti- cos, de los que nada se dice, ni se pretende vender la imagen 221 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Francisco Franco como mediador o arbitro internacional que se explota con su imagen en diarios como Arriba, El Alcázar, Pueblo o Ya, no se pone ninguna barrera entre los derrotados y España. Por otro lado el nivel de la revista induce a pensar en que sus lectores tienen de media un nivel cultural elevado que les permitiría sacar conclusiones menos simplistas. Las paginas centrales de Destino contienen imágenes de algunos de los militares aliados que han contribuido a al victoria. Los generales norteamericanos George Patton y George Catlett Marshall y los mariscales británicos Alan Francis Brooke, y Montgomery. En contrapartida no apa- rece ningún militar alemán. Otra de las fotos interesantes de estas páginas es una toma de una autopista alemana por las pasan multitud de prisioneros alemanes en dirección con- traria a la que avanzan los tanques aliados. Una excelente representación gráfica de la derrota. Hay además otra foto que es sin duda la más impactante de todas las publicadas tanto en Destino como en la pren- sa española. La imagen sobradamente conocida se tomó el 16 de abril de 1945 en el barracón 56 del “Small Camp” perteneciente al campo de concentración de Buchenwald. Este campo fue liberado por la VI división blindada del III Ejercito mandado precisamente por el General Patton. Junto a las tropas norteamericanas entro en el campo la famosa fotógrafa de la revista Life Margaret Bourke-White que recogió con su cámara muchas de las estremecedoras imágenes tomadas en el campo de Buchenwald. Pero aun- que en algunas ocasiones se le ha considerado autora de esta foto, no es suya, la realizó el soldado H. Miller, pertene- ciente al Departamento de Asuntos Civiles del Cuerpo de Señales. La foto apareció publicada el 6 de mayo en el New York Times bajo el Titular “Las apretadas literas del campo 222 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España de concentración de Buchenwald”12. Llama la atención el sem- blante distendido de algunos prisioneros pese a su terrible estado, lo que se debe sin duda a que en el momento que se tomo la foto llevaban varios días bajo la protección de las tropas aliadas aunque estos no han podido aún ubicarlos fuera de sus barracones. Destino no parece dar en un principio la a esta foto la importancia que el tema que trata llego a tomar. Aparece como una más del conjunto de seis que componen esta doble página sin servir de complemento de algún texto aparte de su propio pie que además es compartido con el de la foto del general Patton. “Esta terrible fotografía, escogida entre las menos trágicas de las que tenemos a la vista, nos muestra el lamentable estado en que fueron hallados los prisioneros del campo de 12. scrapbookpages < http://www.scrapbookpages.com/Buchen- wald/Liberation2.html> [Consulta: 11 de abril de 2008] 223 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España concentración Alemán de Buchenwald al ser liberados por el ejército norteamericano…” El tratamiento que se da al tema del genocidio nazi pue- de parecer ahora pobre sabiendo de la magnitud que alcan- zó, pero hay que decir en descargo de la revista, primero que la localización de los campos se ha ido produciendo en las últimas semanas de la guerra (Esta foto precisamente aparece por primera vez publicada el 6 de mayo) y que los mecanismos de censura militar provocan importantes retrasos en la llegada de la información al público. Y en segundo lugar que el resto de la prensa española no se ha hecho eco de esta información a excepción de alguna pu- blicación como el semanario Mundo, que la menciona más ampliamente pero con un material gráfico intrascendente y mezclando la información sobre el genocidio con otras in- formaciones ya conocidas como el asesinato de Mussolini, la matanza de Katyn o Vinitza.13 Con la rendición japonesa el 15 de agosto de 1945 con- cluye definitivamente la II Guerra Mundial, un conflicto que ha durado casi seis años. Para la prensa española la no- ticia provoca en general un cierto hastió, sobre todo cuando en mayo se produjo en Europa la trascendental rendición alemana y que el frente del pacífico apenas afecta a los in- tereses españoles. Destino responde a la rendición japonesa con una bue- na cobertura gráfica en general (destaca la famosa foto de Iwo Jima de Joe Rosenthal en portada, aunque impresa al revés) pero pierde el tono diferenciador y arriesgado utilizó en números anteriores. La victoria aliada es en el Pacifico una cuestión técnica y militar, más que de justicia. En este 13. Cros López, Rafael Op. Cit pag. 752 224 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España numero, al igual que hacen otros medios españoles la in- formación de la rendición japonesa viene acompañada con imágenes relacionadas con la guerra en Europa. Así apare- cen esta vez los retratos los militares alemanes Walther von Brauchitsch, Heinz Wilhelm Guderian y Gerd von Runds- tedt. Que no aparecieron en Mayo. Además de estos retratos hay otras fotos interesantes tam- bién relacionadas con Europa, una imagen de la Evacuación de Dunkerke en 1940, y lo más sorprendente, una imagen relacionada con la Unión Soviética, de la cual no se tuvo nin- guna refenecía gráfica en el numero de la rendición alemana. La foto es sin embargo decepcionante, un grupo de soldados a caballo con la única referencia de “Los cosacos en su elemento” de la que no se puede sacar ninguna conclusión ya que los co- sacos incluso lucharon tanto del lado soviético como del Eje. En cuanto a la rendición japonesa hay que mencionar aquí una fotografía publicada el 12 de mayo en la que un tanque norteamericano entra pon una de las puertas del Fuerte Santiago en Manila (por debajo del escudo de Espa- ña tallado en piedra). “Un tanque norteamericano entra por las paredes perfo- radas del Fuerte Santiago, en Manila, destruido por la barbarie habitual de los japoneses” El Gobierno español empezó a tomar distancia con Ja- pón en vista de los acontecimientos y apoyándose en el asalto a la Embajada Española en Manila rompió relaciones diplomáticas con Japón el 12 de Abril de 194514. En las páginas centrales Destino las dedica por entero a la rendición nipona pero sin incluir aquí a los japoneses, 14. Tusell, Javier. Franco España y la II Guerra Mundial, entre el Eje y la Neutralidad. Pag 559. Temas de Hoy. 225 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España que si aparecen en una foto anterior de unos prisioneros de los norteamericanos. La doble pagina se distribuye dedi- cando la parte superior a la Marina y al inferior a las fuerzas de tierra con la presencia de varios militares aliados entre los que destaca la del dirigente chino Chang Kai Chek. Resultan interesantes los pies de foto, ensalzando a los Estados Unidos, no solo por su victoria ante Japón sino también ante Alemania con un estilo grandilocuente pero que no llega al rebuscamiento de antaño. En un principio se da un mensaje en contra del imperialismo del que han hecho gala los países del Eje (sin mencionar a Italia) ha- blando en términos tales como: “han hecho hincar la rodilla al orgulloso imperio japonés que con la vencida Alemania pretendían dominar al mundo” De esto se deduce una posición antiimperialista de la revista con una concepción del mundo de acuerdo con los principios de organismos como Naciones Unidas o con- ceptos como el orden jurídico alabado en la portada del 12 de mayo; pero luego se apuesta tras la victoria, al menos en Asia, por un colonialismo que continué con el orden establecido antes de la guerra y que incluso se extienda aún más por el continente. Resulta chocante es la utilización de una denominación racial como “civilización blanca”, bastante arriesgada después de la caída del nazismo. Al contrario de lo que pronostica Destino el final de la guerra supuso el desmantelamiento progresivo de muchos de los imperios coloniales como el británico o el francés que no pudieron mantener su presencia en lugares como Palestina, Indochina, India o Pakistán. 226 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Referencias DEL CABO, Isabel. La resistencia cultural bajo el franquismo. Entorno a la revista “Destino” (1957- 1961).Madrid. Ediciones Altera. 2001 ISBN. 8489779228 Basada en el texto original del teniente Coronel Eddy Bauer. Historia de la II Guerra Mundial Pamplona Editorial Salvat. 1979. ISBN. 8471375923 RUHL, Klaus-Jörg. Franco, Falange y III Reich, Es- paña durante la Segunda Guerra Mundial. Madrid. Editorial Akal S.A. 1986 ISBN. 84-7600-109-6 CROS LÓPEZ, Rafael. Cobertura fotográfica y re- presentación de la II Guerra Mundial en la prensa española. Tesis doctoral Universidad Complutense. 2012. TUSELL, Javier . Franco España y la II Guerra Mun- dial, entre el Eje y la Neutralidad. Madrid. Ed. Temas de Hoy. 1995 ISBN. 847880501X Revista Destino: Inicio de la guerra: 9 de septiembre de 1939 Caída de Francia: 22 de junio de 1940 Operación Barbarroja: 28 de junio de 1941 Operación Torch: 14 de noviembre de 1942 Caída de Mussolini: 31 de julio de 1943 Desembarco de Normandía: 10 de junio de 1944 Final de la guerra en Europa: 12 de mayo de 1945 Rendición de Japón: 18 de agosto de1945 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 227 10. Do “caos” ao equilíbrio: a mudança paradigmática do fotojornalismo analógico para o digital José Alexandre Cury Sacomano1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo O presente artigo analisa três momentos do fotojorna- lismo nos últimos 50 anos, evidenciando a mudança do fo- tojornalismo analógico, (um cenário de equilíbrio), para o fotojornalismo híbrido (analógico mais digital num cená- rio de “caos” e instabilidades), e chegando ao fotojornalis- mo puramente digital (cenário que novamente encontra o equilíbrio). O artigo foca que durante as décadas de 1990 e 2000 o fotojornalismo sofreu um momento de ruptura e adaptação às novas tecnologias, e isso mudou a forma do fazer e do consumir fotojornalismo. Para dar conta da pes- quisa, o artigo utilizou, além do referencial teórico, entre- 1. José Alexandre Cury Sacomano, Universidade Paulista – UNIP, alu- no de doutorado, São Paulo, Brasil. alexandresacomano@gmail.com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 228 vistas e depoimentos de repórteres fotográficos que partici- param do processo produtivo do fotojornalismo nesses três cenários: analógico, misto e digital. Os primeiros resultados apontam para a irreversibilidade do novo padrão digital e uma mudança tanto no fazer como no consumir fotos de imprensa. Palavras-chave: fotojornalismo; fotografia digital; foto- grafia analógica Introdução A fotografia, desde sua invenção, atribuída ao francês Jo- seph Nicéphore Niépce (1765-1833) em 1826, passou por várias mudanças tecnológicas em seu processo evolutivo, tanto no processo físico (luz), como no processo químico (filmes/suportes), que foram aos poucos aperfeiçoando o processo fotográfico. Entretanto, nenhuma dessas transfor- mações foi tão profunda como a evolução do fotojornalis- mo analógico para o fotojornalismo digital. Mesmo com o surgimento das máquinas e filmes de 35 milímetros, fo- tografia colorida e da instantânea (polaroide), nada foi tão impactante como a chegada da fotografia digital, que mu- dou a forma, e pode-se afirmar que mudou o paradigma de se fazer fotografia e fotojornalismo. O presente artigo faz uma diferenciação de três momen- tos do fotojornalismo: o cenário totalmente analógico, onde os repórteres fotográficos tinham total domínio da lingua- gem e poucas dúvidas; o cenário da mudança paradigmática do analógico para o digital, descrito como um cenário de caos e incertezas devido à hibridização de duas linguagens; e por fim, o cenário totalmente digital, que a partir de 2010 encontra o equilíbrio novamente, onde todas as redações Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 229 trabalham exclusivamente com equipamento digital, onde a maioria dos repórteres fotográficos já está adaptada à operacionalização das máquinas digitais. “A migração da fotografia analógica para digital supõe uma verdadeira revolução no tempo de recepção, que tem efeitos diretos sobre uma nova concepção de uma imagem.” (VILCHES, 2006, p.161). Muitos repórteres fotográficos receberam, de certa for- ma, com restrição a chegada das máquinas digitais na déca- da de 90, inclusive pela possível perda de espaço de trabalho, mas aos poucos foram se adaptando a essa nova tecnologia, que a partir de 2010 já passou a ser encontrada em quase todas as redações de jornais e revistas do Brasil. Portanto, o objetivo geral do artigo é analisar o impacto ocorrido na trajetória do fotojornalismo, desde a foto ana- lógica até a foto digital, com ênfase no momento em que as duas técnicas conviveram de forma mútua. O texto en- contra justificativa no fato de que, nesse momento híbrido, houve um período de turbulências e incertezas, que pode ser, no bom sentido, chamado de “caos”. Onde tudo começou: o inicio da fotografia até a década de 1990 A invenção da fotografia, em 1826, é atribuída ao fran- cês Joseph Nicéphore Niépce, e a princípio revoluciona as artes visuais; Porém, muitos astrônomos e pintores uti- lizavam câmeras obscuras2 como Aristóteles (384-322 AC) 2. Consiste numa caixa (ou também sala) com um orifício no canto, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 230 e Leonardo da Vinci (1452-1519), considerado como gê- nio da história devido sua multiplicidade de talentos, que deixou descrições e análises minuciosas sobre as câmeras obscuras; também o italiano Giovanni Della Porta (1541- 1615), que descreve a câmera obscura como uma sala es- cura fechada da luz com um pequeno orifício em uma das paredes por onde entrava a luz projetando uma imagem na parede oposta. Primeiras câmeras obscuras usadas por pintores e astrônomos No final do século XVIII pesquisadores tinham a dificul- dade de fixar as imagens em suportes, e foi nesse cenário que Niépce iniciou sua pesquisa, a partir de 1816, desenvolvendo um material recoberto por betume da Judéia e sais de prata, que iria facilitar o registro da imagem em um suporte de vidro ou placa de estanho. Niépce conseguiu o feito de registrar, em 1826, a primeira imagem tida como fotográfica. que permite a passagem de luz de um lugar externo, atingindo uma superfície interna, onde é reproduzida a imagem invertida. http://4.bp.blogspot.com/_VSzrrkDYGZI/Rddus4CLNJI/AAAAAAAAAAY/1LD_rgLAW8w/s1 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 231 Imagem considerada como a primeira fotografia da história Dando continuidade as experiências de Niépce, o pintor francês Louis Mandé Daguerre (1787- 1851) experimen- tou placas de cobre recobertas com prata polida e sensibili- zadas com o vapor de iodo, formando assim uma superfície de iodeto de prata sensível a luz. O processo foi oficial- mente recolhecido pela Academia de Ciências de Paris, em 1839, e batizado como daguerreótipo. Segundo MONTEIRO (2001), na primeira metade do seculo XIX, em diferentes países como França, Inglaterra e Brasil, o maior problema enfrentado no processo fotográfico referia-se à necessidade de se obter técnicas mais rápidas e precisas para representar a realidade. A busca de soluções para tal problema resultou no desenvolvimento de processos de fi- xação da imagem, cujos precursores tornaram-se conhecidos como os franceses Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerré (1787-1851), já acima ci- tados, e também o ingles William Fox Talbot (1800-1877) e o francês Hércule Florence (1804-1879), radicado no Brasil. Pode-se comprovar a multiplicidade da descoberta, pois após o anúncio oficial do daguerreótipo em 1839, outras http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:View_from_the_Window_at_Le_Gras,_Joseph_Nic%C3%A9pho Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 232 vinte e quatro pessoas reivindicaram a invenção do pro- cesso fotográfico e consequentemente a precedência sobre Daguerré. (SACOMANO, 2002). No Brasil, o envolvimento de Florence com a fotografia esteve desconhecido até 1900, quando uma biografia sobre o fotógrafo foi publicada na Revista do Museu Paulista e fazia referência a duas fotos encontradas intactas dentro de um livro: uma, da cadeia de Campinas que na época de chamava vila de São Carlos, e outra, do busto de Lafayette. As fotos foram obtidas em placas de vidro através de uma câmera escura, antes de 1839. O fotógrafo e historiador Boris Kossoy expôs as experiências de Florence em âmbito internacional, no III Simpósio Internacional de Fotogra- fia, promovido pelo Rochester Institute of Technology em 1976; entretanto Florence não teve seu nome relacionado com a descoberta da fotografia, em nível mundial. Outro fato interessante no surgimento e evolução da fo- tografia, e até mesmo do fotojornalismo, recai sobre o britâ- nico Roger Fenton que fotografou por 4 meses a guerra da Criméia (1853-1856), utilizando para isso uma carroça que havia sido transformada em quarto escuro. Foi a primeira cobertura fotográfica de guerra, com enfoque jornalístico. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 233 Em 1871 o médico inglês Richard Leach Maddox in- ventou a primeira chapa manipulável, usando gelatina para manter imóvel o brometo de prata. Dois anos mais tarde a emulsão gelatinosa já era comercializada em caixas prontas para serem usadas. Não havia mais a necessidade de untar as placas antes das exposições, facilitando sensivelmente o manuseio das chapas. Em 1884 George Eastman patenteava o primeiro filme fotográfico guardado em rolo, fundava sua fábrica Eastman Dry Plate Company (Companhia Eastman de Chapas Secas), e se associava a William Walker, um fabricante de máquinas fotográficas ou daguerreótipos. Eastman ambicionava ela- borar um sistema no qual a pessoa só precisasse tirar a foto. (BUSSELLE, 1977). Em 1886 Eastman lança a Kodak, uma máquina foto- gráfica de tamanho reduzido, onde o fotógrafo apenas fa- zia o disparo. A máquina continha as chapas secas em seu interior, e após cem exposições era enviada à fábrica, e devolvida para o dono com as cem cópias e recarregada novamente com as chapas secas. A máquina era comercia- lizada por US$ 25 e tinha como slogan “Você aperta o botão nós fazemos o resto”. A nova invenção veio para fica. Seu consumo cres- cente e ininterrupto ensejou o gradativo aperfei- çoamento da técnica fotográfica. Essencialmente artesanal a princípio, esta se viu mais e mais sofis- ticada à medida que aquele consumo, que ocorria particularmente nos grandes centros europeus e nos Estados Unidos, justificou inversões significativas de capital em pesquisas e na produção de equipamentos e materiais fotossensíveis. A enorme aceitação que a fotografia teve, notadamente a partir da década de 1860, propiciou o surgimento de verdadeiros impé- rios industriais e comerciais. (KOSSOY, 2001, p.26). Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 234 Daguerreótipo produzido por Susse Frére em 1839 A partir do inicio do século XX, a evolução e as mudan- ças tecnológicas referentes à fotografia foram insignifican- tes, passando mais por refinamentos e aperfeiçoamentos do que por inovações ou invenções. A cor surgiu nessa época, mas foi somente em 1936 que a fotografia colorida surgiu para as massas. Foi novamente a Eastman Kodak que deu esse passo, dessa vez criando o mais icônico filme da histó- ria da fotografia: o Kodachrome. (BUSSELLE, 1977) Após a criação das máquinas de 35 mm, as inovações diminuem e a evolução da fotografia se dá apenas em pe- quenos detalhes. O que revolucionaria a fotografia seria a chegada da fotografia digital em meados da década de 1990, que foi considerada uma mudança tão acentuada e paradigmática, que mudaria o padrão do fazer fotojorna- lismo. (SACOMANO, 2002). Neste momento a fotografia passou a se integrar ao tex- to, trazendo mais credibilidade para a imprensa. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 235 “Essa entrada da fotografia no jornalismo diário proporcionou uma mudança significativa na forma de o público se relacionar com a informação por meio da valorização do que é visto. O aumento da demanda por imagens promoveu o estabelecimen- to da profissão do fotógrafo de imprensa, procurada por muitos a ponto de a revista Collier’s, em 1913, afirmar: “Hoje em dia é o fotógrafo que escreve a história. O jornalista só coloca o rótulo” (LACAYO; RUSSEL, 1990, p.31. Cit. SOUZA, 2000, p. 702). A chegada da foto digital e a dificuldade da mudança: décadas de 1990 a 2010 Repórteres fotográficos veteranos, que já trabalhavam há muito tempo com filmes e máquinas analógicas de 35 mm, apresentaram maiores dificuldades e menor interesse em aprender e se aprofundar na nova linguagem fotográ- fica, que aos poucos começava a invadir as redações de jornais e revistas por todo Brasil. Alguns profissionais, com 30 ou 40 anos de profissão, e já quase se aposentando, acabaram até mesmo deixando a profissão de forma mais imediata, abrindo mão do apren- dizado da nova linguagem, da nova técnica e dos novos processos que então representavam a inevitável e revolucio- nária chegada da fotografia digital. Estar diante de um novo processo fotográfico represen- tou um forte impacto para esses profissionais, embora esse novo processo fosse muito mais produtivo e inovador. Por muito tempo esses profissionais carregaram suas máquinas com filmes, efetuavam as fotos cujo resultado conheceriam horas depois, tiravam um número mais restrito de fotos, pois os filmes ofereciam apenas 24 ou 36 poses. Outros Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 236 muitos detalhes do processo analógico teriam que ser dei- xados para trás e novas técnicas teriam que ser novamente aprendidas. Segundo FREUND (1986, p.35): “Todo gran descu- brimiento técnico origina siempre crisis y catástrofes”. A introdução de novas tecnologias leva algum tempo até ser absorvida. A inclusão de novas tecnologias acaba mudan- do o funcionamento de empresas, gerando novos cargos e extinguindo outros. Mudanças que nem sempre são vistas positivamente pela sociedade. Na década de 80 e início da de 90, o material que o repórter fotográfico carregava era bem pesado. Geralmente levava duas ou mais lentes, o próprio corpo da câmera que era de metal, o flash, vários tipos de filmes, além de outros acessórios de segurança e limpeza. Era tudo mais pesado, desde a bolsa até a própria máquina. No tocante a revelação e transmissão da foto, o tempo que se levava era grande e muitas vezes comprometia o dead-line3. Muitas vezes os repórteres fotográficos, os mais experientes, de acordo com a velocidade que o assunto exi- gia, tinham que revelar as fotos num banheiro4 de hotel e enviá-las o mais rápido possível para a redação. Valia quase qualquer coisa para a foto chegar ao jornal a tempo da publicação. 3. Expressão que designa o momento-limite para uma determinada ação. O conceito é utilizado com frequência nas redações de meios de comunicação em relação ao prazo de entrega de matérias, fotos, artigos etc... 4. Muitos repórteres fotográficos quando precisavam ganhar tempo em determinadas circunstância, revelavam suas fotos em pequenos banhei- ros, pois tinham entrada e saída de água e podiam ser vedados da luz com facilidade. Assim, podiam revelar o filme fora do horário comercial dos laboratórios e enviá-los o mais rápido para as redações. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 237 TEIXEIRA (2004), repórter fotográfico do Jornal do Brasil, explica que nas viagens a bagagem era um grande problema pois “tínhamos que levar um baú com o labo- ratório que era montado no banheiro do hotel. A gente levava pano preto para vedar o ambiente. Tinha que ter álcool para secar o filme. Uma trabalheira danada”, explica o repórter. Assim, estão apresentados os três momentos do fotojor- nalismo: o cenário totalmente analógico, o cenário da mu- dança paradigmática do analógico para o digital, descrito como um cenário de caos e incertezas devido a hibridiza- ção de duas linguagens, e , por último, o cenário totalmente digital, que a partir de 2010 encontra o equilíbrio nova- mente, onde todas as redações trabalham exclusivamente com equipamento digital. Com outro enfoque, mas em torno do mesmo assun- to, OLIVEIRA (2009) questiona processos de produção da fotografia jornalística e também consegue visualizar estes três momentos, só que através de categorias de repórteres fotográficos. “A fotografia digital provocou uma ruptura entres os profissionais da imagem, principalmente foto- jornalistas, dando origem a três categorias de pro- fissionais no mercado de fotografia: a primeira é formada por veteranos fotógrafos, a segunda, por fotógrafos que o autor vê acompanhando a morte gradativa da fotografia analógica, e a terceira, por fotógrafos mais jovens, que assistem ao nascimento da fotografia digital” (OLIVEIRA, 2009, p.3). De acordo com GIACOMELLI (2001), o primeiro evento onde a fotografia foi testada por repórteres fotográ- ficos de todo mundo, foi a Copa do Mundo de Futebol em 1994, nos EUA. Muitos deles estavam tendo os primeiros Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 238 contatos com o equipamento digital, que naquela época ainda eram pesados, produziam fotos com pouca resolução e apresentavam uma transmissão vagarosa. Nessa ocasião vá- rios repórteres fotográficos não fizeram boas avaliações do equipamento digital. O jornal Folha de S. Paulo iniciou suas experimentações com fotografias digitais a partir de 1992. Pouquíssimos fo- tógrafos utilizavam as máquinas digitais naquele momento, a maioria ainda trabalhava com as analógicas; entretanto o interesse dos repórteres fotográficos por essa inovação começou a apresentar crescente e constante aumento por esse novo processo. Ainda de acordo com GIACOMELLI (2001), na Copa do Mundo de Futebol na França em 1998, alguns fotógra- fos brasileiros ainda trabalharam com as máquinas analógicas; “profissionais da fotografia do Brasil enviados à França tra- balharam apenas ocasionalmente com câmaras digitais, pois muitos tiveram problemas de se adaptar à nova tecnologia”. O jornal O Globo foi o primeiro jornal do Rio de Ja- neiro a utilizar a tecnologia digital, em meados da década de 90, conforme relata TEIXEIRA (2004), repórter foto- gráfico: “Nem todos os profissionais trabalham com equi- pamentos digitais, somente metade das imagens produzidas para o jornal é realizada com equipamento digital”. Justamente na mudança do século XX para o XXI, mui- tos jornais e revistas da grande imprensa, ainda não traba- lhavam totalmente com máquinas digitais. Na década de 2010 do novo século, as editorias de fotografia trabalhavam com máquinas analógicas e digitais numa mistura de lin- guagens. Alguns fotógrafos saiam para cobrir suas pautas e às vezes se equipavam com máquinas digitais e analógicas ao mesmo tempo, pois se a memória da máquina digital se esgotasse, eles tinham as analógicas para o término da pauta. Esse cenário misto, onde a foto digital estava entrando Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 239 em cena e a analógica saindo, é que podemos afirmar que o fotojornalismo vivenciou um momento de “caos”, no bom sentido, pois dúvidas e incertezas sempre estavam presentes no cotidiano de fotógrafos e editores. Outra problemática levantada por profissionais e pesqui- sadores após a inserção da fotografia digital no jornalismo, foi a questão da manipulação das fotos. De acordo com a pesquisa, manipulações e trucagens sempre existiram no fo- tojornalismo, desde a clássica “moeda sobre a foto” fazendo com que a bola de futebol aparecesse dentro do gol, até hoje, com os softwares criados especificamente para isso. Essas interferências intencionais ou não nas imagens são mais comuns do que se pode imaginar, afirma o CHINA- LIA (2005): “A imagem produzida leva ainda consigo a carga subjetiva de seu produtor. Desde a escolha da obje- tiva pelo fotojornalista, o ponto de vista em relação ao fato, o enquadramento, até mesmo a zona de nitidez da imagem revelam as intenções de quem a produz ou quem a veicula”. (CHINALIA, 2005). A tecnologia no campo da imagem digital tem avançado rapidamente e as vantagens técnicas e econômicas são maio- res do que as possíveis desvantagens. Afirma SOUZA (2004) que “As novas tecnologias digitais transformam as imagens, antes formadas por pontos impressos pela luz sobre uma su- perfície, em pulsos eletrônicos. Isso torna possível armazenar as imagens e manipulá-las como nunca se pensou”. Segundo LEITE (2009) “As indagações sobre o que é melhor, o analógico ou o digital, neste momento não é importante, pois a fotografia é um veículo de ideias assim como o cinema. Então, não interessa a forma como ela será feita”. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 240 A estabilidade da fotografia digital na imprensa: década de 2010 em diante A fotografia digital que nos anos 90 tinha uma participação pequena nas redações de jornais e revistas de todo Brasil, no inicio do século XXI entra com força total no cotidiano do fo- tojornalismo. Com as máquinas digitais cada vez mais acessíveis financeiramente, mais aperfeiçoadas em termos de resolução e de capacidade de armazenamento, os proprietários dos grandes jornais e de algumas revistas, perceberam que trabalhar somen- te com equipamento digital era mais vantajoso em diversos as- pectos. Na verdade, a fotografia digital agiliza o processo e isso acaba agregando maior valor à fotografia. A partir de 2005 os filmes fotográficos vão ficando cada vez mais caros e mais difíceis de serem encontrados no mer- cado. Em contra partida, a oferta de máquinas digitais e seus acessórios vão aumentando, quase que forçando profissionais da fotografia a trocarem a linguagem analógica pela digital. A partir de 2010 todos os grandes jornais e revistas semanais já trabalhavam na sua totalidade com a fotografia digital. Segundo BITTAR (2000), embora os repórteres foto- gráficos até tentassem se utilizar dos equipamentos conven- cionais, ficou claro que as câmeras digitais eram muito mais práticas, permitindo o envio de até 200 imagens por dia. Com o emprego de computadores portáteis e telefones por satélite, os profissionais podiam enviar as imagens mesmo durante as partidas de futebol, abastecendo a redação com imagens quase que em tempo real. Os repórteres fotográficos tiveram que iniciar seus co- nhecimentos, além da própria máquina digital, em aplicati- vos e softwares de transmissão, tratamento e armazenamen- tos das imagens digitais. O editor SASSAKI (2004), do jornal O Globo, acredita que a chegada da fotografia digital nas redações acarretou Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 241 uma mudança radical no dia-a-dia dos profissionais. Os fo- tógrafos são unânimes ao declarar que, gastam mais tempo ‘trabalhando’ numa imagem, já que ela sai da câmera digital e passa por um leve tratamento no Photoshop, que é um software dedicado à edição de imagens. Segundo ele, atual- mente, para trabalhar com foto um bom conhecimento de Photoshop é fundamental. Em entrevista concedida em outubro de 2012, Frâncio de Holanda, repórter fotográfico da Folha de S. Paulo, a ado- ção da fotografia digital no jornalismo é irreversível. A nova linguagem digital já está estabelecida nas redações, e a partir de agora o que muda são detalhes e pequenas inovações. Segundo ele, a imagem é representada por pontos eletrôni- cos e numéricos e isso irá perpetuar por um bom tempo na fotografia e no fotojornalismo. . Conforme ALVES (2000), um dos responsáveis pela im- plementação do processo digital no jornal Folha de S. Paulo, a nova linguagem não trouxe apenas problemas da ordem de adaptação às novas máquinas digitais. Esse novo padrão trouxe também problemas como o arquivamento da grande quantidade de imagens e organização deste banco de da- dos, uma vez que as imagens jornalísticas supriam também outros veículos da organização como UOL e Folha Online. Desse modo, é possível perceber que a mudança da foto analógica para digital, acaba impondo mudanças não só para fotógrafos e editores. Novos padrões de trabalho se esten- dem para outros profissionais, alterando o cotidiano dentro das redações; desde o ato de fotografar até o de imprimir. Assim, também pode-se observar que o ato de consumir também mudou. Atualmente convive-se intensamente com a presença de imagens, não só na mídia tradicional como em outros suportes: imagens impressas em papel, plástico, vidro, metal, hologramas e até mesmo no corpo humano como mostram as gerações mais novas com suas tatuagens. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 242 Alguns estudiosos da comunicação focam seus estudos nessa nova maneira da sociedade se relacionar com fotogra- fias e outras imagens. Segundo BAITELLO (2005), atual- mente as imagens são evasivas e muitas vezes desnecessárias. Ele afirma que “As imagens são tão evasivas que podemos dizer que elas nos envolvem, nos devoram. Nós acabamos sendo alimento para elas. Elas buscam, elas chamam nosso olhar, elas nos capturam. Esse é o conceito da iconofagia”5 . Atualmente o mais importante para o repórter fotográ- fico é o fazer rápido, para que esta imagem seja trabalhada e veiculada o mais breve possível. Com a máquina digital e a instantaneidade das novas mídias, os fotógrafos vão “cli- cando”, sem pensar muito bem no sentido das imagens que estão produzindo. Nesse sentido, GONÇALVES, 2012, p. 83) faz o seguin- te comentário: “Para fazer frente a outras imagens, principalmente as televisivas que são mais afeitas aos valores da socie- dade contemporânea (desejo do instantâneo), a retó- rica da velocidade toma conta do fotojornalístico e 5. Iconofagia: Iconofagia significa a devoração das imagens ou pe- las imagens: corpos devorando imagens. ou imagens que devoram corpos. Essa ambigüidade é interessante porque, na verdade, os dois processos ocorrem. A Era da Iconofagia significa que vivemos em um tempo em que nos alimentamos de imagens e as imagens se alimentam de nós, dos nossos corpos.Esse processo ocorre quando passamos a viver muito mais como uma imagem do que como um corpo. Viramos escravos das imagens: temos que ter um corpo que seja uma imagem perfeita, temos que levar uma vida vivida em fun- ção da imagem, temos que ter uma carreira que seja uma imagem perfeita. Com isso, de repente notamos que o corpo como entidade original da vida passou a ser uma imagem e, portanto, não ter mais vida própria. De outro modo: Somos devoradores de imagens e somos devorados por elas.” Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 243 a qualidade informativa, por vezes, é desconsiderada. Da tomada de imagem à publicação, tudo tem que acontecer o mais rapidamente possível. O que passa a determinar a eficiência de uma imagem não é mais o seu conteúdo, mas o tempo da produção e veicula- ção, que devem ser cada vez mais encurtados”. O repórter fotográfico Ricardo Lima, da sucursal de Cam- pinas da Folha de S. Paulo, afirma em uma entrevista concedida em outubro de 2012, que quando os profissionais trabalhavam com as máquinas analógicas, as fotos eram mais concebidas, pois os repórteres fotográficos não tinham a possibilidade de conferir na hora a qualidade da fotografia e excluir as indeseja- das. Os repórteres muitas vezes eram limitados a fazer 36 fotos que era a quantidade máxima oferecida por um rolo de filme; desse modo as fotos eram feitas de forma mais lenta e calculada. No sentido da participação cada vez maior do cidadão na mídia, SOUZA; BONI (2008) fazem o seguinte comen- tário: “Com a massificação das câmeras digitais, presentes em milhões de telefones celulares, tem-se a possibilidade da onipresença do olhar, transformando o possuidor de um telefone celular em um fotorrepórter em potencial”. Também deve ser levado em conta o fotojornalismo ci- dadão ou participativo, uma vez que as imagens de cidadãos comuns tem chegado em quantidade considerável nas reda- ções. Os editores de fotografia, muitas vezes na correria do dia-a-dia, não conseguem fazer uma análise pormenorizada em todo material, correndo assim o risco de publicar uma foto que foi montada ou manipulada; como exemplo cita- -se o caso do site UOL no acidente da TAM, em 2007, que divulgou a imagem de uma pessoa se jogando do alto do hangar da companhia aérea em meio às chamas. O conteúdo teria sido enviado por um internauta, e vinte e oito minutos mais tarde, outro internauta alerta o Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 244 UOL de que se tratava apenas de uma montagem e que a cena do corpo caindo naquela foto não passava do trabalho de um amador, em Photoshop. O portal admitiu o erro pu- blicamente e retirou a imagem do ar. Foto manipulada e publicada pelo UOL em 2007 Quanto à questão da velocidade de produção da ima- gem, como ocorreu com o caso da TAM, VILCHES (2006, p.163) faz o seguinte comentário: “A internet e a imagem digital contribuem de ma- neira decisiva para o desejo dos leitores de acom- panhar o mundo em tempo real. Ao mesmo tempo, provocam a sensação do dejá vu e inúmeros equí- vocos informacionais: na enxurrada de imagens, na velocidade da edição, parece faltar, ou se perder, a imagem necessária”. Portanto, após um primeiro momento que chamamos de “caos”, a foto digital entra em um momento de equilíbrio, iniciando questionamentos mais profundos entre profissionais Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 245 e pesquisadores. “A tecnologia digital desmaterializou a foto- grafia, que se torna hoje a informação em estado puro, conte- údo sem matéria, cujo poder de fascinação passará a se reger por fatores novos” (FONTCUBERTA, 2007:8). Questionamentos e discussões são importantes nesse momento em que se estabelece outra forma de captar, pro- duzir, distribuir e interagir com fotos jornalísticas. Percebe- -se que não foi somente a foto que mudou de analógica para digital, mas também toda cadeia de profissionais e de ambientes que estão envolvidos com ela. Conclusão Após a pesquisa realizada para a elaboração deste texto, podemos concluir, num primeiro momento, que a fotografia e o fotojornalismo passaram por mudanças significativas e paradigmáticas nos últimos 20 anos. Entre os anos de 1990 e 2010 o fotojornalismo sofreu forte impacto com a chegada da foto digital, onde repórteres fotográficos, editores, arqui- vistas dentre outros profissionais conviveram mutuamente com duas tecnologias diferente, o que gerou um cenário de duvidas e incertezas que chamamos de cenário de caos. Este momento historicamente marcante para o foto- jornalismo foi difícil para diversos profissionais, devido a necessidade de adequação à esta nova tecnologia. Alguns profissionais chegaram até a deixar a profissão de forma precoce devido ao impacto da mudança. As mudanças tec- nológicas, num primeiro momento, são de difíceis adapta- ções e aceitação pelo próprio ser humano, como expressou Caetano Veloso em sua clássica música Sampa. “A mente apavora o que ainda não é mesmo velho”. Percebemos também que após 2010 as duvidas e in- certezas começam a diminuir e uma aceitação maior da Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 246 tecnologia digital se estabelece entre os profissionais. Neste cenário foi percebido que o fotojornalismo retorna para um momento de equilíbrio novamente com nos anos 80. Questionamentos quanto à técnica digital vão dimi- nuindo cada vez mais, porém os pesquisadores e estudiosos da comunicação iconográfica questionam bastante a foto- grafia de pixels, principalmente a jornalística. Críticas vão se aflorando, no sentido da foto digital de imprensa trazer consigo a possibilidade de manipulação e alteração do con- teúdo real da imagem. Outra questão bastante discutida é sobre uma certa banalização da foto jornalística uma vez que a imprensa produz conteúdo imagético cada vez em maior quantidade e velocidade. De forma idêntica, a socie- dade consome estas imagens cada vez em maior número e velocidade. Referências ABREU, Alzira Alves de. Jornalismo cidadão - Brasil em transição: um balanço do final do século XX. Rio de Janeiro, 2003. ALVES, Ormuzd. Palmtop dispensa notebook e envia ima- gens via celular. Folha de S. Paulo. Caderno de Informá- tica. 23 abr. 2003. BAITELLO, Norval. A era da iconofagia. São Paulo: Hacker Editores, 2005 BARTHES, Roland. A câmera clara. Lisboa: Edições 70, 1980. _________ . O óbvio e o obtuso. Lisboa: Edições 70, 1982 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 247 BONI, Paulo César; SOUZA, Fabio. Fotojornalismo cida- dão: a fotografia a serviço da cidadania. Studium, Campi- nas, v. 27, 2008. Disponível em: . Acesso em: 11 out. 2012. CHINALIA, Nelson Sebastião. Fotojornalismo: a mani- pulação visual da notícia. In: I Encontro Paulista de Profes- sores de Jornalismo, Universidade de Sorocaba, São Paulo, organizado por FNPJ – Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, 2005. FATORELLI, Antonio, Fotografia e novas mídias. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2007 FONTCUBERTA, Joan. Estética fotográfica: una selec- ción de textos. Barcelona: Gustavo Gil, 2007. FREUND, Gisèle. Fotografia e sociedade. Lisboa: Vega, 1995. FREEMAN, Michael. Fotografia digital: el color. Edi- tora EverGreen, 2006. GIACOMELLI, Ivan Luiz. Impacto da fotografia digi- tal no fotojornalismo diário: um estudo de caso. Disser- tação de mestrado. Florianópolis: UFSC, 2000. p.62. LEITE, Enio. A história da fotografia no Brasil. Dis- ponível em: . Acesso em: 01 out. 2012. KOSSOY, Boris. Hercule Florence, 1833: a invenção iso- lada da fotografia no Brasil. São Paulo: Anhembi, 1977. MARZO, Jorge Luis (org.). Fotografia y activismo. Bar- celona: Gustavo Gili, 2006. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 248 MENDES, Ricardo. Fotografia e inclusão (social): revendo experiências das últimas três décadas. Revista D’Art do Centro Cultural de São Paulo. São Paulo, n.12, p.71- 75, 2005. MORAES, Denis (org.). Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. OLIVEIRA, Erivam Morais de. Hércules Florence: pio- neiro da fotografia no Brasil. São Paulo: ECA/USP, 2003. Dissertação de Mestrado. OLIVEIRA, Erivam Morais; VICENTINI, Ari. Fotojor- nalismo: uma viagem entre o analógico e o digital. São Paulo: Cengage Learning, 2009. PAVLIK, John V. El periodismo y lós médios de co- municación. Barcelona: Paidós Comunicación, 2005. SAMAIN, Etienne. O fotográfico. São Paulo: Editora Se- nac, 2005. SASSAKI, Alexandre. Mudança de atitude. In: Caderno Especial “Fotografia Digital”. O Globo. Rio de Janeiro: 30 de abril de 2004. SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Compa- nhia das Letras, 2007. SOUSA, Jorge Pedro. Por que as notícias são como são? construindo uma teoria da notícia. Disponível em: < http:// www.bocc.ubi.pt/_esp/autor.php?codautor=13>. Acesso em: 10 out. 2012. SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fotojor- nalismo ocidental. Florianópolis: Obra Jurídica, 2004. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 249 ________ . Uma história do jornalismo em Portu- gal até o 25 de abril de 1974. 2008. Disponível em: < http://www.bocc.ubi.pt/_esp/. Acesso em: 10 out. 2012. TEIXEIRA, Evandro. O Brasil é um país rico em ima- gens. Papo na Redação. 06/08/2004. Comunique-se. Dis- ponível em: < http://www.comuniquese.com.br> VILCHES, Lorenzo. Migrações midiáticas e criação de va- lor. In: MORAES, Denis (org.). Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. http://www.bocc.ubi.pt/_esp/ http://www.comuniquese.com.br Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 250 11. As representações midiáticas da presidente Dilma Rousseff no site do jornal El País Carla Montuori Fernandes1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo A pesquisa “As representações midiáticas da presidente Dilma Rousseff no site do jornal El País” tem como obje- tivo analisar a cobertura do primeiro ano do novo mandato presidencial brasileiro que se iniciou em 1º de janeiro de 2011, no site do jornal espanhol El País. 1. Carla Montuori Fernandes é pós-doutora e doutora em Ciências Políticas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- -SP), Mestre em Comunicação e Cultura das Mídias pela Universi- dade Paulista (UNIP). Atua como docente da Universidade Paulista e do Centro Universitário Assunção (UNIFAI). É pesquisadora do grupo de pesquisa em Mídia, Cultura e Memória da Universidade Paulista (UNIP) e do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC-SP.. Email: carla_montuori@ig.com.br Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 251 Pretende-se estudar qual será o destaque da liderança de Dilma Rousseff na mídia internacional e a tendência adotada pelo jornal ao retratar as novas diretrizes políti- cas nos site de significativa credibilidade na Espanha. Serão selecionadas e analisadas as reportagens diárias do espaço internacional, dedicado à presidente Rousseff no site EL- PAÍS.COM. Palavras-chave: mídia internacional; liderança política; Dilma Rousseff; jornalismo. Introdução O mandato presidencial no Brasil, que teve início em 1º de janeiro de 2011, marcou uma nova fase da política brasi- leira na mídia internacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou o cargo após oito anos de governo e indicou como sucessora a recém-eleita presidente Dilma Rousseff (PT), a única capaz de dar continuidade às metas e aos planos de governo deixados pelo ex-presidente. A campanha de Dilma Rousseff contou com o forte apoio e a presença marcante de Lula (PT) no Horário Eleitoral Gra- tuito, nas propagandas e nos comícios. As peças publicitárias da campanha procuravam estabelecer o máximo de sintonia entre Lula e Dilma, causando em alguns momentos a impressão de que não havia diferença entre ambos. Já o adversário direto da presidente Dilma Rousseff (PT) na campanha, o candidato José Serra (PSDB) do partido de oposição ao governo petista, ques- tionava essa suposta sintonia e fomentava as dúvidas em relação ao futuro do país, ao insinuar que a candidata de Lula romperia com a política vigente do sucessor. A polarização da campanha ultrapassou a dimensão da opinião pública e da disputa partidária e ganhou espaço nas Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 252 páginas da mídia internacional, com reportagens que ressal- tavam a rivalidade entre os adversários, apontavam tendências futuras e declaravam sutilmente o favoritismo dos veículos de comunicação nesse embate partidário. Além disso, existia nas matérias publicadas pelo jornalismo internacional uma des- confiança em relação à candidata Dilma (PT) e ao continuís- mo da era promissora iniciada por Lula no cenário mundial. Era o que aparecia em matérias veiculadas pelo corres- pondente internacional da Espanha no Brasil, Juan Arias, no site ELPAÍS.COM, como a publicada com o título O que virá depois de Lula?2, que enaltecia a trajetória presidencial de Lula durante seus oito anos de mandato, com destaque para a posição que o país passou a ocupar entre as maiores potências emergentes do mundo, ao lado da China e da Índia. Na contramão, Arias questionava a candidata indicada por Lula, a petista Dilma Rousseff e associava sua imagem à da ex-guerrilheira e extremista de esquerda. A candidata do Partido dos Trabalhadores recebeu do correspondente Juan Arias severas criticas, ao enfatizar que ela: “É quase um anti-Lula, porque mais que uma improvisadora como ele, é uma gestora, que carece do carisma de seu chefe, que nunca disputou anteriormente eleições, nem para prefeita, e que chegou tarde ao Partido dos Trabalhadores”.3 As reportagens veiculadas no site do jornal El País funcio- navam como indicativo dos obstáculos que a nova presidente 2. Después de Lula ¿qué? Disponível em: . Acesso em: 26 de jan. 2011. 3. “Es casi un anti-Lula, porque más que una iluminada y una impro- visadora como él, es una gestora, que carece del carisma desbor- dador de su jefe, que nunca se había presentado anteriormente a unas elecciones, ni para alcalde, y que llegó tarde al Partido de los Trabajadores”.  http://www.elpais.com/articulo/opinion/Despues/Lula/elpepuopi/20100215elpepiopi_12/Tes http://www.elpais.com/articulo/opinion/Despues/Lula/elpepuopi/20100215elpepiopi_12/Tes http://www.elpais.com/articulo/opinion/Despues/Lula/elpepuopi/20100215elpepiopi_12/Tes Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 253 enfrentaria para conquistar a simpatia da mídia internacional, assim como os desafios para impor um estilo de liderança que permitisse visibilidade a Dilma Rousseff, desassociando sua imagem com a figura bem-sucedida do antecessor, o ex-presidente Lula. A pesquisa realizada pela Agência Ima- gem Corporativa sobre o retrato que os principais jornais do mundo expõem do Brasil mostrou que, no terceiro tri- mestre de 2009, 85% das 783 matérias dispostas no Cader- no de Economia e Política trazia uma imagem positiva e colocava o país como um player internacional.4 Diante de toda a visibilidade midiática de Lula (PT) no cenário exterior, faz-se importante questionar: Como foi a cobertura do primeiro ano de mandato da presidente Dilma Rousseff na imprensa internacional, sobretudo no jornal El País? Que imagem de liderança foi associada à presidente Dilma Rousseff no site do jornal? A importância de estudar a imagem e a liderança do governo de Dilma Rousseff, a partir do jornalEl País está relacionada à busca constante do ex-presidente Lula (PT), principalmente durante seu segundo mandato, para cons- truir uma imagem positiva do Brasil no exterior. Segundo aponta Thais de Mendonça Jorge (2010),5 no exterior, o Brasil passa uma imagem de desenvolvimento e pujança, que, ao se misturar com a figura de um presidente líder e estadista, contribuía para o enfrentamento das situações 4. A pesquisa foi feita em 14 dos principais jornais do mundo, como The Washington Post, Le Monde e China Daily. Disponível em: . Acesso em: 8 jun. 2010. 5. “Política de Comunicação garante sucesso do Brasil no exterior”. Disponível em: . Acesso em: 23 jan. 2011. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 254 mais adversas no cenário internacional e a ampliação das políticas de negociações com os parceiros comerciais ao redor do mundo. A metodologia utilizada será a análise de conteúdo, da pesquisadora Laurence Bardin (2000, p. 95), que estabelece três fases definidas para a análise de conteúdos jornalísticos, conforme segue: pré-análise, exploração do material e in- terpretação dos resultados. A fase de pré-análise refere-se à organização do material propriamente dito e compreende a formulação das hipóteses e dos indicadores que funda- mentam a interpretação final. Os indicadores das reporta- gens serão definidos segundo a evocação do nome de Dil- ma Rousseff no conteúdo jornalístico e as menções ao seu estilo de gestão, considerando os itens de maior repetição. Para interpretação das notícias, veiculadas durante o primeiro ano de mandato de Dilma Rousseff, de janeiro a dezembro de 2011, foram desenvolvidas seis categorias, a saber: “As marcas do passado de Dilma Rousseff”, “O estilo de liderança de Dilma Rousseff”, “A ruptura com a política do antecessor Luiz Inácio Lula da Silva”, “A ba- talha contra a corrupção no governo de Dilma Rousseff”, “Dilma Rousseff e o campo político” e “A imagem da nova presidente Dilma Rousseff no exterior”. Para contribuir com a análise interpretativa das matérias jornalísticas, será utilizado o conceito de valência, com o objetivo de identificar o enquadramento atribuído ao novo presidente e à sua gestão. Desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Opinião Pública – DOXA – do IUPERJ (Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro), o conceito de valência é uma metodologia que tem por finalidade verificar o enfoque dado às reportagens jornalísticas, buscando esclarecer se elas prejudicam ou be- neficiam a imagem de um candidato, governo, ações e es- tratégias governamentais. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 255 A visibilidade de cada ator político aparece em uma metodologia que atribui valência positiva às matérias que reproduzem as promessas dos candidatos e governantes, às declarações ou ataques aos adversários e aos textos que des- tacam resultados favoráveis sobre suas metas e programas de governo; valência negativa às reportagens que reproduzem críticas às ações governamentais e aos ataques da oposição ou de terceiros ao governo; e valência neutra às matérias que apenas relatam ou citam a atuação do governo, sem expressar qualquer avaliação moral, política ou pessoal. Liderança política: reflexões e desafios A preocupação em desmistificar o termo liderança e construir um entendimento ampliado do seu sentido ainda ocupa o cerne das discussões do campo da “prática políti- ca” e do universo acadêmico. Quais são as habilidades da liderança? De que é feito um líder político? No início da Idade Moderna, Nicolau Maquiavel (1469-1527), pensa- dor florentino, escreveu a obra O príncipe, um “clássico das Ciências Políticas”, dedicado ao governador de Florença, Lourenço de Médici. A obra O príncipe (1513) é uma espécie de tratado da política, no qual Maquiavel se propôs a relatar as condições de liderança que um monarca deve desenvolver para conquistar, reinar e manter o poder, resol- vendo o inevitável ciclo de estabilidade e caos. Apesar do distanciamento histórico, recorre-se aos en- sinamentos do autor de Florença para compreender e ana- lisar o cenário político em diversas instâncias: no universo teórico e acadêmico, mas também no campo da prática po- lítica, na qual a manutenção da liderança e do poder são os maiores desafios. No Brasil, a obra de Maquiavel vem sendo utilizada como referencial para analisar a governabilidade, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 256 sobretudo dos que ascendem a cargos políticos majoritá- rios, após o período de redemocratização (1985). O pri- meiro presidente do país, eleito pelo voto direto, Fernando Collor de Melo, que renunciou, dois anos depois da posse, em 29 de dezembro de 1992, por denúncias de tráfico de influência e irregularidades financeiras, foi interpretado às luzes dos conceitos de virtú e fortuna, pelo cientista político Carlos Melo, no livro Collor: o ator e suas circunstâncias.6 Para definir os conceitos de virtú e fortuna, Maquiavel recorreu aos clássicos da Antiguidade, contrapondo-os aos preceitos dominantes da Florença renascentista, que se ba- seava no dogma da predestinação. A fortuna, para os antigos, não era uma força maligna, mas a deusa grega do acaso, do imprescindível, da sorte, uma aliada potencial cuja simpa- tia era importante atrair. Essa deusa, representada por uma mulher, segundo os gregos, possuía os bens que todos de- sejavam e, para atraí-la, era preciso seduzi-la, mostrando-se como um homem de verdadeira virilidade, de inquestioná- vel coragem (SADEK, 2006, p. 12). Sobre virtú e fortuna escreveu Maquiavel: Não ignoro ser crença antiga e atual que a fortuna e Deus governam as coisas deste mundo, e de que nada pode contra isso a sabedoria dos homens [...] Todavia para que não se anule o nosso livre-arbí- trio, eu, admitindo embora que a fortuna seja dona de metade das nossas ações, creio que, ela nos deixa senhores de outra metade ou pouco menos. 6. A obra enfatiza as características pessoais e a personalidade política do ex-presidente Collor de Mello, a escassez ou o excesso de virtú, que impossibilitaram a compreensão da complexidade do sistema político de uma sociedade recém-democratizada. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 257 Pela simbologia, Maquiavel retrata a conquista dos novos governantes que, agraciados pela fortuna, precisam manter- -se capazes de liderar, por meio da virtú, ou seja, da “vir- tude”, que não advém da vida moral ou religiosa, mas da capacidade de atuar conforme as circunstâncias e se adaptar aos acontecimentos da vida política, garantindo a manuten- ção do poder e o respeito dos governados. Decorre daí a atualidade de seus escritos. O ex-presi- dente Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e professor emérito da Universidade de São Paulo, USP, escreveu o prefácio da reedição da obra O príncipe, lançada em agos- to de 2011, na qual fez uma reflexão sobre as origens e os preceitos de Maquiavel. Apesar de conhecedor da obra, os conceitos de Maquiavel também foram empregados para analisar os mandatos do ex-presidente Fernando Henri- que Cardoso (1994-2002), a quem críticos e defensores, em diferentes ocasiões, atribuíram o título de “príncipe de Maquiavel”.7 O governo do sucessor de Fernando Henrique Cardo- so na presidência do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi analisado na perspectiva das teorias de Maquiavel. Artigos acadêmicos interpretaram os oito anos da gestão de Lula (2002-2010) a partir dos conceitos fundamentais de virtú e fortuna, sem os quais o “governante” não garante a li- derança. No texto “Fortuna e virtú na trajetória de Lula”, o pesquisador e historiador Lúcio Flávio Vasconcelos re- construiu a vida política do ex-presidente, que como líder operário fundou o Partido dos Trabalhadores, distanciou-se 7. “Críticos e defensores utilizaram a alcunha de ‘príncipe’ de Ma- quiavel sobre FHC”. In: COSTA, Glauco S. Política e idealiza- ção em Fernando Henrique Cardoso nos anos de 1995 – 2002: o “príncipe” em questão? 2009. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Universidade Federal Fluminense, Niterói. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 258 do Partido Comunista, mobilizou setores intelectualizados da classe média e segmentos de trabalhadores com o sindi- calismo de resultados, capitaneando setores desorganizados da sociedade, com base em uma retórica salvacionista. A fortuna esteve com o ex-presidente Lula durante seu governo. O crescimento econômico que permeou a Amé- rica Latina, mas, sobretudo o Brasil, permitiu que políticas públicas fossem implantadas beneficiando os setores popu- lares. O ex-presidente petista contou com a sorte de um panorama internacional favorável, em função da ascensão dos países emergentes. Para Vasconcelos, Lula soube apro- veitar a fortuna e demonstrou uma força política inigua- lável. A falta de carisma e de traquejo político de Dilma Rousseff era considerada o maior desafio para sua ascensão à presidência.O visível contraste entre o estilo de Dilma Rousseff e o perfil de liderança do ex-presidente Lula era noticiado pela imprensa nacional e internacional como uma desvantagem que a sucessora precisaria superar. Os atributos da dominação carismática e popular eram tidos como elementos imprescindíveis, como a virtú essencial para a conquista da legitimidade política no Brasil. Outro preconceito que se manifestou durante a cam- panha esteve relacionado à suposta falta de habilidade da presidente Dilma Rousseff, para atuar no ambiente político brasileiro, seus fisiologismos e corporativismos. Isso porque, na prática, a base do governo de Rousseff, assim como dos antecessores Collor, Lula e Fernando Henrique, está sob a égide do presidencialismo de coalizão, um acordo que se estabelece entre os partidos (visando a ocupação de cargos no governo) e alianças entre forças políticas para alcançar determinados objetivos. Na eleição de 2010, semelhante ao que ocorre desde 1994, a candidatura presidencial esteve polarizada em torno de dois partidos: PT (Partido dos Trabalhadores) e PSDB Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 259 (Partido da Social Democracia Brasileira). O PMDB não lança candidatos a presidência do Brasil desde 1994 e com- põe as alianças partidárias com base em uma ideologia cir- cunstancial, que se movimenta conforme os interesses e a conjuntura política, no apoio ao candidato com maior pos- sibilidade de vitória nas urnas. Na constituição do governo, os partidos que compuseram as alianças partidárias cobram cargos públicos e ministérios, formando, assim, a aliança de coalizão governante. Ficou a cargo da presidente Dilma Rousseff, antes mes- mo de assumir o mandato presidencial, nomear membros dos diferentes partidos, sobretudo do PMDB, cumprindo a tradicional divisão de poder com os aliados. A trajetória é liderar a corrompida prática de coalizão, que exige con- cessões e habilidades políticas, para gerenciar uma estrutura que já possui bases estáveis de atuação. No poder, Dilma Rousseff terá o desafio de compatibilizar as composições políticas, manter a firmeza diante das pressões partidárias e garantir a governabilidade necessária para comandar o país. Poderá, entretanto, arcar com os custos da política herdada pelos antecessores e se distanciar do estilo audacioso, que demarcou toda a trajetória política que a conduziu à presi- dência do Brasil. Dilma Rousseff e a mídia internacional: uma análise do jornal El País A vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2010 representou a supremacia do discurso da conti- nuidade, mas foi cercada de enorme repercussão na mídia nacional e internacional. O fato de Dilma ser a primeira mulher da história política brasileira a assumir a presidência da República, de nunca ter ocupado um cargo público por Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 260 eleição direta e ter um estilo de liderança totalmente di- vergente de seu antecessor e padrinho político, o ex-presi- dente Luiz Inácio Lula da Silva, suscitou na mídia inúmeras especulações sobre o sucesso político da escolhida por Lula. O reconhecimento e o crescimento do Brasil como grande potência, a imagem positiva de Luiz Inácio Lula da Silva no exterior, com inúmeros prêmios e referências de grandes líderes políticos, faziam com que a imprensa internacional questionasse a suposta “falta de traquejo” da nova presidente, a quem eram atribuídos os títulos de “guerrilheira”, “sisuda”, “sem carisma”, “sombra de Lula” e “rigorosa”. Nos primeiros meses de governo, a imagem da nova pre- sidente ainda estava vinculada às informações do seu passa- do e à força política de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva. As principais definições da presidente Dilma Rousseff vinham acompanhadas dos termos: Ex-guerrilheira; Som- bra de lula; Revolucionária; Ativista de extrema esquerda; Presa política; Grupo guerrilheiro da atual presidente bra- sileira. O quadro de valência refletiu um total de 10 repor- tagens que abordaram o passado de Dilma Rousseff, com quatro menções positivas e seis negativas. Data Jornais / Reportagens Valência 05 de jan. El País – Rousseff pede firmeza ao general e ministro da segurança nacional no Brasil Positiva 08 de jan. El País – Tendências eleitorais na América Latina Negativa 22 de jan. El País – O parlamento europeu encurrala Dilma e Lula Negativa 30 de jan. El País – O governo de Dilma Rousseff investigará as torturas no cárcere Positiva Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 261 31 de jan. El País – Rousseff viaja para a Argentina em sua primeira visita como presidente do Brasil Negativa 09 de mar. El País – O exército no Brasil se opõe à formação de uma comissão de inquérito Negativa 14 de abr. El País – Brasil pretende acabar com o “sigilo eterno” dos documentos reservados Positiva 15 de abr. El País – Documentos sigilosos secretos indicam que o grupo guerrilheiro de Rousseff planejava assassinar os oficiais do exército Negativa 17 de abr. El País – O exército do Brasil ocultou documentos sigilosos que comprometiam Cardoso e Lula Negativa 04 de dez. El País – A guerrilheira Rousseff Positiva Quadro 3.1 – O passado de Dilma Rousseff É possível perceber uma concentração de reportagens com valência negativa no site do jornal espanhol El País, durante os meses de janeiro e abril. Ao retomar o passado de Dilma Rousseff, as reportagens evocavam termos pejo- rativos para retratá-la. As referências ao passado da presidente brasileira estive- ram em pauta nas reportagens veiculadas, sobretudo, duran- te o primeiro semestre do governo. Concomitantemente, o jornal El País ressaltava a personalidade e o estilo próprio de governar de Dilma Rousseff, já que a nova presidente surpreendia a mídia internacional e os líderes políticos com um estilo de governar extremamente diferente de Luiz Iná- cio Lula da Silva. A denominação de ex-guerrilheira, que marcou as reportagens veiculadas no mês de janeiro, foi substituída pelo perfil de austeridade e firmeza da nova presidente. A seguir, os termos que marcaram o estilo de liderança da presidente Rousseff: Mão de ferro; Tecnocrata Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 262 e burocrática; Pragmática; Eficaz e ágil; Exigente e sóbria; Ética e transparente; Governo com “personalidade pró- pria”; Super-presidente; Líder competente. O quadro de valência já indicava uma mudança de cenário, com um total de sete reportagens positivas que enalteciam a liderança de Dilma Rousseff e apenas uma matéria negativa. Data Reportagem Valência 03 de jan. El País – As diferenças entre Lula e Dilma Negativa 18 de jan. El País – Brasil prepara um plano detalha- do para prevenção de desastres Positiva 19 de jan. El País – Dilma impõe seu estilo ao Brasil Positiva 28 de jan. El País – Brasil reconstruirá as casas após as fortes chuvas Positiva 11 de fev. El País – Em apenas 40 dias os sindicatos ameaçam romper com Dilma Positiva 16 de fev. El País – Rousseff enfrenta sua primeira batalha política no Congresso Positiva 17 de fev. El País – Dilma ganha sua primeira grande batalha política no Congresso, contra a oposição e os sindicatos Positiva 16 de out. El País – Super Presidente Dilma: ela manda Positiva Quadro 3.2 – Estilo de liderança de Dilma Rousseff Os primeiros passos de distanciamento da nova presi- dente Dilma Rousseff em relação à política internacional do ex-presidente Lula (PT) também despertaram a atenção do jornal El País. A comparação com o governo Lula (PT) recebia um discreto destaque, porém o distanciamento e as medidas da nova presidente relacionadas à política externa estiveram nas pautas de inúmeras reportagens. As principais frases que definiram essa ruptura foram: Dilma Rousseff se distancia de Lula; Dilma Rousseff se afasta do seu tutor; O Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 263 discurso de Dilma foi um claro indicativo de mudança na política exterior; Saiu da sombra do seu sucessor; Impôs um estilo próprio e diferente de governar; Um novo Brasil; Dilma já não é mais Lula; Mais sensível à problemática de corrupção que o antecessor Lula. As mudanças na conduta da presidente Dilma Rousseff repercutiram de maneira positiva no jornal El País, com um total de oito reportagens com valência positiva, enquanto apenas uma obteve valência negativa. Data Jornais / Reportagens Valência 29 de jan. El País – Rousseff rompe os laços do Brasil com o regime do Irã Positiva 31 de jan. El País – Brasil e Estados Unidos se apro- ximam Positiva 10 de fev. El País – Dilma Rousseff se distancia de Lula Positiva 19 de mar. El País – As discordâncias obscurecem os acordos no encontro entre Obama e Dilma Negativa 22 de mar. El País – O governo de Rousseff pede “um cessar fogo efetivo” horas depois de Obama deixar o país Positiva 25 de mar. El País – Em três meses, Rousseff já não é Lula Positiva 16 de set. El País – O que acontece com o governo de Dilma? Positiva 26 de out. El País– O que acontece com os ministros do Brasil? Positiva 16 de dez. El País – Em consenso popular, Dilma su- pera Lula, no primeiro ano do mandato Positiva Quadro 3.3 – Ruptura com a política do antecessor Lula Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 264 O alto desempenho de Rousseff esteve relacionado à intolerância com a corrupção e as medidas econômicas adotadas para que a economia brasileira continuasse em crescimento. A suposta falta de tolerância do governo de Dilma Rousseff contra as acusações de corrupção dos seis ministros que foram afastados, durante o primeiro ano de mandato, ajudou a consolidar a imagem de uma líder séria, eficaz e, sobretudo, ética. Rousseff passou a ser retratada pelas reportagens do jornal El País como a presidente capaz de solucionar os problemas que afligem o Brasil desde o seu descobrimento: a ilegalidade do sistema político. Se- guem abaixo os principais termos evocados nas reporta- gens: Dilma quer limpar a casa; Presidente intolerante com a corrupção; Operação de limpeza; Rigor e ética na gestão do dinheiro público; Tolerância zero na batalha contra a corrupção; Alérgica a qualquer tipo de ilegalidade. Apesar de as reportagens retratarem desacertos no sis- tema político brasileiro, a imagem de Dilma Rousseff saiu fortalecida, com dezessete reportagens com valência positi- va, seis com valência negativa e três neutras. Data Jornais / Reportagens Valência 21 de jan. El País – Primeira baixa no governo de Dilma Positiva 25 de mai. El País – Lula sai em defesa de Rousseff no primeiro escândalo de sua gestão Negativa 28 de mai. El País – A fiscalização brasileira investiga o patrimônio do “número 2” do governo Negativa 08 de jun. El País – A maldição da Casa Civil Negativa 08 de jun. El País – O homem forte do governo de Dilma se demite por um escândalo de corrupção Negativa 20 de jul. El País – A imprensa torna-se uma ativista contra a corrupção no Brasil Neutra Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 265 27 de jul. El País – O problema de corrupção nunca foi tão grave como agora Negativa 01 de ago. El País – A corrupção coloca Rousseff entre a espada e a parede Positiva 04 de ago. El País – Mal-estar da presidente do Brasil com seu ministro de defesa Positiva 05 de ago. El País – O ministro de defesa do Brasil, Nelson Jobim, sai do governo arrastado por suas declarações polêmicas Positiva 08 de ago. El País – Dilma Rousseff volta a ser Lula da Silva? Negativa 09 de ago. El País – Detido o vice-ministro do turis- mo por corrupção Neutra 15 de ago. El País – O senado no Brasil soma esforços para combater a corrupção Positiva 18 de ago. El País – O machado de Dilma Rousseff toca no osso Positiva 20 de ago. El País – Os empresários do Brasil se unem a Rousseff na batalha contra a cor- rupção política Positiva 07 de set. El País – Começa no Brasil um movimen- to de indignados contra a corrupção Positiva 19 de set. El País – As praias de Copacabana estão cheias de vassouras em protesto contra a corrupção Positiva 29 de set. El País – O machismo persegue Rousseff Positiva 06 de out. El País – Dilma Rousseff quer limitar os “supersalários” públicos Positiva 16 de out. El País – Brasil enfrenta um novo caso de corrupção governamental Positiva 26 de out. El País – O ministro do Esporte do Brasil renuncia acusado de escândalo de corrupção Positiva 27 de out. El País – Os escândalos de corrupção afetam o governo brasileiro Positiva 29 de out. El País – Corrupção no Brasil Positiva Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 266 15 de nov. El País – O governo de Rousseff soma um novo escândalo de corrupção Neutra 21 de nov. El País – 62 juízes no Brasil suspeitos de lucrar com a venda de sentenças Positiva 05 de dez. El País – Rousseff perde o seu ministro do Trabalho acusado de corrupção Positiva Quadro 3.4 - Corrupção no governo Dilma Rousseff A cada novo escândalo de corrupção, as reportagens do jornal El País retratavam a postura firme e ágil de Dilma Rousseff, negociando rapidamente a saída do ministro acu- sado. As reportagens que obtiveram valência negativa ocor- reram, sobretudo, no início do mandato de Rousseff e en- volveram o ex-ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, que, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Sil- va, também esteve envolvido em escândalos de corrupção e foi afastado do cargo. Os demais episódios serviram apenas para reforçar a imagem da liderança austera de Rousseff. O questionamento da liderança de Dilma Rousseff du- rante o período de campanha e logo após a sua eleição desenvolvia-se em torno da governabilidade da primeira presidente mulher do Brasil. Apesar de contar com total apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e manter firme a aliança com o PMDB, construindo uma forte base governista, a falta de traquejo de Rousseff era vista com o maior desafio para a política de coalizão, que exige maior capacidade de articulação política. Para descrever os passos da governabilidade da presidente brasileira Rousseff, du- rante o primeiro ano do mandato, as reportagens utilizaram os seguintes termos: Aproximação com a oposição (PSDB); Líder pragmática; Caráter forte e objetivo; Figura austera; Capacidade de driblar barreira; Posição firme e atuação rá- pida; Dificuldade para governar. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 267 A atuação de Dilma Rousseff no campo político per- mitiu a construção de treze reportagens valência positiva e cinco com valência negativa. Data Jornais / Reportagens Valência 03 de jan. El País – Rousseff arranca seu mandato com uma equipe econômica continuísta Positiva 03 de fev. El País – Governo tem maioria esmagadora no Congresso Positiva 03 de jan. El País – Rousseff planeja privatizar os no- vos aeroportos no Brasil Negativa 25 de mai. El País – O Congresso no Brasil aprova anistia para os destruidores da floresta amazônica Negativa 25 de mai. El País – Rousseff mobiliza o exército em função do aumento de 27% da destruição da Amazônia Negativa 08 de jun. El País – Rousseff solta as amarras de Lula Positiva 11 de jun. El País – Dilma aposta em um governo de mulheres forte e gestoras Positiva 13 de jun. El País – Por carta, Rousseff elogia o traba- lho de Cardoso no Brasil Positiva 28 de jun. El País – Dilma vence um tabu e inicia a apro- ximação com os sociais-democratas no Brasil Positiva 06 de jul. El País – Dilma perde um segundo ministro por corrupção Positiva 07 de jul. El País – Por que os brasileiros não reagem? Positiva 13 de jul. El País – A presidente Rousseff anuncia a concessão de 7 milhões de euros de crédito para pequenos agricultores Positiva 16 de jul. El País – Por que os brasileiros gostam de Dilma? Positiva 24 de ago. El País – E agora, o que fará Lula? Positiva 28 de ago. El País – A imprensa acusa Dirceu de cons- pirar contra Rousseff Negativa Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 268 31 de ago. El País – O principal líder da oposição bra- sileira solicita um pacto de governabilidade com Rousseff Positiva 06 de set. El País – Dilma Rousseff retoma um proje- to do PT para controlar a mídia Negativa 30 de nov. El País – A presidente Dilma Rousseff prepara para janeiro uma remodelação governamental Positiva Quadro 3.5 As marcas da governabilidade de Dilma Rousseff As dificuldades que Dilma Rousseff enfrentou durante os escândalos de corrupção, envolvendo ministros de seu partido e das bases aliadas, associada à sua postura firme e ágil diante das denúncias, repercutiram em reportagens que evocavam o possível enfraquecimento do governo. Por ou- tro lado, a conduta de Rousseff no campo político, sobretu- do em relação à aproximação com os partidos de oposição, reforçou a imagem austera de liderança da nova presidente, conforme segue descrição das reportagens. Em relação a visibilidade no exterior, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acumulou durante o período em que esteve na presidência do Brasil (2002-2010) inúme- ros prêmios e reconhecimentos internacionais. O perfil carismático e articulador do ex-presidente petista era fre- quentemente elogiado pela mídia e por líderes políticos de diversos países. A falta de carisma da presidente Dilma Rousseff, sobretudo no trato com a imprensa, gerou inú- meros questionamentos durante o período de sucessão. Entretanto, em apenas um ano de mandato, a presiden- te Dilma Rousseff foi retratada de maneira elogiosa e, de maneira semelhante ao sucessor, recebeu reconhecimento como grande líder mundial, a considerar: Dilma está en- tre as 100 mulheres mais influentes do mundo; Primeira mulher a Assembleia Geral da ONU. Em relação ao reco- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 269 nhecimento da presidente Dilma Rousseff no exterior foi veiculada quatro reportagens com valência positiva. Data Jornais / Reportagens Valência 21 de abr. El País – Os 100 mais influentes em 2011 Positiva 21 de set. El País – Rousseff abrindo a Assembléia Positiva 06 de nov. El País – O G20 deixa sozinha a Europa diante da crise Positiva 21 de nov. El País – O clube das donas do universo Positiva Quadro 3.6 – Reconhecimento da imagem de Dilma Rousseff no exterior O jornal El País reconheceu a figura de Dilma Rousseff como grande líder, conferindo visibilidade aos discursos e pro- jeções da presidente brasileira nos encontros mundiais. Desta forma, a presidente Dilma Rousseff saiu dos holofotes negati- vos da imprensa e terminou o primeiro ano do mandato com reconhecida liderança no cenário internacional. Considerações Finais Ao assumir a presidência do Brasil, Dilma Rousseff pos- suía consideráveis desafios, entre os quais estava a consoli- dação de um estilo de liderança próprio, que desvinculasse sua imagem do ex-presidente Lula, e vencer a descrimina- ção midiática e os estereótipos recorrentes nas relações en- tre os meios de comunicação de massa e a figura da mulher na política. No primeiro ano de mandato, a presidente Dilma Rous- seff iniciou um caminho de aparente ruptura com a condu- ta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ponto mais Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 270 crítico da gestão de Lula, a inércia diante dos escândalos de corrupção dos ministros e assessores, foi conduzido por Dilma Rousseff de forma intolerante e ágil. A presidente brasileira terminou o primeiro ano do governo com seis ministros afastados por suspeitas de corrupção. O possível engajamento de Dilma Rousseff para eliminar a corrupção no gabinete ministerial permitiu que a presidente, favorecida pelas representações midiáticas, construísse a imagem de líder racional, em constante luta para se livrar das amarras de políticos inescrupulosos. Até o estereótipo de gênero, associado à conduta rigorosa e rude da presidente, ajudou a compor a imagem de que é mais difícil corromper as mulheres do que os homens, no governo de Rousseff. No cenário internacional, Dilma Rousseff é conside- rada uma importante liderança, que soube conduzir o país com diplomacia. Com o apoio da propaganda oficial, ao impor seu modelo de gestão, Dilma Rousseff incorporou um estilo de liderança técnico, rigoroso e ético, capaz de atrair a atenção dos meios de comunicação, conquistando expressivos índices de popularidade. O ex-presidente Lula se apoiou na imagem de líder ca- rismático para garantir o prestígio no exterior, já a sucesso- ra Dilma Rousseff está apoiada na imagem da líder buro- crático-legal. Analisando as reportagens do jornal espanhol El País foi possível perceber uma mitificação em torno da imagem da presidente brasileira, enquanto Dilma Rousseff consolidava os primeiros meses do mandato. Entre suas realizações, segundo o jornal El País, Rousseff abriu caminho para o debate com a oposição, negociou com governadores de partidos oponentes e reconheceu os méritos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem mantém uma relação harmoniosa. Terminou o primeiro ano do seu mandato com 71% de aprovação po- pular, índices maiores que os conquistados pelos ex-presi- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 271 dentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, durante o mesmo período. Para os próximos três anos, a presidente Dilma Rousseff precisará manter a postura de líder audaciosa, para que consiga conservar a deferência da imprensa e a admiração do povo. Referências BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 2000. LIMA, Venício A. de. Mídia: teoria e política. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001. MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Porto Alegre: L&PM, 2006. MELO, Carlos. Collor: o ator e suas circunstâncias. São Paulo: Editora Novo Conceito, 2007. SADEK, Maria Tereza. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual sem virtú. In: WEFFORT, Franciso (Org). Os Clássicos da Política. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006. VASCONCELOS, Lúcio Flávio. Fortuna e Virtú na tra- jetória de Lula. Disponível em:. Acesso em: 12 de ago. 2011. WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. 7. ed. Lisboa: Presença, 2002. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 272 12. Revista Realidade – marcas de um sucesso editorial nos anos 1966/1967 Talita Franco de Godoy1 Bruno César dos Santos2 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo Nas páginas da história da imprensa brasileira, encontra- -se a Revista Realidade - produto editorial lançado em 1966 com marca inicial de 240 mil exemplares. Em apenas 06 meses de vida, foram vendidos mais de 470 mil exem- plares. A partir de trechos e excertos extraídos de 04 edi- ções (nº 02 e 07, publicados em 1966; 10 e 18, lançados 1. Talita Franco de Godoy (UNIP), mestranda do Programa de Pós- -Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP – São Paulo, Brasil. Membro do grupo de pesquisa “Mídia, Cultura e Memória”, coordenado pelo Prof. Dr. Antonio Adami. E-mail: talitafgodoy@gmail.com 2. Bruno César dos Santos (UNIP), mestrando do Programa de Pós- -Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP – São Paulo, Brasil. Membro do grupo de pesquisa “Moda, comu- nicação e cultura”, coordenado pela Profa. Dra. Solange Wajnman. E-mail: brcesar01@gmail.com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 273 em 1967), este artigo visa descrever alguns dos fatores que contribuíram para o seu sucesso em tal momento histórico, considerando o estilo de escrita e composição textual das reportagens; a integração das fotografias com os textos ver- bais; o impacto visual das capas e a conjunção de elementos pontuais, os quais foram determinantes para que a revista Realidade fizesse a diferença em seu tempo e deixasse a sua marca no mercado editorial brasileiro. Palavras-chave: jornalismo; produto editorial; revista Re- alidade. Introdução Era para ser uma revista dominical3, distribuída nos maiores jornais do país, mas o projeto não deu certo. Por outro lado, já havia uma estrutura pronta para desenvolver um novo produto no mercado editorial e seu idealizador não queria desistir. Resolveu mudar a linha imaginada an- tes e criar uma revista mensal, de assuntos gerais, para um público seleto, abordando temas diferenciados. E, seguindo a regra, saiu a pesquisar seu público alvo. Cotta (2005) afirma que, antes de colocar os repórteres na apuração dos fatos, qualquer publicação deve previa- mente “definir o público-alvo; estabelecer a linha edito- rial; criar o projeto gráfico (formato e estilo); estabelecer o cronograma de produção” (COTTA, 2004, p.84). Por público-alvo, o autor define que “é o público ao qual a publicação ou programa se destina ou tem interesse em 3. CIVITA, Roberto. Uma revista contra os tabus. Disponível em Acesso em 05/06/2011. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 274 atrair. Estabelecendo-se o perfil deste público (através das pesquisas ou das sondagens de opinião), conhecem-se as preferências do leitor em potencial” (COTTA, 2004, p.84). Quando o jornalista Roberto Civita decidiu criar o novo produto, foi elaborado o exemplar número zero da Revista Realidade, com a finalidade de testar a nova publicação e conhecer melhor aquele que seria o seu público leitor. Na capa, trazia três chamadas de suas principais reportagens, com as respectivas fotografias dividindo o espaço com as seguintes frases: “Homens voam sem motor; um Brasil mal educado; a vida antes de nascer” (MARÃO; RIBEIRO, 2006, p. 26). A tipologia usada para dar nome à revista foi mantida nas edi- ções seguintes, porém o estilo da capa já na primeira edição foi definido de outra forma. Levava apenas uma fotografia, em tamanho inteiro, enquanto a capa da edição número zero trazia três fotos distribuídas ao redor das chamadas. Conforme relata Faro (1999), a edição experimental nú- mero zero, divulgada em março de 1966, teve sua amostra- gem analisada pelo Instituto de Estudos Sociais e Econômi- cos (INESE). De acordo com a pesquisa, o público leitor da Realidade era considerado jovem (18 a 44 anos), de instrução escolar acima do segundo grau, classe econômica A e B. A revista seria mensal, informativa sem generalizações, Standard (tamanho grande), com 150 páginas em média por edição. Estimava-se que para cada exemplar impresso, havia 03 leitores, o que eleva o número no segundo semestre (a par- tir de outubro, 1966) para aproximadamente 1,5 milhão de leitores por tiragem mensal: “A recepção foi entusiástica: em apenas seis meses, Realidade alcançou a maior tiragem do país, com 475.000 exemplares e mais de um milhão e meio de leitores por edição” (Revista Realidade, Editorial da Edi- ção 11, 1967). Para um país que tinha muitos analfabetos na- quele momento histórico, tal volume de leitores pode indi- car a repercussão que a publicação da Editora Abril alcançou. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 275 Uma das marcas da Realidade consistia em abordar as- suntos com temas polêmicos, tabus, questionar preconcei- tos sob seu ponto de vista, levando o leitor a uma reflexão incomum para a época. Outros temas abordados se referiam à cultura, sociedade, comportamento, religião, política, pro- blemas brasileiros e internacionais, entre outros. Seu discurso procurava apontar aspectos de um Brasil dificilmente encontrado em outras publicações, abordando velhos problemas de ordem nacional, sob uma ótica dife- renciada pelo tom questionador. Seu estilo estabelecia um diálogo diferenciado entre leitor e revista: “Nela aflorou uma produção jornalística que deu à reportagem uma di- mensão reveladora além dos padrões da objetividade infor- mativa” (FARO, 1999, p. 19). As páginas e a revista deveriam ser elaboradas dentro do formato industrial já existente, todavia apresentando seus diferenciais como o fato da revista Realidade ser mensal, com circulação em todo país; tempo de reportagem varia- do (acima da média) podendo se estender por semanas ou até meses para sua elaboração; uso de linguagem literária para algumas das suas reportagens; inovação editorial nos temas abordados, na exposição dos fatos e nas imagens que apresentava. Suas concorrentes diretas eram apenas duas revistas se- manais com alcance em território nacional: O Cruzeiro e Manchete, ambas com anos a mais de existência. O foco de ambas era dar mais importância à imagem do que ao texto, apenas uma síntese dos fatos. Isto talvez seja fruto de uma sociedade que tinha baixo grau de habilidades de leitura, além de existir uma prática editorial consolidada de revistas de fotonovelas, cujo veículo principal de comunicação era a imagem em si. Esta construção textual da revista Reali- dade mostra que o editorial saía na contramão das demais publicações brasileiras. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 276 Por ser mensal, a Realidade precisaria de uma nova estraté- gia de venda e, ao mesmo tempo de reverberação e conheci- mento do público leitor. As revistas semanais sempre estariam à frente da revista mensal na cobertura de fatos inéditos. A pre- ocupação com a atualidade é comum no meio jornalístico, es- pecialmente nos anos 1960, em que não havia tecnologia ade- quada para correr atrás de uma notícia de forma tão imediata, e, sendo mensal, o foco deveria ser algo que as revistas semanais não cobririam. Por exemplo, em caso de falecimento de uma personalidade ou algum acontecimento político inesperado, a atenção das concorrentes seria no fato em si, enquanto Reali- dade encontraria um tema relacionado ao fato, que trataria em profundidade. A criatividade na pauta faria a diferença: De alguma forma, Realidade tinha o campo aberto em quase todas as áreas, graças ao imediatismo dos jornais e revistas semanais. A periodicidade men- sal, que seria um obstáculo, acabou sendo, à medida que a revista se ajustava, um trunfo, em grande par- te responsável pelo sucesso nas bancas (RIBEIRO; MARÃO, 2006, p. 29). Um exemplo que se aponta como texto diferenciado é a experiência vivida por seus repórteres em campo, quando na edição especial nº 18 José Hamilton Ribeiro encontra emprego numa fábrica e passa a ser um operário, podendo em três semanas transcrever suas impressões sobre o dia a dia daqueles profissionais. Era uma forma criativa de trazer a discussão sobre a classe operária no país, sem que hou- vesse apenas textos informativos, que reproduzissem ver- sões oficiais de um fato. Aqui, percebe-se a possibilidade do jornalista trazer outras percepções que fugissem da fala oficializada ou neutra. Havia a preocupação com o texto das reportagens em tornar uma leitura que poderia ter um tema não muito in- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 277 teressante em uma leitura que prendesse a atenção do leitor. Isso era alcançado por fazer do caso particular um assunto geral e mesmo que o repórter acompanhasse determinado personagem por vários dias, poderia escrever como se to- dos os fatos tivessem acontecido em apenas 24 horas, o que dava uma dinâmica atraente ao leitor. Por ser distribuída em todo país, a escolha dos lo- cais onde as reportagens seriam desenvolvidas também deveria abranger diversas regiões numa mesma edição. Da mesma forma, a escolha dos personagens também era estratégica, dando preferência às pessoas comuns, com quem o leitor pudesse se identificar. Em alguns casos, foram entrevistas celebridades que não poderiam faltar na revista, pela evidência de alguns fatos que tais pessoas evocavam. Um exemplo em especial foi o caso da edição nº 02, cujas páginas trouxeram Roberto Carlos, a partir da des- crição do histórico de um determinado movimento musi- cal: “Não se fazia uma reportagem sobre ou com Rober- to Carlos, mas uma matéria sobre a tendência musical do iê-iê-iê, que é como chamavam as músicas brasileiras da jovem-guarda, influenciadas pelo rock” (RIBEIRO; MA- RÃO, 2006, p. 31). Um exemplo de quebra de tabu, como inovação edi- torial, está na edição nº 10: uma mulher, fotografada por Claudia Andujar, no momento em que amamenta seu filho. Trata-se de uma prostituta que pretende deixar a vida que levava para se dedicar ao filho. Tal imagem fez com que alguns manifestassem sua indignação por meio de cartas publicadas na seção “cartas do leitor”, pois aquela foto dava mau exemplo à moças de família. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 278 O amor mais amor - Ensaio Fotográfico da Edição Especial Nº 10 da Revista Realidade, Janeiro, 1966 Por tradição, as moças eram preparadas para o casamen- to e para assumir a vida do lar, como lembra Mendonça: “na mentalidade dos anos dourados, predominava, especial- mente na classe média, a ideia de que as mulheres nasciam para ser donas-de-casa, esposas e mães. Davam enorme importância ao casamento” (MENDONÇA, 2007, P. 90). Os conselhos de uma mãe para a sua filha incluíam essas noções de conduta. Tanto a imagem apresentada na fotografia, como a le- genda – “Esta mulher é uma prostituta. Pelo filho, quer dei- xar de ser” mostram a mulher no papel de mãe, embora sendo uma prostituta. Ela entra na seção Ensaio Fotográ- fico, numa expressão de amor materno, ao lado de outras mães, aparentemente consideradas convencionais. Segundo as descrições apresentadas por Mendonça (2007, p. 90), a moça de família recebia lições básicas de economia domés- tica, bordado, costura, etiqueta e culinária. Estes eram os valores da época. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 279 Escrita literária Quando a revista Realidade passou a ser descrita por estudiosos e acadêmicos, seu estilo logo foi identificado como “jornalismo literário”. E de fato os seus repórteres liam as produções dos americanos que faziam o “new jornalism4”: “Quase todos tinham lido Truman Capote, Gay Talese ou Tom Wolf, claro. Mas, que eu saiba, ninguém sentava em frente da Studio 445 pensando: ‘agora vou fazer new jorna- lism’. Era pura intuição” (RIBEIRO; MARÃO, 2006, p. 32). O uso dos recursos literários dava um toque inovador, em- bora já exercitados anteriormente por escritores que atuavam como jornalistas no passado. Nenhum outro veículo utilizou este recurso de forma tão profunda como a revista Realidade. A técnica permitia ao repórter descrever detalhes - como uma sombra, um brilho no olhar, um objeto qualquer sobre a mesa, ou ainda responder mesmo sem perguntar - toda emoção de um sentimento percebido por expressões corporais ou pela fala dos entrevistados que também eram observados atentamente por pessoas analisando pessoas, ou seja, com um toque de hu- manidade incomum nos textos jornalísticos. Para tantos detalhamentos, nada de pressa. Cada reporta- gem tinha o tempo necessário até o repórter cumprir a missão de captar imagens, fatos e sentimentos, desenvolvendo frases 4. O termo é denominado pelo jornalista Tom Wolfe em seu livro “Ra- dical chique e o novo jornalismo” (São Paulo: Companhia das Letras, 2005). A prática do uso da técnica do Realismo já era usada antes da década de 1960 mesmo no Brasil, por escritores como Lima Barreto, Euclides da Cunha e João do Rio, para citar alguns. Foi a partir da revista Realidade que o termo Jornalismo Literário ganhou esta no- menclatura por aqui, numa livre interpretação de New Journalism. 5. Marca atribuída a uma antiga máquina de datilografia, usada nas redações de jornais e revistas nos anos 1960. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 280 que compunham histórias reais narradas de forma semelhante a uma ficção, de tão bem descritas que eram. A edição nº 07, analisada para este estudo, encontra logo em sua capa um dos mais significativos exemplos de tex- to, ao estilo literário, publicados na revista Realidade. Nela, o repórter Roberto Freire conta com riqueza de detalhes seu encontro com o homem que parece um diplomata – provoca – mas não é. Bem ao contrário do que a profissão citada sugere, ou seja, uma pessoa séria, de olhar sóbrio, voz calma e personalidade tranquila; no título da reportagem vem a charada: “Este homem é um palhaço”. A fotografia de Lew Parrela contraria a afirmação, pois revela um aparentemente distinto senhor, usando terno e gravata, além dos cabelos alinhadamente penteados confor- me seu estilo e sua época. Além disso, sua seriedade e olhos fixos, sérios e precisos, acabam imprimindo uma ironia, ao ponto do leitor se chocar com a imagem, dando risada ao que é visto, ou ainda questionando-se “qual é a graça da brincadeira?”. Texto inteligente – marca dos repórteres da Revista Realidade. Edição Nº 07, outubro, 1966. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 281 Mas, ao virar a página, pois a curiosidade provocada não permite ao leitor que prossiga com a leitura sem antes ve- rificar o que vem a seguir, conclui-se que, de fato, o prota- gonista é sim um palhaço por profissão – Waldemar Seyssel, conhecido em todo Brasil nos anos 1950 e 1960 como Arrelia, porém, usando desta vez, a vestimenta do seu outro eu, e não como retratado na chamada de capa. Além do texto, a imagem se integra à reportagem, re- velando os passos da produção de maquiagem, onde aos poucos Waldemar dá espaço à Arrelia: uma sequencia de quatro fotos mostra como o palhaço evolui transformando o homem sério, com apenas um nariz vermelho, no perso- nagem alegre, de cara pintada e cabelos em pé. Nessa transformação, o repórter conclui que Waldemar Sayssel e Arrelia são dois homens bastante diferentes. “Quem convive com ambos, espanta-se com essas diferenças. E ape- nas Waldemar gosta de falar nelas. Arrelia prefere rir de tudo”. Compara Waldemar com a matéria e Arrelia com o espírito, ambos habitando na mesma pessoa. Aliás, Waldemar trata se- paradamente os dois ressaltando as diferenças. Texto leve, sensível, humano. Revista Realidade, Edição Nº 07, outubro, 1966. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 282 O texto revela a atitude do palhaço quando seu intérprete recebeu a notícia da morte de sua mãe, já caracterizado, pron- to para o próximo show e descreve sua reação inesperada. O texto conduz o leitor a uma volta ao passado - conta como foi a primeira apresentação do palhaço ainda sem nome, com- pletamente sem preparação artística. Sua família literalmente o arremessou ao palco sem o seu consentimento. Um susto que deu certo, e aos poucos Arrelia foi tomando a forma definitiva, depois de alguns experimentos de maquiagem e figurino. A história em si desperta interesse por ser incomum, mas é na escolha dos termos, na pontuação, e com as fotografias selecionadas que ela ganha ainda mais valor. O Palhaço Arrelia disputou a capa da edição nº 07 com outras duas fotografias: a atriz italiana Claudia Cardinalle, que desde a edição número dois estava cotada para a capa seguinte; e a foto de um pôr do sol, feita por David Drew Zingg para a seção Ensaio Fotográfico. Quando o Sol de Zigg estava aprovado, surge na redação a foto do Palhaço Arrelia, três dias antes do fechamento da revista. E assim foi impresso o rosto colorido e alegre do palhaço, 485.700 vezes naquele mês, o dobro das primeiras tiragens, repre- sentando a aceitação do produto no mercado editorial. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 283 O interesse do leitor e a aquisição do produto, fazendo dele o maior veículo em vendas no país, indica sua aceita- ção. Esse ritual de consumo legitima o discurso da revista Realidade. Conforme Martin-Barbero (2009), a relação das mediações com a recepção passa pelos meios que afetam diretamente o público: sua classe social, etnia, escola, igreja, relações pessoais com amigos e familiares, gênero; grupos que estão, no momento do consumo midiático, passando por uma nova modelagem proposta pela cultura da mídia. Em outras palavras: o que a revista divulgava tinha grande aceitação pelo público leitor. Este é o maior indício de que ela estava no caminho certo, em conformidade com o que o público esperava de uma revista para o seu tempo. Um dos exemplos do pioneirismo da revista Realidade foi a edição nº 10, que trazia ao público o resultado de uma pesquisa que tabulou mais de cem mil respostas dadas por 1200 mulheres entrevistadas com a finalidade de retratarem o perfil da mulher brasileira do final dos anos 1960. Os assuntos abordados nessa edição especial eram varia- dos, indo desde religião e política até mercado de trabalho, passando pelo corpo feminino, a maternidade, o parto e questões como o que elas pensam e como agem frente às decorrentes mudanças do seu tempo. Apesar de ter conse- guido um feito inédito no Brasil ao traçar o mapa da situa- ção feminina da época, não agradou a todos os seus leitores e nem ao governo. A Edição foi acusada pelo moralismo e conservadorismo de uma parte da sociedade, que a rejeitou por publicar - segundo o seu julgamento - conteúdo con- siderado abusivo. Contudo, a maioria dos leitores continu- ava interessada no posicionamento da revista, como se nota pela seção de cartas do leitor. A capa foi estrategicamente elaborada com a imagem de uma mulher jovem, de traços leves, numa foto em que ela é vista, ou evidenciada, por uma lente de aumento, dando Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 284 a ideia de ampliação, representando a mulher em destaque. Abaixo, o tema da edição especial: “A mulher brasileira, hoje”. Tanto o título da revista, como a chamada da edição, surgem destacados na cor amarela. A capa tem a cor azul e todas as chamadas da lateral esquerda estão em branco. Além disso, deve-se destacar que o uso de 03 cores dá um ar leve à capa, sem poluição visual, enfatizando o seu objetivo, ou seja, sem quaisquer distrações. Do lado es- querdo, os destaques, na seguinte ordem, como ilustrado na página 09 deste artigo: Pesquisa – o que elas pensam e querem; Confissões de uma moça livre; Ciência: o corpo feminino; Eu me orgulho de ser mãe solteira; Por que a mulher é superior; Assista a um parto até o fim. Capa da Edição Especial Nº 10, janeiro de 1967. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 285 Além de dedicar uma edição inteira a um tema espe- cífico, a revista Realidade inovou na editoração, pois em revistas de assuntos gerais não era comum a divulgação dos resultados de pesquisas, nem imagens com cenas de um parto, gesto ousado para a época. A escolha dos assuntos também pode ser interpretada como provocação para a mentalidade e os conceitos de comportamentos considerados adequados à época. Maia (1986) analisa a dificuldade do pioneirismo da Realidade em ser a primeira revista no país a tratar assuntos tabus: “logo na décima edição ficou claro que fazer jornalismo abordando temas de comportamento em 1967 era mais que um desafio, era um confronto com o conservadorismo da sociedade brasileira”. E não agradou a todos, embora a revista tenha mudado a cara do Brasil, por isso mesmo estabelecendo a “geração Re- alidade”, como ficou conhecida nos anos 70. A autora avalia seus efeitos da seguinte forma: “O Brasil de 60 é irreconhe- cível hoje (anos 80), deu um salto em abertura intelectual, em abertura de informações” (MAIA, 1986). A segunda edição especial que apresentou o resultado de uma pesquisa, foi a nº 18, que entrevistou os jovens, a fim de descobrir como eles viviam, o que faziam, o que sonhavam. Da experiência relatam suas impressões, e des- mistificam a juventude, taxada por alguns como irreverente. O que o senso comum não considerava, era a realidade sobre jovens que trabalham no campo, ou os que vivem no interior, seu contraste com os que vivem na capital ou os que têm estudo e estão se preparando para num futuro breve assumirem cargos de liderança em grandes empresas. O Editorial apresenta uma prévia do conteúdo da edição especial, indicando que foram feitas duas pesquisas. Uma delas, por encarte na Edição nº 16 (mês de julho), onde o leitor destacava, preenchia e envia as respostas por correio. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 286 Para elaboração da segunda pesquisa, foi contratada uma empresa especializada6 garantindo a qualidade estatística, que, em comparação com a aplicada pela revista, apresenta- ram resultados semelhantes. Ao todo, foram mais de 20 mil respostas7, além de mui- tas cartas que chegavam, contendo sugestões, comentários, ideias e críticas Além das pesquisas quantitativas, Realidade enviou a campo seus repórteres: ...nossos repórteres foram ao encontro dos jovens em todos os campos de atividade: a fábrica, o es- critório, o campo, a universidade, a administração de empresas. Fomos ver como vivem os jovens do interior. Procuramos os que estão fazendo coisas importantes em política, ciência, arte, negócios. E também aqueles que, não podendo entrar nas uni- versidades, buscam e encontram outras carreiras e oportunidades de trabalho (REVISTA REALIDA- DE, Editorial da Edição Nº 18, 1967). No sumário, os temas selecionados para a Edição es- pecial: a moda, os costumes, as tribos e suas brigas. Com- portamento frente à geração anterior, mercado de trabalho, universidades. Ainda na página 05, é indicada a tiragem de 465.900 exemplares para esta edição. 6. Conforme indicado na página 18 da Edição especial Nº 18, foi contratada a empresa Marplan, em São Paulo e rio de Janeiro, ou- vindo mais de mil rapazes e moças, entre 15 e 24 anos, cem pessoas de cada idade, sendo: 100 da classe rica; 400 da classe média; 500 da classe pobre. Mais da metade (61%) são estudantes; 34% são traba- lhadores. Apenas 2% tem diploma universitário. 7. Dentre os mais de 20 mil questionários devolvidos, foram selecionadas aleatoriamente mil cartas, divididas de forma proporcional sexo e idade entre leitores de São Paulo, Rio de Janeiro e outros Estados. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 287 Capa da Edição Especial Nº18, setembro de 1967. O questionário era composto por 09 perguntas iniciais referentes ao próprio leitor, perguntando idade, sexo, estado civil, cidade e Estado de residência. Escolaridade, trabalho, e neste caso a renda. Após, mais 19 perguntas específicas sobre a opinião do leitor: o que pensa sobre o seu futuro; problemas brasileiros; fé e religião; relacionamento com os pais e a família; democracia; emprego; a mulher no mercado de trabalho; casamento; fidelidade; situação socioeconômi- ca do país e por último qual a fonte de informação que o leitor mais utiliza para saber sobre o país e o mundo. As respostas foram apresentadas em forma de tabelas, com as opções de respostas e suas respectivas porcentagens de escolhas, em duas colunas distinguindo rapazes e moças. Além das porcentagens, também houve trechos de cartas Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 288 dos leitores expressando opiniões individuais intercalando com os comentários dos editores: Os descontentes, pouco mais de um décimo, são os que mais escrevem. Tem uma reclamação princi- pal, bem representada por Marilena do Nascimento Viana, do Rio, de 22 anos, solteira, que trabalha para ajudar a mãe a sustentar os três irmãos me- nores: - Faltou-me algo indispensável para que eu estu- dasse: dinheiro. Parece mentira, mas o Brasil ainda é um país onde se deixa de estudar por falta de dinheiro [...] Não se fale nos estudos superiores. As portas estão fechadas, completamente fechadas ao estudante que não tenha dinheiro. Os jovens estão, em boa parte, descontentes também em relação aos professores, e alguns deles chegam a es- tar descontentes com os próprios estudantes. Um deles: - Não há motivação alguma; há uma indiferença dos professores que é uma coisa bárbara. E é incrível o nú- mero de rapazes e moças que entram na universidade apenas para arranjar casamento e passar o tempo (RE- VISTA REALIDADE, Edição Nº 18, 1967, p. 19). Na página 31, Realidade apresenta o “mundo deles”, com fotos de Salomão Scilar, que enriquecem o texto de Mylton Severino da Silva pois revela as cores e formas da moda, como a minissaia xadrez vermelha com bota branca de cano longo; atitudes originais e ousadas, como a moça que aparece ao volante de um carro; acessórios como um colar que tem por pingente um cachimbo ou o moço que olha as fotografias de Roberto Carlos que estão no teto do seu quarto. O próprio autor da reportagem conceitua este mundo especifico dos jovens da atualidade: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 289 Camisas de cores berrantes, calças apertadas, sapatos cheios de fivelas, joias extravagantes, bonés esqui- sitos, cabelos compridos, saias curtas, um ar displi- cente diante de tudo: nossas grandes cidades veem aumentar a cada dia esse tipo de jovem (REVISTA REALIDADE, Edição Nº 18, 1967, p. 31). E pergunta, na página 33: “O que podemos oferecer- -lhes hoje?” Quem responde, primeiramente, é a soció- loga Marialice Forachi, que ressalta a importância que a publicidade dá ao jovem como consumidor. A reportagem segue, ressaltando que eles querem ser “apenas originais”; “nem adultos, nem crianças: jovem”, que segundo o psicó- logo Haim Grunspum, significa fazer da displicência e da indiferença ao mundo, uma forma de “atitude filosófica”, mostrando assim sua personalidade. Ele explica que o jo- vem procura se espelhar no que está fora do Brasil, pois o país ainda não tem “condições culturais para impor e criar suas próprias modas” (REVISTA REALIDADE, Edição Nº 18, 1967, p. 36). Ao concluir, o autor questiona “o que esperamos deles”? A socióloga Forachi explica o uso das roupas coloridas e atitudes chocantes ou esquisitas, como uma forma de “reconhecimento dos jovens de que ainda não representam grande coisa como grupo de influências” (REVISTA REALIDADE, Edição Nº 18, 1967, p.37). Se- gundo analisa a socióloga, a eles, falta perspectiva. A jornalista e psicanalista Carmem da Silva, contribuiu com suas análises, desta vez sobre “conflito de gerações”. As ilustra- ções de Milton Luz dão um tom de humor ao estilo caricato. Já no início aponta que desde quando o homem passou a se organizar em tribos uma geração reclama o mesmo da outra: são os quadrados versus os irresponsáveis. E por falar em tribo, Silva (REVISTA REALIDADE, Edição Nº 18, 1967, p. 46) conta que no início os pais tomavam as mulheres para seu uso Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 290 exclusivo. Enquanto os filhos eram pequenos não havia pro- blema, mas logo cresciam e queriam o desfrutar dos mes- mos prazeres, chegando ao ponto de matar o pai para her- dar as viúvas. Exemplo radical, mas verídico nas primeiras organizações tribais. Mesmo com o passar do tempo, com evoluções em diversas áreas, o conflito de gerações prevale- ce. E ao melhor estilo da autora, como emblema da revista Realidade, ela toca no tema do falso moralismo: Quanto aos conceitos de moral, razão, justiça, so- lidariedade, amor – que sempre aparecem nos ser- mões dos representantes da sociedade adulta – os moços tomam-nos absolutamente a sério. De re- pente descobrem, escandalizados, que na prática: “as coisas não são bem assim”. Que as belas pala- vras podem ser meras convenções, fórmulas vazias a acobertar concessões, manejos, jogo de interesses e até hipocrisia pura e simples (REVISTA REALI- DADE, Edição Nº 18, 1867, p. 46). Realidade nº 18 apresentou o mapeamento da juventu- de brasileira passeando por temas diversos, como política, mercado de trabalho, estudos, perspectivas de futuro, mas dessa vez não foi tão radical, provavelmente porque já ha- via sofrido uma apreensão meses antes com a edição nº 10 e quando na edição nº02 lançou a primeira parte do resultado de uma pesquisa com o título “a juventude diante do sexo”, recebeu ordens claras do Juizado de Menores da Guanabara para que não publicasse a continuação, sob pena de ser apreendida. Mesmo antes de ter no país uma censura declarada, o moralismo já fazia sua própria regra, que na realidade todos deveriam seguir. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 291 Conclusão A criatividade dos seus editores, a reunião de um time de jornalistas de alto nível, a escolha dos temas, a lingua- gem diferenciada assim como o uso das imagens, e a inova- ção editorial numa mesma revista, foram alguns dos fatores definitivos que tornaram Realidade tão expressiva em sua época. Interessante ao publico dos anos 1960, até os dias atuais desperta o interesse de acadêmicos que além de apre- sentarem suas análises em torno do momento político pelo qual o Brasil passava, desde 1964 com o regime militar no poder, e o estilo jornalismo literário, tema já bastante des- crito em diversas obras, levanta agora um novo olhar da- queles que estudam a revista Realidade por sua influência e contribuições socioculturais, levando ao público assuntos que geravam uma reflexão sobre os novos tempos, mudan- ças que em outros países também se configuravam na época do seu lançamento no Brasil. O nível de exigência que a própria equipe criou, ia des- de a qualidade do papel até o cuidado com a linguagem, passando por outras estratégias citadas aqui, e a dedicação dos envolvidos os fazia cumprir as metas estabelecidas, o que resultou no sucesso de vendas. Contudo, a equipe per- maneceu apenas até o segundo ano, pois com a instauração do Ato Institucional nº 05 que determinava, pelo regime militar, a prática da censura; logo a revista passou por restri- ções, cassações, proibições que intimidaram seus repórteres, fazendo com que eles procurassem outras empresas para trabalhar. Assim a revista seguiu nos anos seguintes de outra forma, já sem o brilho anterior até deixar de existir, ficando apenas sua marca na história da imprensa brasileira. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 292 Referências COTTA, Pery. Jornalismo: teoria e prática. Rio de Ja- neiro: Livraria e Editora Rubio, 2005. FARO, José Salvador. Revista Realidade, 1966-1968: tempo da reportagem na imprensa brasileira. Cano- as: Ed. Da ULBRA / AGE, 1999. MAIA, Monica. Realidade – a que a censura destruiu. Revista de Comunicação. São Paulo, 18 de out. 1989. Dis- ponível em < http://www.revcom.com.br/rc/rc0.asp > Acesso em 06/01/2011. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. MENDONÇA, Nadir Domingues. 21 de abril de 1960: Nasce Brasília, a nova capital do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional: Lazuli Editora, 2007. RIBEIRO, José Hamilton; MARÃO, José Carlos. Realida- de Re-vista. Santos, SP: Realejo Edições, 2010. REVISTA REALIDADE, Edições 02 (maio de 1966), 07 (outubro de 1966), 10 (janeiro de 1967) e 18 (setembro de 1967), São Paulo: Editora Abril, 1966 e 1967. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 293 13. Quem tem medo de Carmen da Silva? Breve análise da militância feminista de Carmen da Silva nas edições da revista Realidade (janeiro e feveriro de 1967) Barbara Heller1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo Carmen da Silva foi uma dos grandes formadoras de opinião, principalmente na imprensa feminina, nas décadas de 60 a 80 no Brasil. Neste artigo, procuro mostrar sua participação e posicionamento político na revista Realidade, tanto na edição de janeiro de 1967, que foi censurada e recolhida das bancas, quanto na seguinte, liberada. Aplican- do alguns conceitos de Mikhail Bakhtin, entre eles o de dialogismo, forças centrípeta e centrífuga, procuro mostrar a resistência dessa jornalista ao regime militar, ainda antes 1. Pós-Doutora em Comunicação pela Universidade Metodista e douto- ra em Teoria Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Uni- camp). Docente nos programas de mestrado e doutorado em comuni- cação da Universidade Paulista (Unip). Email: b.heller@terra.com.br Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 294 da instalação do A-I 5, e seu feminismo “ameno”, mas ino- vador para a época. As características e a importância da re- vista de Realidade também são tratadas nesse artigo, uma vez que ela inaugurou o chamado “novo jornalismo” e contou com uma equipe inicial de esquerda, numa editora como a Abril, cujas relações com o poder autoritário e com o capital estran- geiro já vinham sendo denunciadas. Palavras-chave: Carmen da Silva; Revista Realidade; Censura; Mikhail Bakhtin A revista Realidade e a censura em 1967: um breve histórico do contexto de época Um dos grandes marcos da história do jornalismo brasi- leiro foi a revista Realidade, lançada em 1966 e publicada ao longo de dez anos consecutivos. Para se ter uma dimensão do que esse periódico representou para a imprensa brasilei- ra, basta lembrar que, em 1964, isto é, dois anos antes de ele vir a público, o Brasil já havia sofrido o golpe militar, dando início ao governo autoritário e à atribuição gradativa de poderes ao então General Castelo Branco. No entanto, ape- sar de pertencer à Editora Abril, cujas relações com o poder autoritário e com o capital estrangeiro já vinham sendo denunciadas, Realidade manteve-se fiel à sua linha editorial, graças ao perfil dos seus principais profissionais que eram de esquerda e que se dispunham a discutir seus pontos de vista com a direção da editora, como cita Kucinski: o grupo todo tinha a mesma posição editorial, as reuniões em que se definiam os rumos da revista ti- nham um espírito democrático e uma grande preo- cupação política, não no sentido partidário, mas no Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 295 sentido das palavras que empolgavam a juventude da época, debate e democracia. (In: FARO, 1999, p. 6) Mas a harmonia entre a Realidade e o governo auto- ritário não foi tão duradoura assim. A edição especial de janeiro de 1967, inteiramente voltada à mulher brasileira, foi censurada, recolhida da gráfica em São Paulo e proibida de ser distribuída por todo o país, exceto para a Guanabara (atual Rio de Janeiro), que já a havia recebido. A justifi- cativa oficial era a manutenção da “moral e dos bons cos- tumes”. Esse argumento impreciso, mas eficiente, deixava em aberto aos leitores, jornalistas e intelectuais, identificar, entre as matérias publicadas, qual ou quais ameaçavam os três primeiros anos do regime militar, como por exemplo: “A mulher brasileira hoje”, uma pesquisa feita em todo o Brasil, com 1.200 entrevistas, para saber a situação da mu- lher”; “A indiscutível nunca proclamada (e terrível) supe- rioridade da mulher” – texto sobre as qualidades femininas; “Ela é assim – a biologia da mulher”; “O amor mais amor – ensaio fotográfico sobre a mulher” – para ficar apenas entre os primeiros. Não parece ter sido apenas obra do acaso ou mero senso de oportunismo que levou a equipe de editores da Realidade a publicar uma edição exclusiva sobre a mulher. Afinal, o movimento feminista brasileiro, embora ainda tí- mido nos anos 60 (mas com grande expressão a partir dos anos 70), já se fazia conhecer por suas reivindicações por creches e anistia política, pelos protestos contra o custo de vida, pela inclusão de mulheres nos sindicatos. Além das tradicionais questões domésticas, portanto, o movimento voltava-se contra a ordem política vigente, questionando o que até então era designado como próprio às mulheres, bem ao agrado de uma revista com o perfil da Realidade. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 296 Sem uma proposta feminista deliberada, as militan- tes negavam o lugar tradicionalmente atribuído à mulher ao assumirem um comportamento sexual que punha em questão a virgindade e a instituição do casamento, “comportando-se como homens”, pegando em armas e tendo êxito neste comporta- mento, o que, como apontou Garcia, “transformou- -se em um instrumento sui generis de emancipação, na medida em que a igualdade com os homens, pelo menos retoricamente é reconhecida, pelo me- nos, retoricamente”. (SARTI, 2001, p.31) Como lembra Faro, a questão da mulher, nos movimen- tos sociais e políticos dos anos 60, ultrapassava os direitos políticos; tratava-se do exercício pleno da cidadania femi- nina, “envolvendo a liberdade individual, o trabalho, as re- lações pessoais, o sexo, a participação efetiva nos destinos políticos de cada formação social “ (1999, p. 126). A Realidade, coerente com sua proposta de romper com a maneira habitual de fazer jornalismo e de discutir pro- funda e criticamente os fatos e o contexto em que vivia o país, em seu primeiro número de 1966 já abordou questões relativas ao feminino. Na de 1967, a “especial” e a apre- endida, seu diretor Roberto Civita, talvez para dar maior credibilidade aos leitores e conferir isenção dos critérios adotados, informou alguns dados concretos de sua pro- dução: que foram consumidos três meses para realizar as entrevistas e tabular as mais de cem mil respostas; que foram convidadas especialistas em mulheres que não só foram foram a campo, como também leram “milhares de cartas” e “uma pilha de livros”: Mas não nos limitamos a escrever a respeito de mu- lheres. Também convidamos três delas para colabo- rar na edição. Assim, Carmen da Silva passou um Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 297 mês lendo milhares de cartas dirigidas a meia dúzia de revistas femininas para poder preparar seu artigo sobre Consultórios Sentimentais, Gilda Grillo, ar- mada com um gravador, praticamente viveu uma semana com a mãe solteira “diferente” que ela achou. E Daisy Carta digeriu uma pilha de livros, ensaios e estatísticas antes de concluir pela superiori- dade natural das mulheres2 .(Realidade, jan. 1967, p.3) Embora possa parecer ingênuo e incorreto aos olhos de hoje uma jornalista concluir “pela superioridade natural fe- minina”, este trecho é representativo do esforço do grupo de jornalistas da Realidade, entre eles, a então quase des- conhecida Carmen da Silva, de emancipar a condição das brasileiras, classificadas, para a já referida pesquisa, como ri- cas (10%), classe média (39%) e pobres (51%), com idades que variavam de 18 a mais de 50 anos e diferentes níveis de alfabetização e escolarização. Na edição seguinte, em fevereiro de 1967, Realidade publicou no editorial o repúdio à apreensão dos exempla- res, os despachos judiciais e denunciou as precárias justifi- cativas oficiais: No penúltimo dia do ano passado, Realidade de janeiro foi apreendida em São Paulo, por decisão do juiz de Menores. Simultaneamente – e embora o juiz não tivesse qualquer jurisdição quanto aos exemplares destinados a outras comarcas – cerca da metade da tiragem da revista foi detida na gráfica onde é impressa. Finalmente, alguns dias depois, o juiz de Menores da Guanabara também mandou apreender a revista. Nos dois casos, a alegação foi a mesma: tratava-se de uma edição “obscena” e 2. Grifo meu. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 298 “ofensiva à dignidade da mulher”. E, em ambos os casos, o único recurso cabível era se dirigir aos Tri- bunais Superiores. [...] O que havia de “obsceno” na edição apreendida? Os dois juízes de Menores não especificaram. (Rea- lidade, fev, 1967, p.3) Somente em outubro de 1968 (isto é, apenas três me- ses antes da decretação do AI-5), a edição censurada foi liberada pelo Supremo Tribunal. Percebe-se, portanto, já no regime pré AI-5, a preocupação de a mídia impressa não ultrapassar certos limites do que era oferecido sobre e para as mulheres. Carmen da Silva, com seu feminismo contido, parece ter acertado o tom. Sua contribuição pioneira, em periódicos de grande circulação, como as revistas Claudia e Realidade, foi fundamental para tornar visível a ainda em- brionária emancipação feminina. Pequena biografia de uma grande formadora de opiniões: Carmen da Silva Carmen da Silva, como manifestou Roberto Civita na edição censurada de janeiro de 1967, foi uma das colabo- radoras da Realidade, embora nem sempre de forma regular. Dona de um espírito libertário e com formação psicanalíti- ca, seus textos eram praticamente ensaios, gênero discursivo caracterizado por “pontos de vista mais definitivos, alicerça- dos com solidez, porque tem compreensão mais abrangente do fato e pretende sistematizar o conhecimento” (MELO, in: MORAES, p. 11) . Embora sua atuação mais significativa tenha sido em ou- tro periódico da mesma editora, a já citada revista Claudia, onde escreveu por 22 anos ininterruptos à frente da seção Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 299 “A arte de ser mulher”, sua colaboração nos números de janeiro e de fevereiro de 1967, na Realidade, merece espe- cial atenção, pois permite compreeender sua posição não só nas questões de gênero, mas também na política, viés ainda pouco explorado nas pesquisas sobre essa jornalista. O conhecimento da sua biografia é recurso importante para análise dos seus textos porque permite avaliar, de manei- ra mais completa, a missão a que Carmen da Silva se propôs. Se ignorarmos sua trajetória como mulher e profissional é certo que apenas a leitura bastaria para uma compreensão de suas ideias, mas tudo fica mais claro e significativo se co- nhecermos as perdas e ganhos experimentados por essa jor- nalista numa época em que a emancipação feminina era uma ideia praticamente desconhecida e impensável na sociedade brasileira. Afinal, segundo a própria Carmen da Silva, ser mulher nunca foi fácil para ninguém em ne- nhum lugar. Ser mulher numa cidade pequena [Rio Grande] nas décadas dos 30 e 40 era mais que difícil, era dramático: havia que escolher entre a fuga, o martírio e o heroísmo”. (SILVA, 1985, p. 11) Carmen da Silva escolheu a fuga e talvez por isso mes- mo acabou se tornando uma mulher à frente de seu tem- po. Nascida em 31 de dezembro de 1919 mudou-se, aos 24, para Montevideu. Mais tarde, em 1950, foi viver na Argentina, onde não só publicou seu primeiro romance, Setiembre, como também testemunhou o auge e o declínio da ditadura peronista (1951-1955). Apenas em 1962, aos 43 anos, é que voltou definitiva- mente ao Brasil, instalando-se no Rio de Janeiro. Seu pri- meiro emprego foi como secretária num escritório carioca, onde, em contato com suas colegas, começou a desenhar sua vertente feminista: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 300 Foi nesse escritório, entre moças ótimas porém “nor- mais” – pequena classe média típica, aspirações conven- cionais --, sem o talento e a personalidade de minhas amigas argentinas, que finalmente descobri a mulher. [...] Eu pensava, repito, que mulher era simplesmente um indivíduo do sexo feminino. Ou melhor, uma pes- soa sem certas coisas. (SILVA, 1985, p. 117) Em 1963 publicou seu segundo romance (o primeiro em língua portuguesa), Sangue sem dono, o que pode ter facilita- do seu início de carreira como redatora da coluna “A arte de ser mulher”, na revista Claudia, da editora Abril, lançada em 1961. Na mesma época, a convite de Edna Savaget, pos- sivelmente no programa televisivo “Sempre Mulher”, da Rede Globo, iniciou “a tarefa pioneira de cutucar com vara eletrônica as consciências femininas adormecidas”. (SILVA, 1985, p. 120). Entre as décadas de 70 e 80 também chegou a colaborar na imprensa alternativa e feminista, como Mu- lherio, Brasil Mulher e Nós Mulheres, mas como atingiu pe- queno número de leitoras, as edições foram suspensas quase na sequência (DUARTE, 2005, p. 39). Sua trajetória sugere que, mais do que acatar a ordem dominante, Carmen da Silva denunciava mecanismos de constrangimentos, baseada tanto em sua experiência pesso- al, quanto nos relatos que ouvia ou lia, na forma de cartas de leitoras. Afinal, quando recebeu a proposta de se tornar colaboradora de Claudia, já tinha vivido a maior parte de sua vida no exterior, tivera relacionamentos afetivos que não resultaram em casamento e foi independente desde o início da juventude. Apesar de ser tão diferente da ima- gem que a Abril previa para as leitoras, especialmente as de Claudia, “mais interessadas em polidores que em política” (MEIRA e PEDROSA, p.7), Carmen da Silva assumiu, em sua coluna, ao comemorar seis anos de colaboração para aquela revista que pretendia Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 301 falar de nós. Não no sentido amplo, nós-pessoas, o ser humano, o ser humano em geral [...]. O “nós” que pretendo abordar aqui é mais restrito, quase íntimo: nós mesmas, nossa turminha ligada através das páginas de Claudia; vocês, leitoras habituais des- ta seção e minhas eventuais correspondentes, e eu. (CIVITA, 1994, p.24). Criando, portanto, um laço de amizade, um tom de in- timidade e confidência com as leitoras, Carmen da Silva se tornou uma das grandes referências feministas nos anos 60 e 70, mas de um feminismo “ameno”: Quero abrir aqui um parêntese de advertência para tranquilizar as mais pacatas: não é necessário sair à rua desfraldando bandeiras; não se trata de heroísmo nem de grandes façanhas. Cada mulher pode e deve prota- gonizar sua vida dentro do âmbito que escolheu, seja ele vasto ou reduzido [...]. (SILVA, 1966, p. 7) Embora se mostrasse consciente do cenário político do país com o golpe de 64, sua atuação sempre foi discreta e cautelosa. Como lembra Duarte (2005, p. 94), Carmen da Silva nunca se filiou a nenhum partido político, não caiu na clandestinidade, tampouco aderiu a movimentos revolucio- nários. Talvez todas essas características permitiram que ela se tornasse uma grande formadora de opiniões, já que sabia, com maestria, o que, como e onde dizer. Carmen da Silva e a edição de janeiro de 1967 O longo texto de Carmen da Silva, da edição censurada, abre-se com esse parágrafo: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 302 Rara é a revista feminina que não tenha o seu con- sultório sentimental, onde milhares de mulheres descartam suas mágoas, incertezas, medos e com- plexos. [...] A maioria dos homens balança a ca- beça com irônica superioridade: “coisas de quem não tem o que fazer...” Até certo ponto está certo. (Realidade, jan. 1967, p. 84) Se pensarmos numa perspectiva dialógica, como propõe Bakhtin, a citação acima não se constitui de orações ou de meras unidades da língua, mas de enunciados, porque neles estão presentes “ecos e lembranças de outros enunciados, com que ele[s] conta[m], que ele[s] refuta[m], confirma[m], completa[m], pressupõe[m] e assim por diante.(FIORIN, 2008, p. 21). Seguindo, portanto, essa proposta teórica, o parágrafo acima, constitutivo de enunciados, opõe-se a outros em circulação, isto é, se Carmen da Silva estivesse declarando isso com admiração, mostrando que “milhares de mulhe- res” estão reconhecendo suas fraquezas e pedindo orien- tação em uma mídia segmentada como a feminina, estaria se opondo a outros discursos, que insistem em manifestar a incapacidade de as mulheres se organizarem, pensarem e reivindicarem seus direitos e buscarem melhores condições de vida. O enunciado final “até certo ponto está certo” para justificar que o consultório sentimental era assunto de mulheres desocupadas põe em evidência essa perspectiva, muito comum naquela época (e talvez ainda na de hoje). Como o discurso com apreciação positiva dialoga com o discurso com entonação depreciativa, pois um constitui-se a partir do outro, Carmen da Silva acabou por manifestar os “dois lados” do imaginário sobre a emancipação feminina, configurando o caráter dialógico do discurso. O conceito de dialogismo, como se pode observar, per- mite compreender melhor a militância de Carmen da Silva, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 303 uma vez que seus enunciados (assim como todos os outros) revelam duas posições: a sua e aquela em oposição à qual ele se constrói. Não é excessivo lembrar que, em 1967, quando esse texto foi publicado na Realidade, o Brasil já experimen- tava o governo militar, prenunciando o governo autoritário e repressivo. Ainda que Carmen da Silva não estivesse falan- do, explicitamente, de política, pôs em evidência as relações de poder do dia-a-dia. Mais ainda: mostrou, como diria Bakhtin, que as autoras das cartas ao consultório sentimen- tal não estavam completamente assujeitadas aos discursos sociais, que era possível resistir ao processo centralizador (ou centrípeta) isto é, o que busca definir uma única ver- dade, condição frequente em relações autoritárias, sejam interpessoais, sejam sociais etc. Carmen da Silva buscou erodir, por meio do raciocínio lógico e da ironia, essa mentalidade centralizadora e pro- pôs o que Bakhtin nomeia de forças centrífugas: o “pluri- linguismo da realidade” (FIORIN, 2008, p. 30), como no seguinte trecho: [...] a sociedade não lhe dá [à mulher] o direito de sair procurando o seu complemento. É ficar em casa, bem arrumadinha, bem comportadinha, esperando, merecendo. É tratar de ser vista sem ficar marcada, de ser escolhida sem se oferecer. É fazer de conta que não tem sexo, até conseguir marido e ser resgatada... na qualidade do sexo. (Realidade, jan. 1967, p. 84) O emprego do diminutivo “inha” em “arrumadinha”, “comportadinha” é uma marca de ironia, pois não se trata do uso habitual do sufixo que indica algo menor que a mé- dia ou de uma manifestação de carinho, mas dos cuidados esperados, por uma sociedade patriarcal, de quem é frágil e dependente. Fazendo, portanto, uma aplicação diferente da regra gramatical, Carmen da Silva expôs ao mesmo tempo Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 304 a mentalidade então vigente das relações homens e mulhe- res e ainda deu indícios de sua trajetória pessoal: Namorar, no Rio Grande daquela época, era uma operação complicadíssima. As moças casavam, sim: aliás, era o único que tinham a fazer. Mas as eta- pas prévias – conhecer-se simpatizar, conversar em qualquer lado fora dos raríssimos bailes nos pou- quíssimos clubes, trocar alguns carinhos – não esta- vam previstos no programa. Em todas as fases que normalmente precedem o casamento, mesmo nas atitudes mais inocentes, as famílias farejavam sem- -vergonhice [...].(SILVA, 1985, p. 16) A missão de “empoderar” a mulher a que se propôs Car- men da Silva, como se reconhece em seus textos, não era simples, pois os costumes autoritários estavam tão arraiga- dos na sociedade brasileira, que nem as próprias consulentes do escritório sentimental conseguiam efetivamente ofere- cer resistência à ordem estabelecida: Visto pelo consultório sentimental, o papel do ma- rido brasileiro não é lá muito brilhante: ele quer ter suas aventuras com a bênção da esposa, reclama dela uma conduta inatacável, cuidados, atenções e total liberdade de ação. Afastando-se uns cem quilômetros das três ou quatro capitais mais importantes, encon- tramos o macho federal exercendo todas as suas prer- rogativas: bate na mulher, sequestra-a, persegue as empregadas domésticas dentro de casa. Mesmo nos grandes centros, os quereres e não-quereres do mari- do são tomados como lei.(Realidade, jan. 1967, p. 86) O enunciado “macho federal”, uma metáfora, também pode ser entendido pelo viés da ironia, pois está, subliminar- mente, em diálogo com os “macho estadual” e “municipal”, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 305 cujas esferas de atuação, apesar de mais circunscritas, também se fazem exercer sobre os demais cidadãos, mais especifica- mente sobre as mulheres. Portanto, para Carmen da Silva, não há como escapar dos machistas, pois eles se encontram distribuídos em todas as instâncias de poder, tanto na esfe- ra pública (representada pelo adjetivo explícito “federal” e pelos implícitos “estadual” e “municipal”), como na privada (representada pelo enunciado “dentro de casa”). Esses exemplos, embora em pequena quantidade se to- marmos como referência a extensão do texto da Carmen da Silva na edição de janeiro de 1967 da Realidade, já são suficientes para mostrar que ela era uma jornalista empe- nhada na transformação de um padrão de comportamento hegemônico, que pôs em funcionamento estratégias dis- cursivas em que reconhecemos dialogismo e também for- ças centrífugas. Embora não se saibam que reportagens levaram à apreensão dessa edição da Realidade, é certo afirmar que não foram as ideias de Carmen da Silva, uma vez que as razões alegadas pela censura eram a incitação à quebra da moral e dos bons costu- mes, o que certamente não se reconhece no seu texto. No entanto, a jornalista não se omitiu e, no mês seguin- te, manifestou seu repúdio à censura no artigo intitulado “Preconceito: o bicho papão”. Carmen da Silva e a edição de fevereiro de 1967 Logo no primeiro parágrafo a jornalista adota as carac- terísticas textuais de um conto de fadas, estratégia eficien- te não só para chamar e reter a atenção do leitor, como também para reforçar a coerência com a expressão “bicho- -papão” do título, de ampla utilização nas histórias voltadas à infância: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 306 Nos anos 468 a 399 antes de Cristo viveu em Ate- nas um homem de raro saber e conduta exemplar. Mestre por vocação, seus ensinamentos marcaram fundo a mocidade da época, inclusive seu mais ilus- tre discípulo: Platão. (Realidade, fev. 11967, p. 26) No entanto, essa proposital infantilização do texto é aban- donada depois dos oito primeiros parágrafos, aos logo dos quais são contadas as histórias de Sócrates e de Galileu Galilei – personagens que, em nome da ciência e da verdade, foram respectivamente condenados à morte ou ao ostracismo. Nos parágrafos seguintes, que ocupam mais de duas pági- nas, reconhece-se novamente o tom crítico e denso, caracte- rístico do ensaio e da própria jornalista. Neles Adolf Hitler, “nanico e paranoico”, e Goebbels, “outro nanico de pé alei- jado”, são citados para exemplificar a intolerância ao outro e as nefastas consequências: obras de escritores e cientistas queimadas em praças públicas e o assassinato de seis milhões de judeus nas câmaras de gás na II Guerra Mundial. Seguindo um raciocínio lógico, mas nem sempre linear, Carmen da Silva, na sequência, explica que até a palavra “mãe” pode gerar preconceito porque, dependendo das as- sociações mentais e emocionais de quem a pronuncia ou a ouve, transforma o que era sagrado em sacrilégio: porque todos nós conservamos sombras de primi- tivos terrores e reverências sobrenaturais , herança guardada no fundo da memória humana; desper- tando-a, ela dá surpreendente vigor a ideias que o intelecto talvez não se atrevesse a encampar. (Reali- dade, fev. 1967, p. 29) Essa passagem parece ser a chave para a jornalista con- cluir que o preconceito é irracional e que não é à toa que ele tem como alvo predileto, mas não único, “as pessoas, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 307 funções e instituições mais intimamente ligadas à nossa ex- periência emocional: os pais, o sexo, a procriação, o casa- mento, a família” (Realidade, fev. 1967, p. 29), justamente os assuntos tratados na edição censurada, do mês anterior. Parece ser bastante claro, a esta altura da análise, que Car- men da Silva, por meio de raciocínio lógico e também de digressões (pois falou de filósofos gregos a poliandria e poli- gamia), enfrentou, à sua maneira, o poder hegemônico, que baniu a edição anterior por conter reportagens obscenas e “profundamente ofensivas à dignidade e à honra da mulher, ferindo o pudor e, ao mesmo tempo, ofendendo a moral comum, com graves inconvenientes e incalculáveis prejuízos para a moral e os bons costumes” (Realidade, fev. 1967, p. 6). Como o despacho do juiz de menores de São Paulo não especificou quais eram as reportagens que feriam a moral, gerou-se uma série de especulações: podiam ser os dese- nhos que mostravam o funcionamento do corpo feminino, a reportagem sobre aborto, a entrevista com uma mulher que não se envergonha de ser mãe solteira, a foto de uma prostituta que quer se “regenerar” ou o debate sobre a vir- gindade pré-matrimonial (Realidade, fev. 1967, p.3). Finalmente, na última seção do texto de Carmen da Silva, apesar do subtítulo “Quem tem medo do lobo mau”, a jorna- lista não retoma a estrutura dos textos infantis, ao contrário: ela explica a metáfora sucintamente e sem rodeios: “Entenda-se por lobo mau, sexo”. (Realidade, fev. 1967, p. 30) Trata-se de um enunciado assertivo, de uma verdade, de uma “força centrípeta”, que elimina a ambiguidade. Nesse caso, a estratégia da jornalista foi mostrar que, no jogo do poder, no qual os discursos estão inseridos, há duas vozes em circulação que se opõem: a da censura, de ordem moral e política, e a da crítica, da qual ela se fez representante. Qua- se finalizando seu ensaio, a autora faz uma pergunta que, apesar de retórica, traça um paralelo com o subtítulo acima Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 308 referido, graças à anáfora “quem tem medo de”: “Quem tem medo das palavras, das ideias, das verdades? Oficial- mente, a resposta seria ninguém3” (Realidade, fev. 1967, p. 30). Contrapondo-se ao “oficialmente”, em que a jornalista afirma não haver temerosos, o não oficial, com o qual aque- le enunciado está em diálogo, sugere o contrário: existem os que têm medo, como se fosse um presságio do endu- recimento próximo do regime quando decretou-se o Ato Institucional número 5, em dezembro de 1968, que autorizava o presidente da República, em ca- ráter excepcional e, portanto, sem apreciação judi- cial, a: decretar o recesso do Congresso Nacional; intervir nos estados e municípios; cassar mandatos parlamentares; suspender, por dez anos, os direitos políticos de qualquer cidadão; decretar o confisco de bens considerados ilícitos; e suspender a garantia do habeas-corpus (Disponível em: http://cpdoc. fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5. Aces- so: 15 nov. 2012) Talvez Carmen da Silva fosse uma entre os vários que tinham receio do governo militar logo depois do golpe em 1964, mas isso não a fez calar-se, muito pelo contrário: con- tinuou produzindo textos sobre condição feminina pratica- mente até morrer, de um aneurisma abdominal, em 1985. Considerações Em sua autobiografia, Carmen da Silva revela sua vonta- de de ter sido mais militante, especialmente no período em 3. Grifo da autora. http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 309 que esteve morando na Argentina (1950-1962), ao longo do qual sentia o peso de sua condição de estrangeira que a limitava a assumir posições políticas publicamente: Eu não podia assinar manifestos, participar de pas- seatas, malhar e desancar publicamente o que quer que fosse ou mesmo aprovar com demasiada vee- mência: a todo momento tinha de sofrear um potro (SILVA, 1985, p. 108) Como ela passou pela experiência da ditadura peronista mal chegou a Buenos Aires, não é de se estranhar que, em 1967, já de volta em seu país natal e ativa na imprensa, sen- tisse necessidade de se manifestar contra os desmandos do poder político, ainda que fosse para reagir “apenas” à censura do exemplar de janeiro daquele ano. Mas, como se viu an- teriormente, seu texto não contestava frontalmente a ordem estabelecida. Carmen da Silva usou expedientes que ameni- zavam sua crítica: além da referida estratégia de se aproximar da estrutura narrativa de textos infantis, destacava a presen- ça da política em diversas áreas da vida cotidiana e privada, como na maneira pela qual os partos eram realizados: Não é à toa que o Dr. Leboyer, ao tomar a si a tarefa de organizar uma recepção menos traumática para os recém-nascidos, encontrou a mais ferrenha opo- sição ntre os métodos tradicionais, que o acusavam de querer “politizar” o parto. Daí surgem algumas interrogações que me deixam bem perplexa. Par- to “apolítico”, então, seria aquele sobre o qual o médico, em representação da sociedade, exerce um controle absoluto: ele dirigea concepção ou a an- ticoncepção, proíbe o aborto (e lucra com ele de- baixo do pano), fixa a data do nascimento [...].Par- to “apolítico”, sempre segundo esse critério, seria Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 310 aquele que garante ao Estado total domínio sobre o cidadão. (SILVA, 1985, pp.9-10) Não é possível saber que tipo de leitor Carmen da Silva previa para seus textos na Realidade. Cabe lembrar que sua maior atuação foi na revista Claudia, “a revista da mulher moderna”, cujo perfil de leitoras era bem diferente do da Re- alidade, inovadora e adepta do “new journalism”, segundo o qual as reportagens eram em profundidade, realistas e críticas. É fato que já no primeiro ano de sua publicação, 1966, Carmen da Silva já tinha escrito um artigo bem humorado e crítico, no qual apontava a desorganização das esquerdas para combater o regime militar imposto em 1964: Esquerdistas, hoje em dia, são todos os que, por um motivo ou por outro, por razões objetivas ou subje- tivas, estão pedindo o pescoço do governo. Mas este sabe, com a certeza dos fortes, que isso, precisamente, ninguém vai conseguir. (In: MORAES, 2007, p. 65) Essa passagem é uma das raras em que fala abertamente do regime político em seus textos, o que não quer dizer que os demais foram “alienados”. Ao contrário: como lem- bra a análise do discurso proposta por Bakhtin, não existem enunciados sem ideologia, uma vez que são construídos pelos sujeitos, que são atravessados por outras ideologias e vozes, mas que são reativos a elas. Isso quer dizer que Carmen da Silva (assim como todos os sujeitos discursivos) foi, ao mesmo tempo, social e in- dividual, pois respondeu, de maneira única e específica, às condições objetivas do diálogo social. Ainda que escrevesse, à sua maneira amena e contida desde 1963, foi a partir de 1975, portanto muitos anos de- pois das edições de Realidade aqui analisadas, que a militân- cia de Carmen da Silva tornou-se mais fortalecida e com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 311 visibilidade internacional, com participação, por exemplo, em congresso de mulheres. Ainda assim suas posições eram mais centrífugas (como costuma ser a realidade) que cen- trípetas, como sugere sua posição frente ao feminismo: O feminismo é em si uma revolução, um instru- mento para o verdadeiro humanismo, não pode ser instrumentalizado pela luta de classes, por partidos políticos, como se fosse um trampolim. Referências CIVITA, L. T. (org.) O melhor de Carmen da Silva. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1994. DUARTE, Ana Rita Fontelles. Carmen da Silva; o femi- nismo na imprensa brasileira. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2005. FARO, J. S. Realidade, 1966-1968; tempo da repor- tagem na imprensa brasileira. Porto Alegre, Edito- ra da Ulbra/ AGE Editora, 1999. Disponível em: http:// pt.scribd.com/doc/53698505/Revista-Realidade-Faro Acesso em 05 jul. 2011. FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo, Ática, 2008. GARCIA, Marco Aurélio. O gênero na militância: notas sobre as possibilidades de uma outra história da ação po- lítica. Cad. Pagu (8/9), Núcleo de Estudos de Gênero — Pagu, 1997, p.338. In: SARTI, Cynthia A. Feminismo e contexto: lições do caso brasileiro. Cad. Pagu, Campinas, n. 16, 2001. http://pt.scribd.com/doc/53698505/Revista-Realidade-Faro http://pt.scribd.com/doc/53698505/Revista-Realidade-Faro Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 312 KUCINSKI, Bernardo.  Jornalistas e revolucionários. Nos tempos da imprensa alternativa. In: FARO, J. S. Realidade -1966-1968; tempo da reportagem na imprensa bra- sileira. Porto Alegre, Editora da Ulbra/AGE Editora, 1999. MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasilei- ro. In: MORAES, Letícia Nunes de. Cotidiano e Política em Carmen da Silva e David Nasser. (Tese apresentada ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007). MEIRA, Guianezza M. de Góis Saraiva e PEDROSA, Cleide Emília Faye. Carmen da Silva: a consolidação da im- prensa feminina na revista Claudia. Cadernos do CNLF, vol. XIV, n.2, t.2. Disponível em: http://www.filologia.org. br/xiv_cnlf/tomo_2/1772-1784.pdf Acesso: 21 nov. 2012. REVISTA REALIDADE. São Paulo: Abril, fev. 1967. REVISTA REALIDADE. São Paulo: Abril, jan. 1967. SARTI, Cynthia A. Feminismo e contexto: lições do caso brasileiro. Cad. Pagu, Campinas, n. 16, 2001. Dis- ponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-83332001000100003&lng=en&nrm =iso>. Acesso: 16 Nov. 2012. SILVA, Carmen da. A Arte de Ser Mulher - Um Guia Moderno Para o Seu Comportamento. Rio de Janei- ro: Civilização Brasileira, 1966. SILVA, Carmen da. Consultório sentimental. In: Revista Realidade. São Paulo: Abril, jan.. 1967. pp. 26-30. http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_2/1772-1784.pdf http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_2/1772-1784.pdf Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 313 SILVA, Carmen da. Histórias híbridas de uma senhora de respeito. São Paulo: Brasiliense, 1985. SILVA, Carmen da. Preconceito: o bicho-papão. In: Revis- ta Realidade. São Paulo: Abril, fev. 1967. pp. 26-30. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 314 14. Reflexões sobre o poder na cultura midiática Carla Reis Longhi1 Universidade Paulista - UNIP, São Paulo, Brasil Resumo Como indicado no título, este artigo propõe a refle- xão sobre o poder, ponderando sobre suas características e modos de constituição na lógica midiática. Partimos de um contexto midiático, a mídia impressa, para percorrer o modo como a mesma elabora e apresenta o poder. Toman- do as reflexões de Michel Foucault, Hannah Arendt e Bra- gança de Miranda, entre outros, propomos a reflexão sobre 1. Doutora em História Social pela USP/SP. Professora titular do Pro- grama de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Uni- versidade Paulista e professora concursada do Depto de História da PUC/SP. Realiza pesquisas no Grupo “Mídia, Cultura e Política: identidades, representações e configurações do público e do pri- vado no discurso midiático”, cadastrado junto ao CNPq. Email: carlalonghi@uol.com.br Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 315 a constituição de um discurso de poder, através da análise da Folha de S. Paulo. Palavras-chave: Poder; Representações; Mídia Impressa O Poder Midiático2 - uma abordagem inicial Ponderar sobre o poder implica em considerarmos di- ferentes aspectos de sua estruturação. Precisamos retomá-lo em suas elaborações conceituais num percurso diacrôni- co, o que é distinto de suas elaborações discursivas, estas componente essencial do entendimento do poder e ambas, elaborações conceituais e discursivas, permeadas por uma noção espaço-temporal que também se modifica, alterando o entendimento inicial. Ao considerarmos as espacialidades do poder, não podemos nos refutar a análise de sua condi- ção propriamente contemporânea que transformou as no- ções de espaço tradicionais, impondo o espaço midiático em primeira instância e o espaço virtual como elementos estruturadores do poder, o que nos obriga a considerá-lo em sua lógica midiática. Ponderemos em partes sobre estes aspectos, no intuito de conduzirmos uma reflexão didática. Comecemos refletindo sobre a ideia de poder em seu aspecto conceitual. Para Foucault, (FOUCAULT, 1988) o poder deve ser historicizado, pois são as condições objetivas que o define. Numa observação diacrônica, do séc. XVII ao séc. XX identificou dois grandes eixos analíticos: o poder 2. Este artigo recupera discussão desenvolvida sobre este tema, por esta autora no artigo ‘ O Poder e as Representações Midiáticas” IN Adami, Antonio e Hohlfeldt, Antonio. (Org.). Lusofonia e In- tercultura-lidade, 1ed,.São Paulo: Editora da Intercom, 2011, v. 1, revisando e aprofundando conceitos e análises. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 316 Soberano e o poder Disciplinar, depois Biopoder. Pondere- mos rapidamente sobre eles. O poder Soberano, próprio dos regimes monárquicos, é uma forma de poder centralizada, inicialmente nas mãos do Monarca e estruturada a partir dos mecanismos jurídi- cos e repressivos. O fim dos regimes monárquicos não foi suficiente para afirmar que esta lógica de poder acabou, pois o que a define é a centralização do mesmo a partir de um ordenamento jurídico e de um aparato repressivo. O interessante desta lógica é que a mesma foi base para duas grandes vertentes analíticas: a primeira, uma pers- pectiva contratualista do poder, entendendo-o como um bem negociado em contrato, o aparato jurídico, que pas- sa a definir cessão, troca, alienação e posse. A segunda, a concepção marxista que entende que o poder advém das relações econômicas, para a manutenção e extensão destas mesmas estruturas; neste caso, o poder seria funcional. Nos dois casos, como o próprio autor coloca, o poder passa pela lógica econômica, já que, no primeiro caso, o poder passa a ser tratado como mercadoria e no segundo serve à lógica econômica. Ambas, apesar da distinção, concebem o po- der como algo dado, controlado, disputado e, a esta forma de poder, como já discutido, Foucault denomina de Poder Soberano, em função de sua característica centralizadora, controlada a partir de lógicas de dominação. O autor não nega a existência e permanência da mesma, mas considera- -a insuficiente para explicar formas de dominação que não passam por controles institucionais diretos; como entender indivíduos e grupos que se submetem voluntariamente a poderes que os sujeitam ou que reproduzem estas mesmas dinâmicas sofridas em seus contextos cotidianos? Na tentativa de responder a esta questão, num percurso diacrônico, o autor buscou o contexto dos séculos XVIII/ XIX, identificando ali uma alteração profunda na proposição Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 317 do poder Soberano que passava a criar estratégias de adestra- mento e controle auto gerenciadas; esta constatação adveio da observação de mudança do binômio vigilância – punição, alterado drasticamente em sua forma e em seu sentido, pois deixou de responder especificamente às regras do direito, passando a indicar um rol de táticas políticas, fato este que gerou a publicação do livro ‘Vigiar e Punir’, em 1975. A esta forma de poder Foucault denominou de poder Dis- ciplinar, depois ampliado para o Biopoder. Assim, Foucault identificou, na estruturação da lógica industrial, um modo de organização do espaço, calcado pela lógica do panóptico e de controle do tempo, que passou a disciplinar o corpo, de modo que criava sujeição sem aparente dominação. O poder Disciplinar vê o corpo como uma instância que pre- cisa ser otimizada para ter melhor aproveitamento produti- vo e esta otimização: “A disciplina fabrica assim corpos submissos e exer- citados, corpos dóceis. A disciplina aumenta as for- ças do corpo ( em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças em termos políticos de obediência. Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo;” (FOUCAULT, 2009, p.133/134) O autor passa a se questionar do porque da submissão, o que o faz entender que as dinâmicas de poder ocorrem em todas as instâncias de relações, tanto no nível macro, entendido como o Estado e suas instâncias, como no nível micro, constituindo o que ficou conhecido como a micro- física do poder. Assim, não concebe o poder como algo dado, cambiável, que se concentra num lugar e inexiste no outro e questiona-se quanto ao fato da estruturação de uma dinâmica que percebe o poder como inexoravelmente subme- tido à estrutura econômica. Assim, propõe uma reflexão sobre Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 318 o poder entendendo que o mesmo não se apresenta como um objeto constituído, dado, com uma natureza própria, pronto a ser definido ou tomado. Para o autor, o poder é uma prática social e, conseqüentemente, historicamente constituído. Desta forma, já delimitamos um campo: não propomos o poder vislumbrando-o concentrado no Estado, perspec- tiva que remete à noção de poder Soberano, corporificada seja através de sua legislação ou instituições, seja através da política partidária, cedendo ou controlando o poder como um bem; também não o propomos como reflexo único da estrutura capitalista que impõe seu poder nesta dinâ- mica global para a manutenção de seus interesses. Sem dú- vida, isto não significa negar a existência e força do poder econômico em suas diferentes representações, aspecto este avassalador neste contexto de globalização, nem tampouco negar o forte processo de judicialização social, intensifica- do neste contexto neoliberal; preferimos, contudo, seguir com Foucault, propondo uma concepção que entendemos ser mais abrangente, complexa, tensa e fluida, que dialoga com as duas vertentes apresentadas, por entender o poder como algo inscrito nas práticas sociais. Neste caso, ele não é bem, é prática e sendo assim, não tem uma forma à priori, mas se constitui nos embates contínuos, em diferentes cam- pos, tanto no campo econômico, no campo institucional, quanto nas dinâmicas cotidianas, pequenas e inexpressivas. Mostrando-se múltiplo, heterogêneo, disperso e justamente em função destas características, muitas vezes desconside- rado como práticas de poder. Para a proposição deste texto, a concepção de micro poderes torna a análise do poder um objeto de difícil delimitação. Para tanto, propomos a observação do Caderno Coti- diano do jornal Folha de S. Paulo, no período de junho de 2009 a dezembro de 2009. Este corpus faz parte de pes- quisa em andamento sobre a mídia impressa estabelecendo, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 319 aqui, um recorte de análise. A escolha deste caderno se jus- tifica pela concepção de poder proposta na pesquisa; como priorizamos o poder como prática social, entendemos que a escolha do Caderno de Política se restringiria a uma pers- pectiva sobre a mesma, que queremos ultrapassar. Nosso intuito é o de recuperar sujeitos sociais, em suas práticas cotidianas, ampliando o entendimento sobre o poder e bus- cando as estratégias discursivas constituídas nos processos de representação destes. Para este artigo não abordaremos um viés fundamental da estruturação e concepção de po- der através das mídias, que é o vínculo desta com o poder econômico; este aspecto é tema de outro artigo em elabo- ração. O Caderno Cotidiano foi observado integralmente, durante o período indicado e todas as matérias publicadas foram tabeladas. Assim, discutir sobre dinâmicas de poder visíveis e invisíveis, que se constituem a partir de práticas sociais e processos de representação são as questões que problematizam nosso artigo e serão analisadas ao longo do mesmo. Vejamos as matérias abaixo: 1. Cotidiano- Greve da USP- 05/6/09 2. Protesto contra insegurança- 15/07/09- C6     Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 320 3. C4-Capão Redondo sem teto 25/08   4. Capa – Desocupação Capão Redondo 25/08   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 321 5. Analfabetismo- C3-14/06/09 6. Controle da velocidade- 10/06/09     Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 322 Escolhemos matérias díspares entre si para demarcar a discussão proposta. Aparentemente não estabelecem relações, mas se observarmos bem, todas remetem a ló- gicas de poder e praticamente todas estabelecem rela- ções de conflito com o Estado. Na matéria n. 6 vemos a mão do Estado atuando sobre a sociedade no controle da frota de carros do Estado, pagamento de impostos relacionados a estes, na busca e cerceamento das ile- galidades; trata-se de imposição do Estado, através de legislação específica e demarca o poder do mesmo, sem demandas de confrontos. Já nas matérias 1 a 4 estão ex- plícitos os enfrentamentos: assim, a matéria 1 apresenta a insatisfação de setores estudantis com a Universidade Pública, enfrentando diretamente o poder do Estado, através das greves e confrontos com os policiais milita- res. O conflito começou com a greve dos funcionários da universidade e, segundo o jornal, os estudantes e pro- fessores aderiram em oposição à invasão da polícia mili- tar no campus. O tema terá larga reincidência nos meses de junho e julho e a greve terminará sem as principais reivindicações serem atendidas. Já a matéria 2 utiliza outras estratégias de enfrentamentos, com a exposição de uma faixa de protesto contra a insegurança pública; novamente é a insatisfação com a atuação do Estado, no descumprimento de suas funções. As matérias 3 e 4 apresentam diferentes reações do mesmo episódio no confronto com o Estado, que através da polícia militar impõe a desocupação de área utilizada por sem tetos em Capão Redondo; aqui o que variou foi o grupo social – os sem teto. Há uma aparente contradição entre a discussão an- terior e a apresentação das matérias, pois inicialmente insistimos no fato de que propomos o poder como prá- ticas sociais e não como atributo exclusivo do Estado, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 323 mas neste momento só identificamos matérias que apre- sentam o poder com esta proposição. Esta constatação nos leva a duas ponderações. Primeiro, o fato do poder na contemporaneidade ser apresentado na relação com o Estado, indica o enorme papel centralizador exercido por este e isto é inegável, ou seja, as relações de poder têm como mecanismos, hoje, o controle do Estado. Com isto, retomamos uma constatação proposta por Foucault, de que as diferentes lógicas de poder podem conviver concomitantemente. Isto não significa dizer que o po- der é uma posse do Estado, mas sim que sua organização atual garante a ele um poder desigual que, no emba- te cotidiano é continuamente reforçado, pelo exercício efetivo do poder, que consegue desbaratar uma greve sem conceder as reivindicações pleiteadas, e, efetiva suas ações de desapropriação apesar da pressão social e sem a contrapartida de resolver a questão da moradia. Se- gundo, as constatações acima diferem da intencionali- dade do jornal, que visa constituir uma representação unívoca sobre o poder, o que significa dizer que há o interesse, por parte deste jornal e a nosso ver, da mídia impressa hegemônica, em disseminar o entendimento de poder Soberano, concentrado nas mãos do Estado. Consideramos, então, que o discurso sobre o poder presente nas diferentes matérias constantes do Cader- no Cotidiano, no recorte temporal apresentado, articula um entendimento unívoco sobre o mesmo, centrado nas mãos do Estado. Observemos a tabela abaixo, refe- rente ao mês de junho de 2009, utilizada como exem- plo para ponderarmos sobre a forma de representação do poder, para então, refletirmos sobre o sentido desta proposição: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 324 O jornal foi observado por seis meses, sendo feita a observação diária do Caderno Cotidiano e pudemos constatar a preponderância deste olhar do jornal sobre o cotidiano da cidade. Podemos notar neste gráfico que, ao somarmos as matérias relativas à ação do Estado, seja no âmbito do governo do estado, seja da prefeitura com as matérias de cunho nacional, que também se relacionam com o governo, em nível federal, contabilizamos 66% das matérias publicadas. Considerando-se, ainda, especifica- mente as matérias sobre a greve da USP, que como já discutido, remetem à insatisfação com as políticas públicas em torno da universidade pública do estado, totalizamos 86% das matérias de todas as edições deste mês, o que comprova a maior incidência de matérias focadas na ação do Estado ou na reação à este, independente da instância (federal, estadual ou municipal). Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 325 Ponderar sobre o significado das representações sobre o poder é também ponderar sobre o poder e sobre a forma como uma sociedade historicamente dada articula suas rela- ções de poder. Assim, há um entendimento sobre o poder, o poder Soberano que é reincidentemente anunciado no jornal como o poder possível. Isto nos leva a considerar o papel do jornal e da mídia impressa hegemônica, de forma geral, na constituição e disseminação de entendimentos sobre o poder. Visibilidade e estetização da cultura- uma outra lógica de sociabilidade e poder Como discutido, a partir de Foucault, o poder também se constitui como poder Soberano, hoje representado pelo poder do Estado, todas as suas instituições, inclusive a ideia do poder judicial, cada vez mais forte em nossa sociedade. Ao mesmo tempo, se constitui em todas as práticas cotidia- nas; estas, contudo, terão maior ou menor impacto, maior ou menor condição de força, de enfrentamento, conforme sua maior ou menor inserção no debate sobre o que é comum, próprio ao coletivo. Este aspecto torna-se muito importante e nos faz ponderar sobre o modus operandis de constituição de uma esfera comum. Esta discussão é alinhavada por três as- pectos: o papel e característica do espaço comum, a vivência da temporalidade na constituição do comum e os modos de visibilidade para a efetivação do comum. Hannah Arendt, ao ponderar sobre a esfera pública, en- tende que esta constitui o âmbito do comum e por comum propõe: tudo que pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior divulgação possível. Esta condição de Aparência ga- rante a realidade do mundo, o que traz o seguinte enten- dimento: o que é comum é o próprio mundo, definindo o seu lugar no mesmo e a relação com os outros: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 326 “Em segundo lugar, o termo ‘público’ significa o próprio mundo, na medida em que é comum a todos nós e di- ferente do lugar que nos cabe dentro dele. Este mundo, contudo, não é idêntico à terra ou à natureza como espaço limitado para o movimento dos homens e condição geral da vida orgânica. Antes, tem a ver com o artefato humano, com o produto de mãos humanas, com os negócios reali- zados entre os que , juntos, habitam o mundo feito pelo homem. Conviver no mundo significa essencialmente ter um mundo de coisas interposto entre os que nele habitam em comum, como uma mesa se interpõe entre os que se assentam ao seu redor; pois , como todo intermediário, o mundo ao mesmo tempo separa e estabelece uma relação entre os homens.” (ARENDT,2002,p.62) Retomamos a autora para recuperarmos algo essencial na constituição da esfera pública e nas lógicas de poder, mas continuamente banalizado, que é a ideia de que precisamos ver para conhecer, reconhecer e criar identificação, ou seja, a aparência é elemento constitutivo do real, mas os mo- dos de construção desta aparência podem mudar, alterando consequentemente o entendimento sobre o mesmo: “Uma vez que a nossa percepção da realidade depende totalmente da aparência , e portanto da existência de uma esfera pública na qual as coisas possam emergir da tre- va da existência resguardada, até mesmo a meia-luz que ilumina a nossa vida privada e íntima deriva, em últi- ma análise, da luz muito mais intensa da esfera pública.” (ARENDT, p. 60). A condição de visibilidade está diretamente relaciona- da aos modos de sociabilidade. Assim, enquanto o espaço urbano foi o espaço privilegiado de conhecimento, reco- nhecimento e identificação, era elemento essencial para a possibilidade de visibilidade e assim, as pessoas saíam às ruas Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 327 para protestar; ficavam nas ruas em frente às suas casas, nas calçadas e nas janelas conversando e os políticos, na mes- ma lógica, procuravam as ruas, através dos palanques para se fazer ver. As sociedades contemporâneas e a cidade de São Paulo é um bom exemplo disto, esvaziaram o papel do espaço urbano, através de estratégias que não nos cabe aqui retomar, alterando assim, os modos de visibilidade que ca- minharam para espaços midiáticos. Algumas mídias, como a impressa, percorreram os dois contextos; no primeiro, mediavam a atuação no espaço urbano, sendo um eixo do mesmo. Habermas nos mostrou bem este caminho: “Ao mesmo tempo, essas novas revistas estão ligadas tão intimamente com a vida dos cafés que ela poderia ser recons- truída através de cada número. Os artigos de jornais não só são transformados pelo público dos cafés em objeto de suas discussões, mas também entendidos como parte integrantes de- les; isto se mostra no dilúvio de cartas, das quais os editores semanalmente publicavam uma seleção [...] Também a forma de diálogo, que muitos artigos mantém, testemunha a proxi- midade da palavra falada. Transporta para um outro meio de comunicação, continua-se a mesma discussão para, mediante a leitura, reingressar no meio anterior, que era a conversação.” (HABERMAS, 1984,p. 59) Hoje, os jornais impressos cumprem papel semelhante ao das outras mídias massivas, não mais mediando os sujei- tos no espaço urbano, mas sim, substituindo o mesmo na configuração das sociabilidades. O percurso de substituição intensifica o papel destas diferentes mídias nos processos de sociabilidade, convivendo, também, com as mídias pós- -massivas, tema este que não será aqui desenvolvido, apesar de sua pertinência incontestável. Contudo, não é apenas a mudança de lugar, de característica de espaço que é sig- nificativa, mas sim, a nosso ver, um aspecto que unifica as Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 328 mídias massivas e pós-massivas, certeiramente identificado por Sodré e já apontado na discussão proposta por Arendt: “Já a midiatização é uma ordem de mediações so- cialmente realizadas no sentido da comunicação entendida como processo informacional, a reboque de organizações empresariais e com ênfase num tipo particular de interação- a que poderíamos chamar de tecnointeração- caracterizada por uma espécie de prótese tecnológica e mercadológica de realidade sensível, denominada médium.” (SO- DRÉ, 2011, p.21) O autor destaca o impacto causado pela técnica nos pro- cessos comunicacionais; vislumbramos esta passagem quan- do os jornais impressos deixam de mediar os homens no espaço urbano e passam a construir a sociabilidade no espa- ço da diagramação do jornal; a este processo de tecnointe- ração Bragança de Miranda denominará de estetização da cultura, acompanhado por Martín-Barbero: “Por outro, também o novo lugar da cultura na sociedade quando a mediação tecnológica da co- municação deixa de ser puramente instrumental para espessar-se, densificar-se e se converter em estrutural, pois a tecnologia remete hoje não a no- vas máquinas ou aparelhos, mas a novos modos de percepção e de linguagem, a novas sensibilidades e escritas...” (MARTIN-BARBERO, 2002, p. 35) Vemos um entendimento comum entre estes autores, na constatação das profundas mudanças processadas no cam- po da cultura, com o impacto da técnica na cultura con- temporânea. Segundo Miranda, Walter Benjamin foi muito feliz, quando ainda nos anos 1930 percebeu que a técnica Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 329 havia transcendido o âmbito das relações produtivas e havia ascendido à produção artística; quando descreve a diferença entre o teatro e o cinema, é explícito em mostrar o lugar da técnica na interação com os sentidos do artista, na mol- dagem de sua performance e na imagem construída para o telespectador, composta do humano e da máquina; neste caso, o ator interage com a câmera num processo que dilui a fronteira entre o homem e o meio, já que por exemplo, a câmera subjetiva torna-se a visão do ator, atingindo âmbi- tos de visão que o olho humano não captaria. Onde está o ator e a máquina, quais são os seus limites? Hoje, Miranda e Martín-Barbero apontam para a extrapolação do âmbi- to artístico, ocupando a cultura como um todo, atingindo a condição sensível. “A esteticização que realiza historica- mente a contaminação entre estética e sensibilidade, deslize de sentido que aproveita o facto de, em grego, aesthesis corresponder a sensação, é indissociável da preeminência do sujeito e do seu prazer, mesmo se gratuito.” (Miranda, 2002,p.115) Seria esta, a nosso ver, mais uma instância de disciplinarização do homem; Foucault já havia apontado para a disciplinarização do corpo para o trabalho, da in- teração para a normatização, processo este continuado e intensificado atingindo, agora , a percepção. Com isto, queremos afirmar que há uma sobreposição de lógicas de poder na sociedade e na proposição de suas representações pelo jornal impresso aqui analisado, articu- lando uma composição do poder Soberano com o poder Disciplinar, este sempre diluído nos processos de mecani- zação do homem. O indivíduo é treinado continuamente a um modo de observação do mundo, da realidade que é oferecida, retomando aqui Hannah Arendt, constituindo suas referências e compreensões a partir do modo de observa- ção proposto pelos meios, pois se tornaram práticas culturais. No momento em que a técnica institui as práticas culturais, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 330 estruturando a percepção, num caminho de estetização do processo, aumenta a distância entre razão e sensações, in- tensificando a segunda, circunstância esta que afeta direta- mente a política e a noção de poder. O indivíduo passa a ser mobilizado pelo desejo e pelo desejo de poder e não pela reflexão sobre o poder ou sobre a sociedade: “E a razão disso é, talvez, esta: é que se o discurso verdadeiro não é mais, com efeito, desde os gregos, aquele que responde ao desejo ou aquele que exerce o poder, na vontade de verdade, na vontade de dizer esse discurso verdadeiro, o que está em jogo, senão o desejo e o poder?” (FOUCAULT, 2010, p. 20) Segundo Arendt, é a prevalência do labor sobre a ação, con- ceitos estes caros à autora, gerando em seu entender, o esva- ziamento da política e logo a desumanização do sujeito. Se os autores vislumbram a fragilização da razão, pela estetização da cultura ou a desumanização do homem, visto por Arendt, os meios reforçam o esvaziamento da política e o controle do poder em suas estratégias discursivas. Retomando Foucault: Quero dizer que em uma sociedade como a nossa, mas no fundo em qualquer sociedade, existem relações de po- der múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o corpo social e que estas relações de poder não podem se dissociar, se estabelecer nem funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma circulação e um funcionamento do discurso. (FOUCAULT, 1988, P.179) Queremos demonstrar, agora, que para o funciona- mento desta dinâmica de poder que garante ao Estado seu predomínio, há a necessidade da construção contínua de um discurso que legitime e reforce este mesmo poder. Em nosso entender, o jornal cumpre este papel na cons- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 331 trução da informação e na construção das representações de poder, pois a contínua exposição das práticas do Esta- do reforça o poder do mesmo e o entendimento de que a política está inexoravelmente relacionada às demandas do Estado, pois ele é legalmente constituído. Mesmo na apresentação de sua ineficiência, ele não é colocado em questão, pois está dado de modo quase natural, o que falta é voltar ao seu prumo, e, isto é construção discursiva do poder. Assim, nas matérias 2 e 5 estão demarcadas a ine- ficiência do Estado no cumprimento de suas funções; no primeiro caso, o Estado não responde à população sobre suas falhas na Segurança Pública e isto não indica neces- sariamente uma nova demanda de reações, e no segundo caso explicita com naturalidade que não vai acabar com o analfabetismo, como apresentado na matéria “ Eliminar o analfabetismo é uma missão quase impossível, avalia o secretário de Educação de São Paulo, Paulo Renato de Souza”; os dois aspectos são parte do contrato legal que firma as funções do Estado e é sobre este prisma que a matéria é constru- ída, indicando que cabe à sociedade cobrar do Estado o que é de sua competência. Como demonstra Foucault isto é um discurso de poder que mascara a dominação: “Afirmar que a soberania é o problema central do direito nas sociedades ocidentais implica, no fundo, dizer que o discurso e a técnica do direito tiveram basicamente a fun- ção de dissolver o fato da dominação dento do poder para, em seu lugar, fazer parecer duas coisas: por um lado, os direitos legítimos da soberania e, por outro, a obrigação legal da obediência.” (FOUCAULT, 1988, p. 181) A proposição do poder Soberano é recorrente no jornal. Indica um entendimento de poder, mas como nos mostra muito bem Foucault, significa uma estraté- gia de dominação. Indicamos no começo do texto que Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 332 o poder se faz por estratégias discursivas e esta é uma delas. Assim, não vai aparecer o questionamento da existência do Estado e seu legítimo poder ou o questio- namento do modo como ocorre a interlocução entre os diferentes sujeitos, então cidadãos, e o Estado; isto por que, a concepção de poder que se estrutura pela sobera- nia, na lógica contemporânea, articula o mesmo através da triangulação com o campo jurídico e a produção da verdade. Tanto a lei quanto a informação jornalística, neste caso, constituem-se como verdade e não discurso, o que as tornam inquestionáveis, reforçando a dinâmica constituída; esta é mais uma estratégia discursiva e das mais poderosas. Ao ser questionado em sua ineficiência é cobrado continuamente para que exerça o seu papel, dado como natural, e nos é reforçado que não há po- der sem esta forma de organização e interlocução com o Estado. Este discurso se amplifica com a estratégia contínua de só se apresentar o poder a partir da ação do próprio Estado. Notamos outros procedimentos discursivos que refor- çam a proposição do jornal. Trata-se do que Foucault de- nomina de controle discursivo pelos processos de exclusão. Desta fazem parte a legitimação de lugares de fala, o que traz o pressuposto de que alguns lugares não são autoriza- dos e de autorias de falas, situação em que existem inter- dições de objetos; um contínuo processo de exclusão pela separação e classificação social que, dito de outro modo, indica quem está autorizado a falar. Observemos o trecho abaixo, apresentado no destaque da manchete e na sequen- cia, a matéria integral: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 333 O conteúdo da matéria acima reproduzida, apresenta uma oscilação entre considerar a relevância da fala dos mo- radores da favela de Paraisópolis ou excluí-la como dis- curso pertinente. A princípio, vemos a voz dos moradores Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 334 da favela presentes na matéria, questionando os modelos de urbanização propostos pela prefeitura e a indicação da continuidade da conversa em nova reunião a ser marcada. Por outro lado, a manchete é explícita em categorizar a ação dos moradores da favela como violentos e perigosos; esta ideia está presente no corpo do texto, quando são comparados com revolucionários venezuelanos ou quan- do são associados ao tráfico, definindo um lugar de fala: são perigosos. O texto termina com a fala do diretor da bienal ‘Não entendi nada daquilo’ reforçando o caráter violento e despro- posital da ação destes moradores, já destacada na manchete, que valorizou especificamente este aspecto ‘Diretores da Bienal de Roterdã vão a favela e são hostilizados’. Pode- ríamos considerar a matéria em sua especificidade, mas as estratégias discursivas fazem parte de uma proposição de sociedade. Assim, buscamos recuperar o sentido constituído pelo jornal à fala do sujeito marginalizado, favelado, iden- tificado com os moradores da favela apresentada. Pudemos notar um discurso recorrente, baseado exatamente na ca- tegorização social, através da rejeição, estratégia discursiva destacada por Foucault. Nos seis meses observados, nota- mos que estes sujeitos apareceram em matérias do jornal em 10% da totalidade das edições existentes, sendo que das 18 edições que trouxeram o tema, 13 edições foram cons- tituídas com a estratégia da exclusão, tanto pela categoriza- ção social, apresentados na condição de sujeitados, quanto pela rarefação do sujeito, através dos rituais que definem qualificação, gestos, comportamentos, circunstâncias. Finalizando, procuramos demonstrar que a conceitua- ção de poder proposta pelo jornal não só favorece o poder hegemônico, o que já seria esperado pela grande imprensa, como se baseia numa estruturação discursa que busca anu- lar cotidianamente a capacidade de resistência, esvaziando Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 335 os conflitos e anulando as diferentes falas e vozes. Estes pro- cedimentos deslegitimam os sujeitos oponentes ao discurso hegemônico, sem o uso da violência visível, gerando o que Bragança de Miranda e Hannah Arendt apontam como uma rarefação do raciocínio e para Arendt uma rarefação do sujeito. Referências ARENDT, Hannah. A Condição Humana, Rio de Ja- neiro, Editora Forense, 2002. CANCLINI, Nestor G. Culturas Híbridas, S.P, Edusp, 2006, 4. ed. __________________. Cidades e Cidadãos imaginados pelos meios de Comunicação IN Opinião Pública, Cam- pinas, vol. VIII, n.1, 2002. CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano, SP, Vozes, 1994, tomo I CHARTIER, Roger. “O Mundo como Representação” IN Estudos Avançados n. 11, 1991 ________________.“ Textos, impressões e leituras” IN Hunt, Lynn. A Nova História Cultural, S.P., Martins Fontes, 2006, 2ª. ed FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder, R. J., Edi- ções Graal, 1988, 7ª. Ed. ________________. A Ordem do Discurso, S. P., Edi- ções Loyola, 2010, 20ª. Ed. ________________. Vigiar e Punir, Petrópolis, Editora Vozes, 2009. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 336 HABERMAS, Jurgen. Mudança Estrutural da Esfera pública, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1984. MARTÍN-BARBERO, J. Ofício de Cartógrafo, S. P., Edições Loyola, 2002 MIRANDA, José A. Bragança. Teoria da Cultura, Lisboa, Edições Século XXI, 2002. SODRÉ, Muniz. Antropológica do Espelho, Petrópolis, Editora Vozes, 2011. JORNAL FOLHA DE S. PAULO- CADERNO COTI- DIANO- JUNHO DE 2009 NOVEMBRO DE 2009. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 337 15. Raúl del Pozo, periodista y escritor Eduardo Martínez Rico1 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Madrid, España Resumo En el presente capítulo ofrecemos un breve recorrido por la obra, la personalidad y el estilo de Raúl del Pozo, periodista y escritor español nacido en La Torre, Cuenca (España), en 1936. Para entender a Raúl del Pozo hay que centrarse en su condición de periodista y en su amor por la palabra, el mimo del estilo, lo que le convierten en un importante columnista de la España actual, y en un escritor cada vez más estimable. Palavras-chave: Raúl del Pozo; periodista; escritor; perio- dismo; articulismo. 1. Eduardo Martínez Rico (UCM), doctor en Filología por la Uni- versidad Complutense de Madrid, España, autor de seis libros, pro- fesor, columnista, e.mail: m.rico.003@cofm.es Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 338 A José Ignacio Díez ¿Por qué destaca la escritura columnística de Raúl del Pozo? Creo que destaca por varios factores, y uno de los más importantes es el del estilo, pero si ese factor actuara solo no conseguiría los efectos que consigue. Raúl del Pozo es muy escritor en su estilo, en el uso personal de recursos literarios, pero muy periodista en el uso de fuentes, en la forma que tiene de documentarse, utilizando los medios más modernos, como Twitter o los blogs, o los medios tra- dicionales, radio, televisión, periódicos. Raúl del Pozo se mueve en su columna en la actualidad, pues sabe que el éxito final de sus artículos lo da la propia actualidad, más allá de que merezcan, con toda justicia, el calificativo de literarios. Leyendo los artículos, muchos columnas, provenientes del diario El Mundo, los textos que componen A Bambi no le gustan los miércoles2, el lector percibe que esos textos for- man literatura, y muy exigente, y que tal vez, más allá de los tópicos y de las guerras literarias, periodísticas y académicas, no haya que distinguir entre literatura y periodismo, sino, en el caso que nos ocupa, literatura de calidad y literatura sin calidad. Si es que lo que estamos buscando es literatura. En Raúl del Pozo el periodista es fundamental. En el libro ya citado A Bambi no le gustan los miércoles, que es una colección de artículos y reportajes que forman una galería 2. POZO, Raúl del Pozo: A Bambi no le gustan los miércoles, La Esfera de los Libros, Madrid, 2003. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 339 de retratos de famosos, intelectuales, políticos, deportistas, modelos, toreros… personajes de la actualidad, en el prólo- go Del Pozo realiza algunas declaraciones de principios: “Y como creo que periodista es el que sale a la calle y cuenta lo que ve, y que nada hay oculto que no deba ser descubierto, conté lo que oí en la M-30 de terciopelo; lo publiqué en mi sección “La grada de los leones”, del diario El Mundo.”3 Esto es muy importante, ese entendimiento del perio- dismo: “periodista es el que sale a la calle y cuenta lo que ve”. Raúl del Pozo lo ha mantenido y lo mantiene, salien- do a la calle y relacionándose con los protagonistas de la actualidad para extraer de ellos la noticia, el comentario, la anécdota, el análisis, la gracia de las situaciones y de los personajes. Por otra parte, pero siendo muy importante, su columna actual en El Mundo, en la última página, se llama El ruido de la calle, un título que en mi opinión es un hallaz- go, y que ejemplifica perfectamente ese entendimiento del periodismo: salir a la calle y contar lo que se ve, registrar el bullicio y runruneo de la ciudad, del mundo. La calle es el exterior, el mundo, y el periodista, como el escritor, pero de otra manera —a veces fusionadas o coincidentes—, está para contarlo. Es un poco la afirmación de García Márquez, periodista y muy orgulloso de serlo, en sus memorias Vi- vir para contarla, aunque ahí parece más bien que el escri- tor se refería a la ficción, a la narración, pero en realidad esto se puede aplicar muy bien al periodismo. Desde luego Raúl del Pozo, en cuanto periodista, en cuanto escritor, vive también para contar su vida. Muchas veces los escri- tores tenemos la sensación de que la vida no es más que una excusa para escribir, un motivo para hacer literatura, o periodismo, para contar, por escrito u oralmente, a nuestros 3. Op. cit., p. 11. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 340 lectores o a nuestros amigos y conocidos, compañeros de vida. Del Pozo es un gran vividor, no sólo un gran escritor, y esa característica de vividor ha potenciado su escritura, haciéndole conocer ambientes que de otra manera no hu- biera conocido, cargando de pasión y potencia su escritura. Raúl del Pozo une ese entendimiento del periodismo de contar la calle, digamos, lo que está ocurriendo en cada momento, con una gran exigencia formal, alimentando su estilo, y sus contenidos, con un gran número de lecturas, muy importantes los clásicos greco-latinos, una fuente no muy frecuente, me atrevería a decir, entre los columnistas españoles. Raúl del Pozo mezcla las tradiciones más opues- tas: las más cultas con las más populares, la calle y el escri- torio, los clásicos y los periódicos, o los clásicos y los libros de los que se habla, porque no en vano él es periodista y se mueve siempre en las últimas noticias, entre lo último y destacado que se hace, que se escribe y que se lee. El escri- tor y periodista, como debe hacer un buen columnista, si tiene la oportunidad, se relaciona con todos los estratos de la sociedad, desde el Rey al más humilde español. Por no hablar de su relación con otros periodistas y escritores, a menudo jóvenes, mostrando una predilección por la frescu- ra de ideas y de formas que representa la juventud. A Raúl del Pozo le gusta comer, por ejemplo, con escritores y pe- riodistas jóvenes, siendo esta tendencia tan importante en él que me atrevería a decir que sus mayores y mejores fuentes están en los clásicos latinos y en esa misma juventud, pues debe de pensar que para ideas maduras ya tiene las suyas, valorando las ideas de la juventud precisamente porque vie- nen de la juventud. De todos modos Raúl del Pozo tiene lecturas más variadas y se relaciona con mucha más gente. En su caso la distinción entre periodista y escritor, que en tantos autores puede ser traumática, no lo es tal. Raúl del Pozo es y ha sido siempre periodista, gozosamente, y Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 341 en ocasiones parece que la única distinción propiamente dicha que realiza entre el periodismo y la literatura sea la extensión de la obra que está escribiendo —artículo en contraposición a libro, o novela, quizá, mejor dicho—, o directamente, ninguna distinción, porque hace sus artícu- los con voluntad de estilo, sabiendo que ese estilo es un reclamo más que el lector de sus columnas agradece. Pre- cisamente suele decir que un reportaje es una novela de quinientas palabras y una novela un reportaje de quinientas páginas. Lo importante, pues, al final, es el narrar, el contar, el contar el mundo, la calle, andar y ver, como decía Or- tega y tan bien ejemplificaban los libros de viajes de Cela. Nos encontraríamos con un denominador común entre los periodistas, ese narrar, ese contar; la diferencia estaría, en- tonces, en gran medida, en la calidad de la escritura, y esa calidad Raúl del Pozo la ha cuidado mucho, con oficio, como él dice, con esfuerzo. Y con muchas lecturas, añadiría yo. Muchas lecturas y mucha vida, pues Del Pozo es un pe- riodista y escritor muy vivido; como afirmó cuando ganó el Mariano de Cavia, el periodismo y la literatura le han dejado tiempo para vivir: para las mujeres, para los amigos, para el juego, etc. Raúl del Pozo vivió mucho los ambien- tes del juego, los ambientes de la noche, y eso se percibe en sus novelas, por ejemplo, por supuesto, Noche de tahúres, y seguramente en su predilección por el género negro. Es verdad que se puede decir lo que todos dicen pero mejor dicho, y eso parece que se ha propuesto Raúl del Pozo; ésa ya es tarea del escritor, aunque también debería serlo del periodista. Quizá sea ahí donde los dos oficios se juntan: en la escritura de calidad. Algunos escritores ven el estilo como fin de la escritu- ra, y tal vez Raúl del Pozo sea uno de ellos, aún siendo él mismo, por lo menos, tan periodista como escritor, pero quizá el sentido común nos invita a pensar que el estilo Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 342 debió de nacer como un atractivo, un llamar la atención del lector. El estilo es como la belleza, un fin en sí mismo, pero también un medio para atraer hacia ese objeto, atraer hacia otras cosas. La belleza llama la atención sobre sí misma, pero también sobre el objeto que la sustenta. El estilo llamaría la atención sobre el contenido, invitando a consumirlo, o dis- frutarlo, o asimilarlo, mejor. Pero para Raúl del Pozo, según declara en el prólogo de A Bambi no le gustan los miércoles, “el arte de escribir es una aventura”. En ese prólogo, tan útil para entender al autor, se dicen cosas tan interesantes como éstas: He sido reportero, cronista de sucesos, corresponsal en el extranjero y he cubierto conferencias y hasta bautizos. Jamás pudieron atarme a una mesa de la re- dacción y cuando me hicieron jefe durante algunos meses mi gestión resultó un desastre. No tengo otro capital profesional que mi nombre y apellido. Para mí el arte de escribir es un juego, una aventura.4 O este párrafo, en el que explica un poco su condición de escritor profesional: Para mí el periodismo es un compromiso que sólo he abandonado en varias ocasiones por la novela. Me dedico a escribir en los periódicos y a escribir para las editoriales; alternando los dos trabajos en apariencia, uno real, he publicado seis novelas. Lo confieso, cometí adulterio con la literatura.5 4. Op. cit., p. 11. 5. Op. cit., p. 12. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 343 Más adelante habla de esa distinción, ya famosa, entre pe- riodismo y literatura, concluyendo que ya no hay tal distinción. Considero a Pla como uno de mis maestros, pero no estoy de acuerdo con él cuando dice que el periodista es el pariente pobre del literato (el pe- riodista sería el peón y el escritor el albañil); ésa me parece una idea antigua no sólo porque en los últimos cincuenta años los grandes periodistas han sido a la vez los mejores escritores –el propio Pla, Camus, Hemingway, Tom Wolfe, Norman Mai- ler—, sino porque el periodismo es un arte que ha saltado con agilidad del acantilado que hay entre la Galaxia Gutenberg y la Sociedad de la Infor- mación, y la mejor literatura está contaminada de verdad, de imaginación, de realidad, como el buen periodismo.6 Raúl del Pozo surge de un concepto nuevo del perio- dismo, muy vinculado seguramente al Nuevo periodismo de Tom Wolfe, que ya glosó Umbral a menudo, aunque nues- tro escritor ha declarado algunas veces que esa renovación, en España, se dio en el diario Pueblo, donde él se formó como periodista, y que se dio antes que en Estados Unidos. Yo fui reportero y corresponsal en el diario Pueblo que él dirigía como un avezado lobo de mar en un galeón de papel. Esperé muchas veces, como otros, a que mi reportaje viajara desde la quinta a la sépti- ma, donde él mandaba y miraba las cuartillas pardas quitándose las gafas, arrimándolas a los ojos, porque era miope. Jamás se equivocaba; si la noticia saltaba en las manos, si era digna de ir a la primera página, 6. Op. cit., p. 12. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 344 allí aparecía oliendo a tinta fresca, que entonces me parecía aroma de jacintos.7 El penúltimo párrafo citado nos da una idea moderna y di- námica del periodismo; cómo ese mismo periodismo ha sabido adaptarse a la Sociedad del Información, y en poco tiempo — el autor dice que ahora los periódicos parecen clínicas—, aun- que Raúl del Pozo escribía estas líneas aproximadamente en 2003, cuando los cambios en el periodismo, la intervención de Internet, no habían sido tan grandes como lo ha sido después. Seguramente Del Pozo escribiría algo distinto hoy, cuando el periodismo atraviesa la mayor crisis de su historia, no por sí mismo sino por el medio que ha irrumpido en escena, Inter- net, cambiándolo todo. Pero volvamos un poco hacia atrás, a nuestra penúltima cita. En esas expresiones que salen de su pluma a menudo, llenas de contenido y rápidas, golpe seco, como un latiga- zo, Raúl del Pozo dice aquí que “la mejor literatura está contaminada de verdad, de imaginación, de realidad como el buen periodismo.”8 Y es que en el periodismo también juega un papel importante la imaginación. El canto a la realidad lo realiza constantemente Raúl del Pozo en sus columnas actuales de El Mundo; son artículos siempre so- bre la realidad, impregnados de verdad, y enaltecidos con la imaginación de la literatura, de la poesía, del estilo. Quizá aquí podamos sustituir imaginación por creatividad. “Pero yo sé que un periodista sólo vale lo de la crónica de mañana y que, insisto, empieza todos los días.”9 7. Op. cit., p. 311. 8. Op. cit., p. 12. 9. Op. cit., p. 12. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 345 Raúl del Pozo quiere estar con los pies en la tierra. Esta frase que acabo de citar es muy suya, muy del hombre que es Raúl del Pozo, aparte del escritor y periodista, y quien conozca a la persona sabe a qué me refiero, porque Del Pozo es un hombre humilde, de una humildad que no sólo condiciona sus actos humanos, su moverse en la realidad y en la sociedad, sino también, como vemos, sus palabras, su escritura y sus ideas sobre el periodismo. Seguramente lo que dice aquí del periodista vale para cualquier profesión, aunque tal vez un poco más para el periodista, que publica a diario o con una gran periodicidad, y es juzgado y conside- rado —también disfrutado—, con esa misma periodicidad. Me estoy centrando ahora en este prólogo, y en este libro en general, A Bambi no le gustan los miércoles, por la comodidad que ofrece un libro recopilatorio de artículos —en este caso poseedor de una profunda unidad, la que le confieren la cualidad de retratos de los artículos—, y por la propia calidad del libro. Es un libro periodístico y es literatura con mucha información y con una considerable amenidad de lectura. Raúl del Pozo acaba presentando así su libro: En los últimos años he realizado algunos retratos, semblanzas y análisis que ahora publica La Esfera y, aunque parezcan dispersos y heterogéneos, obede- cen a una música y una estructura interior, confi- gurada por la actualidad y la noticia, los dioses me- nores de este oficio, la política, las artes, la vida y la muerte de los habitantes de este país.10 Del Pozo conoce, y está muy orgulloso de ello —quizá aquí esté el don de la escritura—, la música de la palabra, y 10. Op. cit., p. 12. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 346 es esa música la que guía su libro, lo estructura y configura, como afirma él mismo. Esa música, que no es otra cosa al final que el estilo, la modulación, tal vez, que convierte un texto en literario, aliado todo ello con “la actualidad y la noticia, los dioses menores de este oficio”11, el material con el que trabaja el periodista. En estas líneas del prólogo Raúl del Pozo, aparte de hacer un poco de teoría de su oficio, sin que apenas se note, camuflada en su escritura literaria, presenta el contenido de su libro, tan importante, porque uno de los detalles que siempre me han llamado la atención de la escritura de Del Pozo es cómo, aún otorgándole una función estelar al estilo, al mismo tiempo, dice y cuenta mucho, es decir, el contenido ejerce un papel preponderan- te, tanto, es probable, como el estilo. Quizá sea ésta la fuerza de las columnas y artículos en general —sus novelas serían otro tema-, de Raúl del Pozo, esa unión armoniosa de la forma y el fondo. La suya es una escritura chisporroteante de imágenes y muchos otros recursos literarios, una escri- tura que podemos decir que es muy literaria, pero al mis- mo tiempo ese estilo no oculta, no ejerce una competencia negativa con el contenido. Hay armonía en ese fondo y forma, aunque, en mi opinión, sus columnas ganan cuando son más clásicas, más claras, de perfiles más rectos. Entonces el contenido aflora a la superficie y se hace más inteligible, destaca más por sí mismo. Para ejemplificar lo que digo voy a ofrecer el primer y el último párrafo de una columna de Raúl del Pozo, fechada el 2 de mayo de 2008, titulada “WWW”. En mi opinión es una columna clásica, en cuanto a la claridad de estilo, de contenido y de líneas. 11. Op. cit., p. 12. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 347 Trabajo con el ordenador en casa, entre los libros, el sabor del agua y el canto de los pájaros; estos días no puedo entrar en mi correo porque Tiscali lo ha ane- gado. Doy mi nombre, mi clave, los datos con los que antes entraba y Tiscali me invita a abrir una nueva cuenta. ¿Pero dónde han metido los cientos de co- rreos que habrán llegado en estas semanas? Llamo a un teléfono que indican y me toman el pelo, me ma- rean de guarismo a estrellita. Hace unas semanas, me cayeron unas gotas de agua mineral de una botella en un espléndido Sony y se jodió. Me contaron los de la multinacional que para arreglarlo tendría que pagar 700 euros, porque el sorbo de agua no entraba en la garantía. ¿Qué soy yo ante esas multinacionales que inventaron el transistor, el magnetofón, el televisor y los ordenadores? Una puta mierda. Protestar es como ponerse a mear junto a las cataratas del Niágara.12 Éste era el primer párrafo, ahora voy a ofrecer el último: Pero yo, a pesar de ser de otra galaxia, de otra gla- ciación, de otro siglo, de que brillo como las estre- llas después de desaparecido, a pesar de Tiscali y de Sony, quiero seguir enchufado a la Tierra, quiero seguir siendo una neurona de ese cerebro global, de esa buhardilla planetaria, de ese sistema nervio- so, esa memoria colectiva, inmensa y súbita que es la forma de respirar en este mundo. Al solo de mi violín le contesta siempre otro desde muy lejos, allá arriba; qué importan los rayos y las tempestades.13 12. POZO, Raúl del Pozo: “WWW”, El Mundo, 2 de mayo de 2008, p. 56 y última. 13. Op. cit., p. 56 y última. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 348 Raúl del Pozo tiende, pienso yo, al barroquismo, y ese ba- rroquismo puede hacer que su contenido se haga más oscu- ro. Por eso considero que sus columnas ganan, insisto, cuando son más clásicas. Y las tiene, muchas, lo que ocurre es que son más numerosas las que podríamos llamar barrocas. El estilo clásico también es un estilo, es estilo, no debemos olvidarlo. No es neutro. Lo ideal es un equilibrio, por supuesto, esa ar- monía de la que hablaba antes elevada a la máxima potencia, es decir, simplemente armonía, equilibrio. Pero en el caso de Raúl del Pozo el clasicismo es más de fondo que de forma, y se nota en su predilección por los clásicos latinos. Del Pozo tiene un fondo grande de lecturas clásicas y eso se percibe cuando se sienta a escribir; le brotan con naturalidad las citas clásicas, las anécdotas que contaron los escritores griegos y latinos, sobre todo latinos, que creo van más con su carácter. Así, en este fragmento, compara a Paco Rabal, su gran amigo, con Pompeyo. La necrológica que escribe a Paco Rabal es hermosa y emotiva: Cuenta Plutarco que cuando abandonaron a Pom- peyo con la cabeza cortada, un romano de edad, que había acompañado al guerrero en las campañas, le dijo al liberto que lavaba el cadáver y hacía después la hoguera: “Déjame el consuelo de tocar con mis ma- nos al mayor capitán que ha tenido Roma.” Me gus- taría decir algo así cuando me pongo a escribir esta tarde turbia. Pero la muerte es sucia y fea, te bloquea, te arranca sollozos. A pesar de la angustia que siento, el último homenaje a mi mejor amigo es blasfemar, encender un cigarro, el veneno que le ha matado, y decir que si Plutarco llamaba a Pompeyo el Gran- de, yo digo que Paco Rabal era El Grande, el mejor capitán de la noche y del teatro, el más avezado de nuestros actores, el más vital, más alegre y más noble hombre que jamás he encontrado. Lo decía ayer Pepe Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 349 Sacristán: “Era una de las personas más generosas con las que me he tropezado en mi vida, siempre tenía en cuenta a los demás. A sus años era admirable la vitalidad que tenía para sacarle jugo a la vida.”14 (299-300) Es verdad, como algunas veces se ha sugerido, que Raúl del Pozo tiene un talento especial para la necrológica, aun- que no debemos olvidar que la muerte es uno de los gran- des temas de la literatura, y del periodismo, o el gran tema —junto con el amor—, y es en el tema de la muerte donde un gran escritor puede medir y ensanchar las distancias de su arte. Sobre todo cuando se trata de despedir a un ami- go o un familiar. La necrológica es un género por el que todo escritor acaba pasando, y más un escritor de perió- dicos, o un periodista literario. La necrológica, cuando el autor conoce al fallecido, cuando es amigo, familiar, una persona querida, arranca acentos verdaderamente sentidos y personales, que, unidos al dominio literario, pueden dar pequeñas obras maestras. Le veo conmigo en la avioneta que nos lleva a Cor- tina D´Ampezzo, le veo como si fuera ahora mismo subir en el ascensor donde limpiaba los zapatos, en el Hotel Joly de Roma, “donde marcas el dos y te la chupan”. Le recuerdo en Barajas batiéndonos con una espada de Toledo que habíamos robado de la tienda de los Souvenirs. Le recordaré siempre vivo, sin transición entre la farsa y la vida.15 14. POZO, Raúl del Pozo: A Bambi no le gustan los miércoles, La Esfera de los Libros, Madrid, 2003, pp. 299 y 300. 15. Op. cit., p. 300. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 350 Para recordar a Paco Rabal, Raúl del Pozo realiza un personal Currículum. Hay que recordar que todos estos datos Del Pozo los saca de su propio conocimiento con el fallecido actor; no están extraídos de libros, artículos o Internet, aunque es probable que alguno sí, pues Raúl del Pozo busca es amigo de la buena y completa información, pero en general brotan de su conocimiento personal, de muchas salidas juntos, de muchas comidas juntos y de un sinnúmero de anécdotas comunes: Dámaso Alonso le afeó los primeros ripios, escuchó a Alberti romper el jergón a los setenta años, acompa- ñó a Ángel González hasta Águilas en una borrachera como la de Noé, imitaba a Pemán, se ponía el vino en la ojera, le gustaba comer pollo con tomate en las ven- tas de las navajas de las carreteras y gastaba bromas a los sepultureros de piqueta, era amigo de todos los gitanos, tuvo amores con putas y duquesas. Se conmovía tanto con la Internacional como con un fandango. Una vez en Milán rompimos un cabaret.16 (302) Los datos que Del Pozo ofrece de Paco Rabal, fiel al ofi- cio periodístico de ofrecer información, contenidos, aun- que es cierto, insisto y más en esta ocasión, que de forma muy personal —aunque es marca de la casa—, construyen el retrato de un hombre profundamente original, un hom- bre distinto, distinto a casi todo lo que el lector está acos- tumbrado, una de las claves seguramente de su fama y éxito como actor. Ahora recuerdo las palabras de Francisco Um- bral sobre este tema; en una ocasión, un verano, le pregunté qué características debía de tener una persona para hacerse famosa, y me contestó que ser diferente: 16. Op. cit., p. 302. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 351 Delibes lloraba ayer su muerte recordando la mag- nífica interpretación de Paco en las adaptaciones de sus obras: “Yo les agradeceré siempre el calor que puso en nuestra amistad y en dar vida a personajes salidos de mi pluma como el de Azarías de Los san- tos inocentes y el Señor Cayo de El disputado voto.” Han puesto su nombre a manzanillas, a colegios, ha ganado todos los premios. Murciano de Buñuel, rojo de Cifesa, gánster, seductor. Ha trabajado a las órdenes de los directores mitológicos: Antonioni, Buñuel, Almodóvar, Visconti, Saura, Olea, Rocha, Aranda… Tardará mucho en llegar el que llene el vacío que dejan su voz, su risa y su corazón, sus claras hazañas, su talento y su compromiso. Son muy importantes las menciones de los nombres, nombres conocidos, populares o famosos, según manda la tradición periodística. Estos nombres destacados en el pe- riódico o la revista provocan el interés en el lector; adqui- rieron su máximo protagonismo literario, o prestigio, en las negritas de la columna de Umbral, Los placeres y los días, negritas que Raúl del Pozo heredó con la propia columna. Raúl del Pozo, y en esto es muy periodista, como lo era Umbral, sabe que debe citar, en general, a personajes cono- cidos del público, para atraer su interés. La propia galería de personajes que construye este espléndido libro periodístico y literario, A Bambi no le gustan los miércoles, nos muestra esa predilección, necesaria, por los personajes famosos, esos personajes que como sugiere el autor son “dioses menores” de su oficio, el periodismo, ya que forman parte de la actua- lidad, casi siempre tirana y diosa de la profesión. “No soy gitana, aunque la verdad, de la buena, es que no sabría decirlo del todo. Porque en el tuéta- no me siento gitana medular, gitana total, gitana de Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 352 los pies a la cabeza. Soy gitana cuarta parte, de cuar- terón, aunque tengo los ramalazos, las intuiciones, los prontos, las querencias, los sobresaltos, las lunas y los soles, los vientos de los gitanos.” Sus hijos son gitanos cabales y grandes artistas. “Me da lo mismo, porque me siento gitana desde la raíz del pelo a la uña del pie.” No hablemos de su arte, donde puso la mitad del genio que le quedaba de lo que gastó en la vida. Lo resumió un crítico de Nue- va York: “Ni canta ni baila, pero no se la pierda.”17 Aquí nos encontramos ante un fragmento del retrato de Lola Flores, a la que también conoció con bastante pro- fundidad Raúl del Pozo; incluso llegó a participar repeti- damente en un programa que realizó nuestro periodista y escritor. En este fragmento observamos algunas de las cos- tumbres periodísticas de Del Pozo, sobre todo cuando tiene espacio, pues en la columna no suele citar de esta manera. El autor busca las palabras de Lola Flores para introducirlas en su artículo o reportaje y hacerlo más inmediato, creíble, interesante, colorido, al lector. En estos trabajos recopilados en A Bambi no le gustan los miércoles, se ve a cierto Raúl del Pozo, que, como ya se ha vislumbrado aquí, guarda semejanzas y puntos en co- mún con otros Del Pozos. Estamos diferenciando aquí, por ejemplo, entre el articulista y reportero, el periodista puro, y el novelista, por ejemplo, que gusta también de los mé- todos periodísticos —cosa que favorece a la novela, como ocurre en otros novelistas-periodistas, pongamos un Arturo Pérez-Reverte—, y no sólo de esos métodos, sino, como es lógico, de toda su experiencia vital, tan conectada, cómo no, al periodismo y a la literatura. Un escritor es su vida y 17. Op. cit., p. 307. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 353 sus lecturas, su vida y su obra, si es que hay que distinguir entre vivir y leer, o vivir y escribir. El periodista que es Raúl del Pozo guarda mucho en común con el novelista, pero dentro del periodista, y del periodista que hemos visto hasta ahora, columnas y repor- tajes, podemos distinguir también el que se muestra en un libro tan estupendo, también, como Los cautivos de la Mon- cloa18. Aquí, Raúl del Pozo tiene todo el terreno que desea para extenderse en su discurso, y es un discurso, por cierto, poco discurso, natural y muy literario, un libro que nace de la vida y de las lecturas de Del Pozo, la vida que ha alberga- do su trabajo de periodista, sus relaciones con los políticos de este país, especialmente, y en este caso, con los presiden- tes Aznar y Zapatero, y por otro lado sus lecturas que le han formado como escritor, y también como periodista. Isabel San Sebastián, colega columnista, afirma en Atados a la co- lumna, de Amilibia, que Raúl del Pozo era “un todoterre- no con pluma literaria”19, y creo que la definición es muy acertada. Como periodista se puede decir que lo ha hecho todo, y lo ha hecho, quizá esto cada vez más acentuado, con esa pluma literaria, buscando formarse cada vez más como escritor, como estilista, pero un estilista, recordemos, que dice cosas, que ofrece un contenido, siempre, es decir, un estilista que no se queda, por supuesto, en la voluta. Las vo- lutas están muy bien cuando adornan algo, pero no bastan por sí mismas, en mi opinión. Raúl del Pozo, vuelvo hacia atrás, tiene muy claro que “periodista es el que sale a la calle y cuenta lo que ve”, y dentro de ese contar, ese contar una 18. POZO, Raúl del Pozo: Los cautivos de la Moncloa, Planeta, Barcelona, 2005. 19. AMILIBIA, J.M.: Atados a la columna, Belacqva, Barcelona, 2005, p. 96. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 354 historia, una anécdota, un persona, incluso una idea o serie de ideas, están las volutas, caben las volutas. Considero que Rául del Pozo tiene claro que el estilo, siendo tan esencial en la literatura y en su literatura, tiene el efecto de enalte- cer un contenido, y volverlo literario, curiosamente, pero por sí mismo corre el peligro de quedarse en lo que tantos han denunciado en algunos escritores y periodistas: fuegos artificiales. Me hubiera gustado ser cronista de Indias cuando los piojos morían al pasar la línea del Ecuador o galán de monjas cuando Teresa de Ahumada cruzaba Espa- ña sobre una mula; me hubiera fascinado acompañar a los navegantes griegos cuando la Odisea era un simple cuaderno de bitácora, pero esas historias ya fueron cubiertas por los grandes cronistas. Hubiera preferido haber sido la sombra de los caballeros an- dantes, de los forajidos o de los buscadores de oro, pero nací tarde, nací cuando me tocó, fui adolescente en el invierno de una dictadura y me hice reportero cuando no había empezado la política.20 Así empieza Los cautivos de la Moncloa, con un difícil equilibrio, quizá tenso equilibrio, entre información libres- ca, propósito literario y periodístico al mismo tiempo, sa- bor de estilo y autenticidad humana, porque Raúl del Pozo siempre desea mostrarse auténtico en lo que escribe, que- riendo que el contenido y el estilo de sus libros y artículos sean destilación de su propia persona, sabiendo que, como dijo alguien y le gustaba repetir a Umbral, “el estilo es el hombre”, pero el estilo, y esto lo sabe Raúl del Pozo, también 20. POZO, Raúl del Pozo: Los cautivos de la Moncloa, Planeta, Barcelona, 2005, p. 9. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 355 es lo que se cuenta, lo que se dice. Por lo tanto, el estilo son las fuentes, las lecturas, los contactos de la persona, la vida en suma. El estilo es una forma de vivir y de escribir. Referencias AMILIBIA, J.M.: Atados a la columna, Belacqva, Bar- celona, 2005, POZO, Raúl del Pozo: A Bambi no le gustan los miér- coles, La Esfera de los Libros, Madrid, 2003. POZO, Raúl del Pozo: Los cautivos de la Moncloa, Planeta, Barcelona, 2005. POZO, Raúl del Pozo: La rana mágica. La Esfera de los Libros, Madrid, 2006. POZO, Raúl del Pozo: “WWW”, El Mundo, 2 de mayo de 2008, p. 56 y última. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 356 16. La influencia de los factores po- líticos en la empresa periodística que edita prensa gratuita en la Comunidad de Madrid Víctor Núñez Fernández1 Universidad a Distancia de Madrid - UDIMA, Madrid, España Resumen La prensa gratuita, como parte del sector de medios im- presos, sufre una triple crisis que podríamos que calificar como “Tormenta pluscuamperfecta” por tres factores: estar inmersa en una recesión económica sin precedentes en las últimas décadas, por el descenso generalizado de la inver- sión publicitaria en medios impresos, y, por último, del modelo de la gratuidad, permanentemente puesto en duda. En este entorno la publicidad institucional, la que tiene su origen en las administraciones públicas, ha jugado un papel 1. Víctor Núñez Fernández (UDIMA), director de la Asociación Es- pañola de Prensa Gratuita, profesor doctor en el Grado de Perio- dismo de la Universidad a Distancia de Madrid, Madrid, España, e-mail: victor.nunez@udima.es Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 357 fundamental en un su rápido apogeo y, ahora, en su crisis. Esta incidencia no solo afecta a su facturación si no tam- bién a su difusión especialmente en los procesos electorales, como demostraremos a través de los datos de la PGD en el periodo comprendido entre 2006 y 2011. Palabras clave: Prensa, distribución gratuita, prensa local, publicidad institucional, Madrid. Distorsiones de las administraciones públicas en la prensa gratuita La influencia de los factores políticos en la empresa in- formativa ha sido constante desde los albores de la actividad periodística, de esta no ha sido ajena la prensa gratuita. Esa influencia se ha venido ejerciendo a través de tres ámbitos: 1. Jurídico: A través de legislaciones más o menos favora- bles a la libertad de prensa y al desarrollo de la empre- sa periodística. El marco legal afecta notablemente a la empresa periodística en tanto en cuanto de él depen- de la obtención de licencias y permisos para ejercer la actividad empresarial periodística. Este marco es espe- cialmente relevante en el caso de emisoras de radio y cadenas de televisión que dependen directamente de la obtención de licencias para poder emitir, pero también incide en la prensa gratuita que a lo largo de su historia, se ha encontrado con trabas administrativas muy sutiles a través de las licencias de reparto, en ocasiones ampa- radas bajo normativas de impacto ecológico. 2. Económico: Los gobiernos democráticos, a través del re- parto de subvenciones y ayudas a la prensa, en muchos Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 358 casos, inscritas y justificadas en programas culturales de fomento de la lectura, de las lenguas vernáculas o, más sutilmente, del derecho de la información entre la ciu- dadanía, provocan situaciones de clientelismo, hasta el punto de que existan medios cuya única razón de ser es la percepción de ayudas públicas, y sin ellas sería im- posible su viabilidad. Esta subsidiariedad del Estado es solo admisible para los profesores Población e Iglesias “en la creación de determinadas empresas no rentables productoras de bienes de interés general, es evidente que las empresas informativa no se hallan dentro de ese grupo”2. Lo cierto y verdad es que sí existen subvencio- nes a los medios privados a través de programas como los que hemos señalado anteriormente, o a veces, se justifican a través de ayudas a industrias participadas o pertenecientes a la empresa editora o al conglomerado al que pertenece. Estas ayudas como sostienen los mis- mos autores “terminan por alterar la independencia y el libre flujo informativo”3. 3. Publicitario: De una forma más sutil, a través del repar- to de las distintas campañas publicitarias, los gobiernos, ya sea central, autonómico o municipal, condicionan el mercado de los medios. No se trata tanto de cuestionar su existencia como de su reparto, ya que si no existe una distribución equitativa y regida por criterios cuan- tificables se producen graves alteraciones en el mercado. 2. POBLACIÓN, I. e IGLESIAS, F. El umbral de rentabilidad en la empresa de prensa. Comunicación y Sociedad, Pamplona, Espa- ña, v. VII, n. 1, p.172 3. IDEM Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 359 En este trabajo nos centraremos en este tercer factor y lo enmarcaremos en la prensa gratuita de información local de Madrid. En primer lugar conviene definir la publici- dad de los organismos públicos, aquella que tiene su origen en las distintas administraciones públicas que componen la estructura del Estado (gobierno central, comunidades autónomas, diputaciones provinciales, municipios, manco- munidades, etc.). La publicidad de los organismos públi- cos, debería enmarcarse dentro de la que el Diccionario de Marketing y Comunicación define como publicidad social, es decir “la actividad publicitaria que se realiza, no en el interés lucrativo del emisor, sino al servicio del interés ge- neral o de una causa social determinada. Pretende satisfacer objetivos dirigidos a la mejora del bienestar común o de un determinado sector o grupo de la sociedad”4. Desgra- ciadamente, el uso partidista de la publicidad originada a través de la recaudación de los impuestos de los ciudadanos degenera en una publicidad que está a medio camino entre la institucional y la política. Según este mismo Diccionario, la publicidad política se definiría como la “actividad publi- citaria que se realiza en los estados democráticos dirigida a difundir los proyectos y programas de los partidos políticos y/o crear o mejorar su imagen, ya sea durante los periodos electorales o no”5; mientras que la publicidad institucio- nal sería “la basada en desarrollar la imagen y el prestigio asociados a una entidad, sin hacer hincapié en productos o marcas […] Cuando se utiliza en medios de comuni- cación de masas revela un objetivo comercial, aunque sea 4. CARO, A. y ELOSUA, M. Diccionario Lid de Comunicación y Marketing. Ed. Lid. Madrid, 2004, pág. 301 5. CARO, A. y ELOSUA, M.: op. cit., pág. 300 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 360 indirecto”6. En el caso de las administraciones públicas, o más bien los gobernantes que las gestionan, el fin comercial de esa publicidad es vender su gestión ante la ciudadanía. El propio Estado define la publicidad de las administraciones públicas como institucional: “Campaña institucional de pu- blicidad, toda actividad orientada y ordenada a la difusión de un mensaje u objetivo común, dirigida a una pluralidad de destinatarios, que utilice un soporte publicitario pagado o cedido y sea promovida o contratada por alguno de los sujetos enunciados en el artículo 1.”7 La publicidad de las administraciones públicas ha jugado un papel muy importante, incluso absolutamente necesario para la supervivencia de muchos medios locales hasta el es- tallido de la crisis, incluso en el transcurso de la misma. En la drástica reducción de la inversión publicitaria, especialmente por parte de las administraciones públicas, está uno de los factores claves en la situación crítica y el cierre de muchos medios gratuitos de información local, sobre todo los que basaban su modelo de negocio en este tipo de publicidad. Durante los años de expansión del modelo de prensa gratuita (2001-2007), ante su pujanza y crecimiento, gran parte de ayuntamientos y comunidades autónomas aumen- taron su inversión en este tipo de medios. Esta publicidad se contrataba y se contrata en, muchos casos, sin transparencia y sin responder, en la mayoría de los casos, a datos objeti- vos de tirada y difusión, contraviniendo así el principio de Igualdad recogido en la Constitución Española de 1977 y la propia Ley de Publicidad y Comunicación Institucional que fija los objetivos de la Publicidad Institucional en la 6. IDEM 7. BOE: Ley 29/2005, de 29 de diciembre, de Publicidad y Comuni- cación Institucional, artículo 2. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 361 “utilidad pública, profesionalización, transparencia y lealtad institucional”8 y que están reflejados explícitamente en la Ley 29/2005. De esta forma se establecen garantías concre- tas (artículo 7) para garantizar que las campañas institucio- nales de publicidad y de comunicación sean efectivamente útiles a los ciudadanos y no al gobierno que las promueve, procurando, además, la accesibilidad de los contenidos a las personas con discapacidad (artículo 5) y la pluralidad lin- güística (artículo 9). La vulneración del marco jurídico que fija la publicidad institucional supone un agravio compa- rativo y un tratamiento discriminatorio entre unos medios y otros. Sin embargo, estos agravios y este uso indebido del dinero público, rara vez han sido llevados ante los Tribu- nales de Justicia. No obstante, sí existen algunos casos de contenciosos administrativos con sentencias favorables a los medios que han demandado a ayuntamientos por invertir mayor publicidad en publicaciones de menor tirada9, estas 8. IDEM 9. Por el procedimiento de la Ley 62/78 el “Diario Melilla Hoy” im- pugnó el reparto institucional de publicidad de la Ciudad Autóno- ma de Melilla, establecida por la vía de hecho, alegando vulneración del derecho a la igualdad. En primer lugar, el Tribunal Supremo de Justicia de Andalucía rechazó las causas de inadmisibilidad alegadas por la Administración demandada, reiterando la posibilidad de la revisión jurisdiccional de las vías de hecho por el procedimiento especial de la Ley 62/78, resultando que en este caso se producía una actuación material de la Administración que excluye al Diario recurrente del reparto institucional de publicidad sin la cobertura de un acto administrativo que lo justifique. En segundo lugar, la Sala tras recordar la doctrina del TS y de otros TSJ, estima el recur- so al considerar que la distribución de publicidad institucional ha vulnerado el derecho a la igualdad ya que en la misma puede apre- ciarse un trato discriminatorio no razonable en perjuicio del diario recurrente que se vio excluido del reparto publicitario a pesar de tener una difusión mayor que los otros medios a los que se asignó la Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 362 sentencias, al suponer jurisprudencia, deberían ser tenidas en cuenta en el reparto publicitario de las Administraciones Públicas hecho, que por desgracia, no suele ser frecuente ocasionando graves alteraciones en el mercado. En este sentido, es llamativo que en los procesos previos a las elecciones autonómicas y municipales surgen medios que sospechosamente desaparecen según el resultado de las mismas como así demostraremos más adelante en el caso de las publicaciones gratuitas de la Comunidad de Madrid. Este modelo de prensa gratuita, muchas veces vinculado a grupos constructores, ha ocasionado el desprestigio del sector en general. Muy significativo fue el caso de los pe- riódicos gratuitos lanzados por el constructor Miguel Her- nando, también conocido como “el Pocero”, con el nombre “La Voz de la Sagra”. Este periódico es quizá el ejemplo más llamativo de medio gratuito donde se confundían las presio- nes políticas, generalmente vinculadas a la recalificación de terrenos, con el modelo de prensa gratuita. La cabecera llegó a distribuir de forma semanal 250.000 ejemplares10. La crisis económica y la exposición de muchos de estos medios gratuitos a la publicidad institucional han agrava- do profundamente la crisis de los mismos. Esta situación la describe perfectamente el profesor Ignacio Lara Jornet: “La crisis global ha provocado la ruina de la empresa periodística, que ha tenido que cerrar y enviar a la cola del referida publicidad. Por ello procede el derecho a ser indemnizado teniendo en cuenta el importe de la publicidad institucional que hubiese correspondido a la entidad recurrente de no haber media- do la discriminación apreciada. 10. ABC: “Cierra «La Voz de la Sagra», el periódico de «El pocero»” [En línea] http://www.abc.es/hemeroteca/historico-04-08-2007/ abc/Toledo/cierra-la-voz-de-la-sagra-el-periodico-de-el-poce- ro_164253980114.html [Consulta enero 2011] http://www.abc.es/hemeroteca/historico-04-08-2007/abc/Toledo/cierra-la-voz-de-la-sagra-el-periodico-de-el-pocero_164253980114.html http://www.abc.es/hemeroteca/historico-04-08-2007/abc/Toledo/cierra-la-voz-de-la-sagra-el-periodico-de-el-pocero_164253980114.html http://www.abc.es/hemeroteca/historico-04-08-2007/abc/Toledo/cierra-la-voz-de-la-sagra-el-periodico-de-el-pocero_164253980114.html Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 363 paro a sus periodistas, maquetadores y fotógrafos. El origen es mundial y financiero, pero se canaliza también a través de las Administraciones Públicas. Quizás uno de los grandes errores de las empresas periodísticas actuales haya sido con- fiar la salud económica en la inversión pública. Durante los años de bonanza, las distintas administraciones locales, pro- vinciales, autonómicas y generales han sostenido parte de los presupuestos de los medios con campañas de publicidad generosas. Con la crisis, una de las partidas más recortadas por parte de gobiernos autonómicos o locales ha sido la de la publicidad en medios, sencillamente apelando a criterios de urgencia y prioridad social. La Sanidad o la Educación son, teóricamente, más importantes que las empresas periodísticas y sus publicidades. Quien basó sus presupuestos en la inversión pública, habrá cerrado su negocio a finales de 2010. Mucho más previsor fue aquel que busco al menos un 40 % de su pre- supuesto en publicidad en la empresa privada”11. De la incidencia de la publicidad de las distintas admi- nistraciones, especialmente comunidades y ayuntamientos, en la prensa gratuita de información local se ha hecho eco distintos estudios llevados a cabo por la Asociación Española de Prensa Gratuita (AEPG). Esta asociación viene haciendo desde 2009 el “Estudio de Economía y Empleo”12 donde analiza, entre otros factores, la incidencia de la publicidad institucional o pública en sus medios asociados. Según refle- jan dichos estudios, la inversión pública en las publicaciones gratuitas ha ido aumentando su peso respecto a la publicidad 11. LARA, I.: ¿La muerte del papel? ¿hacia donde camina la publicidad? Artículo recogido por IVARS, B.: I Congreso Internacional de Comu- nicación Audiovisual y Publicidad “Internet y la información” Ed. Begoña Ivars, 2010, p.76 12. AEPG [En línea]: www.aepg.es [Consulta: 12 enero 2012] http://www.aepg.es/ Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 364 privada, a pesar de la crisis. Así observamos como en el año 2009 la publicidad institucional solo suponía un 7% de las publicaciones que participaron en el estudio, en 2010 la cifra aumentó al 17%, para alcanzar en 2011 un 21% de la facturación total media entre las publicaciones asociadas, existiendo un buen número de publicaciones con más de un 50% de facturación publicitaria de origen público. Esta progresión de la publicidad de las administraciones parece tener una explicación bien sencilla, máxime en un entor- no de descenso generalizado en la inversión publicitaria en medios impresos: a medida que se iban acercando las elecciones autonómicas y municipales (mayo de 2011), la inversión en publicidad institucional iba en aumento. Este incremento, casi siempre, viene acompañado de aumento en las tiradas como veremos más adelante, con el fin de conseguir un mayor impacto de la propaganda política ante la inminencia de los comicios. Este fenómeno lo analizare- mos a continuación. Alteraciones del mercado de la prensa gratuita en los periodos electorales En este análisis demostraremos con los datos publicados por Introl, a través de su división PGD encargada de la medición de tiradas de la prensa gratuita en España, como los periodos electorales juegan un papel importante en la evolución de las tiradas. Para nuestro propósito hemos ana- lizado 40 cabeceras, inscritas dentro de las calificadas por PGD como de Información local, que se distribuían en el periodo comprendido entre 2006 y 2011. Para este análisis hemos agrupado las cabeceras gratuitas según la empresa o grupo que las edita, como resultado de esta clasificación, nos encontraríamos con 4 grupos: las cabeceras del grupo Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 365 burgalés Gente en la Comunidad de Madrid (16), “Al Cabo de la Calle”, editadas por Magnífico Madrid Film (6), las agrupadas con la cabecera “El Distrito” (5), y el resto de publicaciones de información local gratuitas (12). A tra- vés de los datos recogidos por PGD sobre la evolución de las tiradas, hemos podido observar que existe una correla- ción entre los factores políticos y la evolución de la difusión de las publicaciones gratuitas de información local, máxime cuando estos incrementos no han venido acompañados por aumentos de facturación que lo justifiquen en algunos casos. En el periodo comprendido entre 2006 y 2011 se pro- dujeron cinco comicios en la Comunidad de Madrid: las elecciones autonómicas y municipales de 2007, por un lado; y elecciones autonómicas y municipales, más elec- ciones generales en 2011. En ambos años electorales ob- servamos como se produce un aumento en el número de ejemplares distribuidos, especialmente durante el proceso de 2007 con un incremento de 11 veces la tirada del año anterior (de 132.309 se pasa a 1.426.592), el factor elec- toral viene acompañado con el lanzamiento del periódico “Gente” en Madrid (1.180.707 ejemplares), aunque el resto de publicaciones analizadas ya habían experimentado un fuerte incremento del número de ejemplares controlados en el año anterior: un 116% (24.954 ejemplares en 2006 frente a 54.128 en 2007), el grupo “El Distrito” también experimenta un incremento del 78% (107.365 en 2006, 191.757 en 2007), si bien, aún no había estallado la crisis. En los gráficos 1 y 2 observamos el aumento generaliza- do de publicaciones y tiradas entre los años 2003 y 2007. A partir de 2008 se producirá un descenso y estancamiento en los grandes grupos, pero un aumento de la difusión por la in- corporación de publicaciones ya existentes en el mercado de la prensa gratuita madrileña, pero que no estaban controladas por la PGD. Sin embargo, observamos un crecimiento en la Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 366 tirada a partir de 2010 ante la proximidad de los comicios de 2011.   Gráfico 1. Elaboración propia. Fuente: PGD En las elecciones de 2011, inmersas en una fuerte re- cesión económica se producirán también incrementos, que si bien son más moderados, no dejan de ser chocantes. De este modo, se pasará de 732.475 ejemplares en 2010 a 874.539 ejemplares en 2011. Este incremento del 16,24% vendrá determinado por la irrupción de dos nuevos gru- pos de periódicos de similar título en sus cabeceras y con varias ediciones. “A pie de Calle” y “Al cabo de la Calle” surgen en los primeros meses de 2011 (si bien este último ya disponía de una edición en Getafe), poco antes de los comicios municipales y autonómicos con diferencias ideo- lógicas evidentes (el primero con un diseño de la cabecera en rojo y el otro un azul), y otro dato llamativo, ambos lanzarán similar número de ediciones (cinco “Al Cabo de la Calle” y seis “A Pie de Calle”) con especial relevancia en los municipios del sur de la Comunidad. El primero cerró Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 367 sus ediciones en papel solo dos meses después de la celebra- ción de los comicios. El segundo vinculado al grupo cons- tructor González Gervaso, aunque editado por la empresa Mágnifico Madrid Films, dispone en la actualidad de las 5 ediciones repartidas en las siguientes zonas: Leganés, Geta- fe, Alcorcón, Móstoles, Humanes. Ambos grupos llegaron a sumar 343.397 ejemplares y explicarían la subida de la tirada total, aunque también aumentó su difusión el Grupo Gente, el único de los ya existentes que tras años de con- tinúo retroceso aumentó su tirada de 270.629 ejemplares a 292.201 (algo menos del 10%), mientras que el resto de publicaciones que no están sostenidas por grupos empresa- riales ajenos al mundo periodístico verán reducidas las ti- radas. El Grupo “El Distrito” pasará de 208.656 ejemplares en 2010 a 179.752. En cuanto al conjunto de publicaciones independientes de los otros grupos, el descenso será de un 31% (de 253.190 a 173.107 ejemplares). Gráfico 2. Elaboración propia. Fuente: PGD Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 368 Del análisis de los datos podemos llegar a tres conclusiones: 1. Tras analizar los datos de circulación y número de pu- blicaciones del periodo analizado (2005-2011) hemos demostrado como los procesos electorales juegan un papel fundamental en cuanto al aumento de las tiradas y el número de cabeceras. Durante los dos últimos pro- cesos electorales (2007 y 2011) se produjeron, a pesar de la crisis, crecimientos llamativos, especialmente en 2007 cuando el conjunto de ejemplares controlados por PGD aumento un 978%, incluso en 2011 en lo más profundo de la crisis aumentó la tirada total un 19% a pesar de existir menor número de cabeceras. El número de cabeceras controladas también seguirá en aumento entre el periodo de 2005-2011 (23 publicaciones más), pasando de una sola en 2001 a las 40 de 2011. 2. De la conclusión anterior podemos extraer una nueva: la alta exposición y dependencia de determinadas ca- beceras a la publicidad de las administraciones públicas provoca graves alteraciones en el mercado y condiciona la supervivencia de determinados proyectos que se sus- tentan únicamente en este tipo de publicidad. Los casos más flagrantes son los de “A pie de calle”, con un tan espectacular crecimiento como rápida desaparición du- rante el año 2011; y el desplome de la tirada del Grupo Gente tras las elecciones de 2007. La crisis económica y la situación de colapso de muchas administraciones públicas auguran un futuro más que inquietante para aquellos medios que se habían sostenido principalmen- te en la publicidad de Comunidad de Madrid y los ayuntamientos. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 369 Referencias Asociación Española de Prensa Gratuita: www.aepg.es Boletín Oficial del Estado (B.O.E) CARO, A. y ELOSUA, M. Diccionario Lid de Comu- nicación y Marketing. Ed. Lid. Madrid, 2004 IVARS, B.: I Congreso Internacional de Comunicación Audiovi- sual y Publicidad “Internet y la información” Ed. Begoña Ivars, 2010 PEINADO, F., RODRIGUEZ, B.; FERNANDEZ, M.; NÚÑEZ, V.: Guía de publicaciones gratuitas de Madrid. Madrid Emprende, Madrid, España. 2009. POBLACIÓN, I. e IGLESIAS, F. El umbral de rentabili- dad en la empresa de prensa. Comunicación y Sociedad, Pamplona, España, v. VII, n. 1 http://www.aepg.es Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 370 17. Explode a guerra civil no Brasil: O rádio nas trincheiras constitu- cionalistas de 1932 Antonio Adami1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Campinas, Brasil Resumo Este artigo trata de um dos momentos mais turbulen- tos da história do Brasil, a Revolução Constitucionalista de 1932. Naquele momento, a PRB-9 Rádio Record de São Paulo assume posição firme contrária à ditadura de Getú- lio Vargas utilizando códigos específicos da linguagem ra- diofônica, fazendo com que a locução adquira intensidade para mover as massas. A Rádio Record de São Paulo tem papel preponderante em momentos decisivos, tornando-se “a rádio da Revolução”, questionando e denunciando os excessos e abusos do poder federal e rapidamente surgindo 1. Antonio Adami é Doutor pela FFLCH-USP, Pós-doutor pela PUCSP, com estágio de pesquisa na Universitat Autònoma de Barcelona. Rea- liza pesquisas no grupo “Mídia, Cultura e Memória”, cadastrado junto ao CNPq. Endereço eletrônico: antonioadami@uol.com.br Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 371 como uma emissora de massa e de grande projeção po- pular, interagindo enormemente com a cultura local. Esta projeção se efetiva pela postura política assumida na pro- dução e transmissão de notícias nas trincheiras da guerra civil conglomerando milhões de pessoas. A Record investe tudo o que possui de capital e deixa dívidas tremendas (que nunca foram cobradas pelas empresas paulistas), mas exerce um papel integrador de um sentimento da maioria da po- pulação, contra o regime de exceção vigente. Trabalhamos também no artigo a postura visionária de Paulo Machado de Carvalho e o pioneirismo da Record, no conteúdo, nos grandes nomes que passam pela emissora, na produção de radioteatro, produção musical e cultural da cidade de São Paulo. Tratamos ainda de uma outra guerra, aquela entre as rádios de um lado e de outro, portanto uma guerra fora das trincheiras mas com enorme poder sobre as massas. Getúlio se utiliza de campanhas difamatórias, informações desencontradas etc., em todas as rádios do país, menos de São Paulo e Mato Grosso e desencadeia uma verdadeira máquina de anti propaganda contra os paulistas. Para ter- minar, apresentamos diversos símbolos do novo país que se buscava construir: selo, dinheiro, brasão, bandeira, num total de 224 símbolos da identidade revolucionária. Palavras-chave: Rádio Record de São Paulo; Revolução Constitucionalista de 1932; Rádio e Política; História dos meios. A Rádio Record é fundada em 11 de junho de 1929, entretanto, segundo o radialista José Mauro Pires (2000, p. 77- 85), revendo os documentos de seu pai, o também radialista Mauro Pires, ninguém sabe ao certo a data de fundação da PRB-9, portanto, estabelece-se como sendo em 11 de ju- nho de 1929. O Almanaque do Rádio Paulista, de janeiro de Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 372 1951, traz que a Record já existia desde 1929, propriedade de Álvaro Liberato de Macedo. Em 1930 é comprada por Jorge Alves Lima, Leonardo Jones, João Baptista do Amaral e Paulo Machado de Carvalho. Em importante entrevista a Beth Car- mona, sobre a História do rádio (1979), Paulo Machado co- loca que a comprara em 1931. Ficam então estas dúvidas com relação às datas, mas nossa tendência é mesmo seguir os dados do Almanaque do Rádio Paulistano, de janeiro de 1951, que está no mesmo compasso de Mauro Pires. Na entrevista citada, Paulo Machado diz: Mas as coisas iam prosseguindo, todo mundo ia pro- curando saber como ´q que funciona isso e aquilo outro e nós tivemos, nesse principiozinho, compa- nheiros muito bons. E eu sou obrigado a citar, que trabalhavam naquilo: eram eu e essa moça que...cha- mavam depois, veio a se chamar de Elizabeth Garcia e que era Natália da Fonseca [...] e então tinha um telefone, uma máquina de escrever, tinha um arquivo, que talvez tivesse uns dez discos e nós tomamos conta de tudo, do faturamento que era irrisório e nem havia faturamento, tomamos conta de arquivo e tomamos conta de tudo e aí começamos a pensar em organi- zar um corpo de pessoas que fosse, aos pouquinhos, entendendo do assunto. Não digo que foi difícil. Isso seria uma injustiça. Como digo no futebol, se o bra- sileiro é extraordinário, é simplesmente saber levá-lo, nós conseguimos um grupo, aí já vem um misto de 31 e 32, em que começaram a aparecer homens in- teligentes, moços e que se dedicavam ao assunto. Nós tivemos, para se ter uma idéia, ainda outro dia, na dis- tribuição do prêmio Sanyo e eles me honraram com um prêmio muito bonito, na distribuição do prêmio Sanyo havia a lista dos premiados: em 23 premiados, 21 tinham trabalhado na Record, comigo; o que é evidente que me encheu de grande prazer. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 373 A rádio Record em seus primeiros anos passou à ser efetivamente uma grande escola de rádio para São Paulo e o Brasil. Por lá passam profissionais que mais tarde fazem história, entre eles: Raul Duarte, César Ladeira, Renato Macedo, Nicolau Tuma, o “speaker metralhadora”. No es- túdio central da rádio, com aproximadamente 5m X 8m2, os funcionários faziam milagres sonoros. Conta Paulo Ma- chado que neste espaço eles conseguiam irradiar uma ópe- ra, orquestras inteiras. O segredo é que eles abriam as portas de todas as pequenas salas que davam para o estúdio central e uma parte da orquestra ficava em uma sala, outra parte em outra sala e assim por diante. O programa de ópera no rádio, no início dos anos 1930 era uma verdadeira sensação para a época, parava a cidade. A Record vai crescendo e outros profissionais compõem o quadro da emissora, tais como: Oswaldo Moles, Raul Du- arte e Otávio Gabus Mendes, que trabalhavam muito pela Record e pelo rádio brasileiro. Sobre o início de Gabus Mendes na Record, conta Paulo Machado que ele tinha um programa às 9h da manhã. Ele se sentava na máquina às 8h:30, batia o programa à máquina, saía correndo até o estúdio e lia o programa que havia datilografado antes. Quando acabava seu horário, voltava à máquina e batia ou- tro programa, era a maneira de estar atualizado com o que acontecia, através dos rádios escuta, que na época utilizavam o telefone e ficavam nos principais pontos de notícia: dele- gacias, hospitais, clubes de futebol etc. A Record naquele período faz coisas que parecem impos- síveis para a época e traz para São Paulo os maiores artistas do rádio do Brasil, entre eles Francisco Alves, Carmem Miranda, Almirante, Sílvio Caldas, Orlando Silva, todos os que fazem sucesso no período são trazidos para cantar em programas na Record, com grande sucesso. Em muitas ocasiões, no ano de 1933, os microfones são colocados na janela do prédio e Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 374 o público assiste ao vivo na Praça da República. O som não é nada bom, por exemplo, as irradiações esportivas são feitas em uma sala com oito telefones na parede, com linhas diretas para os campos onde se realizam os jogos. A seção esporti- va é de José Augusto de Siqueira. Ele fica no estúdio-sala e, dos campos, cada repórter fala pelo telefone o resultado do jogo, apenas isso, pois não há na época tecnologia para outro tipo de transmissão. Lembramos que experiências do tipo são feitas atualmente (e é recente), com programas de radiojornalismo (CBN), programas humorísticos esportivos, tais como “Na Geral”2, da Rádio Bandeirantes, onde a rádio transmite o programa de hipermercados em diversas regiões de São Paulo – capital e interior, focando o caráter popular do programa humorístico esportivo. É neste período no início dos anos 1930, especifica- mente em 1932, que explode a Revolução Constituciona- lista e nos vêm então algumas questões: Por que a Record? Por que motivo Paulo Machado e a Record enveredam tão profundamente na revolução? É por ideologia, por in- teresse comercial? Afinal o que leva um empresário bem sucedido(vinha do ramode luminosos a gás neon até 1931) enveredar por uma guerra disponibilizando sua empresa ra- diofônica e sua vida? Tentando responder estas questões, acreditamos pri- meiramente que Paulo Machado de Carvalho é envolvido na guerra pela classe dominante paulista e por articulação 2. O programa é apresentado no fim da tarde, com tom humorístico, mas de muito bom gosto, inclusive com imitações que lembram os tempos áureos do rádio brasileiro. Não apela para o escracho e também não é tão sério e sisudo. Interessante e engraçado, sem quadros fixos e tendo o futebol como pano de fundo, constantemente fala um pouco da história e memória do rádio, através de personagens e/ou datas e fatos marcan- tes. É apresentado por um trio, formado por Beto Hora, Lélio Teixeira e José Paulo da Glória, na rádio Bandeirantes de São Paulo. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 375 política, pois representa exatamente o pensamento paulis- ta de progresso e prosperidade, pensamento que interessa ser difundido por esta classe. O rádio naquele momento é uma verdadeira paixão popular, um mediador da cultura brasileira, particularmente da cultura popular, assim, ideal para atingir as massas, e, nesse sentido, a Record realmente cumpre o papel de aglutinação e manipulação das massas. Por outro lado, não temos dúvida que Dr. Paulo não tem noção do terreno em que está pisando, assim como a gran- de massa e a classe média que abraça a revolução. Acredita- mos que por um pouco de ingenuidade, mas também levado pelo sentimento anti Getúlio Vargas, Paulo Machado penetra o mais fundo que pode na revolução. Também por interesse comercial (sentindo a oportunidade de transformar a Record em uma emissora maior, com mais poder, que tinha como espelho a aristocrática Rádio Educadora Paulista), mas pos- teriormente, já envolvido pelo próprio discurso e a evolução dos fatos, se mostra ideologicamente comprometido com a revolução, acreditando que pode realmente ter um país mais justo, sem a tirania ditatorial de Getúlio Vargas e também sem ter que se prostrar aos desígnios incertos dos tenentes. Esta leitura se deve principalmente ao fato de que quan- do do término da revolução, os principais expoentes e lí- deres combatentes ou são mortos em batalha, ou presos ou exilados. Com Paulo Machado, entre outros líderes de classes privilegiadas, nada disso ocorre. Nossa análise con- sidera as palavras de Paulo Machado em entrevista citada acima, feita em 1979. No documentário radiofônico sobre a Rádio Record, comemorativo aos 45 anos da emissora, ele conta que o Movimento foi um marco idealista da Rá- dio Record e a voz da Record estava presente nos corações do povo paulista, com a locução de César Ladeira, o que a transforma realmente na “rádio da revolução” e César La- deira a “voz da revolução”. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 376 Eu outro dia mostrava ao Passos, que naquele tem- po era Chefe de Gabinete de Pedro de Toledo, as intimações diárias que eu recebia para ir ao Largo do Palácio, aonde era a Chefatura de Polícia. Todas as vezes que eu chegava lá eles me diziam assim: bom, era prá ser o seu dia hoje (de ser exilado) mas não foi. O senhor vai receber uma outra intimação. Daí a três dias outra intimação, daí a três dias outra intimação. Mas acontece que nesse vai e vem, to- mou conta de São Paulo um homem a quem São Paulo deve muito, muito. Naquele tempo era o Co- ronel Cordeiro de Faria e, esse homem deu calma a todos que precisavam ter calma, não perseguiu a quem ele entendia que não tinha culpa no cartório e, por isso, ele me chamou, teve uma grande en- trevista comigo e disse: “não! Você fez isso por um ideal muito bonito, muito defensável, muito claro, muito honesto e muito decente. Então, vai para sua casa e sossegue. Ainda sobre a inserção da Record na Revolução e o pa- pel que exerce na articulação e liderança das massas, Paulo Machado conta que a revolução traz grande prestígio para a Record, de tal forma que, por exemplo, a música que se torna símbolo da guerra civil Paris Belfort 3, é também um símbolo muito bem guardado nos arquivos da rádio como número 3. De certa forma quando a banda da Força Públi- 3. Paris Belfort - Essa marcha foi executada como música de fundo quando da transmissão pela Rádio Record de São Paulo do assas- sinato dos quatro constitucionalistas que, com sua morte, passaram a simbolizar o MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo). O tema musical passou a ser reprisado sempre nas locuções de César Ladeira, Nicolau Tuma e Renato Macedo, sobre o desenvolvimento da guerra. A voz inflamada de César Ladeira movia multidões. A marcha é apenas musicada, não há letra. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 377 ca executa este hino, e faz isso nas principais solenidades de São Paulo, é também uma homenagem à rádio, que eterni- za o hino. Sobre o período, Paulo Machado fala: Na revolução as coisas passavam-se daquele jeito: nós fazíamos o que era possível, tínhamos surpresas extra- ordinárias porque o alcance da estação que talvez fosse de 100 km, as vezes era ouvida na Bahia, e nós ouví- amos notícias da Bahia, que tinha ouvido lá um tre- cho...não sei do que. Nessa ocasião apareceu o seu Cé- sar Ladeira, com uma voz linda, mas que deve também muito, muito, o seu sucesso, o que não o desmerece absolutamente, aos artigos, aos lembretes, às frases que eram escritas por Antonio de Alcântara Machado, que trabalhava conosco gratuitamente na revolução, que passava-se a noite inteira quase que lá, fazendo, ajudan- do, para que aquele movimento valesse. De Antonio Alcântara Machado eu tenho uma coisa interessante: foi o primeiro, o primeiro homem de rádio que fez um anúncio fora do comum, inteligente e que marcou época, naquele tempo [...] A Rádio Record atravessa todas as mudanças tecno- lógicas e culturais por que passa São Paulo desde 1931, marcando uma época na radiodifusão brasileira. Nos anos 1930, abre seus microfones para os constitucionalistas de São Paulo na Revolução de 1932. Paulo Machado fala so- bre “corajosos homens aqueles, que não faziam concessões e barganhas por interesses menores e pessoais, valorizavam bem mais os companheiros, as ideias e o espírito criativo”, cai por terra esta fala quando analisamos a postura da elite paulista logo após a derrota em São Paulo, fazendo acordos nos porões e gabinetes do ditador. Nos anos 1930, concorre com a Record emissoras como a Rádio Cruzeiro do Sul, Bandeirantes, Cultura, América e Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 378 Difusora. Para fixar a marca junto ao ouvinte as emissoras passam a fixar slogans,tais como: Rádio Bandeirantes, a mais popular; Rádio Gazeta, a emissora da elite; Rádio São Paulo, a voz amiga; Rádio Record, a maior ou a voz de São Paulo. Po- demos considerar os anos 1930são de explosão das rádios no Brasil, dezenas são inauguradas em São Paulo capital, litoral e interior. Em 1937, entra na cena radiofônica o poderoso Assis Chateaubriand que, ao seu império jornalístico, deci- de incorporar o rádio, inaugurando em São Paulo a Rádio Tupy em 4/9/1937, ampliando assim sua cadeia nacional de comunicação, as Emissoras Associadas, agora não mais se li- mitam apenas à mídia impressa, jornais e revistas; meses an- tes é inaugurada no Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1936, uma influente emissora, a Rádio Nacional. No início propriedade do grupo jornalístico A Noite e posteriormen- te em 1940, durante a vigência do Estado Novo, encam- pada pelo governo federal e transformada no chamariz da propaganda varguista, não apenas no Brasil, mas irradiando com seus potentes transmissores para os cinco continentes. Getúlio Vargas tem um verdadeiro deslumbramento pelo rádio que vem desde o início dos anos 1920, provavelmen- te reflexo dos problemas ocasionados pela Record durante a revolta paulista em 1932, o sucesso da anti propaganda revolucionária transmitida por rádios do lado da ditadura e a lição que vinha da Alemanha nazista, de Portugal, da Espanha e da Itália. Logo após assumir o poder em 1933, Hitler nomeia como ministro da propaganda Joseph Go- ebbels: todo alemão deve ter um rádio em casa. O líder soviético Lenin, ao assumir na Rússia em 1917, prioriza o jornal e o cinema, por ironia, não prioriza o rádio. Por aqui o rádio serve para a penetração ideológica populista/ conservadora, que Getúlio soube capitalizar, manipulando este potencial e atingindo com habilidade o maior número possível de cidadãos. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 379 Naquele período, a Record contribui e muito para a união de todos a favor de São Paulo, ajudando a formar o ambiente revolucionário, inclusive porque música é uma das matérias-primas do rádio, nesse sentido, diversos hinos são compostos durante a Revolução Constitucionalista de 1932. A história deixa claro que a Revolução visa forçar o cumprimento pelo governo Vargas dos compromissos da revolução de 30, assim, algumas canções de 30 são atualiza- das. Outros hinos, criados mais tarde denotam a grandeza da pátria paulista, porém, realmente “Paris Belfort”, torna- -seo hino revolucionário. Uma atitude paulista que ficou marcada na história da- quele período e para as gerações futuras é a “campanha do ouro para o bem de São Paulo”. Trata-se de um esforço geral de guerra, onde as indústrias se mobilizam para aten- der às necessidades de armamentos, e também a população se une em torno de um ideal democrático. Pela primeira vez busca-se iniciativas não apenas militares para romper o isolamento a que o Estado é submetido. Faltam, no en- tanto, as forças mineiras e gaúchas. Os governos de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, embora apoiem a luta pela constitucionalização, decidem manter-se leais ao Governo Provisório e traem São Paulo. Os boletins de César Ladei- ra ecoam juntamente com a marcha francesa Paris Belfort pelas rádios de São Paulo da época, na capital, litoral e no interior do Estado. O jornal O Estado de S. Paulo e a famí- lia Mesquita são também essenciais para a revolução e , na Rádio Eldorado, do grupo Estado, a marcha Paris Belfort é o prefixo oficial. São de César Ladeira as palavras a seguir, com gravação original da Rádio Record, em 1932, com o objetivo de alavancar a campanha do ouro. O paulista não mudou ! Há três séculos, quando a epopéia das bandeiras subia brilhando ao delírio Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 380 da riqueza e Anhanguera, O Diabo Velho, o ciclo de paulistas, surpreendido amava no sertão escu- ro. A tribo goias. dançava ao luar, nua, suntuosa, e os cabelos emboados de ouro e arcas abarrotadas abriam-se como estojos e maravilhas despejando-se todas aos pés do monarca português, nessa idade do ouro de nossa história. Conta-se que os caça- dores, à falta de chumbo, carregavam as espingardas com bolotas de ouro puro. O paulista não mudou. A campanha do douro para a vitória reedita a proe- za luxuosa dos nenrodesda mineração. Enquanto o paulista faz recuar a ferro e a fogo e cada vez mais afastar-se, à força de bravuras épicas, as fronteiras do Brasil Constitucionalista, como antigamente fez retrair seu Meridiano de Tordesilhas, aqui, nas terras firmes da retaguarda, como aqueles caçadores do século XVII, outros paulistas, velhos, mulheres, crianças, carregam de ouro a arma certeira, que vai alcançar no seu vôo alto e claro, a vitória de asas brancas. O paulista não mudou ! O Senhor deu, O Senhor tirou ! Seja bem-vindo o nome do Se- nhor ! Sem se lamentar, sem maldizer um instante a vontade superior que tudo lhe tirava, Jô transfor- mava em riqueza a pobreza que a tinha aceitado e bem-dizia. Um divino desígnio exigiu também de São Paulo a entrega de seus filhos e seus bens. O paulista, orgulhoso do martírio, abençoou o sa- crifício. Largamente abriu a porta de seus lares e o fecho de suas bolsas. E toda a sua mocidade, a sua inteligência, a sua beleza, a sua força, escorre a vai na confusão cávida fardas, purificar-se toda, pure- zainabalável no heroísmo esplêndido das trinchei- ras. E o seu ouro se derrama todo, puro e instantâ- neo os guichês dos bancos para formar o tesouro de guerra, o alicerce precioso sobre o qual atentará o monumento eterno da honra paulista. Todo paulista sabe dizer como Jô: São Paulo me deu, São Paulo Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 381 me tirou, seja Bendito o nome de São Paulo. Todo paulista sabe ser pobre como Jô, para com esta po- breza, alcançar a riqueza maior, a riqueza melhor, a riqueza gloriosa, a riqueza suprema, a única riqueza que São Paulo quer: a vitória, a vitória, a vitória. Como dissemos, a mais poderosa mídia da época é o rádio e a Rádio Record, entre as demais, é a que chama para si a tarefa e a cumplicidade com a revolução. Quan- do os manifestantes paulistas enfrentam em 23 de maio de 1932, os membros da Legião Revolucionária (transformada no Partido Popular Progressista, sob a liderança de Miguel Costa) e são mortos os jovens estudantes, a Record está acompanhamento tudo de perto, muito perto pois estes acontecimentos se dão bem em frente ao número 17 da Praça da República, onde está situada a Rádio. O que percebemos, e é uma constatação a partir dos acontecimentos daqueles dias é que a Rádio Record não tem muita escolha pois, como escreve Elmo Francfort Ankerkrone (2001), os estúdios da rádio são invadidos pelos manifestantes um pouco antes de todas as manifestações e o assassinato dos jovens MMDC. Os estudantes entram então na sala de Paulo Machado de Carvalho e mandam que ele abra os microfones e coloque no ar a leitura de um abaixo- -assinado. A Rádio Record já tinha se posicionado, mas, naquele momento, investe tudo o que possui na revolução. Com a invasão e a tomada da emissora, foi lido ao vivo: Nós, os abaixo-assinados, declaramos que invadi- mos, à valentona, os estúdios da PRB-9 Rádio Re- cord de São Paulo, e conclamamos o povo para que se mude a situação política existente no Brasil. Após a leitura do abaixo assinado, lêem também o nome de cada um dos que assinavam o manifesto contra Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 382 Getúlio Vargas. Claro que Paulo Machado de Carvalho a essa altura, como escrevemos acima, já tinha aderido à Revolução, mas a leitura do manifesto dos estudantes ao vivo na Record leva Getúlio a tê-lo realmente como ini- migo. A partir daquele momento e eclodindo a revolu- ção, a Rádio Record não mais responderia ao governo federal, que controla todas as emissoras do país, menos em São Paulo e Mato Grosso. A Record demonstra as- sim como previu Getúlio Vargas, o poder do meio para mover as massas como um grande e ágil instrumento de comunicação. O rádio demonstra pela primeira vez des- de a fundação oficial da primeira rádio brasileira (Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 20 de abril de 1923), toda sua enorme potencialidade informativa e po- lítica. A Rádio Record de São Paulo assume seu papel na história, o papel de porta-voz do movimento e pelas vozes de três locutores: César Ladeira, Nicolau Tuma e Renato Macedo, que leva a todo país o noticiário dos revoltosos paulistas furando o bloqueio da censura varguista. Ankerkrone, considerando a relação de Getúlio com São Paulo, escreve: A imagem que o governo getulista passava para o resto do Brasil era a de que São Paulo queria se se- parar e que nós exigíamos leis que iriam prejudicar o restante do país e só nos beneficiar. É bom lem- brar que a revolução aconteceu dois anos depois da de 30, onde os brasileiros brigavam contra a auto- ritária política café-com-leite, onde paulistas e mi- neiros tomavam conta do poder. Após isto, Getúlio Vargas assumiu o poder e tornou igualitária a força entre todos os Estados. Só que não foi por muito tempo assim. Getúlio via São Paulo como um Esta- do que humilhou todos os outros por tantos anos e queria agora a vingança, humilhando-os, querendo http://www.mediacast.com.br/mediacast/gera_asx_novo.asp?MMEDIA=698 http://www.mediacast.com.br/mediacast/gera_asx_novo.asp?MMEDIA=698 http://www.mediacast.com.br/mediacast/gera_asx_novo.asp?MMEDIA=698 http://www.mediacast.com.br/mediacast/gera_asx_novo.asp?MMEDIA=698 http://www.mediacast.com.br/mediacast/gera_asx_novo.asp?MMEDIA=698 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 383 puni-lo com todas as leis possíveis e colocando um interventor não-paulista para administrar o Estado. Só que os paulistas não gostaram da brincadeira. O que ocorre a partir daí, é que aos poucos as demais rádios e jornais se aproximam e se põem a favor da re- volução. No dia 9 de julho, tendo como fundo a Marcha da Revolução, César Ladeira coloca no ar mensagens pa- trióticas, que aclamam o espírito paulista contra os ge- tulistas. Guilherme de Almeida escreve poesias para que César Ladeira as declame, aumentando mais ainda a força dos revolucionários ouvintes da Rádio Record. As rádios de São Paulo tocam o dia inteiro a marcha e o locutor João Neves de Fontoura, de acordo com as demais falas, congrega o povo paulista:“O espetáculo de São Paulo em armas entusiasma mesmo os céticos; há uma estranha be- leza nesta metamorfose marcial. Um povo de trabalhado- res despe a blusa e veste a farda [...]”. É nesse período, auge das vibrações dos paulistas contra a posição autoritária e ditatorial de Getúlio Vargas, que a Rádio Record é aclamada como “A Voz da Revolução”. César Ladeira, Renato Macedo, Licínio Neves e Nicolau Tuma até nas madrugadas fazem a campanha constitucio- nalista, dormindo no próprio estúdio da rádio. A PRB-6 Rádio Cruzeiro do Sul, também está presente a favor dos revolucionários, mas não com a mesma força da Record. Não podemos nos esquecer que outros meios, além do rádio e o jornal,são extremamente significativos para São Paulo, tais como o rádio amador e o telégrafo, utilizados pelas tropas como meio de comunicação em todas as ci- dades paulistas. Os intelectuais da época, tais como, Monteiro Loba- to, Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, Paulo Duarte, Paulo Setúbal e Mário de Andrade, colocam-se Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 384 junto ao movimento e ficam à disposição da rádio. Me- notti Del Picchia é um dos que conclamam os paulistas: “Paulistas, vós que tendes o coração de ouro, dai ouro para São Paulo”. Pessoas de todas as classes sociais doam suas joias, pratarias, alianças e objetos de ouro para financiar a Revolução. Em troca recebem um anel com a inscri- ção: Dei ouro para o bem de São Paulo. Uma doação como esforço de guerra que chama a atenção em 1932, com grande destaque no rádio e demais meios de co- municação da época, vem de Maria Zelinda de Glycério Torres. Abaixo, a publicação oficial do jornal A Tribuna, de Santos, edição de 28 de setembro de 1932 (docu- mento original): Ouro para a Victoria Continuam as offertas á Associação Commercial A campanha do ouro para o bem de São Paulo re- cebeu hontem uma dadiva que se singulariza pelo seu valor material e sobretudo pela sua valia estima- tiva e pelos alevantados e eloquentes motivos que a ditaram. Eis a carta que acompanhou essa expressiva offerta: “Corrente que pertenceu ao general Francisco Glycerio, propagandista campineiro da Republica; offerecida por sua filha ao ‘Ouro para a Victoria’, em memoria de seu inesquecivel pae e como pro- testo ao bombardeio aereo de Campinas pelos dita- toriaes. Santos, 26 de setembro de 1932 - (a.) Maria Zelinda Glycerio Torres”. A corrente, acompanhada de artistico medalhão com 2 diamantes e um brilhante, pesa 56 grammas de ouro e é obra de fino lavor. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 385 - Vem tendo lisonjeira repercussão o acto de al- gumas firmas comerciaes de offerecer ouro para a victoria. Ainda hontem os srs. Figueiredo, Lima e Cia. Ltd. offertaram também 200 grammas de ouro de 18 quilates. Cada dia se impõe mais á nossa admiração o apoio de nosso alto commercio a todas as iniciati- vas da campanha constitucionalista em Santos. - Cada dia avulta mais, em variadas modalidades, a cooperação patriotica de Santos á campanha em que Sâo Paulo se empenhou. Assim, podemos no- ticiar, com justificado desvanecimento, que a venda de objectos offerecidos ao “ouro para a Victoria” atingiu, nestes poucos dias, a 20 contos de réis. É intenso o movimento desse departamento de campanha, que funciona na rua 15, esquina da Frei Gaspar. Muitos símbolos são criados para a revolução como esforço de guerra e, o “Album de figurinhas da Revolução de 32”, organiza todos esses símbolos, que são vendidos para a população. O álbum é um documento bastante raro pois circula pouquíssimo tempo, apenas alguns meses de 1932, e, ao término da revolução torna-se absolutamente ilegal e desaparece. Alguns desses objetos das fotos de fi- gurinhas estão listados no índice das páginas seguintes e contém um número, identificando-os. Trata-se da criação de símbolos da identidade revolucionária. O álbum faz parte de acervo pessoal do engenheiro José Paulo Car- chedi Roxo. Vejamos: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 386 Capa do álbum de figurinhas de 1932 para o esforço de guer- ra da Revolução de 1932. Fonte: acervo pessoal de José Paulo Carchedi Roxo. Acesso ao acervo: outubro de 2008. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 387 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 388 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 389 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 390 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 391 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 392 Em nossas pesquisas percebemos que a relação da Re- cord com a guerra civil acontece quando, ao abraçar a Re- volução, a rádio passa a “proteger” os soldados na frente de batalha, e, realmente, cumpre este papel. Segundo de- poimento de Paulo Machado de Carvalho, a emissora não deixa faltar cobertores e agasalhos e tudo de que precisam aqueles que entram na Revolução. Tudo isso é fornecido por empresas, com boa vontade e cumplicidade com uma rádio que representa os anseios da sociedade paulista. Da entrevista já citada, deixa o Dr. Paulo gravado: Quando acabou a revolução de São Paulo, com o Governador Pedro de Toledo, nós não tínhamos um tostão em caixa e devíamos o diabo porque... para todas as fábricas de São Paulo. E aí São Paulo é grande; e aí São Paulo demonstrou que é São Pau- lo... Para todas as fábricas a quem nós solicitávamos cobertores, nós solicitamos lençóis, nós solicitamos tudo o que era possível mandar para as tropas que estavam na frente, todas as fábricas, todas... acabada a Revolução, se recusaram a receber. Mesmo por- que nós íamos com a mesma calma e dizíamos:...não temos como pagar... Tudo o que nós tínhamos nós pusemos na Revolução constitucionalista. Mas valeu, valeu. O Brasil tá de pé até hoje por causa disso. O Brasil está de pé até hoje por causa de seus homens. Nicolau Tuma, que aliás trabalha pouco tempo na Re- cord, quando começam as transmissões esportivas, de mea- dos para final dos anos 30, em entrevista a José Mauro Pires (2000, p.77-95), relata sobre a época: Mal eu chego à Record estoura a Revolução de 32. Eu quero contar um pouco da história de São Paulo daquela época. São Paulo de 32...68 anos passados... Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 393 era uma cidade um pouco mais provinciana. Quer ver quanto tinha de habitantes na época...um mi- lhão, novecentos mil habitantes...e ainda nós tí- nhamos certos costumes antigos...uma moça não saía sozinha à rua, não entrava num café, não podia entrar num restaurante e não havia boates. Então a cidade...como é que funcionava o encontro de moças e rapazes. Nas escolas, nos colégios, casas de família, reuniam-se grupos de moços e natural- mente sempre os estudantes estavam sempre privi- legiados, convidados, que era uma forma de fazer a aproximação de rapazes e moças. Com isso acre- dito que se estabeleceram muitos namoros, muitos casamentos, porque foi a forma de se aproximar a mocidade. A gente se aproxima nas quermesses, nas festas paroquiais, festas de escola. No dia 8 de ju- lho de 1932, eu mesmo participava de uma festa em casa de família, numa família do bairro da Bela Vista. Mas, naquele tempo a festa não ia até tarde não. Onze horas, onze e meia da noite a gente se despedia porque era do costume da época. Chego até a cidade, tomo um bonde e vou até a “prainha”, na avenida São João, e vi um movimento fantástico de soldados, carros militares. Eu perguntei: o que está havendo? Ah! Á a Revolução...Como Revolu- ção? ...É na Faculdade de Direito... Eu fui correndo para lá e de fato a Faculdade de Direito estava em ebulição, a minha escola de onde eu havia saído há menos de um ano. Enfim, conversei lá com alguns colegas e professores. Estava uma azáfama danada, corrida pra todo lado, soldados já com farda. Dis- seram... é a Revolução! Eu sempre fui do partido democrata, como estudante em 1930, quando as tropas entraram em São Paulo como se fosse uma terra conquistada...Mas não foi conquistada...É que aqui havia muitos desafetos de uma Revolução, querendo uma modificação dos costumes políticos Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 394 e eleitorais. Então em 1930, eles julgavam ter con- quistado São Paulo. E aquilo criou um espírito de revolta, e aquilo foi se agravando, até o estouro da Revolução de 1932. Sobre a trágica história do MMDC, Nicolau Tuma diz que em maio de 32, ele não está mais na Rádio Re- cord, está na cidade de Rio Claro e depois em Itirapina e lá organiza um comício condenando o fuzilamento dos moços na Praça da República, esquina com a Barão de Itapetininga. Estes estudantes, como quase toda a juven- tude paulista da época está engajada na Revolução e luta contra a posição interventora de Getúlio Vargas, que havia se empossado militarmente do governo no Rio de Janeiro prometendo eleição, mas nada de eleição, é tudo interven- toria, e interventorias militares não estavam afinadas com o espírito estudantil, a vida, com as tradições e a história de São Paulo. Em 1º de outubro de 1932, as tropas de Getúlio Vargas conseguem sobrepor os revolucionários paulistas. Só que ao perder, São Paulo ganha porque em 1932, Getúlio acaba por aceitar as normas paulistas para modificar a Constitui- ção Nacional. César Ladeira é preso por 16 dias e volta para a Record logo em seguida. Em 1933 se transfere para a Rádio Mayrink Veiga no Rio de Janeiro, onde se torna, em pouco tempo, diretor geral da emissora. Referências ADAMI, Antonio. O Rádio com sotaque paulista. In: São Paulo na Idade Mídia. ADAMI, A. e MARQUES DE MELO, JOSÉ. (orgs.). São Paulo: Arte e Ciência, 2004, p. 107-119. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 395 ______________. São Paulo pelas ondas do rádio: a Rá- dio Record de Paulo Machado de Carvalho. In: Mãos que fizeram São Paulo. LONGHI, Carla Reis e ADAMI, A. São Paulo: Celebris, 2003, p. 72-85. ______________. Rádio Cultura – a voz do espaço. In: Comunicação e Sociedade, 2006, p. 129-142. ADDUCI, Cássia Chrispiniano. A Pátria Paulista. São Paulo, Arquivo do Estado/Imprensa Oficial de São Paulo, 2000. ALENCAR, César. Revista do Rádio, nº 765, 16 mai 1967. ANKERKRONE, Elmo Francfort. A força da mídia em 1932. In: BARROS, Joaquim Fernando de. A Pátria Paulista: cartas de propaganda separatista de J.F.Barros. S.Paulo, Typ. Da provin- cia, 1887. BERTELLI, Luiz Gonzaga e outros. A Revolução de 32 – Um painel histórico.. São Paulo: Academia Paulista de Histó- ria/Instituto Roberto Simonsen, 2 ed. 2001. BEZERRA, Holien Gonçalves. O Jogo do Poder. São Paulo: Editora Moderna, 1988. ________________________ Artimanhas da dominação. São Paulo – 1932. Tese de doutoramento. Universidade de São Paulo: 1982. CAMARGO, Áureo de Almeida. A epopéia; o batalhão 14 de julho. São Paulo: Saraiva, 1933 CARVALHO, Paulo Machado de e DUARTE, Raul. Depoimentos à Secretaria Municipal de Cultura. Centro Cultural São Paulo. São Paulo: outubro de 1979. Entrevista concedida a Beth Carmona. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 396 CARVALHO, Paulo Machado de. História da Rádio Re- cord. In:Anais da BBC - O Rádio no Brasil. Londres: Serviço Brasileiro da BBC, 1998. CARVALHO FILHO, Paulo Machado de. Rádio Record. São Paulo: 20 out. 2003. Entrevista concedida a Antonio Adami. CARVALHO, Florentino de. A Guerra civil de 1932 em São Paulo; solução imediata dos grandes problemas sociais. São Paulo: Ariel, 1932. CARVALHO, Francisco Afonso de. Capacete de aço; cenas da luta do exército do leste no Vale do Paraíba. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933. CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoque – 1808 – 1964 – a história contada por jornais e jornalistas. Rio de Janeiro, Re- cord, 2001. COARACY, Vivaldo de Vivaldi. O caso de São Paulo. São Paulo: Ferraz, 1931 DINIZ, Almacchio Gonçalves. São Paulo e sua guerra de se- cessão. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1932. DONATO, Hernani. A Revolução de 32. São Paulo: Círculo do Livro, 1982. ELLIS JR., Alfredo. A nossa guerra. São Paulo: Piratininga, 1933. FARIA, Álvaro Alves de. Jovem Pan: A voz do rádio. São Paulo, RG Editores, 2002. FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo,Edusp, 2006. 12 ed. FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína. Usos e abusos da história oral. (4 ed). Fundação Getúlio Vargas, 2001. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 397 FIGUEIREDO, Euclydes de. Contribuição para a História da Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo, Martins, 1954. GONÇALVES, Clovis. Carne para Canhão! O front em 1932. Rio de Janeiro: Renascença,1933. GORENDER, Jacob. Coerção e consenso na política. O pensamento revolucionário: da burguesia ao proletariado. In: www.scielo.br, 1988. Pesquisa realizada em setembro de 2009. HENRIQUES, Afonso. Ascensão e queda de Getúlio Vargas. Rio de Janeiro:Record, 1966. LOUZADA, J.C. PRA-7 Rádio Clube de Ribeirão Preto. In:Diário de São Paulo. São Paulo, 31 de agosto de 1934. sd. MALUF, Nagiba Maria Rizék. Revolução de 32. São Paulo, Edicon, 1986. MEIRELLES, Domingos. 1930 Os órfãos da Revolução. Rio de Janeiro: Record, 2005. NOGUEIRA FILHO, Paulo de Almeida. Ideais e lutas de um burguês progressista; a guerra cívica – 1932. Rio de Janeiro: José Olympio, 1965, 1966, 1967, 1971. 4 vol. OSÓRIO, Manoel. A guerra de São Paulo, 1932; esboço crítico do maior movimento armado no Brasil. São Paulo: Americana, 1932. ______________ O Brasil unido, ou o separatismo paulista. São Paulo: Piratininga, 1934. PAIM, Antonio. Oliveira Vianna e o pensamento autori- tário no Brasil. In: Instituições políticas brasileiras – vol 2 – Coleção reconquista do Brasil. Orgs. PAIM, A; MACIEL DE Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 398 BARROS, R.S.; COSTA NUNES, R. A. Belo Horizon- te: Itatiaia; São Paulo: Edusp; Niterói-RJ: Editora da UFF, 1987. PAULA, Lafayette Soares de. São Paulo em ano após a guerra – 1932-1933. Rio de Janeiro: Calvino, 1934. PEREIRA, Antonio Carlos. Folha Dobrada – Documento e história do povo paulista – 1932. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1982. PIRES, José Mauro. O Resgate da História do Rádio Paulista- -AM até anos 60 (Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulis- ta-UNIP). São Paulo: 2000. PIRES, Thirso (org). Almanaque do rádio paulistano de 1951. São Paulo: jan. de 1951, s/n. PONTES, José Alfredo Vidigal. 1932 O Brasil se revolta: O caráter nacional de um movimento -democrático. São Paulo: Edi- tora Terceiro Nome/O Estado de S.Paulo, 2004. RATEG, Petra. O Rádio na Europa: DEUTSCHE WEL- LE e WDR. Colonia-Alemanha: 26 out. 2006. Entrevista concedida a Antonio Adami. ROCHA, Vera Lúcia e HERNANDES VILA, Nanci Va- lença. Cronologia do rádio paulistano: anos 20 e 30.São Paulo: Centro Cultural São Paulo/ divisão de pesquisa, 1993. ROCHA, Heliodoro Tenório Marques da e OLIVEIRA, Odilon Aquino de. São Paulo contra a ditadura. São Paulo: Ismael Nogueira, 1933. SAROLDI, Luiz Carlos e MOREIRA, Sônia Virgínia. Rádio Nacional: O Brasil em Sintonia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2005. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 399 SCHMIDT, Afonso. A locomotiva; a outra face da revolução de 1932. São Paulo: Brasiliense, 1959. SILVA, Hélio. 1932: a guerra paulista. Rio de Janeiro: Civili- zação Brasileira, 1967. SILVEIRA A. Louzada-Bueno: no começo do rádio brasileiro. In: Jornal de notícias. Ribeirão Preto, 26 de setembro de 1979. p.3. SIMÕES, Auriphebo Berrance. Um punhado de nada; São Paulo – 1932 – Revolução. São Paulo: Brasiliense, 1979. TINCANI, Daniela Pereira. PRA-7 A estação do coração de São Paulo. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós- -Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP). São Paulo: 2005. TUMA, Nicolau. Entrevista. São Paulo: 14 out. 1998. En- trevista concedida a Antonio Adami e José Mauro Pires. Sites pesquisados ANKERKRONE, Elmo Francfort. A força da mídia em 1932. Disponível em www.sampaonline.com.br/colunas/ elmo/ Pesquisa realizada em 23/05/2009. Biographicon. Disponível em: . Pesquisa realizada em janeiro de 2009. Blog do Chico Fonseca. Disponível em: . Pesquisa realizada em 23/05/2009 Correspondência Musicológica Euro-Brasileira - site da Akademia Brasil-Europa - Institut für Studien der Musi- kkultur des portugiesischen Sprachraumes e. V. - Instituto http://www.sampaonline.com.br/colunas/elmo/ http://www.sampaonline.com.br/colunas/elmo/ http://chicofonseca.blogspot.com/2008/07/32-revoluo-do-rdio.html http://chicofonseca.blogspot.com/2008/07/32-revoluo-do-rdio.html Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 400 Brasileiro de Estudos Musicológicos, de Colônia/Alema- nha. Acesso em dezembro de 2008. Disponível em: . Acesso em 07/03/2007. Enciclopédia Nosso Século, 1980, Ed. Abril, São Paulo/SP. Acesso em janeiro de 2009. História do Rádio. Disponível em: . Consultado em 27/05/2009 Jornal O Rebate. Disponível em: . Pesquisa realizada em agosto de 2008. Novo Milênio: Especial Revolução de 1932. Disponí- vel em: . Pesquisa realizada em 23/05/2009 Novo Milênio: Histórias e Lendas de Santos. Disponível em: . Pesquisa realizada em 01/04/2009. Pegue.com. Disponível em: . Consultado em 27/05/2009. Radiobras. Site oficial da Empresa Brasileira de Radiodi- fusão. Acesso em janeiro de 2009. Disponível em: . Acesso em dezembro de 2009. Sampa Online. A Força da Mídia em 1932. Disponível em: . Acessos em 06/01/2008 e 20/05/2009. Scientific Eletronic Library Online. Disponível em: . Pesquisa realizada em dezembro de 2008. http://www.microfone.jor.br/historia.htm http://www.microfone.jor.br/historia.htm http://www.jornalorebate.com http://www.jornalorebate.com http://www.novomilenio.inf.br/festas/1932sp.htm http://www.novomilenio.inf.br/festas/1932sp.htm http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0186h.htm http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0186h.htm http://www.pegue.com/radio.htm http://www.pegue.com/radio.htm http://www.radiobras.gov.br http://www.radiobras.gov.br http://www.sampaonline.com.br/colunas/elmo/coluna2001jul06midia.htm http://www.sampaonline.com.br/colunas/elmo/coluna2001jul06midia.htm http://www.scielo.br http://www.scielo.br Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 401 Wikipédia. Disponível em: . Consultado em 14 de novembro de 2008. http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Bibliografia_sobre_a_Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1932 http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Bibliografia_sobre_a_Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1932 http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Bibliografia_sobre_a_Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1932 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 402 18. Radio Musical en España David Álvarez1 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Madrid, España Resumen Durante los últimos años la radio temática musical ha consolidado su fortaleza dentro del mercado radiofónico. Esta consolidación se ha traducido en una reticencia a la innova- ción, lo que ha derivado en un panorama radiofónico homo- géneo, donde unos y otros emplean prácticamente el mismo formato. A consecuencia de esto las nuevas generaciones se olvidan de la radio, centrando su atención en otros medios como por ejemplo internet, provocando un estancamiento en las cifras de audiencia. En el presenten articulo conoceremos algunas de las principales radios musicales privadas españolas y 1. David Álvarez (UCM) Doctorando en el programa de postgrado de periodismo de la Universidad Complutense de Madrid - UCM – Madrid, España. Email dalvarezfm@gmail.com mailto:dalvarezfm@gmail.com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 403 reflexionaremos sobre la manera en la que este negocio debe reinventarse, apostando por nuevas formas de difusión y de contenidos que permitan la evolución del medio. Palabras clave: Empresa radiofónica, radio musical, conte- nidos digitales, formatos de programación. Breve historia de la Radio Musical en España: Adentrarse en la historia de la radio musical española nos lleva por obligación a centrar los focos de atención en Los 40 Principales. En mayo 1966 y coincidiendo con la auto- rización de la instalación y el funcionamiento normal de emisoras que pudieran poner en su programación música, nace dentro de la programación de la Cadena SER2 “Los 40 Principales”, en su momento concebido como un programa más. Este había sido creado por el locutor Rafael Revert, el cual a petición de los responsables de la cadena ideó un es- pacio basado en el TOP 40 norteamericano, creando así una lista con las 40 canciones que más le gustaban. Al principio Los 40 Principales era un programa diario que se emitía en 10 emisoras y tenía una duración de dos horas. El programa se grababa y se enviaba a las emisoras, y estas lo ponían a la hora pactada. Víctima de su propio éxito, sobre todo entre la gente joven, el programa fue creciendo y ocupando cada vez más horas dentro de la programación. En este crecimiento tam- bién tuvo que ver la OM (Onda Media) ya que en aquel 2. Cadena de radio convencional o radio hablada líder en España integra- da en Prisa Radio, propietaria de la mayor red de emisoras de radio en España, de la que forman parte Los 40 Principales entre otras. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 404 momento la FM era sintonizada por muy pocas personas. Así el programa fue creciendo, destacan las 4 horas de emi- sión los sábados por la tarde en las que los oyentes podían elegir el número uno de la lista. Durante los 70, más en concreto a finales de la década, fueron pioneros en la creación del formato de la radio- fórmula en España. Poco a poco Los 40 Principales fueron creciendo, de- bido también a la creación de nuevas emisoras, llegando a emitir 24h diarias. Así ya en 1985, empezaron a emitir vía satélite, lo que supuso toda una revolución, ya que de este modo todas las emisoras emitirían la misma programación de manera simultánea. Aun así este proceso llevó su tiempo ya que fue dos años después en 1987, cuando Los 40 Prin- cipales se convierten en “Cadena 40 Principales” consi- guiendo esa simultaneidad en sus emisiones en todo el país. Las décadas de los 90 y los 2000 han estado caracterizadas por un desarrollo del producto en formatos diferentes a la radio, como son la televisión, con la creación de hasta dos canales te- máticos dedicados a la música y más tarde internet, con el we- bsite los40.com y las emisiones vía streaming. También durante este tiempo se han centrado en el desarrollo de Los 40 Prin- cipales como marca sólida que permitiese expandirse en otras áreas de negocio, sobre todo aquellas relacionadas con el ocio. La consolidación de Los 40 Principales como cadena de radio musical dio pie desde finales de los 80 a la aparición de otras cadenas. En el año 1989 y contando con la experien- cia de Radio Callao y Radio Corazón, arranco Cadena Dial. Fueron en el comienzo doce emisoras las que se marcaron como objetivo defenderse de la invasión de música anglosajo- na que afectaba a otras radios, para pasar a apoyar la produc- ción discográfica en español. En un principio la oferta musi- cal abarcaba diversidad de estilos musicales latinos, pero con el paso de los años se centró en el pop español y las baladas. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 405 En 1991 bajo la propiedad de Onda Musical y en cola- boración con el Grupo Antena 3 Radio nacía en Madrid Radiolé con la idea de ser una radio que apostase por la música más tradicional de España, potenciando así la difu- sión de la copla, la sevillana, el pasodoble y el flamenco. Esta nueva radio no tardó mucho tiempo en cambiar de manos, pasando a ser propiedad desde 1992 del Grupo Prisa tras adquirir estos el mando sobre el grupo Antena 3 Radio. Radiolé ha mantenido con el paso de los años la esencia de su creación, en lo que a selección musical se refiere, y se ha consolidado como oferta e radio musical adulta sobre todo en la mitad sur de España. No solo el Grupo Prisa lanzaba nuevas radios musicales al mercado, desde el Grupo Radio Popular dueños de la convencional Cadena COPE se ponía en funcionamiento en mayo de 1992 la Cadena 100. Esta nacía con la clara idea de ser una fórmula dirigida a personas enmarcadas en un segmento de edad entre 20 y los 35 años, que habían perdido el interés por las novedades musicales y que ha- bían dejado de sentirse identificados con el estilo de Los 40 Principales. De este modo la Cadena 100 se presentaba como una alternativa para aquel público que aparentemen- te se estaba perdiendo. A día de hoy y tras pasar etapas me- jores y peores, desde 2006 se encuentra viviendo su mejor momento desde su creación. En enero de 1993 y después de que el Grupo Prisa en 1992 se hiciese con Antena 3 Radio, surge el convenio entre Cadena Minuto, radio perteneciente a la Cadena SER y de- dicada a la música urbana, y Radio 80 Serie Oro, alternativa musical de Antena 3 Radio, dando lugar al nacimiento de M-80. Con ella se apostaba por un estilo cimentado en la música de calidad, combinando la emisión de una fórmula basada en los éxitos de los setenta, ochenta y noventa junto a novedades discográficas y boletines informativos a las medias Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 406 de cada hora, con espacios monográficos presentados por pre- sentadores de gran fama y reconocimiento para la audiencia, como el morning show “Gomaespuma” o el espacio vespertino “La Gramola”. Todo ello dirigido a un público adulto. Desde 1998 la cadena pasa denominarse M-80 Radio nombre que ha comercializado hasta la actualidad. Derivada de la emisora creada en Madrid en 1991 bajo la denominación de Onda Mini, nace en 1996 Europa FM. Durante sus primeros pasos, Europa FM se consolidó como un formato Soft Rock con una selección musical compuesta al 60 por ciento por novedades y al 40 por ciento por oldies de los 60, 70 y 80. Ya en 1999 es cuando se produce su ex- pansión como cadena fruto de un acuerdo con la cadena de radio convencional Onda Cero. Aunque ha tardado muchos años en despegar, el hecho de sobrevivir a los cambios en lo que a su titularidad se refiere, pasó de manos de Telefónica Media a Grupo Planeta (actual dueño de la cadena) y a varias restructuraciones internas la ha permitido consolidarse en la actualidad como una de las cadenas musicales más importantes en la radio española. Ya en el año 2002 el Grupo Prisa lanza nueva cadena mu- sical, se trató de Máxima FM, emisora dedicada a la música dance, que pasó a ocupar las frecuencias de Sinfo Radio. El que hasta hace poco era el producto radiofónico más joven del gru- po, ha sido de los más rentables, sobrepasando con tan solo 12 frecuencias en toda España el medio millón de oyentes. Actual- mente sigue adelante con su expansión en lo que a cobertura se refiere, con el objetivo de alcanzar el millón de oyentes. En el mismo año que Máxima FM comienza sus emi- siones lo hacía también Kiss FM, la cadena perteneciente al Grupo Radio Blanca. Dicha cadena puede presumir de haber cambiado la forma de hacer radio musical en España, siendo la primera en ofrecer una programación completa- mente basada en estudios del mercado radiofónico musical, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 407 con una programación basada en los grandes éxitos de la música nacional e internacional de las últimas décadas. Su creación estuvo además marcada por la importante polémi- ca entre Telefónica Media y Radio Blanca, quienes habían llegado a un acuerdo para el lanzamiento de la cadena por el cual Telefónica Media pagaría 18€ a Radio Blanca por cada oyente conseguido. El inesperado éxito de Kiss FM en un corto espacio de tiempo, llegando a alcanzar 1.366.000 oyentes propició la segregación entre ambos grupos, iniciándose la andadura en solitario de Kiss FM, que vio como en 2007 las justicia resol- vía a su favor el contencioso con Telefónica Media, teniendo esta última que pagar cerca de 200 millones de euros. Esta cantidad además de servir para asegurar el futuro de Kiss FM, permitió años después, ya en 2010, la creación de una nueva cadena de radio para el grupo, Hit FM emisora dirigida a un público joven y caracterizada por la programación de éxitos contemporáneos y las últimas novedades musicales. Principales grupos radiofónicos: En España las principales cadenas de radio musical están controladas por cuatro grupos de comunicación: Prisa Radio: Conocido anteriormente como Sociedad de Servicios Radiofónicos Unión Radio, S.L. e integrado den- tro del Grupo Prisa, constituye el mayor grupo radiofónico de habla española con casi 26 millones de oyentes y más de 1.100 emisoras entre propias y asociadas. Esta es la empresa en la que se enmarcan las cadenas musicales, Los 40 Prin- cipales, Cadena Dial, M80 Radio, Radiolé y Máxima FM. Además es también la propietaria de la Cadena SER y cuen- ta con una importante red de emisoras en Latinoamérica. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 408 Radio Popular: Es el grupo propietario de Cadena 100 y de la convencional Cadena COPE. Su gran peculiaridad radica en la composición de su accionariado, participado de manera amplia por la Conferencia Episcopal Española. Uniprex: Se trata de la filial dedicada a los negocios de radio del Grupo Antena 3. Suya es la cadena musical Euro- pa FM, así como la convencional Onda Cero. De entre su accionariado destacan sobre todo el Grupo Planeta, impor- tante grupo editorial español, y UFA Film UND Fernseh sociedad filial de gigante alemán RTL Group, que curiosa- mente en el nuevo curso radiofónico 2012/2013 ha lanza- do en España, al margen de Uniprex y de manera conjunta con la pequeña cadena musical Loca FM, una de sus marcas de radio más potentes, Fun Radio. Radio Blanca: El Grupo Radio Blanca es un grupo forja- do entre finales de los 80 y principios de los 90, que consi- guió un gran número de licencias de radio, con el objetivo de crear una gran cadena convencional independiente y progresista. Finalmente acabaría por convertirse más de una década después, en una cadena de radio musical, Kiss FM, que actualmente se encuentra dentro Kiss Media, división donde también se integran la nueva cadena de radio mu- sical Hit FM y la televisión de temática musical Kiss TV. Esta empresa pertenece de manera íntegra con el 100% del accionariado, al empresario asturiano Blas Herrero. Formato radiofónico con mayor presencia en España: Un aspecto fundamental a la hora de analizar cualquier radio musical, es conocer sobre qué tipo de formato se cons- truye su programación, dicho aspecto viene a constituir algo Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 409 así como el “ADN” que permite explicar en gran medida el comportamiento de esta en el mercado. Los formatos más populares suelen ser el Contemporary Hit Radio (CHR)3, Adult Contemporary (AC)4, Música autóctona5 y el Gold Oldies6, aunque en el presente artícu- lo vamos a centrarnos en el formato que predomina en la actualidad en España. Se trata de algo así como una mezcla o evolución de los dos primeros formatos que hemos cita- do. Estamos hablando del Hot/AC. Hot/AC: Se trata de un formato que mezcla cualidades del CHR y el AC. Dicho formato comenzó a predomi- nar motivado por el envejecimiento de la audiencia y la carencia de artistas que consiguiesen movilizar realmente a grandes cantidades de fans, hecho que se hizo evidente en España sobre todo a comienzos de la década de los 2000. La característica que mejor describe este formato es la varie- dad musical, buscando en todo momento una programación 3. Contemporary Hit Radio (CHR): Es el formato que acoge general- mente a los Top 40, se basa en la programación de éxitos actuales y novedades. Se dirige principalmente a un público menor de 25 años. 4. Adult Contemporary (AC): Es posiblemente el formato más em- pleado en radio musical sobre todo por las derivaciones que se pueden producir del mismo. Se basa en la programación de temas actuales consolidados junto con los mejores éxitos musicales. Se dirige a un público entre los 25 y 44 años. 5. Música Autóctona: Se trata de un formato dirigido a un público segmentado, programa los mejores éxitos de un determinado gé- nero. Su origen está en EE.UU. en la música Country. Su público puedo cubrir un diferente abanico de edades. 6. Gold/Oldies: Este formato musical agrupa aquellas programaciones que ofrecen los grandes clásicos de la música de las últimas décadas. Esta dirigido a un público mayor de 35 años. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 410 equilibrada que mezcla éxitos musicales consolidados du- rante los últimos 5 o 10 años con canciones de actualidad e incluso alguna novedad. Tanto los éxitos como las canciones de actualidad son seleccionadas en base a test de consultoría que permiten conocer que canciones son del agrado de los oyentes y cuáles no. Esto último, las consultorías, repre- sentan otro de los grandes aspectos que definen la radio musical que actualmente se practica en España, siendo a la vez las grandes responsables de la homogeneidad que existe entras las principales cadenas de radio. Regresando al hilo del formato Hot/AC, en España este formato es practicado por Los 40 Principales, Europa FM, Cadena 100 y Kiss FM, está basado en música preferente- mente de género pop que mezcla temas en castellano y en otras lenguas, como el inglés, de producción tanto nacional como internacional. Por otro lado aunque practicando también un formato Hot/AC encontramos a Máxima FM. En su caso con una marcada diferencia con respecto al resto de cadenas, ya que solo programa música de género dance o electrónica, ce- rrando así mucho más el círculo con respecto al target o público objetivo al que se dirige. Otros formatos presentes en España: No muy alejado del modo en el que se compone el forma- to Hot/AC aunque clasificada dentro de las radios del formato de Música Autóctona aparece en primer lugar Cadena Dial, que presenta una selección musical basada en los éxitos del pop español de los últimos 15 años y las últimas novedades. De manera mucho más clara dentro del formato de Música Autóctona nos encontramos Radiolé, basada en la Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 411 difusión de música española de género flamenco, rumba, copla, etc. El territorio de los clásicos, es decir del formato Gold Oldies, queda mayoritariamente en España en manos de M-80 Radio, cadena que basa su programación en los éxi- tos musicales de los 70, 80 y 90. Por último situamos Hit FM, único representante claro del formato CHR en España, programando los éxitos más recientes del pop nacional e internacional, junto con las últimas novedades del mismo. Panorama de la Radio Musical en España resultante de los formatos empleados: El panorama que describen las principales cadenas mu- sicales en España, es un panorama en el que encontramos una clara saturación de emisoras de un mismo corte (for- mato Hot/AC) que acumulan gran parte de la audiencia total de la radio musical. En su empeño en competir por poseer la mejor variedad musical que permita atraer a la mayor cantidad de público posible, acaban prácticamente siendo reflejos las unas de las otras, dirigiéndose a un mis- mo número de oyentes, lo cual hace que el crecimiento en audiencia solo pueda producirse por la caída de una com- petidor. Evidentemente esto produce en gran medida que no se renueven las audiencias y que existan muchos oyentes que no encuentran ni música ni contenidos atractivos en la radio musical española, algo que aunque aparentemente y desde una visión empresarial, a corto plazo aun no haya dejado consecuencias graves, sí que lo podrá hacer a un largo plazo, sobre todo teniendo en cuenta los nuevos modos de es- cuchar, descubrir y compartir música procedentes de internet, que unidos al carácter inquieto y al deseo de interacción de Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 412 los consumidores constituye cada vez más una seria compe- tencia para la radio musical. Esta consolidada homogeneidad de la que hablamos se ha visto reforzada en los últimos años por la crisis, que ha mitigado en gran parte las posibles intenciones innovadoras de las empresas radiofónicas, en lo que representa segura- mente el miedo a la incertidumbre que producen los cam- bios y no tan seguramente, quizá represente la esperanza a la llegada de tiempos mejores que permitan acometer nuevos proyectos dentro del sector. Crisis económica a parte y fieles a la idea de progreso, nuestra propuesta para romper este mercado homogéneo, pasa por la segmentación, es decir por la creación de pro- ductos radiofónicos construidos con el objetivo de alcan- zar perfiles más concretos de audiencia. Nuestro convenci- miento en ello radica en gran parte en el éxito de cadenas como Máxima FM que a pesar de tener una cobertura baja, ha segmentando su estilo musical y se ha dirigido a un público más concreto (oyentes de música dance), lo cual le ha permitido alcanzar grandes resultados. También cabe destacar aquí a Hit FM que nace con el objetivo de ser la radio moderna en todos los sentidos, que atraiga a los más jóvenes (público entre los 14 y los 25 años de edad). La publicidad: A continuación vamos a proceder al uso de la publicidad como un pilar más en el que puede sostenerse nuestra idea de segmentación en el mercado de la radio musical española. El principal sustento de las empresas radiofónicas de las que hablamos en este artículo, es la publicidad. Retomando momentáneamente el hilo de la crisis en relación a la ho- mogeneidad del sector de la radio musical en España, hemos Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 413 de ser conscientes de la importante recesión en lo que a inversión publicitaria se refiere. Según datos recogidos en el recién publicado informe Infoadex 20127, el medio radio ha pasado de ingresar en 2010 de los 548,5 millones de euros, a ingresar 524,9 millones de euros en 2011. Esto supone una caída de un 4,3% en la inversión en el medio, quedándose actualmente en España como el cuarto por inversión, con un total del 9,5%, en lo que a inversión total en medios conven- cionales se refiere. Los datos citados vienen a refrendar que la situación eco- nómica está afectando de manera importante al sector radio- fónico en España, pero también viene a reforzar nuestra idea de apostar por la segmentación como vía de evolución. En un mercado donde la gran mayoría de cadenas ra- diofónicas se dirigen por lo general a un mismo público objetivo, hombres y mujeres entre los 25 y los 44 de edad, solo los anunciantes con potentes presupuestos pueden permitirse insertar sus campañas en un contexto donde la efectividad para llegar al público deseado no es alta. Sin embargo, segmentando se pondría a disposición del anun- ciante una porción de audiencia mucho más definida, sien- do más fácil valorar la dimensión de los impactos en el público objetivo. Esto podría provocar una mayor inversión económica de anunciantes ya presentes en el medio y por supuesto podría provocar también la llegada de otros que todavía no estuviesen presentes. 7. Infoadex: Es la empresa referente en el control de la publicidad en España. Cada año publica un informe anual en el que recoge datos exhaustivos del comportamiento del sector. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 414 La audiencia Si bien venimos hablando de que en España el formato radiofónico Hot/AC predomina en el sector de las musica- les y que su presencia genera la mencionada homogeneidad de oferta entre la mayoría de cadenas de radio musical, un dato que nos permitirá corroborar claramente esta situa- ción, es el dato de la audiencia. En España la audiencia en radio se mide mediante el Estudio General de Medios (EGM), elaborado por la Aso- ciación para la Investigación de Medios de Comunicación (AIMC). En dicha asociación se encuentran por un lado, un grupo formado por anunciantes, agencias de publici- dad, agencias de medios y consultores, y por otro lado otro grupo, esta vez formado por medios de comunicación y las empresas exclusivistas de publicidad. Antes de entrar a valorar y exponer los datos de audien- cia, merece la pena explicar brevemente cual es la metodo- logía a seguir para la composición del EGM. El EGM: En primer lugar tenemos el universo del estudio, que estará formado por personas mayores de catorce años y residentes en hogares unifamiliares de municipios de toda España (excluidas Ceuta y Melilla). En segundo lugar tenemos el tamaño de la muestra, que está construido por 43.000 entrevistas personales en el hogar, distribuidas en tres olas (enero-marzo, abril-junio y septiembre-noviembre) cuyos resultados se ofrecen en abril, junio y diciembre. La información ofrece datos sobre el consumo de medios a nivel nacional y autonómico. Las entrevistas se realizan mediante el sistema CAPI (Computer Assistance Personal Interview), que permite la introducción de datos directamente a través de pequeños ordenadores Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 415 portátiles. Debemos apuntar aquí que la muestra para radio se amplía con 38.000 entrevistas telefónicas en toda España a través del sistema CATI. En tercer lugar hablamos del método de muestreo, el cual es poliepático y estratificado por días de la semana, por provincia (mínimo 300 entrevistas por provincia) y por tipo de hábitat. La selección de la unidad muestral la realiza el ordenador de manera aleatoria. Y en cuarto y último lugar, tenemos los resultados, los cuales se ofrecen de manera impresa o para ordenador, dis- puestos en forma de tablas ya elaboradas para que puedan ser analizadas por el programa informático Tom-Micro di- señado espacialmente para la planificación de medios. Datos de audiencia en España EGM* 2012 (2ªOla)** 2011 2010 2009 2008 40P 3.943 3.675 3.296 3.406 3.164 DIAL 2.403 2.057 1.745 1.660 1.491 EUROPA 1.944 1.410 975 946 770 CAD-100 1.810 1.551 1.324 1.244 973 KISS FM 1.113 997 1.120 1.126 1.129 MÁXIMA 722 689 543 517 366 M80 639 452 494 530 508 RADIOLÉ 467 478 457 468 411 HIT FM 218 91 *Oyentes al día de lunes a domingo (000). **Datos 2ª oleada 2012 Antes de comenzar a analizar los datos de audiencia re- flejados en la tabla es conveniente conocer brevemente la cobertura de las radios de las que estamos hablando, para Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 416 poder crearnos una visión más clara de lo que los datos de audiencia significan. De este modo hemos de saber que Los 40 Principales cuentan con una cobertura muy amplia que llega a las 99 emisoras en España más 1 en Andorra, Cadena Dial le sigue muy cerca con 89 emisoras en España más 1 en Andorra. Tras estas dos se produce una importante distancia en la cantidad de emisoras, Cadena 100 es la siguiente con 66 emisoras en España, las mismas que Kiss FM, también con 66 postes, y algunas más que Europa FM que posee 58 emisoras en España. Tras ellas de nuevo se produce otro distanciamiento que nos lleva a las 29 emisoras en España más 1 en Andorra de M-80 Radio, las 28 en España más 1 en Andorra de Máxima FM, las 20 emisoras de Radiolé y las 20 emisoras de Hit FM. Con los datos de cobertura en cuenta podemos ya ana- lizar los correspondientes a audiencia y ver que como con anterioridad hemos reflejado existe en la gran mayoría de casos un estancamiento significativo en estos últimos años. Cadenas como Los 40 Principales que a pesar de su lidera- to histórico e inquebrantable, lleva muchos años oscilando entre los 4 y los 3,5 millones de oyentes, Europa FM y Cadena 100 pese a crecer ola tras ola, siendo especialmen- te significativo sobre todo el crecimiento de Europa FM, parecen estar tocando techo y todavía no han conseguido alcanzar la barrera de los 2 millones, siendo probable que para que una de ellas lo consiga otra cadena en discordia tenga que bajar. Esta cadena podría ser Kiss FM gran re- flejo del estancamiento de los que hacen lo mismo que sus competidores, se mantienen en torno al millón de oyentes en estos últimos 5 años. Por el contrario aparecen las cadenas que segmentan de algún modo en su programación. En primer lugar Cadena Dial, que se ha colocado como la segunda del ranking de Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 417 musicales con casi 2,5 millones de oyentes, siendo muy des- tacable su crecimiento entre 2010 y el presente año. Parece evidente que ser la única cadena dedicada íntegramente al pop español, sobre todo en un momento en el que este ha desaparecido en gran medida en otras cadenas, ha sido la clave de su éxito, aunque hemos de reconocer que en sus buenos datos también ayuda su amplia red de emisoras. Máxima FM, que avanza hacia el millón de oyentes, está en torno a los 700.000, cifra que ha alcanzado con tan solo 12 emisoras, lo cual hace pensar que tras la reciente amplia- ción de cobertura, podrá seguir creciendo fuerte. M-80 Radio, que tras años de estancamiento por debajo del medio millón de oyentes ha conseguido buenos datos en lo que llevamos de 2012, beneficiada en gran parte por la ausencia actual de competidores en el territorio de los clásicos, gran oportunidad si cabe para mejorar su progra- mación y conseguir volver a ser referente dentro del for- mato Gold Oldies. Radiolé, la segunda cadena dedicada íntegramente a la música en español, aunque en su caso a la rama más po- pular, lo que le ha hecho alcanzar cifras en torno al medio millón de oyentes, siendo este su techo. El caso de Radiolé es interesante ya que su crecimiento no está muy vincula- do a la cobertura debido a que el consumo de esta cadena de radio se centraliza mayoritariamente en las regiones del sur de España donde existe más cultura de música popular. Quizá podría crecer en audiencia en zonas como Andalu- cía siempre y cuando arañase oyentes a su competidora allí, el canal autonómico Canal Fiesta. Por último Hit FM, de reciente creación, pero ya con 200.000 oyentes, a pesar de su baja cobertura. La cadena dirigida al público más joven, amante de los éxitos del mo- mento y las novedades pop podrá seguir creciendo si con- sigue mejorar su cobertura y si ninguna de las radios que Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 418 practica el formato Hot/AC gira hacia el CHR. De aquí que el consejo para esta cadena sea aprovechar el momento actual de la mejor manera posible, aumentando sus conte- nidos en parrilla y continuando por la apuesta de mezclar radio con redes sociales. El futuro El futuro de la radio musical en España pasa por su adapta- ción a lo digital, actualmente el negocio sigue girando en torno a la frecuencia modulada (FM) algo que viene a contribuir al estancamiento del mismo, ya que pocos agentes pueden per- mitirse acceder al sector, teniendo en cuenta la dificultad y los altos costes para conseguir licencias de emisión y crear una red de emisoras competente. Puesto que la radio digital (DAB) si- gue dentro de un alargado paréntesis, parece claro que el futuro para por la adaptación a internet. Con esto no nos referimos simplemente a las emisiones vía streaming, sino a la creación de contenidos y canales específicos pensados para su explotación en la red, ya sea en directo o a la carta a través del mencionado streaming o mediante contenidos previamente grabados y de fácil distribución entre los consumidores como los podcast. Desde la red llega también otro aspecto fundamental para el futuro de la radio, las redes sociales. La forma de comuni- carnos está cambiando y la forma de consumir medios tam- bién. La audiencia está transformándose cada vez más de pasi- va a activa y aquí es donde la integración de las redes sociales en el medio, en este caso en la radio musical, jugarán un papel protagonista. Conocer a tu audiencia y saber atender sus de- mandas es ya un aspecto fundamental a tener en cuenta. Durante este artículo hemos repetido casi hasta el exce- so la palabra homogeneidad, pero es esta palabra la que pre- cisamente mejor define la realidad de las cadenas de radio Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 419 más importantes en España. Ha de quedar claro que este no es un ataque a la estructura actual, que por otra parte ha resultado exitosa para las empresas implicadas en un mayor o menor grado. Se trata simplemente de un aviso de la exis- tencia de claros síntomas de desgaste propiciados por la alta competencia entre radios. Muchas, basadas en el menciona- do formato Hot/AC, con parrillas de programación calca- das, basadas en un programa despertador (Morning Show) y una fórmula musical medida al milímetro. Tenemos claro por tanto que la evolución pasará por la segmentación hacía públicos concretos a los que se les ofrezca contenidos que consigan engancharles, de lo contrario continuará el pro- gresivo paso de la audiencia de radio musical a plataformas en red como Spotify, Pandora, Sonora, o incluso el propio You Tube y sus variados canales musicales como por ejem- plo Vevo. Históricamente siempre se ha vaticinado el fin de la ra- dio, esta por el contrario, no ha hecho más que reinven- tarse y sobrevivir, y precisamente eso esperamos que siga haciendo. Referencias Libros: Balsebre, A. 2001. Historia de la radio en España. Madrid. Cátedra. Pedrero, Luis Miguel. 2000. La radio musical en España, historia y análisis. Madrid. IORTV. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 420 Estudios e informes: AIMC. 2007 – 2012. Estudio General de Medios. Infoadex 2012. Estudio anual sobre la inversión publici- taria en España Online: Grupo Prisa – http://www.prisa.com Grupo Radio Popular – http://www.cope.es Uniprex – http://www.grupoantena3.com Grupo Radio Blanca – http://www.kissfm.es Audiencias – http://www.frecuenciadigital.es http://www.prisa.com http://www.cope.es http://www.grupoantena3.com http://www.kissfm.es http://www.frecuenciadigital.es Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 421 19. Génesis y evolución de la radio deportiva nocturna en España: 1982-2012 Antonio Arenas1 Universidad a Distancia de Madrid – UDIMA, Madrid, España Resumen Los magacines deportivos nocturnos son un distintivo de la radio y del periodismo español desde los años 80. Su impacto y repercusión social, unido al gran seguimiento de las audiencias en el horario de medianoche hacen que estos formatos se hayan convertido en fenómenos únicos dentro de la radiodifusión eu- ropea. El trigésimo aniversario de la irrupción de los magacines nocturnos en la antena española, analizamos sus orígenes, desa- rrollo y situación actual en el contexto de una sociedad de masas 1. Antonio Arenas Ortiz. Profesor Doctor en la Universidad a Distan- cia de Madrid -UDIMA-. Doctor en Periodismo por la Universi- dad Complutense de Madrid. Presentador del programa Marcador en Radio Marca – emisora temática deportiva líder en España -. Email: antonioarenas@gmail.com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 422 cada vez más especializada y tecnológicamente más avanzada. Palabras clave: Periodismo; medios de comunicación; ra- dio; televisión; internet. Texto de trabajo El papel del deporte en la producción radiofónica de las últimas décadas ha gozado de un estatus predominante en el seno de las emisoras de carácter generalista. El liderazgo de las audiencias de los eventos deportivos encuadrados en el fin de semana tuvo su lógica perpetuación programáti- ca en el diseño de las parrillas de lunes a viernes a través de los espacios deportivos de carácter local a mediodía, de programas informativos nacionales a media tarde y de la constante presencia del deporte en los boletines informa- tivos. Sin embargo, hay un formato que ha destacado por encima del resto gracias a su relevancia periodística, impac- to social y repercusión mediática: los magacines nocturnos. Estos espacios radiofónicos se han caracterizado siempre por sus elevados índices de audiencias cosechados gracias a la presencia de un líder mediático, con personalidad y con talento para seducir a un público deseoso de escuchar noticias de alcance, de sus entrevistas en profundidad, y de la opinión contrastada sobre los hechos de mayor relevancia acaecidos durante la jornada. 1. Los magacines deportivos nocturnos: génesis y evolución. El origen de este tipo de programas tiene su raíz en la figura de José María García y en la detonante propuesta de- portiva que realizó en Antena 3 Radio. García procedía de la Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 423 redacción de deportes de la cadena SER donde se convirtió gracias a “Hora Deportiva” (Dentro de “Hora 25”) en un auténtico fenómeno social gracias a su particular y agresiva manera de hacer radio. Fue precisamente su estilo polémico y desenfadado lo que le llevó a enfrentarse con dirigen- tes de la SER, hecho que acabó con su fulgurante salida y su posterior fichaje por Antena 3 Radio. La desaparecida emisora se construyó deportivamente alrededor de su figu- ra. Su programa nocturno, que comenzó en septiembre de 1982, se llamaba “SuperGarcía en la Hora Cero” y fue el formato que puso de moda los magacines deportivos de la medianoche arrancando a las 00:00. El objetivo de García no era el de resumir los hechos del día ya conocidos. Era dar a conocer nuevas noticias, ahondar en temas no tratados hasta la fecha. Abordar nuevas perspectivas y temáticas no exploradas en el campo del periodismo. Su anhelo era el de “Mostrar el deporte por dentro”, tal y como se publicitaba en los carteles promocionales de la época: “Una cosa es lo que se ve. Y otra lo que ocurre en- tre bambalinas. Por afuera todo es reluciente. Pero en el interior hay cosas menos claras. Más turbias. Exactamente las cosas que José María García está empeñado en sacar a la luz. ¿Cómo? A fuerza de verdad. Investigando. Descubriendo. Y hablando. De jugadores, de dirigentes, de clubs… Sin hacer diferencias. Con honestidad. Porque eso es precisa- mente lo que nuestro deporte está necesitando. La valentía y la claridad que SuperGarcía usa en cada minuto de su vida. Allí donde está la noticia estará José María García y su equipo. Para mostrar el de- porte por dentro2”. 2. Fuente: http://www.nostalgia80.com/2011/01/25/supergarcia- http://www.nostalgia80.com/2011/01/25/supergarcia-en-la-hora-cero/ Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 424 Ese “equipo” al que se refiere era el formado por periodistas como Gaspar Rosety, Siro López, Pepe Gutiérrez, Javier Ares, Eduardo Torrico, José Manuel “Pipi” Estrada o los ya fallecidos Andrés Montes y Ernesto López Feito. La propuesta de José María García, evaluada en la distancia de los años, ha de ser calificada como novedosa y revolucionaria. Su carácter polé- mico e irrespetuoso podía gustar más o menos, pero no dejaba indiferente a nadie. En los años 80, ese formato encandiló a varias generaciones de oyentes que modificaron sus rutinas y sus hábitos para acostarse cada noche escuchando la radio. Aunque el formato primigenio de la noche deportiva tenga su raíz en José María García, el monopolio de audien- cias lo ostenta desde hace más de 15 años José Ramón de la Morena. “El Larguero” de la Cadena SER es, con mucha diferencia, el programa nocturno más escuchado de la radio española en la franja nocturna. Tras el fallido intento de “La ventana al deporte”, Alfredo Relaño, Jefe de Deportes de la emisora, ideó “El Larguero” en julio de 1989 y encargó el proyecto a José Ramón de la Morena, que ha sido su direc- tor y presentador desde que comenzó el 4 de septiembre de 1989. La excepción fue la temporada 90/91 en la que, por discrepancias con la cadena, De la Morena quedó apartado ocupándose del espacio Paco González. En estas más de dos décadas, “El Larguero” ha atravesado por muchas etapas, pero siempre quedarán subrayados los años los años de las cruen- tas guerras radiofónicas con José María García en la lucha por las audiencias. Entre los nombres históricos del programa se encuentran Alfonso Azuara (fue subdirector del espacio) Santiago Segurola, Pepe Domingo Castaño, Alfredo Relaño, Manolo Lama, Paco González, Manolete, Alfonso Astruells, en-la-hora-cero/ Fecha de consulta: 1 de septiembre de 2012 http://es.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Guti%C3%A9rrez http://es.wikipedia.org/wiki/Javier_Ares http://es.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Manuel_Estrada http://www.nostalgia80.com/2011/01/25/supergarcia-en-la-hora-cero/ Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 425 Tomas Guasch o su sempiterno productor Antonio Bustillo. El ejercicio de supremacía de la SER se fraguó en el transcurso de los años más sobresalientes de la noche de- portiva de la COPE, que abarcan de 1992 al año 2000. La apuesta económica y radiofónica de Radio Popular por José María García se vio recompensada con el tirón de “Super- García”, cuya gasolina acabó consumiéndose en la última fase donde cayó derrotado en la batalla de las audiencias con “El Larguero”. En agosto del año 2000 José María García abandonó la COPE para ocupar la presidencia de Admira Sport (en sus inicios, Telefónica Sport). Se le encomendó la dirección de deportes y la presentación de los programas deportivos de Onda Cero, así como la coordinación y dirección de los contenidos deportivos de Antena 3, Vía Digital y Onda Cero. En lo que al magacín nocturno se refiere, “Supergarcía” no consiguió arrastrar a toda la audiencia que se mantenía fiel a su figura en COPE. El 7 de abril de 2002 José María García se ponía por última vez delante de un micrófono al mando de un programa nocturno. Y es que, cinco meses antes de acabar su contrato, García decidió abandonar el proyecto de telefónica por desavenencias con el grupo empresarial. La marcha del periodista madrileño de la COPE y de Onda Cero obligó a las emisoras de Radio Popular y de Uni- prex a buscar alternativas a sus programas nocturnos para demostrarse a sí mismas que “había vida después de García”. Pero las fórmulas adoptadas para suplirle fueron sustancial- mente distintas. Y así lo ha demostrado el paso de los años. Cope decidió erradicar el espíritu y el estilo de García dando un giro de 180º a su formato radiofónico nocturno al proponerle a José Antonio Abellán, dedicado durante las últimas décadas a la radio fórmula, que asumiera las riendas de los deportes en la emisora y que se pusiera al frente de “El Tirachinas”. El producto funcionó muy bien durante Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 426 los primeros años por su espíritu desenfadado, por la ausen- cia de dramatismo y por el sentido del humor de la trans- gresora sección de “El Radiador”. Durante un lustro de éxitos y crecimiento sostenido, los últimos años de Abellán al frente los deportes (y de la noche) de COPE estuvieron salpicados por la polémica de la infiltración de periodistas en el Estudio General de Medios y por continuados ru- mores sobre la “no renovación” de su contrato por parte de la emisora de la Conferencia Episcopal tras un impor- tante bajón en las audiencias que casi relega a COPE al tercer escalafón en el ranking de la medianoche. De hecho, pocos meses después de ejecutarse una nueva renovación de su contrato, COPE emitió un comunicado anuncian- do su despido por “una ausencia absoluta de motivación, liderazgo y compromiso” esgrimiendo además que la “caí- da paulatina y definitiva de la audiencia” del programa “El Tirachinas” (durante dos EGM consecutivos no alcanzó ni los 300.000 oyentes, tocando fondo en la primera oleada de 2010 con tan solo 236.000) provocaba un descenso de los ingresos publicitarios. COPE aprovechaba así para ha- cerse con los servicios del equipo periodístico de la SER liderado por Paco González, apartado “cautelarmente” de la dirección de “Carrusel Deportivo” por enfrentamientos con directivos de la emisora. En la temporada 2010/2011 comenzaba a jugarse en COPE “El partido de las 12”. Lejos de aportar una concep- ción novedosa en la noche deportiva, Juan Antonio Alcalá exportó varias de las secciones de “El Larguero”, calcando en la COPE el formato de los “Debates de los Jueves”, la sección de aventura o las consultas médicas. Como ya hi- ciera hace años con De la Morena, Pepe Domingo Castaño volvía a clausurar el programa con su comentario editorial en “El Folio de Pepe”. Las expectativas de COPE barrunta- ban un crecimiento en audiencia similar al de “Tiempo de Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 427 Juego”. Sin embargo, los datos de “El Partido de las 12” tras dos temporadas no arrojaron expectativas de acercarse al lide- razgo de la SER, sino todo lo contrario. Dos acontecimientos marcaron el devenir de esta etapa en la franja nocturna. El Barcelona presentó una demanda contra la COPE por intro- misión ilegítima en el derecho al honor, derivada de unas afirmaciones realizadas por Juan Antonio Alcalá el 13 de marzo, donde se vinculaba a los deportistas y médicos del club catalán con prácticas de dopaje. Fruto de esta deman- da, el Juzgado de 1ª Instancia número 34 de Barcelona, dio la razón al club presidido por Sandro Rosell obligando a la COPE a pagar 200.000 por los daños y perjuicios causados. El otro capítulo negro, de características similares, sucedió cuando Juan Antonio Alcalá afirmó el 29 de abril de 2012 en “El partido de las 12” que el Sporting y el Espanyol se habían puesto de acuerdo para amañar el partido a favor del conjunto asturiano. Afirmación que derivó en las respecti- vas demandas de Espanyol3 y Sporting4. Ambos episodios, unidos a la poca proyección de crecimiento en audiencias, propiciaron que COPE anunciara en el verano de 2012 que “El partido de las 12” dejaba de estar en manos de Al- calá y quedaba asumido por el triunvirato conformado por Joseba Larrañaga, Paco González y Manolo Lama. El nuevo 3. “Demanda civil en defensa de l’honor del RCD Espanyol”. Nota pública emitida por la página web del RCDE el lunes 7 de mayo de 2012. Fuente: http://www.rcdespanyol.com/principal.php?modulo =detalleNoticia&idnoticia=13516&idseccion=28&idlinkchk=0&id menu=9&idsubmenu=108. Fecha de consulta: 1 de octubre de 2012. 4. “Vega Arango anuncia que demandará a la COPE”. Noticia publi- cada en marca.com el 30 de abril de 2012. Fuente: http://www. marca.com/2012/04/30/futbol/equipos/sporting/1335789729.ht ml?a=c443a1a15f223f7dfbff1acbfcd9415c&t=1348774319. Fecha de consulta: 28 de septiembre de 2012. http://www.ligabbva.com/equipo/225 http://www.ligabbva.com/equipo/8 http://www.rcdespanyol.com/principal.php?modulo=detalleNoticia&idnoticia=13516&idseccion=28&idlinkchk=0&idmenu=9&idsubmenu=108 http://www.rcdespanyol.com/principal.php?modulo=detalleNoticia&idnoticia=13516&idseccion=28&idlinkchk=0&idmenu=9&idsubmenu=108 http://www.rcdespanyol.com/principal.php?modulo=detalleNoticia&idnoticia=13516&idseccion=28&idlinkchk=0&idmenu=9&idsubmenu=108 http://www.marca.com/2012/04/30/futbol/equipos/sporting/1335789729.html?a=c443a1a15f223f7dfbff1acbfcd9415c&t=1348774319 http://www.marca.com/2012/04/30/futbol/equipos/sporting/1335789729.html?a=c443a1a15f223f7dfbff1acbfcd9415c&t=1348774319 http://www.marca.com/2012/04/30/futbol/equipos/sporting/1335789729.html?a=c443a1a15f223f7dfbff1acbfcd9415c&t=1348774319 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 428 reto del equipo de la redacción de deportes de la COPE es reducir la abismal distancia de medio millón de oyentes que les separa de “El Larguero” emulando la reducción de la brecha recortada por “Tiempo de Juego” con respecto a “Carrusel Deportivo”. Aunque los matices son infinitos, la realidad es que José María García dejó la COPE con 963.000 oyentes y que, 12 años después, el programa noc- turno de la misma emisora es escuchado por 419.000. Sin embargo, el caminar más tortuoso en la última dé- cada ha sido el recorrido por Onda Cero. El prometedor fichaje de José María García en 2002 hacía barruntar a Uni- prex un futurible relanzamiento en la carrera de fondo por el liderazgo nocturno tras diez años de inestabilidad y de alternancias. Como heredero del espacio “Goles” de la Cadena RATO, la recién creada Onda Cero entregó las riendas de la noche en la temporada 90/91 a José Manuel Muñoz con “El Cronómetro”. La siguiente temporada (91- 92) Muñoz siguió al frente de la noche, pero con cambio en la nomenclatura del programa, que pasó a denominarse “El Penalty” y en el que estaría escoltado al año siguien- te (92-93) por José Javier Santos (presentador vespertino de “El Primer Tiempo”). La temporada 93/94 la dirección decidió que el programa lo realizase cada semana un pre- sentador diferente desde las diferentes emisoras de Espa- ña, pero en Enero se retractaron y entregaron el espacio a Fernando Soria, que retomó el programa diario desde los estudios de Madrid. “El Penalty” fue interrumpido en la temporada 94/95 en la que José Manuel Muñoz dirigió “La Brújula Deportiva”, pero fue reactivado bajo su no- menclatura original en septiembre de 1995 al mando de Edu García y Fernando Ruiz. El proyecto estuvo en sus manos un trimestre, hasta que fueron reemplazados por José Antonio Luque, que estuvo al frente del magacín nocturno hasta que se marchó a Telecinco en febrero de 1997. Los últi- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 429 mos dos años de vida de “El Penalty” estuvieron conducidos por José Joaquín Brotons (los domingos Edu García dirigía “La afición en Radio Estadio y Luque “Radio Estadio Mi- nuto 91) hasta que en enero de 2000 Onda Cero vuelve a apostar por la nomenclatura de “La Brújula Deportiva” y por José Antonio Luque, al que tan sólo le duró el progra- ma siete meses. En septiembre del año 2000 con el desem- barco de José María García se inició el ilusionante espacio de “SuperGarcía” que en primera instancia logró arrastrar a muchos de sus seguidores de COPE. Tras su tirón inicial, el impacto se fue desvaneciendo y su fallido proyecto acabó con la marcha de García sin ni siquiera haber culminado su segunda temporada, que tuvo que finiquitar Agustín Cas- tellote con el espacio “Deportes en Onda Cero”. Al año si- guiente, una vez más, cambio de nombre y de presentador: “La Brújula del deporte” con Miguel Ángel García Juez. Y de nuevo, batacazo de audiencia. En agosto de 2003 Onda Cero encontró el nombre del programa que sigue figurando en la parrilla: “Al Primer Toque”, que ya tiene 9 años de vida. Manu Carreño (2003-2004), J.J Santos (2004-2006) e Iñaki Cano (2006-2007) desfilaron por las ondas del Grupo Planeta hasta que Ángel Rodríguez estableció un record de longevidad convirtiéndose, durante cinco temporadas, en el presentador más estable de la emisora en 20 años de maga- cines deportivos nocturnos. Su recorrido, tanto en la noche como en la dirección de deportes de la cadena, finalizó tras concluir la temporada 2011-2012. Aunque se especuló sobre la posibilidad de fichar a una gran estrella mediática para reemplazar a Ángel Rodríguez, Onda Cero acabó apos- tando por la “cantera” designando a un redactor de la casa como Héctor Fernández, que sigue elaborando un espacio de características similares al de su predecesor, pero con las ganas y la ilusión de afrontarlo siendo el presentador más joven de la noche deportiva en España. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 430 El cuarto programa del espectro nocturno se emite a través de las emisoras de ABC Punto Radio, y lo dirige des- de Agosto de 2011 José Antonio Abellán. Este espacio es el sucesor de “El Mirador” que presentó en sus dos primeros años Josep Pedrerol y que fracasó en un segundo proyecto con Agustín Castellote, que cerró su ciclo con una ruino- sa cifra de 59.000 oyentes. Un obligado cambio de timón propició la llegada a la cadena de José Antonio Abellán en el verano de 2011 para dirigir “Abellán en Punto”. Para este programa, Abellán recuperó a parte de su ante- rior equipo. Colaboradores y tertulianos de su etapa en la COPE como Carles Fité, José Miguélez, Quique Guasch, o Miguel Ángel Muñoz. Su último fichaje para la tempo- rada 2012/2013 ha sido el de Alfredo Duro, que durante las últimas tres temporadas había colaborado en diferentes espacios de Radio Marca. Dado la radio de Vocento ha deci- do mantenerse al margen del Estudio General de Medios, desconocemos si la notoriedad de su franja nocturna se ha expandido tras la llegada de Abellán. La novedad más palpable con respecto al resto de formatos de esta índole es su horario, que se expande desde las 23:30 (arranca 30 minutos antes que el resto) hasta la 1:30 de la madrugada. Como se ha comprobado, desde 1982 se han sucedido los presentadores, periodistas, formatos y nomenclaturas en la medianoche española. Con un denominador común. To- das las radios de carácter generalista han apostado de ma- nera interrumpida por los espacios deportivos en esta franja horaria. Ahora se encuentran con una tesitura social muy diferente. Los tiempos han cambiado. Y los medios de co- municación, también. 2. La metamorfosis de los medios de comunicación: 1982-2012. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 431 En las últimas tres décadas la radio ha mantenido su po- sición en el mercado a pesar de la infinidad de medios de comunicación y alternativas de ocio que han proliferado desde 1982. Que la radio siga teniendo un papel tan pre- ponderante en la coyuntura actual dice mucho de lo que este medio continúa significando para la sociedad del Siglo XXI. No es óbice este estatus de las ondas para que for- matos como los vinculados al deporte hayan evolucionado en otros sectores periodísticos equilibrando o solapando el consumo radiofónico. De hecho, la competencia directa de nuevos productos deportivos ha obligado a la radio a “rein- ventar” su producción, su estilo y su cadencia. A destilar su carácter y a modificar su esencia para hacer frente a las nuevas exigencias de un mercado saturado de información. Acostumbrada a convivir con la prensa desde sus oríge- nes, cabe cuestionarse: ¿Quiénes son los crecientes rivales de la radio en el nuevo mercado mediático? ¿Qué ha pro- vocado el cese del impacto de los programas deportivos en la noche? ¿Por qué ha tenido que modificar su ADN la noche deportiva en España? Aunque la respuesta podría dar lugar a múltiples ramificaciones, centraremos la resolución a estas incógnitas con tres respuestas: El aumento del con- sumo televisivo, la explosión de internet (con el trampolín de la consolidada tecnología móvil, smartphones y tablets) y la irrupción de las redes sociales. 2.1 La televisión En los años 80, década de comienzo de la “radio moder- na” con las emisiones a través de la Frecuencia Modulada, irrumpió con fuerza en 1982 Antena 3 Radio, una emisora pionera que propició la génesis de los formatos radiofó- nicos nocturnos. Cuando las semillas de “SuperGarcía en Hora Cero” estaban germinando, las raíces de la televisión Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 432 en España también empezaban a dar su fruto. Aunque des- de 1978 todas las emisiones se realizan en color, la radio tan sólo encuentra competencia televisiva en las emisiones a través de VHF (TVE), UHF (con nomenclatura de TVE2 desde 1983) y el denominado “Circuito Catalán”. En 1992, una década después del nacimiento de Antena 3 Radio, la oferta se había ampliado y el espectador ya tenía la posi- bilidad de ver en su televisión Antena 3, Telecinco, Canal +, así como un número creciente de canales autonómicos. Si avanzamos otros diez años nos topamos en mayo de 2002 con la fusión de dos plataformas de pago (Via Digital y Ca- nal Satélite Digital) que habían nacido un lustro antes bajo el auspicio de Telefónica y Prisa TV. El acuerdo entre las dos empresas acabó derivando en la creación de Digital+. Y 30 años después de que la Frecuencia Modulada su- perara a la Onda Media, ¿Cual es el panorama televisivo en España? La oferta vigente (octubre 2012) está compuesta por 6 canales de difusión nacional, 33 canales de difusión autonómica, 21 canales específicos de emisión a través de la TDT, 17 canales nacionales y autonómicos en versión HD para TDT y 2 canales de TDT Premim (Gol Televisión y AXN). Además, las plataformas de satélite y cable Canal +, ONO, Telecable, Euskaltel y R (Galicia) así como las platafor- mas de “video streaming” de banda ancha Imagenio, Orange TV y Jazzbox incluyen otros 127 canales con la posibilidad de adquirir otros 47 de pago (extra) en HD. Aunque es imposible poseerlos todos en el mismo re- productor, la oferta televisiva permite que el consumidor español tenga acceso a más de 250 canales diferentes a tra- vés de los múltiples soportes audiovisuales del mercado. Desde 1982 hasta 2012 la televisión ha multiplicado por infinito sus opciones y sus alternativas. Y su oferta incluye la posibilidad de acceder a dos canales de temática deportiva en abierto (Marca TV y Teledeporte) y a otra docena a través Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 433 de contenidos Premium y plataformas de pago (Gol Televi- sión, Eurosport 1, Eurosport 2, Sportmania, Canal + Deportes, Canal + Fútbol, Canal + Liga 1, Canal + Liga 2, Canal + Champions, Canal + Golf, Real Madrid TV y Barca TV). Casi todos ellos tienen además su versión correspondiente en High Definition. Aunque en 1982 no existían los audímetros, EGM reali- zaba estudios para ponderar el número de espectadores que veían cada uno de los tres canales existentes en la época. Y de esos datos se desprenden que ese año consumieron TVE, VHF y el circuito catalán un total de 26.475.000 personas, logrando jornadas de audiencia global que superaron los veinte millones de espectadores. En 1982 el nivel de pene- tración de la televisión en los hogares españoles era del 79% mientras que los índices de la radio apenas llegaban al 62%. Mostradas estas cifras, ¿Cómo se explica que un progra- ma de radio como “SuperGarcía en la Hora Cero” surgiera en el panorama mediático nacional con tanta fuerza en un medio que competía en clara condición de inferioridad? La razón de ser a esta pregunta la encontramos advirtiendo que en 1982 la parrilla televisiva finalizaba en la mediano- che, y que a partir de las 00:00 la pequeña pantalla tan solo mostraba la conocida “Carta de ajuste” y que por lo tanto, a partir de esa hora la radio no encontraba competencia en ningún otro medio audiovisual. Si a esto le añadimos que las cifras de audiencia de TVE y UHF se reducían conside- rablemente de 23:30 a 00:00 nos encontramos un terreno propicio para la siembra de un formato novedoso y pionero como fue el de introducir los deportes en la medianoche radiofónica. El mérito de esta apuesta de Antena 3 Radio es aún mayor si nos atenemos al hecho de que la Frecuencia Modulada tan sólo tenía un 21,5% de penetración social en un país acostumbrado a escuchar la radio a través de la Onda Media. Por su carácter, su estilo, su personalidad arro- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 434 lladora y su manera de hacer radio, el fenómeno mediáti- co de José María García sentó un precedente que perdura hasta nuestros días en un medio, la radio, que ha tenido que hacer frente a la evolución de la pequeña pantalla. Y es que el crecimiento de la oferta televisiva en los últimos 30 años se ha incrementado con la proliferación de los conglomera- dos mediáticos, pero también ha crecido en la respuesta de una masa social que ha incrementado considerablemente su consumo. Según datos de Kantar Media, en 1992 un español veía 192 minutos de televisión al día. En 2002 la cifra ya alcanzaba los 211 y en los albores de 2012 el consu- mo alcanzaba la cifra record de 239 minutos. Para establecer la comparativa de manera explícita se puede afirmar que en 2012 el español ve de media casi cuatro horas de televisión al día pero tan solo escucha dos horas y tres minutos de radio5. Minutos de consumo televisivo diario por Comunidades 5. Informe “El comportamiento de la audiencia televisiva” elaborado por Barlovento Comunicación según datos de Kantar Media. Pu- blicado en Septiembre de 2012. www.barloventocomunicación.es Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 435 Autónomas en Septiembre de 20126. Mientras la radio se ha limitado a mantener su estatus social, la televisión ha sabido diversificarse encontrando nuevas vías de expansión y adhiriendo a su causa a tele- spectadores que se aglomeran en los horarios de “Prime Time” y “Late Night” en los que hace tres décadas tran- sitaba en solitario la voz de un periodista madrileño de menuda estatura. 2.2 Internet y las redes sociales Como revela el estudio realizado por comScore “Europe. Digital Data Gems”, tres de cada cuatro usuarios de in- ternet en Europa consulta redes sociales, mientras que el 50% de los internautas navega por páginas web de temática deportiva. Las costumbres se han modificado y lo que hace 30 años era impensable, hoy es una realidad tangible. No es posible establecer una comparativa de la evolución de la radio e internet desde 1982 hasta la fecha actual, porque hasta 1996 el EGM no detecta en la red niveles de consu- mo cuantificables. Sin embargo, sí podemos contrastar que en la última década el índice de penetración en la sociedad se ha incrementado ligeramente en la radio (del 54,7% en 2002 al 60,8% en 2012) mientras que el índice de inter- net se ha disparado evolucionando del 10,6% en 2002 al 44,7% en 2012. Y aunque miles de hogares en España no dispongan de internet, sus cifras de consumo diario son equiparables casi a los radiofónicos. Según el estudio publi- cado por Barlovento Comunicación en base a los datos de 6. Estudio “El Comportamiento de la audiencia televisiva” elaborado por Barlovento Comunicación según datos de kantar Media. Publi- cado en Septiembre de 2012. www.barloventocomunicación.es Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 436 Kantar Media, en el mes de Agosto de 2012 (mes de bajo consumo) navegaron por internet 25 millones de españoles y lo hicieron de forma diaria 13,8 millones, cifra que tocó su techo en mayo de 2012 donde se rozó el umbral de los 17 millones de visitantes diarios. En Agosto, el tiempo de conexión diario de los internautas fue de una hora y tres minutos.   Evolución del consumo de internet diario en España7. Aunque el tiempo de audiencia radiofónica en España sigue siendo superior al consumo de internet, el número to- tal de usuarios que transitan por ambos medios ya es casi idéntico: 24,6 millones de usuarios de internet por los 25,2 que consumieron radio en el acumulado de 2012 hasta julio. En las décadas de los 80 y de los 90, los programas radiofónicos nocturnos se caracterizaban por dar noticias, por contarle a la gente información que no había sido pu- 7. Estudio “Audiencias online” elaborado por Barlovento Comunica- ción según datos de kantar Media. Publicado en Agosto de 2012. www.barloventocomunicación.es Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 437 blicada hasta entonces. Los espacios deportivos pujaban por dar más primicias que el resto y por tener la exclusividad de las opiniones más destacadas de la jornada a través de entrevistas exclusivas. Internet ha propiciado que el con- sumidor de información deportiva ahora tenga acceso al instante a todas las noticias que transcurren a lo largo de la jornada y que a las 00:00 de la noche esté al tanto, no solo de una sobreabundancia de noticias deportivas, sino de una dosis tremenda de la opinión vertida por los especialistas en diferentes medios digitales. De hecho, desde mayo de 2010, la web más visitada en España es una página depor- tiva: marca.com, cuyas cifras superaron los tres millones de usuarios únicos diarios en mayo de 2011. El deporte no solo reina en el ranking de programas más vistos del año en televisión. También se ha coronado en internet gracias a la web de Marca. Otro factor que ha alterado el mapa comunicativo del último lustro ha sido la puesta de largo de las redes sociales. Facebook y Twitter (especialmente esta última) son fuente inagotable de información y, sobre todo, de opinión. Un ele- vadísimo porcentaje de periodistas deportivos tienen cuenta en alguna de estas redes sociales. Y la emplean a diario para dar sus puntos de vista sobre acontecimientos de actualidad. En Facebook la página de “El Larguero” es seguida por casi 62.000 personas, “El Partido de las 12” por 41.000, “Al Primer Toque” por 7.700 y “Abellán en Punto” por 4.400”. Programas, todos ellos, que también tienen cuentas oficiales en Twitter donde “El Partido de las 12” tiene 53.000 se- guidores, “El Larguero” 49.000, “Al Primer Toque” 25.000 y “Abellán en Punto” 17.700. Además de servir como ca- nal de interacción con los oyentes, estas cuentas oficiales se encargan durante la jornada de adelantar contenidos de la noche o de hacer prácticamente un seguimiento minuto a minuto de lo que se hace o dice durante los programas, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 438 resaltando las declaraciones más importantes de los entre- vistados en sus espacios. Pero además de estas cuentas, sus propios presentadores o contertulios tienen sus cuentas personales que también emplean como canal de comu- nicación y captación de audiencia. Aunque cada uno de ellos la emplea para los fines periodísticos y personales que consideran oportuno, sí se puede cuantificar su repercusión y seguimiento. José Ramón de la Morena tiene cerca de 90.000 seguidores en Twitter, José Antonio Abellán más de 69.500, Paco González 14.200 y Héctor Fernández 11.000. Según el estudio de Nielsen “Spain is digital. Tendencias y consumo online en España” nuestro país alcanzó los 5,3 usuarios de Twitter en 2012. Y el consumo de información deportiva en las redes sociales es más que evidente si nos atenemos al hecho del seguimiento que tienen las cuentas de los principales diarios deportivos: Marca tiene cerca de un millón de seguidores en Twitter, Mundo Deportivo más de 650.000, As 412.000 y Sport 227.000 “followers”. Da- tos que corroboran lo expuesto anteriormente: el consu- midor de información deportiva no sólo sabe a las 00:00 de la noche los hechos acontecidos, sino que también ha sido partícipe a través de internet y las redes sociales de las reacciones, opiniones, debates y controversias surgidas entre los protagonistas de la jornada deportiva. Incluyendo las opiniones vertidas por los propios protagonistas (los depor- tistas) que ya han podido exponer sus opiniones a través de sus cuentas oficiales en las redes sociales. Ahora bien, ¿Pue- den ó deben los periodistas dar noticias ó su opinión sobre asuntos deportivos a través de su cuenta personal de Twitter antes que en su propio medio de comunicación? Este te- rreno mediático está todavía sin regular en la mayoría de las empresas periodísticas. Algunas, como EFE sí han formu- lado sus propio códigos deontológicos sobre redes sociales (“Guía para empleados de EFE en Redes Sociales”). La Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 439 empresa matriz de Marca y El Mundo, Unidad Editorial, de momento se ha limitado a establecer unas directrices para sus empleados mediante un comunicado interno. El ejem- plo a seguir en lo que a periodismo deportivo se refiere es el conglomerado ESPN, que desde hace ya dos años for- muló una normativa clara para sus empleados entre la que se encuentra la siguiente prohibición: “No releve primicias en Twitter. Queremos servir a los afi- cionados en el ámbito social, pero la primera prioridad es para las noticias y las actividades de información de ESPN. Noticias públicas (por ejemplo, anuncios en conferencias de prensa) se pueden distribuir sin depuración. Sin embargo, las fuentes o las noticias propias deben ser valoradas por la TV o las mesas digitales de noticias. Una vez informada a las plataformas de ESPN, la noticia puede (y debe) ser distribuida en Twitter y otros servicios sociales”.8 Aunque los medios de comunicación deportivos han sabido adaptarse a las Redes Sociales, empleándolas como medio de interacción con su audiencia, el desarrollo de Twitter sociabiliza aún más la información y acerca las no- ticias de actualidad a todos sus usuarios. Aunque la fiabi- lidad de muchas de las informaciones haya que ponerlas en entredicho, es innegable que Twitter es ya competen- cia directa del resto de medios de comunicación de masas. Y parte con ventaja por su carácter de inmediatez en los eventos deportivos tal y como demuestra la irrupción de infinidad de “Trending Topics”. Ya es costumbre “twittear” durante los partidos y, obviamente, eso induce a los usuarios a leer las opiniones de otros usuarios y periodistas en el 8. Fuente: Noticia publicada en: http://www.bancaynegocios.com/sa- lud-y-deportes/item/11741-la-cadena-espn-le-proh%C3%ADbe- a-sus-periodistas-dar-primicias-a-trav%C3%A9s-de-twitter. Fecha de consulta: 1 de Octubre de 2011 http://www.bancaynegocios.com/salud-y-deportes/item/11741-la-cadena-espn-le-proh%C3%ADbe-a-sus-periodistas-dar-primicias-a-trav%C3%A9s-de-twitter http://www.bancaynegocios.com/salud-y-deportes/item/11741-la-cadena-espn-le-proh%C3%ADbe-a-sus-periodistas-dar-primicias-a-trav%C3%A9s-de-twitter http://www.bancaynegocios.com/salud-y-deportes/item/11741-la-cadena-espn-le-proh%C3%ADbe-a-sus-periodistas-dar-primicias-a-trav%C3%A9s-de-twitter Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 440 transcurso de los encuentros. Y después de los 90 minutos, son “twiteadas” de manera casi literal las ruedas de prensa y las declaraciones de los futbolistas. ¿Cuál es el papel enton- ces de los programas radiofónicos de medianoche? ¿Suscita el interés suficiente volver a escuchar a las 00:00 lo que el consumidor de deporte ya ha oído con anterioridad? 3. La televisión deportiva: ¿La alternativa a la radio nocturna? En mitad de la miscelánea periodística planteada hasta el momento, nos encontramos con un factor tecnológico de- terminante a la hora de vincular los cambios de tendencias y los hábitos de consumo. El “Instituto para la Diversifica- ción y Ahorro de la Energia” (IDAE) perteneciente al Mi- nisterio de Industria, Energía y Turismo presentó en Enero de 2012 el Informe “Consumos del Sector Residencial en España” en el que se arroja un dato que ilustra el porqué del elevado consumo televisivo en España. El IDAE refleja que hay un total de 37.962.697 aparatos de televisión en los hogares españoles, que es el electrodoméstico más utilizado a nivel nacional con una presencia en el 99,9% de las casas (bloques y unifamiliares) y que hay 2,2 televisores por hogar. Este dato refleja que además de los aparatos de televisión ubicados tradicionalmente en los salones de las casas, ahora los hogares tienen un segundo televisor ó tercer televisor ubicado, en muchos casos, en los dormitorios. Si en los años 80 el compañero de sueños del consumidor de información deportiva nocturna era tradicionalmente la radio, ahora la televisión empieza a emerger como posibilidad alternativa. No quiere decir esto que el habitual consumidor de radio deje de hacerlo por el hecho de tener una televisión en su habitación, ya que la TDT permite la escucha de las princi- pales emisoras del país. Pero sí que habilita al aficionado al deporte a tener otra alternativa. Ahora bien, ¿Hay formatos Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 441 deportivos diarios en la televisión nocturna que planten cara a los tradicionales espacios radiofónicos? La respuesta es afirmativa. Y contundente. Gracias a la TDT y a la proliferación de canales, los tra- dicionales programas televisivos nocturnos de periodicidad semanal (sábados/domingos) basados en el análisis de las jornadas de Liga futbolística se han expandido a lo largo de la semana. Varios medios de comunicación advirtieron la posibilidad de lograr buenas cifras de audiencia captando en esta franja horaria a los aficionados del deporte. Pero no todos los consiguieron. Por diferentes motivos han pasado a la historia espacios como “Estudio Estadio” (TVE y Telede- porte), “Mundo Gol” (Gol TV) ó “Veo Marca” (VEO 7). En la actualidad sigue vigente en Cataluña “Efectivament” que presenta Lluis Canut en Esport3 de lunes a jueves de 23:00 a 00:00. Pero la puja por el liderato nacional la mantienen “Punto Pelota” y “Futboleros”. Los dos formatos presentan similitudes en sus formatos y planteamientos, pero sus diferencias estructurales, empre- sariales y coyunturales precisan una diferenciación a la hora de evaluar las características de ambos espacios televisivos. “Punto Pelota” nace en septiembre de 2008 en Intere- conomía, un canal de televisión cuya audiencia y repercu- sión fue residual hasta la generalización nacional de la TDT y el “apagón analógico” llevado a cabo en abril de 2010. Parte de los redactores y colaboradores de este programa lo conformó desde sus inicios el equipo que llevaba a cabo el programa “El Mirador del deporte” de Punto Radio. Y el proyecto lo lidera Josep Pedrerol, que ya gozaba de expe- riencias televisivas como presentador de “El Día Después” y “El Día Antes” en Canal+ y “Club de Fútbol” en TVE2. Pedrerol define el espacio que presenta de lunes a jueves de 00:00 a 2:30 y los domingos desde las 23:30 como “un programa de deportes en el que intentamos que prime la Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 442 información, en el que haya pluralidad para debatir y en el que la gente se divierta”9. Explica Quim Domenech, uno de los redactores del programa, que para lograr esa combinación de factores, “Punto Pelota” en su génesis se inspiró en la esen- cia del debate de “El Rondo”, en facetas de “El Día Después” y que emplea elementos específicos de los programas del co- razón como los ganchos y los cebos, así como fórmulas desa- rrolladas con éxito por espacios como “Salvame” 10. Pedrerol se impone como meta crear expectación: “El objetivo de Punto Pelota es que la gente que empieza a las 00:05 no pueda marcharse hasta las dos y pico. Mi obsesión es que la gente no se vaya a dormir”. Y para sacar llevar a cabo su proyecto diario cuenta con una nómina de cola- boradores y tertulianos entre los que se encentran Carme Barceló, Joaquín Ramos Marcos, Albert Luque, Cristina Cubero, Hugo Gatti, Iñaki Cano, Frederic Hermel, José Antonio Luque, Paco Buyo, Elías Israel, Pipi Estrada, Álvaro Benito, “Lobo” Carrasco, etc. Unos son periodistas vete- ranos, otros son más jóvenes y otros ex profesionales del mundo del deporte, pero cada uno desempeña un rol y un papel ya conocido por la audiencia. Su presencia en el debate ayuda a mitigar la ausencia de imágenes o la caren- cia de medios para elaborar otro tipo de contenidos. “La carencia de imágenes la suplimos con personajes”, afirma un Josep Pedrerol que se jacta de haber logrado un reto que antes le parecía imposible: “Creo que he conseguido algo muy importante. Cuando el Real Madrid pierde un partido, la gente ya no quiere ver a Higuaín. Prefiere ver a Tomás Roncero”. 9. Entrevista personal realizada a Josep Pedrerol el 15 de octubre de 2012. 10. Entrevista personal realizada a Quim Domenech el 8 de octubre de 2012. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 443 Su perpetuidad en la pantalla está más que asegurada gracias a los datos de audiencia cosechados en las últimas temporadas. Aunque su caladero de espectadores se ubica en la franja del “Late Night” en la que hay menos gente viendo la televisión, esa circunstancia favorece el incremen- to de su share. Su pico histórico lo alcanzó tras las semifi- nales de la Liga de Campeones de la temporada 2010/2011 entre Real Madrid y Barcelona en cuyo post partido alcan- zó un 7,9% de cuota de pantalla y 535.000 espectadores. En septiembre de 2012 ha alcanzado un 3,2% de share de media durante todo el mes, cifras muy superiores a la media del mes de toda la cadena (1,1%)11. El otro gran programa de la noche deportiva en televi- sión es “Futboleros”, cuyas emisiones comenzaron en Sep- tiembre de 2010 con la aparición en la TDT del canal te- mático Marca TV. Aunque en sus primeros meses de vida el proyecto estuvo liderado por Patxi Alonso y Kiko Narváez (lo simultaneaban con el programa “Minuto y Resultado” de La Sexta), en junio de 2011 el relevo lo asumió Enrique Marqués. Actualmente, Marqués presenta el programa de lunes a jueves, mientras que el director de la cadena Felipe Del Campo lo presenta los sábados y los domingos. De lunes a viernes el programa arranca las 23:00 con media hora dedicada al repaso de las noticias de actualidad en un espacio que precede al debate denominado “Info Futbo- leros”. Y de 23:30 a 2:00 6 invitados opinan, informan y debaten sobre los temas propuestos por el presentador. En- rique Marqués sostiene que ha intentado voltear el perfil de entretenimiento que tenía el programa cuando era dirigido Patxi Alonso y que ha intentado llevar a cabo una pro- 11. Fuente: Informe “El comportamiento de la audiencia televisiva”. Barlovento Comunicación. Fecha de publicación: Septiembre de 2012. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 444 puesta más ambiciosa reivindicando la faceta periodística y buscando la mezcla perfecta entre la información y el entretenimiento. Nuestro éxito es que descubrimos temas y sacamos historias. Con la información y con el periodismo como respaldo. Todas las noticias que buscamos y las investigamos con nuestras fuentes. Y no hay nin- guna que nos hayan desmentido12. En esa misma línea, Felipe del Campo afirma ser “par- tidario del debate con pasión, con vehemencia, pero sin exageraciones, estridencias e intentando tener un tono muy periodístico”. La realidad es que la evolución, tanto de “Futboleros” como “Punto pelota”, ha reducido los ili- mitados campos del periodismo deportivo al espectáculo derivado de las polémicas surgidas en torno al Real Ma- drid y Barcelona. Una realidad de la que es muy conscien- te Enrique Marqués: “Me encantaría poder hacer perio- dismo en profundidad con noticias polideportivas. Pero duraría dos días y la empresa pondría a otro a hablar del Madrid y del Barcelona”. Aunque es una evidencia que los formatos televisivos han salido a la luz a raíz del éxi- to de “Punto Pelota”, Marqués intenta desvincularse de aquellos que consideran que hacen un producto idéntico al que se emite en Intereconomía ya que el lema de “Punto Pelota” es “Por encima del espectáculo no hay nada”. Marqués cree que si el Real Madrid gana en un “Clásico” lo que le importará a Pedrerol será mostrar al espectador los gestos de Roncero. Y que si el Barcelona es el que sale vencedor, lo que harán será enfocar la cara de Carme Barceló. Y 12. Entrevista personal realizada a Enrique Marqués el 11 de octubre de 2012. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 445 dado que “Futboleros” no ha creado ese perfil de “per- sonajes”, en Marca TV tienen que hacer algo diferente13. Una de las grandes ventajas de Marca TV es que su ca- rácter temático, su pertenencia al Grupo Marca y su vincu- lación directa con Mediapro le ha brindado la posibilidad de contar con los derechos de imágenes en exclusiva, resúme- nes de partidos, emisión de encuentros de la Liga Adelante y, desde septiembre de 2012, emitir el partido en abierto de la Liga BBVA los lunes. Esta apuesta por el fútbol también ha derivado en la continuidad de la emisión de “Futbole- ros” durante el periodo vacacional de verano y el comienzo de sus emisiones también los sábados. De hecho, sus cifras más altas de la temporada las ha logrado en sábado: el 15 de septiembre con una audiencia media de 554.000 especta- dores y un 6.1% de cuota de pantalla y el 29 del mismo mes con 473.000 espectadores y un share del 5,2. Estos factores han propiciado el incremento de la audiencia del programa en el último año, logrando una media de 311.000 especta- dores (3.6% de share) los fines de semana y una media de 155.000 espectadores de lunes a jueves (1.7% de cuota de pantalla) durante todo el mes de septiembre de 201214. La fórmula del debate nocturno parece, por lo tanto, haberse asentado en las parrillas de dos televisiones que han apostado por un formato que atrae la atención de los telespectadores. Sin embargo, dentro del propio sector hay criterios disonantes que no perciben estos programas como periodísticos. Uno de los más críticos ha sido el propio José María García: 13. Entrevista personal realizada a Enrique Marqués el 11 de octubre de 2012. 14. “Marca TV rompe la barrera del 1% de share”. Nota de prensa del departamento de comunicación de Marca TV. Septiembre de 2012. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 446 El periodismo ha involucionado. Lo primero que tie- ne que ser un periodista, es plural. Independiente. Por ejemplo, en la tertulia de Punto Pelota hay un genuino representante del forofismo que sale con una bufanda o con un anorak del Madrid y que va a todas las pe- ñas… si eso es periodismo, que venga Dios y lo vea15. Ante las críticas vertidas por José María García y por otros periodistas, Josep Pedrerol reitera que su producto no es “Telebasura” y sale en defensa de sus colaboradores: Es muy fácil meterse con Tomás Roncero. Los que van de inventores del periodismo, hablando desde el púlpito y que dicen que Punto Pelota es la tele basura deberían saber que Tomás Roncero trabaja más que la mayoría de ellos. Está llamando por te- léfono a todo el mundo desde las 8 de la mañana. Y acaba su trabajo a las 3 de la madrugada. No para de hacer periodismo las 24 horas. Es muy listo y brillante. (Y sí, tiene unos colores). Pero consigue llegar al corazón de la gente que es como él y otra gente a la que convence con su discurso16. García subraya precisamente una de las características que definen a “Punto Pelota” y a “Futboleros”: el posi- cionamiento de numerosos periodistas que se autodefinen como hinchas del Real Madrid o del Barcelona. 15. Entrevista realizada a José maría García en el magacín Jot Down. Fuente: http://www.jotdown.es/2012/01/jose-ma-garcia-el- mayor-dictador-sobre-la-prensa-espanola-ha-sido-jose-ma-aznar/ Publicado el 18 de enero de 2012. 16. Entrevista personal realizada a Josep Pedrerol el 15 de octubre de 2012. http://www.jotdown.es/2012/01/jose-ma-garcia-el-mayor-dictador-sobre-la-prensa-espanola-ha-sido-jose-ma-aznar/ http://www.jotdown.es/2012/01/jose-ma-garcia-el-mayor-dictador-sobre-la-prensa-espanola-ha-sido-jose-ma-aznar/ Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 447 Hay una realidad que debemos empezar a aceptar. Es- tamos delante de un nuevo periodismo en el que los periodistas no ocultan sus colores. Sucede como en las campañas electorales de EEUU, donde los columnis- tas o presentadores se posicionan con los republicanos o los demócratas desde el principio. En el periodismo deportivo en España ha llegado el momento de “care- tas fuera”. Y es mejor para el espectador saber de qué pie cojea al periodista. No hay engaño posible17. ¿Es este estilo de hacer periodismo y entretenimiento una tendencia continuista? ¿Una moda pasajera? Enrique Marqués asume que el periodismo deportivo ha perdido mucha objetivi- dad para acercarse a la audiencia y para ganar público, pero reco- noce también que están experimentando sobre la marcha y no descarta que esta fórmula acabe por agotar al espectador y que tengan que cambiar su estilo para adaptarse a otras tendencias. Josep Pedrerol no estima que la televisión haya desban- cado completamente a la radio. Pero para Felipe del Cam- po, Director de Marca TV y presentador de “Futboleros” los fines de semana, el relevo social y mediático de la noche deportiva ha sido asumido por las televisiones: “Si en los años 90 las tendencias deportivas periodísticas se centra- ban en el duelo entre “Super García” y “El Larguero”, ésta tendencia tiene un relevo clarísimo en “Punto Pelota” y en “Futboleros18”. 17. Entrevista personal realizada a Quim Domenech el 8 de octubre de 2012. 18. Entrevista personal realizada a Felipe del campo el 2 de octubre de 2012. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 448 4. Conclusiones: Los magacines deportivos ante el reto de la renovación y la supervivencia Observados con detenimiento los datos de consumo ra- diofónico y televisivo en la franja nocturna en España no es tan descabellado formular cuestiones que hace años se antojaban implanteables: ¿Hay realmente un cambio de ci- clo en la noche deportiva en España? ¿Es lícito pensar que el estancamiento de los formatos radiofónicos nocturnos se debe al auge de los espacios televisivos? ¿Precisa la noche radiofónica un cambio de formato que vuelva a resultar atractivo para una audiencia cada vez más especializada y exigente? ¿Faltan en la radio figuras periodísticas con li- derazgo suficiente para asumir tales proyectos? ¿Demanda el consumidor más espectáculo como el televisivo? ¿Ó se refugia en el espectáculo por la ausencia de formatos radio- fónicos más atractivos? Sólo los meses y años venideros nos otorgarán respuestas certeras que nos ayuden a vislumbrar el futuro y la tendencia de los próximos lustros. Han pasado 30 años desde que José María García inicia- ra de manera pionera y novedosa un viaje en solitario por las noches radiofónicas modificando los hábitos y costumbres de los consumidores de información deportiva en España. Y esta- rán siempre presentes en la fonoteca periodística nacional las pujas mantenidas en los años 90 por SER y COPE para sumar adeptos a sus millonarias audiencias. En abril de 1995, fecha en la que José Ramón de La Morena supera por vez primera en audiencia a José María García, entre ambos programas con- gregaban a 2.590.000 oyentes. Según los datos de la segunda oleada del EGM de 2012, entre las cuatro grandes emisoras generalistas apenas llegarían a los dos millones19. 19. “El Larguero” sumó 1.142.000 oyentes, “El partido de las 12” 469.000 y Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 449 En junio de 2011 “El Larguero”, líder de la noche ra- diofónica durante los últimos 17 años bajó de la barrera del millón de oyentes (994.000) algo que obligó a José Ramón de La Morena a entonar su particular “mea culpa” a través de la red social Twitter: “Solo puedo tener dudas sobre mi capacidad para seguir mereciendo vuestra confianza. Espe- ro volver a merecerla haciéndolo mejor, y si no, marcharme sin hacer ruido ni culpar a nadie. Gracias a todos20”. De la Morena ha mantenido la estructura y el formato de su programa intacto durante los últimos lustros. Apenas ha variado sus secciones y tan sólo la marcha de una buena nómina de sus tertulianos a la COPE le obligó a reempla- zarlos por otros. El resto de programas nocturnos sí han ido modificando sus costumbres hasta derivar en lo que hoy podríamos denominar como “radio coral u orquestal”. El presentador reduce su protagonismo y se aumenta la pre- sencia de un elenco de colaboradores, redactores y tertu- lianos que le acompañan en la mayor parte del programa. Se pierde así la figura enérgica, con presencia y carácter de un periodista cuyo liderazgo y personalidad atraía a la au- diencia. Ahora la apuesta de las radios hace que predomine el empaque del programa en su conjunto por encima de un presentador “estrella”. En el escenario de una hipotética encuesta a pie de calle, no sorprendería certificar que una masa social importante desconociera los nombres de los di- rectores de los programas nocturnos de COPE, Onda Cero o ABC Punto Radio. A excepción de una hipotética marcha “Al primer Toque” 329.000. Los últimos datos de “ABC Punto Radio” (junio de 2011) otorgaron a “El Mirador de la Liga” 100.000 oyentes. 20. Artículo publicado en el diario El Mundo el 2 de julio de 2011: http://www.elmundo.es/elmundo/2011/07/02/comunica- cion/1309610703.html. Fecha de consulta: 15 de septiembre de 2012. http://www.elmundo.es/elmundo/2011/07/02/comunicacion/1309610703.html http://www.elmundo.es/elmundo/2011/07/02/comunicacion/1309610703.html Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 450 de De la Morena de la SER, se antoja imposible vaticinar el posible descalabro de audiencia en un programa nocturno tras la marcha de su presentador. El 30 aniversario del nacimiento de “SuperGarcía en la Hora Cero” puede ser aniversario útil para que un eficaz ejer- cicio retrospectivo ayude a confirmar que los cambios sociales y periodísticos acaecidos en estas tres décadas han afectado sensiblemente al ámbito de la comunicación y el deporte. Fac- tores como el desarrollo de internet, el aumento del consumo televisivo, el nacimiento de las redes sociales, la irrupción de radios, televisiones y páginas web de temática deportiva y la génesis de formatos nocturnos en la pequeña pantalla han al- terado el contexto y el papel de la radio desde 1982. Parece improbable que la radio deportiva nocturna pue- da recuperar las cifras millonarias de audiencia de hace 20 años. Pero también resulta implanteable que pueda caer en desgracia un formato que revitalizó la radio española por su particular forma de concebir el periodismo. El deporte nunca pasará de moda. Y la radio, tampoco. Referencias ALCOBA, Antonio (1980) El periodismo deportivo en la sociedad moderna. Madrid. Edic. deautor. CEBRIÁN HERREROS, Mariano (2001): La radio en la convergencia multimedia. Barcelona. Gedisa. MALVAR, Luis (1995) La radio deportiva en España 1997-2004. Madrid. Pearson Alhambra. RODRÍGUEZ, Óscar (1999): La radio deportiva espa- ñola: “SuperGarcía”. Trabajo fin de Carrera. Universidad Pontificia de Salamanca. Director, Arturo Merayo. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 451 HERRERO GUTIERREZ, Francisco Javier (2011): “Los programas deportivos de la radio española en la red social Facebook: espacio de promoción, lu- gar de encuentro…¿Medidor de audiencia?” en Área Abierta, nº 28. Revistas Científicas Complutenses. Estudios e informes Informe “El comportamiento de la audiencia tele- visiva” elaborado por Barlovento Comunicación según datos de kantar Media. Publicado en Septiembre de 2012. Estudio “Spain is digital. Tendencias y consumo on- line en España”. Publicado en Junio de 2012. Informe “Europe. Digital Data Gems” publicado por comScore en junio de 2012. Informe “Resumen General de la segunda oleada del Estudio General de Medios 2012”. Publicada por AIMC el 4 de julio de 2012. Informe “Consumos del Sector Residencial en Espa- ña”. Publicado por el “Instituto para la Diversificación y Ahorro de la Energia” (IDAE). Enero de 2012. Estudio “Audiencias online”. Elaborado por Barlovento Comunicación según datos de kantar Media. Publicado en Agosto de 2012. Manual “Guía para empleados de EFE en Redes So- ciales”. Agencia EFE. Diciembre de 2011. Artículos en internet “Supergarcía en la Hora Cero”. Disponible en: http://www.nostalgia80.com/2011/01/25/supergar- cia-en-la-hora-cero/ http://www.nostalgia80.com/2011/01/25/supergarcia-en-la-hora-cero/ http://www.nostalgia80.com/2011/01/25/supergarcia-en-la-hora-cero/ Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 452 “Otro récord histórico de MARCA.com” Publicado el 14 mayo 2011. Disponible en: http://www.marca.com/2011/05/14/cor- porativo/1305365271.html “La cadena ESPN le prohíbe a sus periodistas dar primicias a través de twitter”. Banca y Negocios. 7 ju- nio 2011. Disponible en: http://www.bancaynegocios.com/salud- y-deportes/item/11741-la-cadena-espn-le-proh%C3%ADbe-a-sus- periodistas-dar-primicias-a-trav%C3%A9s-de-twitter (Última fecha de consulta: 1 de Octubre de 2011) “Marca TV rompe la barrera del 1% de share”. Nota de prensa del departamento de comunicación de Marca TV. Septiembre de 2012. “Demanda civil en defensa de l’honor del RCD Es- panyol”. Nota pública emitida por la página web del RCDE el lunes 7 de mayo de 2012. “Vega Arango anuncia que demandará a la COPE”. No- ticia publicada en marca.com el 30 de abril de 2012. Entrevistas en profundidad Entrevista realizada a Enrique Marqués, presentador de “Futboleros”. Madrid. 11 de octubre de 2012. Entrevista realizada a Felipe del Campo, Director de Marca TV y presentador de “Futboleros fin de semana”. Madrid. 2 de octubre de 2012. Entrevista realizada a Josep Pedrerol, Director de deportes de Intereconomía TV y presentador de “Punto Pelota”. Madrid. 15 de octubre de 2012. Entrevista personal realizada a Quim Domenech, redactor de “Punto Pelota”. Madrid. 8 de octubre de 2012. http://www.marca.com/2011/05/14/corporativo/1305365271.html http://www.marca.com/2011/05/14/corporativo/1305365271.html http://www.bancaynegocios.com/salud-y-deportes/item/11741-la-cadena-espn-le-proh%C3%ADbe-a-sus-periodistas-dar-primicias-a-trav%C3%A9s-de-twitter http://www.bancaynegocios.com/salud-y-deportes/item/11741-la-cadena-espn-le-proh%C3%ADbe-a-sus-periodistas-dar-primicias-a-trav%C3%A9s-de-twitter http://www.bancaynegocios.com/salud-y-deportes/item/11741-la-cadena-espn-le-proh%C3%ADbe-a-sus-periodistas-dar-primicias-a-trav%C3%A9s-de-twitter Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 453 20. “O Crime Não Compensa”, histórias da crônica policial paulista transmitidos pela PRB-9 Rádio Record com roteiros de Osvaldo Moles e Thalma de Oliveira Bruno Domingues Micheletti1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Karen Cruz2 Centro Universitário Belas Artes - FEBASP, São Paulo, Brasil 1. Bruno Domingues Micheletti, mestrando do Programa de Pós- -Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP – São Paulo, Brasil, email: bruno.unip.jor@gmail.com 2. Karen Cristina Cruz de Souza, Centro Universitário Belas Artes – FEBASP – São Paulo, Brasil, email: karencruz.arts@gmail.com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 454 Resumo Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, o mercado das revistas de histórias em quadrinhos (HQs) deixa de ter foco nos super heróis para trabalhar a temá- tica dos vilões. Surge a revista “Crime does not pay” e na sequência um programa de rádio homônimo, que patroci- nado pela Colgate-Palmolive, vai ao ar pela MGM. Com o sucesso nos Estados Unidos, a Colgate-Palmolive decide trazer a fórmula para o Brasil. A PRB-9 Rádio Record é escolhida para a transmição, em que o delegado Artur Leite de Barros Júnior retira histórias do arquivo policial, para serem transformadas, inicialmente por Osvaldo Moles, depois por Thalma de Oliveira, nos roteiros do programa “O Crime não Compensa”. Dentre os episódios citados, destacamos “Aventuras de Meneghetti” que conta a história de Gino Amleto Meneghetti, inspiração para Osvaldo Mo- les criar o personagem Gijo Manhagato, interpretado por Adoniran Barbosa. Palavras-chave: Osvaldo Moles; Rádio; Histórias em Quadrinhos; Crimes; Adoniran Barbosa. Programa “O Crime Não Compensa” - histórias da crônica policial paulista Com a vitória dos Aliados3 na Segunda Guerra Mundial, 3. Durante a Segunda Guerra Mundial, as forças de batalha ficaram conhecidas por Aliados e forças do Eixo. Entre as principais po- tencias dos Aliados estavam os Estados Unidos, União Soviética e Inglaterra, porém outros países como França, China, Polônia e até o Brasil foram países que compuseram esta frente. Dentre as potências Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 455 definida no dia 2 de setembro de 1945, a população dos Estados Unidos sentia-se, de certa forma, satisfeita com o desfecho do confronto. Porém os Super-Heróis Americanos criados para as histórias em quadrinhos (HQs), que durante todo período do conflito protagonizaram lutas que refle- tiam a conjuntura política mundial, já não conseguiam mais atrair o público com tanta eficácia. Segundo Guerra (2011): “Durante o desenrolar da guerra, as HQs funcio- naram como uma forma de propaganda de guer- ra pró-aliada, juntando o gênero da aventura com histórias fantásticas, associadas ao contexto político da época. Nesse período, atingiu enormes tiragens, mirando o mercado consumidor específico dessas histórias que era a juventude.” Na primeira metade da década de 1940, algumas revis- tas do gênero chegaram a alcançar tiragens superiores a de um milhão de exemplares, porém com o fim da guerra e a ausência de inimigos reais, as HQs não atraiam mais o lei- tor americano, que buscava agora um novo tipo de leitura. Ainda segundo Guerra (2011): “O final da guerra trouxe mudanças no mercado editorial de quadrinhos americano. A vitória dos aliados fez com que a participação nos comics dos tradicionais vilões das HQs do período - os na- zistas - perdesse o sentido. Com isso, as revistas de super-heróis entraram em processo de declínio pela perda de interesse dos leitores.” Nesta fase algumas revistas apostaram em colocar o vilão do Eixo, as principais estavam Alemanha, Itália e Japão. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 456 como sendo o personagem principal do roteiro e consegui- ram atingir o público com maior eficiência. Uma das revis- tas em quadrinhos de maior destaque deste gênero, na qual os vilões eram os protagonistas, foi a “Crime Does Not Pay”, que teve suas primeiras publicações lançadas no ano de 1942. Criada por Charles Biro e Bob Wood e distribuída por Lev Gleason, a revista de história em quadrinhos tinha como te- mática de seus roteiros as histórias de gangsters, criminosos e outros tipos de vilões, inspirados ou não em acontecimentos reais. Apesar da temática não ser inédita, já que desde 1930 histórias como as de Dick Tracy e Batman trabalhavam o tema, a forma como os criadores abordaram a temática, cen- tralizando os vilões como personagens principais da história colocou a revista dentre as mais vendidas no ano de 1948. Segundo Campos Jr. (2009) “As vendas, que eram de razo- áveis 200 mil unidades nos primeiros anos, chegaram a 800 mil cópias em 1946, pulando para 1 milhão em 1948.” Devido ao sucesso alcançado pela revista, outras publi- cações inspiradas no modelo começaram a surgir, até que a rádio MGM em parceria com a Colgate-Palmolive re- solveram radiofonizar um programa inspirado nas histórias da revista, que não por coincidência, levou o mesmo nome: “Crime Does Not Pay”. Com duração de meia hora o pro- grama ia ao ar todas as terças-feiras, a partir das 20h nos Estados Unidos, até que em meados de janeiro de 1948, o americano Richard Penn, diretor da Colgate-Palmolive do Brasil, escolheu a PRB-9 Rádio Record de São Paulo para produzir a versão brasileira do programa. Surge então “O Crime Não Compensa”, com o objetivo de radiofonizar roteiros baseados em crimes reais da crônica policial paulista. Para radiofonizar o programa, a PRB-9 Rádio Record contou com Osvaldo Moles. Nascido em Santos, no ano de 1913, Moles começou a trabalhar com 16 anos na Eclectica, agência que vendia assinaturas e publicidades para jornais. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 457 Porém destacando-se ao exercer suas funções, oito meses depois conseguiu uma vaga no Diário Nacional, ligado ao Partido Republicano Paulista (PRP), no jornal trabalhavam algumas personalidades do movimento modernista brasilei- ro, como Mário de Andrade e Sérgio Milliet. Trabalhou no São Paulo Jornal e em 1933 viajou pelo nordeste brasileiro retratando a vida dos nordestinos até fixar residência na cidade de Salvador, onde participou da fundação do jornal “O Estado da Bahia”. No ano seguinte retorna para São Paulo e ingressa no jornal Correio Paulistano. Apenas em 1937, Osvaldo Moles inicia sua carreira radiofônica, con- vidado pelo magnata da comunicação brasileira, Assis Cha- teaubriand4, que inaugura no dia 03 de setembro daquele ano a PRG-2, Rádio Tupy5 de São Paulo, considerada a mais potente emissora da América Latina à época, com 26 quilowatts em seu transmissor, a PRG-2 podia ser ouvida, em ondas curtas, mesmo em países vizinhos a fronteira do Brasil. Ao longo de sua carreira, Osvaldo Moles trabalhou também com cinema, como no filme “Simão, o Caolho”, em que assina o roteiro em parceria com Miroel Silveira, no qual foi agraciado com o prêmio “Governador do Es- tado” (1953) e com o troféu “Saci” (1952). Como radia- lista, também trabalhou na PRH-9 Rádio Bandeirantes na 4. Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (1892 - 1968) foi um magnata da comunicação no Brasil. Proprietário dos Diários Associados, foi dono de diversos jornais impressos, revistas, emissoras de rádio e responsável pela implementação da televisão no Brasil na década de 1950, quando criou a TV Tupi. Assis Chateabriand tam- bém foi fundador do Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 1947. 5. A rádio foi registrada oficialmente como rádio Tupy, com “y”, na “Relação das Estações Brasileiras de Radiodifusão”, listagem do Mi- nistério da Viação e Obras Públicas, órgão responsável na época pela radiodifusão, e que mais tarde seria o Ministério das Comunicações. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 458 década de 1950, além de atuar como publicitário, prestan- do serviços para o São Paulo Futebol Clube, desenvolveu a campanha para a venda das cadeiras cativas do Estádio Cícero Pompeu de Toledo6, que capitalizou grande parte do montante necessário para a construção do estádio. Na política trafegou no campo do marketing político, ao tra- balhar na vitoriosa campanha de Laudo Natel para vice- -governador do Estado de São Paulo em 1962 e na cam- panha para prefeitura de São Paulo em 1964. Na PRB-9 Rádio Record, Osvaldo Moles começou a trabalhar no ano de 1941, mesmo ano em que o novato Adoniran Barbosa7 passa a compor o casting da emissora atuando no programa “Serões Domingueiros”. Moles logo reconhece o potencial humorístico de Adoniran Barbosa e passa a criar para o radioator dezenas de personagens e programas cômicos de grande sucesso no meio radiofônico. Figuras como “Zé Conversa” e “Charutinho” são de extre- ma importância no âmbito historiográfico do rádio brasi- leiro e consolidaram a carreira de Adoniran Barbosa. Além da parceria no rádio, Moles e Adoniran também foram par- ceiros no meio musical, compondo diversas músicas, entre elas: “Tiro ao Álvaro”, “Pafúncia” e “Joga a Chave”. Quando em 1948, o programa “O Crime Não 6. Na época o maior estádio privado do mundo, também conhecido como Estádio do Morumbi. 7. João Rubinato (1910 – 1982) - filho de imigrantes italianos, nasceu na cidade de Valinhos, a 90 km de São Paulo, em 1910. Ganhou fama com o nome de Adoniran Barbosa. Sendo o mais novo de 7 irmãos, começou a trabalhar cedo. Mudou-se para São Paulo com a família aos 22 anos e tentou carreira como cantor e compositor sem obter sucesso. Virou humorista, conheceu Osvaldo Moles, e este, criou roteiros e personagens que fizeram sucesso em sua voz, ganhando notoriedade e reconhecimento popular. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 459 Compensa” passou a ser irradiado, Osvaldo Moles era responsável por receber as histórias reais dos crimes co- metidos em São Paulo e organizá-las no formato de um roteiro radiofônico. Assim como o programa ame- ricano, em pouco tempo, “O Crime Não Compensa” conquistou a audiência do rádio. “Em menos de cinco meses no ar, o programa O Crime Não Compensa, que traz nas ondas da Rá- dio Record a dramatização de casos reais da crônica policial brasileira, tornou-se a maior coqueluche do dial paulistano.” (Revista Veja, Seção Gente)8 Transmitido às sextas-feiras no horário das 21 horas, o pro- grama contava praticamente com todo o elenco de radioato- res da Rádio Record, graças ao grande número de persona- gens envolvidos nas tramas. Nomes como Adoniran Barbosa, Manuel Durães, Borges de Barros, Osvaldo de Barros, Mário Sena, Alfredo Gramani, Paulo Pereira, Maria Consuelo, Pá- dua Muniz, Mendes Neto, José Rubens, Mariamélia, Osmano Cardoso, Chico Paca, Ruy Lemos, Daniel Magalhães, César Medeiros, Leonor de Abreu, Moncha Rios, Santiago Neto, Nair Belo entre outros participaram das irradiações. Entre os destaques do programa estava Adoniran Barbosa, que pela primeira vez deixava de interpretar personagens cômi- cos no rádio, sendo bem recebido pela crítica na sua atuação em “O Crime Não Compensa”, onde ficou responsável por pro- tagonizar os criminosos, desta vez dentro do gênero dramático. “O sucesso fez a direção da PRB-9 convocar para as transmissões todos os radioatores dos núcleos de 8. Edição especial baseada no ano de 1948, recontando fatos históricos da época. Disponível no site . Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 460 teatro e humorismo da emissora – desde veteranos como Manuel Durães até promessas como a jovem Nair Belo. Mas o destaque do policial, sem dúvida, fica por conta do eclético ADONIRAN BARBO- SA. [...] Em O Crime Não Compensa, o artista de 38 anos dá mais uma mostra de sua versatilidade ao encarnar de forma impagável a mais diversa sorte de criminosos – desde ventanistas como o Homem da Vela até refinados larápios internacionais, como o uruguaio Gino Pasqua –, consagrando-se, aos olhos da crítica e do público, como um intérprete completo.” (Revista Veja, 1948, Seção Gente) Servindo como base para os roteiros, Osvaldo Moles con- tava com o apoio do delegado Artur Leite de Barros Júnior, que também participava diretamente do programa. O dele- gado escolhia os casos nos arquivos policiais de São Paulo. Nomeado delegado em 1925, Leite de Barros ganhou desta- que no meio policial já no ano seguinte, quando comandou o cerco que culminou com a prisão do conhecido criminoso Gino Meneghetti. Foi também secretário de Segurança Pú- blica, na época em que foi responsável pela repressão de es- querdistas e opositores ao regime de Getúlio Vargas, além de assumir o cargo de titular da Divisão de Explosivos, Armas e Munições da polícia paulista, quando recebeu o convite para participar do programa. Em entrevista à Folha da Noite, da- tada de 24 de Maio de 1948, o delegado define o programa, explicitando o caráter paulista presente na audição: “Ele não é novela. Não é teatro. Nem “grand-guig- nol”. nem é cinema. Ele é simplesmente radio-tea- tro. Ele é documentário sonoro de crimes celebres. Ele é palavra e som, é ruido. Sua fonte é rigorosa- mente documental. Seu repertório, constituido de casos arquivados no Departamento de Investigações. Seus cenários sonoros têm cor eminentemente lo- cal, representando nossas paisagens, urbanas e rurais. Seus crimes foram praticados em territorio paulista. Não são feitos em serie. Não são estandardizados.” Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 461 Além da característica diferenciada de colocar o crimi- noso como protagonista, “O Crime Não Compensa”, tam- bém tinha o objetivo, explícito não somente em seu título, mas também na forma como era finalizado cada episódio, de transmitir uma mensagem de caráter social e educativo, reconhecidamente por Leite de Barros, que além de forne- cer subsídios para o roteiro, participava também das trans- missões do programa como narrador das histórias. “Com a escamoteação atraente e imperceptível da atenção dos radioouvintes, procuramos inocular, na sua mente, idéias sãs e necessárias à preservação da ordem social. É a boa propaganda contra a má pro- paganda. E assim de tudo que é apresentado vem a conclusão convincente de que “O Crime Não Compensa”” (Folha da Noite, 1948, p. 22) Leite de Barros e Osvaldo Moles Versão original de fotografia publicada na Revista do Rádio (1949, Ed. 014, p. 12) Fonte: Acervo Particular de Beatriz Savonitti. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 462 A atuação do elenco em geral também foi bem aceita pela crítica como podemos ver na matéria da edição núme- ro 14 da Revista do Rádio (1949, pág.12) que afirma que os radioatores procuravam “dar um significado real daquilo que, de fato, aconteceu e que o rádio faz reviver, a fim de tornar bem claro a conduta errada daqueles que, um dia, se desviaram do bom caminho”. Aproveitando o sucesso que o programa da PRB-9 Rádio Record alcançou, a Colgate-Palmolive anunciou seus produtos em meio a narração dos casos policiais. As propagandas do Sabonete Palmolive tinham como slogan o “sabonete da juventude, que deixa a cútis aveludada como uma pétala de rosa” e a Escova Colgate “de forma- to científico”. Além destes, produtos como a Brilhantina Palmolive “a única feita com azeite de oliva” bem como outros produtos eram divulgados durante a apresentação do programa “O Crime Não Compensa” Quando, por motivo de afastamento devido a férias ou mesmo outros trabalhos, Moles passava a responsabilidade dos roteiros do programa, para o radialista Thalma de Olivei- ra. Além de radialista, Thalma foi advogado, nasceu em 1917 e trabalhava no Departamento Nacional do Café, quando teve seu primeiro contato com o rádio foi na Rádio Pirati- ninga. Trabalhou na Rádio São Paulo e em 1949 foi transfe- rido para a Rádio Record por Paulo Machado de Carvalho, diretor do grupo das Emissoras Unidas da qual faziam parte a PRA-5 Rádio São Paulo, PRB-9 Rádio Record, PRH-7 Rádio Panamericana9 e durante um curto período de tem- po a PRH-9 Rádio Bandeirantes. Um dos roteiros do pro- grama “O Crime Não Compensa” que Thalma escreveu, em substituição a Moles, foi irradiado no dia 15 de abril de 9. Atual Rádio Jovem-Pan Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 463 1949, Sexta-Feira Santa. Data em que o programa deixava de ter como tema as crônicas policiais paulista para narrar a “Vida e morte de Jesus”, em uma edição especial: “As palavras de amor, de bondade, de perdão de Cristo perduram através dos séculos, glorificando aquele que as ensinou. E aos seus julgadores? Nem Judas que o traiu, nem aos homens, que o julgaram, o sacrifício de Cristo aproveitou. Porque o crime que cometeram contra um justo recaiu sobre eles e atra- vés dos tempos a voz da história se faz ouvir, procla- mando aquela verdade inabalável e terrível. A triste e dolorosa verdade de que o crime... não compensa!” O programa já tinha se estabelecido entre um dos maio- res na audiência da radiofonia paulista, porém, no ano de 1950, Osvaldo Moles insatisfeito com algumas diretrizes da Rádio Record, pede demissão. Após alguns boatos na mí- dia e negociações, assina no ano seguinte, contrato com a PRH-9 Rádio Bandeirantes. Com isso o programa “O Cri- me Não Compensa” passa a ser assumido definitivamente pelo roteirista Thalma de Oliveira, que já estava habituado ao estilo do programa. Thalma o fazia com empenho, reali- zando viagens e se aprofundando em temáticas para produ- zir seus roteiros com maior fidelidade, tinha assumidamente a preferência e gosto por produzir este programa, conforme entrevista concedida à Revista do Rádio (1955): “Realmente, é o programa que mais me agrada escrever, muito embora o meu campo preferido seja o da ficção. Agra- da-me sobremaneira, aquêle programa, já pela sua íntima liga- ção com minha profissão, a outra, que é a de advogar, já porque reveste o aspecto de uma mensagem social constante, levando tôdas as semanas, até o rádio ouvinte, o exemplo vazado em fa- tos reais de que não compensa, de maneira nenhuma, o crime.” Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 464 O programa “O Crime não compensa” na Rádio Re- cord completou 10 anos de transmissão em julho de 1956, saindo do ar em seguida. A atração que conquistou o públi- co com sua inovação na maneira de abordar a criminalidade paulista, chegou ao fim, sem que houvesse grande cober- tura da imprensa. Em substituição ao programa, a PRB-9 Rádio Record lançou uma nova produção de Thalma de Oliveira, intitulada “Nas garras da lei”, que foi ao ar no mesmo dia e horário do programa anterior. “Aventuras de Meneghetti” a trágica prisão do “simpático” criminoso Ainda no ano inaugural do programa “O Crime não compensa” (1948), Osvaldo Moles preparou o roteiro do episódio “Aventuras de Meneghetti”, que narrava os acon- tecimentos do cerco que prendeu o italiano Gino Amleto Meneghetti no dia 4 de julho de 1926. Nascido em Pisa, na Itália no ano de 1878#, teve uma infância pobre, tornou- -se simpatizante dos ideais anarquistas e conquistou ainda jovem um histórico de furtos, prisões e fugas tanto na Itália, como na França. Falando que estava marcado em sua terra, Meneghetti vem para o Brasil, onde desembarca no porto de Santos no ano de 1913. Em São Paulo, onde tinha uma tia e outros amigos imigrantes italianos, decide fixar resi- dência e na pensão onde mora, conhece Concetta Tovani, com quem teve dois filhos. No Brasil, chegou a trabalhar na fábrica de chocolates Fal- chi, dos irmãos italianos Ponfílio, Emídio e Bernardino, que funcionou até meados de 1950 e teve suas origens na compra de um terreno em 1890, que posteriormente foi transformado no bairro da Vila Prudente, nome escolhido para homenagear Prudente de Morais, o primeiro governador do estado de São Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 465 Paulo. Porém os “hábitos de frequentador da noite e aprecia- dor do vinho chianti” (MOUZAR 2011) o levaram de volta a criminalidade. Sentindo falta do dinheiro que lhe permitia alguns luxos desregrados, Meneghetti logo junta-se a outros imigrantes italianos para vender revólveres repassados por eles, que diziam ser contrabandistas de armas, mas que na verdade, eram roubadas. Em março de 1914, Meneghetti é capturado em uma armadilha policial pelo assalto a Casa Sarli. Preso pela pri- meira vez em solo brasileiro, é condenado a oito anos de prisão, mas cumpre apenas ano e meio. Delatado por outro prisioneiro, enquanto tentava cavar um túnel, Meneghetti é trancafiado nu, no fundo de um poço que era coberto por grades de ferro. Estava detido na Casa de Correção, que fora inaugurada em 1852, nas proximidades do par- que da Luz - o Presídio Tiradentes. Porém, mesmo con- finado a solitária, duas versões diferentes contam como foi sua fuga em uma madrugada fria de julho de 1915. A primeira foi publicada na edição de 5 de julho de 1926 no jornal Correio Paulistano: “...Mas Gino Meneghetti encontrava sempre os meios de communicar-se com a sua amante Con- cetta Tovani, dedicada ao servilismo, e com o auxi- lio desta conseguiu a sua evasão. Concetta esperou- -o de automovel e com um costume de roupa na praça Visconde de Congonhas, atrás da velha peni- tenciaria e deu escapula ao fugitivo. Para realização do seu arriscado intento, Mene- ghetti rompeu, com uma ferramenta qualquer que lhe foi parar ás mãos, o tecto de cimento armado da solitaria e pelo estreiro rombo conseguiu sahir, deixando nas artestas vivas da estructura metalica farrapos ensanguentados das suas próprias carnes. E emquanto procedia a essa façanha de Ráfles moder- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 466 no, cantava em voz alta, para desorientar a sentinella e dar aviso á amante que o esperava extra-muros.” Na outra, Mouzar Benedito, jornalista e biógrafo de Meneghetti, escreve para a Revista da História que: “...numa noite fria do mês de julho de 1915, ele es- calou o poço com um pé em cada parede e conse- guiu arrancar uma das barras de ferro, mas o espaço aberto era pequeno. Mesmo assim, ele atravessou o vão apertado, deixando pedaços de pele nas barras, fugiu pelo telhado e desceu perto do Jardim da Luz. Era uma hora da manhã. Nu, no meio da garoa paulistana, conseguiu despistar um guarda e seguiu rumo à casa da tia para obter roupas.” Histórias como esta, da fuga, fizeram de Meneghetti uma verdadeira lenda urbana na cidade de São Paulo, seus feitos invadiam as páginas dos jornais da época e por vai- dade ele enviava cartas as redações ironizando a ação dos policiais. “Gato dos Telhados”, “Ladrão Nobre”, “Bom La- drão”, “Grande Ladrão”, “Homem Gato” e “Homem de Borracha” eram alguns dos apelidos divulgados pela im- prensa, havia-se até boatos entre a população paulistana que ele usava molas amarrada aos pés para conseguir subir nos telhados das casas e conseguir com destreza despistar os policiais. Segundo a matéria da Revista de História da Biblioteca Nacional# havia outro motivo para que ele ser bem visto pela população: “...ele nunca praticava qualquer ato de violência. “Jamais roubei um pobre. Só me interessa tirar dos ricos, e tirar joias, que são bens supérfluos que só servem para alimentar a vaidade”, dizia, coerente com seus ideais anarquistas. Quando criança,na Itá- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 467 lia, Meneghetti já se sentia injustiçado por ser muito pobre, enquanto havia ali perto pessoas muito ri- cas, que desperdiçavam comida. Ele foi criando uma “consciência de classe” desde essa época. Leu muito, estudou. Já chegou ao Brasil adepto do anarquismo” Seus furtos ocorreram em Minas Gerais, no Rio de Ja- neiro, em toda a Região Sul e até no Uruguai. Foi preso em vários estados, mas sempre conseguia fugir e voltar para São Paulo. Relatos fantasiosos diziam que ele usava molas nos pés para poder escapar da polícia saltando da rua para os telhados quando ficava acuado. Seu heroísmo era reforçado porque ele fazia com a polícia o que os pobres, constan- temente perseguidos e discriminados, gostariam de fazer.” Em São Paulo, roubou casas como a do Luís Eduardo Matarazzo, filho do industrial Francesco Matarazzo; Fran- cisco Leopoldo e Silva, escultor influenciado por Rodin; e do deputado estadual Rafael de Abreu Sampaio Vidal. Por onde passava, fazia questão de assinar seus crimes e sempre deixava uma lembrança que podia ser uma carta, um cartão assinado ou mesmo um chapéu esquecido. Quando foi a vez do palacete da baronesa de Arary, deixou um bilhete alertando para que ela escolhesse melhor seu fornecedor, por que a maioria de suas joias eram falsas. Seus delitos aconteciam sempre entre as 19h e meia-noite, nunca após este horário e sempre se certificava que não havia ninguém na casa, ou apenas mulheres e crianças. Apesar de estar sem- pre armado, Meneghetti se dizia uma pessoa boa e que nunca quis ferir ninguém. Por vezes ligava para a residên- cia escolhida, ou tocava a campainha para garantir que não haveria ninguém em casa - se alguém atendesse inventava uma desculpa qualquer e partia para a próxima residência. Suas vítimas provavelmente estariam nos cinemas, teatros ou jantares no horário escolhido para os furtos. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 468 Com tantas lendas a seu respeito e os furtos nas casas de importantes membros da sociedade paulistana, a policia intensificou a investigação e descobriu que Concetta e seus dois filhos moravam na rua dos Gumões, localizada no Centro da cidade de São Paulo. Então no dia 4 de junho de 1926, mais de cem policiais, incluindo o delegado Leite de Barros, cercaram o local, aguardando que o criminoso visitasse a sua família. Segundo os jornais da época, cerca de 50 mil pessoas saíram as ruas para acompanhar a prisão de Meneghetti e diante do tumulto uma tragédia aconte- ceu. Outro delegado que participava da ação, Dr. Waldemar Dória, acabou sendo atingido por uma bala e veio a falecer. No dia seguinte ao fato o Correio Paulistano publicava uma matéria em favor da ação policial efetiva e culpava o criminoso pelo assassinato do delegado. A linha fina da matéria trazia a informação que depois de horas, Mene- ghetti compreende “a inutilidade de sua resistencia, ante o formidavel assédio da policia” e “ergue os braços, como nas fitas do Cinema, e deixa-se prender”. A matéria continuava: “Pela audacia innominavel de um bandido, cujas ameaças e proezas vinham alarmando a pacifica população desta cidade, amanheceu hontem São Paulo sob a mais fabricitante emoção e alvoroço. Reproduziu-se na capital paulista a tragédia pari- siense da captura de Bonnot, de sinistra memoria. Não se dê a Amleto Meneghetti - ladrão e assassino da peor especie - outra significação que a de uma fera sem entranhas entregue toda aos seus instinc- tos. Não foi a tenaz de aço com que o constrangiu a policia que fez desencadear nas suas entranhas de criminoso privado do senso moral, toda a sua fe- rocidade. O rastro de Meneghetti vem pontilhado de sangue. Sua lugubre historia regista-a a policia internacio- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 469 nal como o de um dos mais temiveis ladrões homi- cidas, celebrizando-se no latrocinio, constituindo uma ameaça constante e viva á sociedade. Não há heroismo possível no homem brutal o instincti- vo que perdeu a noção do quanto vale uma vida humana, disposto a anniquila-la por um capricho ou por necessidade. A crear-lhe um ignominioso prestigio concorreu aquella imprensa que deu aga- zalho a certas cartas insolentes, apocryphas ou não, attribuidas á sua sinistra personalidade. Esse rumor em torno do nome de Meneghetti, si de um lado o celebrizava tristemente, tranformando - o num facinora - Quixote, de outro lado lhe estimulava a audacia. Dos seus esconderijos, tão fáceis numa immensa cidade como a nossa, o ladrão assassino representava um cartel lançado contra nossa policia e contra a tranquillidade da família paulista.” Esta foi mais uma história com diferentes versões. A ma- téria do Correio Paulistano, trazia o depoimento do pró- prio Meneghetti assumindo a autoria do disparo em defesa própria. Já a matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo, veiculado em 23 de dezembro de 1965 declara: “Comprovou-se mais tarde que essa autoridade [Waldemar Dória] adiantara-se demais do grupo de investigadores que a seguia, e fora atingido nas cos- tas pelo disparo da arma de um deles. Aproveitando- -se do incidente, Meneghetti pulou para um telha- do e galgou sucessivamente, altos predios, até que foi cercado e detido, na rua dos Gusmões. Ao ser preso, quase foi morto a pancadas pelos policiais.” Assassino ou não, Meneghetti foi por toda sua vida um ladrão incorrigível. Em 1970, já com 92 anos, foi preso pela última vez tentando roubar a casa de número Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 470 909, na Rua Fradique Coutinho, no bairro da Vila Ma- dalena. Consigo carregava uma lanterna, uma talhadeira e um pé de cabra e após prestar depoimentos na delega- cia foi solto por falta de provas. Figura assim tão caricata e ítalo-paulistana só poderia inspirar Osvaldo Moles a criar mais um personagem para Adoniram Barbosa. Nascia o vêneto Gijo Manhagato, no programa “Barbosadas do Barbosa”, programa que tam- bém foi criado por Moles, que irradiado pela PRB-9 Rá- dio Record, a partir das 20h, tinha meia hora de duração. No programa, diversos tipos cômicos criados por Moles também ganhavam vida na voz de Adoniran: Zé Conversa, moleque Barbosinha Mal-Educado da Silva, Moisés Rabi- novich, Richard Morris e outros que garantiam o sucesso da transmissão. Além de Adoniran, o elenco do programa era composto por Mariamélia, José Rubens e Ivo de Freitas; Dircinha Costa e o grupo Regional do Armandinho, eram responsáveis pela parte musical. Com o sucesso da versão radiofônica do gatuno Gijo Manhagato, o radialista Arman- do Rosas cria, na segunda metade da década de 1940, o programa “Sítio do Bicho do Pé”, em que Gijo Manhagato era o titular da propriedade rural. Referências BENEDITO, Mouzar. O Bom Gatuno:Meneghetti se transformou numa lenda em São Paulo... Revista de História, 2 maio 2011. Disponível em: Acesso em: 31/10/2012 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 471 CAMPOS JR., Celso. Adoniran: uma Biografia. 2. Ed. São Paulo: Globo, 2009. Delegados Editores. Folha de São Paulo, 22 ago. 2012. His- tória. Disponível em: Acesso em: 29/10/2012 È Recordista de prêmios. Revista do Rádio, 25 jul. 1955, p. 16, ed. 302. Disponível em: Acesso em: 20/10/2012 Em “O crime não compensa são irradiados opor- tunos ensinamentos policiais. Folha da Noite, 21 maio 1948, p. 4. Disponível em: . Acesso em: 29/10/2012 GUERRA, F.V. Super-Heróis Marvel e os conflitos sociais e políticos nos EUA (1961-1981) [tese pós-gra- duação]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2011. História da Vila Prudente na Zona Leste SP. Guia Leste. Disponível em: . Acesso em: 31/10/2012 Meneghetti, uma incógnita. São Paulo: O Estado de São Paulo. 23 dez. 1956, p.23 MICHELETTI, Bruno. Osvaldo Moles: o intelectual que falou com o povo.[trabalho de conclusão de curso]. São Paulo: Universidade Paulista, 2012. Museu Penitenciário Paulista : História do Sistema Peni- tenciário Paulista. Secretaria da Administração Peniten- ciária. São Paulo. Disponível em: Acesso em: 31/10/2012 O Crime não compensa: Um Grande programa da Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 472 Record de S. Paulo... Revista do Rádio, abril de 1949, p.12, ed. 014. Disponível em: Acesso em: 30/10/2012 Para adoniran, o crime compensa. Revista Veja, Edi- ção Israel, Seção Gente. Disponível em: Acesso em: 30/10/2012 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 473 21. El capital intangible como clave estratégica en la empresa radiofónica española: El caso de la Cadena SER Miriam Rodríguez Pallares1 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Ma- drid, España Resumen Desde una perspectiva histórico-social, económica y do- cumental se busca demostrar el valor de los contenidos como capital intangible en el sector de la comunicación mediática para comprender, en última instancia, la importancia de su buena gestión desde una perspectiva funcional y estratégica. El estudio de caso de la Cadena SER demuestra la posibi- lidad de un modelo de gestión de contenidos que favorece a la producción y a los dividendos en el sector radiofónico. 1. Miriam Rodríguez Pallares. Master Oficial en Periodismo por la Universidad Complutense de Madrid, Diplomada en Biblioteco- nomía y Documentación por la Universidad de Salamanca. Estu- diante de Doctorado en la UCM. Integrante del grupo de investi- gación Mediacom UCM Email: miriampallares11@gmail.com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 474 Palabras clave: Capital intangible, Gestión de Conteni- dos, Industria de la Comunicación Mediática, Empresa Ra- diofónica Española. Desde finales del siglo XX el panorama económico mundial ha sido protagonista de un cúmulo de cambios sociopolíticos, económicos y tecnológicos que han variado el proceso relacional de los países desarrollados dando lugar a una nueva realidad social, un paso más allá de la que teó- ricos como Daniel Bell o Alain Touraine (Bell, 1976; Tou- raine, 1973) llamaron Sociedad Post-Industrial, es la que se ha denominado Sociedad de la Información y la Comuni- cación, desde una perspectiva de negocio: la Economía del Conocimiento. Esta nueva situación socioeconómica basa su sentido de ser en el vertiginoso avance en el campo de las nuevas tecnologías y el desarrollo científico, hechos que facilitaron e impusieron la globalización de los mercados. Esta realidad ha dado un nuevo salto cualitativo a nivel em- presarial que justifica su actividad desde una perspectiva laboral a largo plazo que busca mejoras sectoriales e indivi- duales a través de la investigación para preveer nuevas vías de negocio o la mejora de rendimientos a años vista. En busca de una superación corporativa, las empresas pretenden alcanzar una ventaja competitiva a través de políticas estratégicas que deben ir más allá de lo material y lo económico –factores determinantes en este sentido hasta el momento– basándose en la innovación tecnológi- ca y organizativa como factor decisivo para el éxito, algo que supone una constante vigilancia crítica de la actividad empresarial aún en épocas de estabilidad. En este preciso instante es cuando el valor del capital intangible se reva- loriza como clave estratégica y ventaja competitiva a nivel organizacional, complementando a los factores productivos por excelencia propios de la economía industrial: el capital, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 475 el trabajo y los recursos humanos. Estos cambios a nivel global han incidido de forma es- pecialmente destacada en la industria de la comunicación mediática como catalizadores de una reestructuración tanto en su praxis como en su organización interna. La competi- tividad mediática y política han generado una globalización informativa liderada por los países desarrollados –imperia- lismo informativo–2 donde los conglomerados empresaria- les del sector compiten en tecnología, alcance y visibilidad, inmediatez y contenidos, tratando de solventar las exigen- cias informativas y de entretenimiento por parte de una población hipertecnologizada –cuyo mayor representante en el ámbito radiofónico es la distribución musical–. Todo ello se traduce en un incremento en la distribu- ción de contenidos que conlleva el aumento del valor in- tangible que éstos representan para la organización de co- municación mediática, un valor en el que convergen fines comunicativos y económicos cuyo carácter estratégico se aleja de las intenciones altruistas propias de las primeras teorías informativas en las que primaba un fin social, hoy superado por intereses lucrativos. Así lo hacían constar Fa- rias García y Farias Batlle en su teoría de la dualidad de fines de la empresa de comunicación mediática (1994:28): “los contenidos son fundamentales desde el punto de vista del fin natural de la empresa capitalista de obtener benefi- cios y desde su fin específico de informar”. 2. En este artículo se entiende a la industria de la comunicación como una pieza del capitalismo empresarial, interpretada desde un enfo- que sistémico que comprende el desarrollo de la empresa como resultado de la confluencia de las variables externas –entorno so- cioeconómico y político– y las variables internas de la empresa –cobertura, alcance, audiencias, estructura empresarial…–. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 476 Asimilar pues, el valor de los contenidos como ventaja competitiva sustentable permite comprender la importan- cia y el interés de su buena gestión a través de técnicas do- cumentales y perspectivas estratégicas globales. Marco Empresarial: el sector radiofónico en la era digital Como pieza del entramado capitalista, los medios de co- municación han evolucionado del individualismo a la for- mación de grandes conglomerados empresariales que aú- nan diferentes tipologías mediáticas. Pese a sus similitudes, prensa, radio, televisión y distribución online cuentan con características distintivas a las que prestar atención aún for- mando parte de una misma sociedad económica, es la con- secuencia de lo que se ha denominado: convergencia mul- timedia. La optimización de resultados en un entramado empresarial de estas características exige, inexorablemente, evitar duplicaciones de trabajo a favor de una integración en todos los procesos comunes a la producción mediática, independientemente del soporte y formato de difusión. En el caso español, el sector radiofónico cuenta con ca- racterísticas propias de la idiosincrasia nacional. La radio como medio de difusión audiovisual más longevo, se irguió como la ventana informativa con más incidencia social en el franquismo, hoy, aún con la llegada de la televisión y posteriormente de internet, continúa siendo un medio al que un importante sector social está fielmente vinculado por tradición histórica y que, amparado por dicho arrai- go social, se ha presentado más reticente a la adopción de cambios tecnológicos, al menos a igual velocidad que otros sectores mediáticos. Sea como fuere, también hoy es un medio sometido a innovaciones tecnológicas y pieza de Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 477 conglomerados empresariales mayores que exige, por tanto, una rentabilización en su proceso de producción. Tomamos como punto de inflexión en el desarrollo de los medios de comunicación a la aplicación de las TIC –como discriminación positiva en base a nuestro objetivo, sin ob- viar demás factores externos anteriormente mentados– que afectan directamente al quehacer y organización mediática, es decir, a la perspectiva funcional y estratégica empresarial. En el caso de la radio, Ignacio Gallego señala tres concep- tos tecnológicos claves en su desarrollo actual condiciona- dos por las tecnologías de la información y la comunicación: digitalización, interactividad y convergencia (2010:140). Digitalización: afecta tanto a la señal radiofónica, como al formato de los contenidos y al modelo de producción. Conlleva, en términos de usuario: la economización del es- pectro radioeléctrico y el aumento de la capacidad de con- tenido informativo a difundir en la transmisión. Este pro- ceso mejora la calidad del audio y facilita su tratamiento, es decir, el proceso de edición, que permite la combinación de aplicaciones, servicios e información, contenidos añadidos a la señal de audio, activos intangibles susceptibles de gestión. Interactividad: las posibilidades de comunicación radio- fónica analógica son unidireccionales, se busca potenciar, con la aplicación de nuevas tecnologías, prestar la posibili- dad de un feedback por parte del oyente. Convergencia multimedia: Ramón Salaverría (2003: web) entiende significado y alcance de convergencia mul- timedia desde cuatro dimensiones o perspectivas desde las que se plantean retos para optimizar competencias em- presariales aplicadas a las nuevas prestaciones tecnológicas y sociales, muy en relación con la gestión de contenidos: dimensión empresarial, dimensión tecnológica, dimensión profesional y dimensión comunicativa. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 478 - En el ámbito empresarial, la multiplicación de los me- dios y la adaptación a las nuevas plataformas modifican los planes organizativos y empresariales generando nuevas prioridades a todos los niveles. “El principal reto pendien- te es pasar de la simple integración gerencial de las com- pañías de comunicación a una integración editorial de los diversos medios que componen esas compañías. No se trata de que los medios que conforman el grupo pierdan su identidad e independencia respecto de los demás, sino que articulen canales de comunicación interna adecuados para potenciar en conjunto ciertas estrategias informati- vas y, asimismo, para facilitar que cada medio se concentre en aquello en lo que está realmente especializado”.  - Los avances tecnológicos proporcionan nuevas formas de producir y difundir contenidos. “En este nivel, el reto más importante es avanzar en la implantación y aprove- chamiento de los sistemas integrados de gestión de con- tenidos, de tal modo que las empresas de comunicación consigan que todos sus contenidos sean transparentes para cada medio y circulen con fluidez. Las empresas de información no sólo deben especializarse en ofrecer información hacia fuera, sino que también deben conse- guir que la información fluya sin estorbos por dentro”.  - Como consecuencia de estos cambios, el factor huma- no ve afectadas sus competencias obligado a adaptarse a nuevos estilos de redacción, nuevas plataformas de difu- sión o nuevos formatos como respuesta a un target cada vez más exigente y tecnologizado. “La formación es, sin duda, el principal reto en ee ámbito profesional. Existe todavía una notable ignorancia en las redacciones sobre qué son, cómo se usan y para qué sirven los recursos di- gitales en el periodismo. Los periodistas, tanto los jóvenes como los veteranos, deben aprender a aprovechar a fondo Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 479 las enormes potencialidades para la mejora de su trabajo que les ofrecen esos recursos digitales. Para conseguirlo, las empresas de comunicación deberían establecer planes de formación que, sin duda, a medio plazo mejorarían la calidad del trabajo realizado por sus periodistas”.  - La dimensión comunicativa se refiere de forma explí- cita a la adaptación del contenido al continente, es decir, a las nuevas plataformas de difusión web, pero siempre bajo la inexorable demanda de la agilidad tanto en el lenguaje como en la tecnología. “Los nuevos medios re- claman nuevas formas de presentar la información. Las potencialidades hipertextuales e interactivas de las redes digitales exigen a los medios un esfuerzo por desarrollar formatos informativos que aprovechen esas utilidades. Esto requiere ingenio y creatividad en los periodistas, pero también espíritu innovador e inversión por parte de los medios. Los jóvenes de hoy –es decir, los lectores de mañana– están acostumbrados al consumo de contenidos audiovisuales e interactivos de carácter lúdico, y es lógico deducir que si los medios pretenden atraer su atención deberán desarrollar formatos que incorporen de algún modo esas características en el discurso informativo”. El objetivo principal de una empresa de comunicación mediática, desde una perspectiva comunicativa, es la distri- bución y revalorización de sus contenidos y, por lo tanto, de su marca en el mercado, por este motivo el control de los contenidos gestados en sus áreas de trabajo es un proceso vital para su estabilidad como empresa competitiva. Desde un punto de vista estratégico la gestión de contenidos tiene como fin la difusión informativa interna, potenciando la re- valorización del conocimiento de los trabajadores y optimi- zando el proceso de producción. En el caso de la radio, cuyo principal distintivo es la inmediatez, una buena Gestión de Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 480 contenidos o Documentación Informativa –trending term y classic term– agiliza los procesos de creación y difusión sin mermar la calidad informativa. Marco Específico: La gestión de contenidos en el sector radiofónico en España: estudio de caso de la Cadena SER del grupo Prisa Radio El reconocimiento de una buena planificación de la ac- tividad empresarial es algo aceptado desde hace tiempo en el seno de las organizaciones competitivas. Esto se traduce en la implantación y gestión de políticas estratégicas. Actualmente la tendencia es que estas políticas estratégi- cas dependan de la gestión del capital intangible y no sola- mente de la producción, lo que exige destinar recursos para ello. A partir de este interés estratégico por el capital in- tangible, surgen nuevos conceptos empresariales que, desde una perspectiva empresarial significan nuevas funciones en el marco organizativo de una empresa. En lo que a nosotros nos atañe, hablamos de un nuevo contexto organizativo que, a través de la gestión de los recursos acumulados y la observación del contexto que rodea a una empresa, tiene como fin velar por su estabilidad y progreso. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 481 En el cuadro anterior podemos observar la esquematiza- ción de las actividades propias de políticas estratégicas em- presariales. Cada uno de los conceptos representados gráfi- camente han sido sujetos de múltiples investigaciones, pero en el caso que nos ocupa prestaremos especial atención a la gestión de contenidos como modelo de creación de valor del capital intangible. ¿Qué es la gestión de contenidos? El proceso de gestión de contenidos puede entenderse como un conjunto de actividades en un entorno digital que velan por asegurar el valor intangible de los contenidos en un contexto empresarial atendiendo a un correcto trata- miento de su valor informativo, su formato y su trazabilidad en base a técnicas documentales y atendiendo a las exigen- cias de la organización a la que se adscriba con el fin de op- timizar el rendimiento de la empresa, tanto a nivel funcional como estratégico. Conocer y gestionar el stock de conte- nidos de una empresa de comunicación mediática facilita su reutilización a nivel funcional, mejora su comunicación interna y amplía su valor competitivo a nivel estratégico. El desarrollo de la teoría de gestión de contenidos ha ter- minado por divergir en diferentes ramas sin desvincularse de su naturaleza inicial. Robertson (2006: web) identifica dos gran- des ramificaciones: la Web Content Management (WCM o ges- tión de contenidos web), centrada en el entorno web, “portales y webs corporativos” (Miller y David, 2002 en Tramullas, 2006) y la Enterprise Content Management (ECM o gestión de conte- nidos centrada en las organizaciones), centradas en el contexto empresarial a través de sistemas integrados, atendiendo no solo a contenidos digitales, sino también a toda la cadena documen- tal clásica con el fin de optimizar los recursos de una empresa. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 482 ¿Qué herramientas tecnológicas exige la gestión de contenidos? Las herramientas que sirven de soporte para la actividad ges- tora de contenidos se denominan de forma genérica Sistemas de Gestión de Contenidos (SGC) o su equivalente en inglés y terminología más común, Content Management System (CMS). En el caso de la industria radiofónica, el incremento de los servicios digitales, la multiplicación exponencial de con- tenidos o la búsqueda de mayor interactividad entre emisor y receptor (todo ello bajo la omnipresente tutela de exigen- cias como la inmediatez y la universalidad) exigen potenciar la automatización en la producción, almacenamiento y dis- tribución de contenidos en busca de una gestión integrada de los contenidos de una organización. Los CMS propor- cionan un soporte tecnológico que cubre las tareas de crea- ción, gestión, distribución, publicación y diseño de conteni- dos web o el control de la información de una organización a lo largo de todo su ciclo de vida. Una de sus principa- les características es facilitar el uso de las herramientas de gestión por parte de personas que no tienen porqué tener conocimientos informáticos. Pueden diferenciarse en fun- ción de características como el lenguaje de programación empleado (Java, PHP, ASP.NET; Active Server Pages…); su licencia (código abierto o software propietario); o su finali- dad, también se consideran CMS: blogs, foros o wikis. En los medios de comunicación surge un nuevo con- cepto de gestión de contenidos aplicado: el MAM (Media Asset Management) que, por su carácter empresarial puede ser entendido como un ECM. En este caso, el concepto MAM se emplea como significante tanto para el ámbito de aplicación del modelo de gestión como para la herramienta que permite llevar a cabo tal fin. Rodríguez Mateos (2011:76) explica las características Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 483 funcionales y técnicas que debe presentar un MAM de for- ma genérica, aún cuando todo CMS adapta sus prestacio- nes al contexto en el que se implanta: - la concepción de todo el sistema como flujo concén- trico en el que todas las tareas están relacionadas entre sí. - el control de esos contenidos en cualquier situación: sea cual sea el momento y el lugar en el que se encuen- tren, han de estar siempre registrados por el sistema. - la posibilidad de que distintos profesionales actúen so- bre los contenidos en distintas fases del mismo, y que puedan acceder de forma autónoma a los mismos. - la capacidad para que dichos contenidos no tengan que estar físicamente en una ubicación, sino en muchas diferentes; y al tiempo, que esa localización sea total- mente transparente para los usuarios. En otras palabras, para que el usuario de un contenido dentro del sistema no tenga que saber dónde se encuentra, sino solo cómo acceder a él. - la relación continua que habrá entre el trabajo de unos profesionales y el de otros. No es solo que todos ellos se influyan mutuamente entre sí, sino que esas mismas acti- vidades están cambiando, se están entremezclando hasta el punto de que algunas de las tareas documentales son realiza- das en parte por otros profesionales. Pero también los docu- mentalistas asumen tareas tradicionales que no eran suyas, y comienzan además que [a] desarrollar nuevos roles. - y en el centro, el papel fundamental que asume el tra- tamiento documental de los contenidos, para asegurar la coherencia de todo el sistema. Un papel que puede pa- radójicamente fortalecer o debilitar el valor de quienes hayan de realizar esa gestión documental. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 484 ¿Qué funciones cubre un sistema de gestión de contenidos (CMS) en una empresa? Pérez-Montoro (2006) estructura las funciones que cubre un CMS en base a dos grandes grupos: las funciones de edi- ción de contenidos y las funciones de explotación de la web. Funciones de edición de contenidos Funciones de explotación web - Creación de contenidos: sin necesidad de conocimientos informáticos a través de un editor de texto WYSIWYG (what you see is what you get). Permite la creación de contenidos por diferentes personas a través de ciclos de trabajo (o workflow), descen- tralizando la autoría y prestando especial interés en la descripción de los contenidos a partir de metadatos que faciliten su re- cuperación. - Gestión de contenidos: en una base de datos con técnicas documentales y la apor- tación de contenidos añadidos (metadatos). Esto favorece su posterior recuperación. - Publicación de contenidos: la presta- ción de los CMS que mantiene separa- dos el contenido de las páginas web y su apariencia final, permite publicar dichos contenidos a partir de plantillas (templa- tes), publicar de forma programada, diseñar publicaciones de forma personalizada y en diferentes formatos. - Presentación de contenidos: de nuevo la prestación de los CMS que mantiene se- parados el contenido de las páginas web y su apariencia final, permite gestionar la presentación de contenidos al margen de su creación, posibilitando la prestación de perfiles de usuario para el acceso a la web. - Entornos colaborativos: aprovechando las herramientas de workflow, un CMS puede crear espacios de trabajo en grupo que habilitan la comunicación en tiempo real o asincrónica. Además puede simpli- ficar simplificar y mejorar procesos de la organización donde se puedan automatizar circuitos y flujos documentales. - Perfiles de usuario: permite la creación y control de perfiles de usuarios gestionando de forma segura sus privilegios. - Sindicación de contenidos: permite la creación automática de contenidos en fun- ción de los perfiles de usuario y los conte- nidos ya existentes en el repositorio. - Articulación de funcionalidades: los CMS permiten la integración a voluntad de nuevas funcionalidades en la web para cubrir el crecimiento y las nuevas necesi- dades que ésta deba cumplir. - Integración de aplicaciones: utilizando recursos AIP (applications programing in- terface) los CMS son capaces de integrar dentro del mismo otras soluciones infor- máticas externas al sistema (marketing, co- mercio electrónico…) o, – importantísimo – la creación de sistemas espejo que ge- neren copias de seguridad del repositorio, evitando pérdidas desafortunadas. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 485 Estudio de caso de la Cadena Ser La Sociedad Española de Radiodifusión (Cadena SER), pertenece al grupo mediático Prisa Radio, crea- do en 2010 como evolución de Unión Radio y contro- lado accionarialmente por el Grupo Prisa. El conglomerado radiofónico Prisa Radio, está for- mado por más de 1.200 emisoras propias, participadas y asociadas y presenta una cobertura internacional con presencia directa en España, Estados Unidos, México, Colombia, Costa Rica, Panamá, Argentina y Chile y, a través de franquicias, en Guatemala y Ecuador. El gran alcance de este grupo le permite liderar in- novaciones organizativas y funcionales que una empre- sa de menor capital no podría abordar. Uno de los ma- yores retos planteados por Prisa Radio con resultados pioneros en el sector a nivel nacional fue el desarrollo de un modelo de gestión centralizado para que admi- nistrase casi la totalidad de sus contenidos, democrati- zando sus fondos para todo el Grupo. En España, el principal pilar generalista de Prisa Ra- dio es la Cadena SER, emisora líder en audiencia con un 32,9% de share y una media de 4.285 oyentes diarios, según los datos del EGM de octubre de 2011 a mayo de 2012. El sistema documental de la Cadena SER sustituye a la práctica de archivo en 1989. El modelo de servicio docu- mental fue evolucionando hasta llegar a la situación actual cuyo punto de inflexión fecha de 2004, cuando se aplicó un proyecto de desarrollo del modelo de gestión de con- tenidos para todo el grupo Prisa Radio apoyado en una nueva herramienta de almacenamiento y descripción, un CMS: Enciclomedia. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 486 Modelo de Gestión de contenidos El objetivo de la implantación de un CMS, para Pri- sa Radio era vincular todas las marcas del grupo a través de tecnologías informáticas, de tal forma que se evitasen duplicaciones de trabajo y se centralizase el proceso de preproducción de contenidos. Para conseguirlo, se creó un gran repositorio que custodiase todos los fondos relevantes para le grupo, previa selección de su relevancia nacional o internacional. Para ello se dividió el proceso productivo en dos grandes bloques con competencias muy definidas: - el proceso productivo primario o gestión de conte- nidos, competencia de los diferentes Departamentos de Documentación, coordinados desde Madrid; - el proceso productivo secundario o gestión de la comunicación, competencia de cada marca del grupo Prisa Radio. Cada marca del grupo cuenta con una herramienta identificada como un entorno de edición destinada al uso de periodistas que cuenta con campos de descripción redu- cidos para su uso interno. Es el sistema local: REDACTA. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 487 Cuando el contenido manejado en una emisora local concreta traspasa los intereses locales para alcanzar una transcendencia para todo el conglomerado radiofónico, el contenido es analizado y seleccionado para pasar a formar parte de lo que también se denomina “entorno multime- dia”, es el sistema en cadena, el CMS: ENCICLOMEDIA. En este contexto no solo se tratan contenidos finales, es decir, difundidos en antena, sino que también tienen cabida todos las tipologías de contenidos radiofónicos susceptibles de reutilización posterior y, por supuesto, la discoteca –no así contenidos administrativos, un paso más allá en la ECM, gestionados de forma descentralizada en el caso estudiado–. El objetivo es que todo contenido de interés para la em- presa, desde una perspectiva comunicativa, independiente- mente del proceso en el que fue creado, pase a formar parte del repositorio conjunto de Prisa Radio. Actualmente, el Departamento de Documentación Corporativa se define, además de contenedor de conteni- dos, como plataforma de publicación web, es decir, conte- nidos editados preparados para ser volcados directamente Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 488 a través de la plataforma online o radiofónica. La labor documental aumenta así su visibilidad y aporte al nivel funcional de la empresa. Plano organizativo: La estructura organizativa del CMS del grupo Prisa Ra- dio sigue el siguiente esquema: el Departamento de Do- cumentación Corporativa con sede en Madrid funciona como cabecera del sistema documental del grupo, aquí se toman decisiones tan importantes como la selección final de los contenidos que pasan a formar parte del repositorio central, modificaciones en los lenguajes de documentales o los modelos de perfiles de acceso a Enciclomedia. La nutrición de Enciclomedia cuenta con tres puntos clave además de Madrid: Colombia, Chile y Argentina, en proceso está la concesión a México para poder incluir con- tenidos en el repositorio central. Las marcas radiofónicas de Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 489 los demás países adscritos a Prisa Radio pueden acceder a los contenidos de Enciclomedia, pero no nutrir la base de datos de forma autónoma. La tecnología aplicada se basa en un sistema informático en red que permite el acceso e inclusión de contenidos en bases de datos con dos sedes principales que trabajan en for- ma de espejo: Madrid, base principal y Miami cuyo principal cometido es facilitar la difusión de los fondos en América y, sobre todo, significar una copia de seguridad del activo in- tangible –se hacen actualizaciones de las bases de datos dos veces al día–. Se trata así de suministrar recursos de forma inmediata a todas las marcas del Grupo Prisa Radio redu- ciendo esfuerzos con ayuda de las prestaciones tecnológicas. TECNOLOGÍAS PARA LA GESTIÓN DE CONTENIDOS Funciones de edición de contenidos Funciones de explotación web Creación de contenidos: Entornos colaborativos CMS con un modelo de creación en grupo y editor de texto WYSIWYG SÍ Servicios de mensajería (mail, chat…) SÍ Gestión de contenidos: Videoconferencias SÍ Plataforma de almacenamiento y modificación integrada SÍ Entornos de trabajo colaborativo digital, workflow. SÍ Integración del Soporte de Creación con el Soporte de Custodia SÍ Mapas de expertos consultivos NO Normas de descripción y catalogación SÍ Perfiles de usuario: Actualización simultánea de contenidos Depende del perfil de usuario que pise Perfiles de usuario para el tratamiento de contenidos documentales SÍ Publicación de contenidos: Perfiles de usuario para consulta de contenidos de Enciclomedia SÍ Visualización instantánea en la intranet o directamente en Enclomedia de las novedades de la base de datos. SÍ, solo con carácter interno Acceso y transferencia: Plataforma de publicación web directamente desde Enciclomedia SÍ Intranet SÍ Presentación de contenidos: Conexión desde la Intranet a servicios Extranet SÍ Acceso a los contenidos por parte de todos los trabajadores de Prisa Radio SÍ Acceso a las BB.DD desde la Intranet SÍ Descarga de contenidos para su manipulación Por Perfil de Usuario Servicio de Búsqueda por Niveles de Descripción (simple, avanzada) SÍ Modelo de trabajo: Herramientas de Búsqueda (tesauros, ontologías, taxonomías, búsqueda por texto libre…) SÍ Flujo de trabajo concéntrico con relación de todas las tareas entre sí SÍ aunque diferenciadas por tipología documental Servicio de Sindicación de Contenidos o Tecnología Push SÍ Integración de aplicaciones: Sistemas espejo como copia de seguridad SÍ   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 490 Plano empresarial Atendiendo a las funciones identificativas de una em- presa prestaremos atención a tres puntos principales: pro- ducción, marketing y financiación. La teoría de la gestión de contenidos relaciona los re- sultados de su implantación con el mayor rendimiento en los tres campos mentados. El caso de la Cadena SER es un ejemplo de la incidencia de un CMS en estos tres aspectos. La visibilidad de los contenidos documentales e incluso del personal del Departamento de Gestión de contenidos on air, revaloriza su oferta informativa apoyada en bases documen- tadas, garantía de calidad que contribuye a la fidelización de oyentes y, a pequeña escala, se presupone produce un efecto llamada, se traduce entonces en una mejora de la imagen corporativa. Desde una perspectiva interna, la facilidad de acceso a los contenidos agiliza el trabajo de producción y aporta confianza al personal de la empresa. A nivel econó- mico, la importante inversión inicial para implantar un CMS, está recuperándose en España tras ocho años de actividad, la ampliación de sus funciones al ámbito americano fue más tardía con un modelo ya definido que aportó beneficios in- mediatos al extrapolar una colección de fondos ya empaque- tados con disponibilidad de uso y posibilidad de ampliación. Control y uso del Departamento   Control del funcionamiento del Departamento Satisfacción de los usuarios Necesidades de los usuarios Número de peticiones por usuario x Número de peticiones por sección/programa x Formato de la información solicitada x Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 491 Es relevante conocer en qué medida se valora el traba- jo desempeñado por el Departamento de Documentación Corporativa entre los trabajadores del entorno radiofónico y al mismo tiempo saber qué tipo de medidas se adoptan para controlar el rendimiento de las prestaciones directas del servicio para con sus usuarios. En el cuadro de la iz- quierda se marcan con una “x” qué estudios estadísticos se realizan en el Departamento de Documentación de la Ca- dena SER, de cuyos resultados se extraen conclusiones pe- riódicas para mejorar el servicio ofertado a nivel funcional. Perfil profesional El perfil profesional óptimo para desarrollar la labor de gestión de contenidos es un aspecto destacado en investi- gaciones más profundas como consecuencia de los cambios suscitados alrededor del panorama empresarial mediático que exige cada vez mayor polivalencia funcional y mediática.   Competencias exigidas para el profesional de Gestión de contenidos 1 2 3 4 5 Conocimientos informáticos de programación x Conocimientos de lenguajes documentales x Edición multimedia x Habilidad con las TIC x Administración de bases de datos x Conocimientos de estadística x Capacidad de redacción x Capacidad de síntesis x Conocimientos periodísticos x control de la actualidad informativa x Idiomas x Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 492 La selección de personal se ha endurecido como conse- cuencia de la gran oferta de candidatos y escasa demanda de empleo actual en España achacada a la crisis económica vigente. En el caso analizado, a través de entrevistas a jefes de departamento se ha podido elaborar una tabla que refleja la valoración los conocimientos o habilidades tipo de un pro- fesional de gestión de contenidos valoradas con una escala del 1 al 5, donde 1 es la mínima importancia y 5 la máxima. Valoraciones finales El proyecto de Prisa Radio, analizado a través de Cadena SER, merece reconocimiento nacional por su desarrollo en el campo de la gestión de contenidos en el sector radiofó- nico privado en España, sin embargo sigue manteniéndose a un primer nivel funcional cuyo objetivo es la democrati- zación de contenidos mediáticos o susceptibles de serlo y, aunque se trata de una gestión en absoluto despreciable, no llega a alcanzar fines estratégicos más ambiciosos en el terre- no de la gestión administrativa y la comunicación interna. Frente a las agoreras previsiones de las ha sido víctima el sector radiofónico, su supervivencia en el panorama na- cional es evidente, pero no por ello debe mantenerse al margen de las exigencias impuestas por un mercado cada vez más competitivo y tecnológicamente dependiente que demanda nuevas estrategias de negocio cuyo éxito depende directamente de un control exhaustivo de sus contenidos, significantes de su materia prima y su producto final a un tiempo desde una perspectiva funcional, y de su correcta gestión empresarial desde una perspectiva estratégica. Retomando ese plano estratégico de la gestión de con- tenidos más invisible en el sector analizado, es de recibo mentar su estrechísima relación con la gestión del conoci- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 493 miento, concepto especialmente interesante desde la pers- pectiva planteada en este discurso y cuyo estudio sectorial, no obstante, merecería artículo descriptivo propio. Referencias Libros: BELL, Daniel: El advenimiento de la sociedad post- -industrial. Madrid. Alianza Universidad, 1976 FARIAS GARCÍA, Pedro; FARIAS BATLE, Pedro: En torno a la libertad de empresa informativa. Madrid: Editorial Complutense, 1994 ORTIZ SOBRINO, M. A; LÓPEZ VIDALES, N. (ed.): RADIO 3.0: una nueva radio para una nueva era: La democratización de los contenidos, 2011 PEINADO MIGUEL, F.; RODRÍGUEZ BARBA, M. D.; FERNÁNDEZ SANDE, M.A. (eds.): La radio y la tele- visión en la Europa digital. Madrid, Facultad de Cien- cias de la Información, Universidad Complutense, 2005. POBLACIÓN, J.I.; GARCÍA-ALONSO, P.: Organizaci- ón y gestión de la empresa informativa. Madrid : Cie de Inversiones Editoriales, 1997 SALAVERRÍA, R.; NEGREDO, S.: Periodismo inte- grado: convergencia de medios y reorganización de redacciones. Barcelona: Sol90Media, 2008 TRAMULLAS, J. (coord.): Tendencias en documenta- ción digital. Gijón: Trea, 2006 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 494 Capítulos de libros: PÉREZ-MONTORO GUTIÉRREZ, M.: Gestión del Conocimiento, gestión documental y gestión de contenidos. En: TRAMULLAS, Jesús (Coord.): Tendencias en documen- tación digital. Gijón: Ediciones Trea, pp. 110-133, 2006 Artículos de revistas científicas: AFUERA HEREDERO, A.: El proceso documental de audio en la SER. En Revista General de Información y documentación, Vol. 20 pp. 455-458, 2010 LÓPEZ VIDALES, N.; ORTIZ SOBRINO, M. A.: Perfiles profesionales en la radio española. En: TELOS, n. 87, pp.63- 87, 2011 Tesis doctorales: GALLEGO PÉREZ, J.I.: Podcasting: Distribución de con- tenidos sonoros y nuevas formas de negocio en la empresa radiofónica española. 2009 Tesis – Facultad de Ciencias de la Información, Universidad Complutense de Madrid, Madrid. Documentos online: ASSOCIATION FOR INFORMATION AND IMA- GE MANAGEMENT. What is Enterprise Content Ma- nagement?. Disponible en: http://www.aiim.org/What- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 495 -is-ECM-Enterprise-Content-Management [Fecha de consulta: 15 noviembre de 2011] BUENO, E.: La Gestión del Conocimiento: Nuevos Perfi- les Profesionales. Euroforum Escorial, 1999 [Fecha de con- sulta: 13 octubre 2012] NUÑEZ PAULA, I.: La gestión de la información, el cono- cimiento, la inteligencia y el aprendizaje organizacional des- de una perspectiva socio-psicológica. ACIMED. 12(3), 2004. Disponible en: http://bvs.sld.cu/revistas/aci/vol12_3_04/ aci04304.htm [Fecha de consulta: 13 octubre 2012] ROBERTSON, J.: So, what is a content Management sys- tem? [web log post], 2003. Disponible en: http://www. steptwo.com.au/papers/kmc_what/index.html [Fecha de consulta: 10 octubre 2012] SALAERRÍA, R.: Convergencia de medios. En: Revis- ta Latinoamericana de Comunicación CHASQUI. Qui- to: Ecuador, n. 081, 2003. Disponible en: http://chasqui. comunica.org/81/salaverria81.htm [Fecha de consulta: 10 marzo 2012] Personales: Nombre   Cargo   Fecha   Tipo   José  María   García-­‐Lastra   Director del Departamento de Gestión de Contenidos de la Cadena SER (disuelto en julio de 2010 manteniendo sus competencias activas) 25.03.10 14.07.10 27.07.10 Personal y mail. Ángeles  Afuera   Jefa de la Gerencia de Documentación del Departamento de Gestión de Contenidos de la Cadena SER 27.07.10 25.04.12 Personal y mail Alicia  Sánchez   Gómez   Documentalista de la Cadena SER 25.03.10 Personal y mail José  María   Delgado   Jefe de la Gerencia de Proyectos y Servicios del Departamento de Gestión de Contenidos de la Cadena SER 27.07.10 Personal Luís  Felipe   Rodríguez  i  Pi     Director de Antena de la Cadena SER 06.08.12 Personal   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 496 22. PRISA Radio: la mayor red de radiodifusión dirigida a hispanohablantes Laura Vallejo Romero 1 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Ma- drid, España Resumen PRISA es el Grupo de comunicación líder en los mer- cados de habla española y portuguesa en creación y dis- tribución de contenidos. Constituida como un holding, su filial PRISA Radio agrupa todos los negocios en el merca- do radiofónico. Desde hace más de una década la compañía ha invertido en diferentes países del continente Americano adquiriendo emisoras o participando de ellas asociándose a Grupos de comunicación bien posicionados en el mercado radiofónico de cada país. A pesar de las diferencias culturales 1. Laura Vallejo Romero (UCM), Master oficial en Periodismo por la UCM. Estudiante de doctorado en Periodismo de la Universidad Complutense de Madrid- UCM- Madrid, España. Email: laura.vallejo@yahoo.es Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 497 ha conseguido llevar a cabo una comunicación global res- petando los intereses locales, la diversidad de sus actividades y la lengua española como eje vertebrador le permiten una posición global más allá del mercado español. En la actuali- dad mantiene una red de emisoras a ambos lados del Atlán- tico con presencia en doce países y 27 millones de oyentes. Palabras clave: Grupo PRISA; radio; Latinoamérica. Texto del trabajo PRISA es el Grupo de comunicación español que ha creado una red de negocios en Latinoamérica constituyén- dose como el principal medio de comunicación en español. En torno a una lengua común ha conseguido conectar ambos continentes compartiendo contenidos y fomentan- do una cultura de sinergias entre sus negocios y recursos tanto materiales como humanos. En la actualidad PRISA está estructurada en torno a cinco áreas de actividad: edito- rial y educación, prensa, radio, audiovisual y digital. El área digital trabaja de forma transversal en toda la organización. Constituida como una empresa holding, en el año 2010 sufre una reestructuración que continúa hasta nuestros días y bajo el nombre PRISA Radio agrupa todas las participa- ciones en el negocio radiofónico. En España PRISA se constituye el 18 de enero de 1972 con el fin de editar el diario El País, pero en 1983 el Grupo comienza a buscar su expansión más allá de la prensa escri- ta y pone su objetivo en el negocio de la radio llevando a cabo dos operaciones: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 498 1 - El lanzamiento de Radio El País 2 2 - La compra de 19 emisoras de la radio fórmula Radio Minuto En los inicios la estrategia de PRISA en la unidad de negocio de radio se caracterizó por seguir dos líneas: 1 - La compra de emisoras bien posicionadas respecto a audiencia y número de postes 2 - La compra de emisoras que eran una competencia fuerte y directa En los años posteriores continuó invirtiendo en el mer- cado radiofónico español con la compra de Antena 3 radio en 1992 posicionándose como la empresa radiofónica más fuerte en España. Se lanzaron nuevos productos y se redis- tribuyeron los postes hasta llegar a la red de emisoras que posee en la actualidad: - Cadena SER - Ona FM - 40 Principales - Cadena Dial - M 80 - Radiolé - Máxima FM 2. El lanzamiento de Radio El País fue un ambicioso proyecto radio- fónico que acabó en fracaso y convirtiendo la emisora a la Cadena SER en 1994. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 499 La internacionalización del negocio radiofónico Entre 1983 y 1999 las actividades del negocio de radio se limitaron al mercado español pero en 1999 iniciará su expansión por Latinoamérica. Las inversiones internacionales ya se habían producido en otras unidades de negocio durante la última década y en la actualidad está presente en 22 países. Sus principales in- gresos del ámbito internacional provienen de Brasil (21%) y Portugal (20%) y el área que más beneficios le reporta es la línea de libros de texto. Figura 1 – Ingresos de Explotación por Orígen Geográfi- cos (2T 2012) Fuente: datos de la empresa En el primer semestre de 2012, un 34,2% de los ingresos procede del área internacional (comparado con un 30,9% en el mismo periodo de 2011), de los cuales un 64,3% corresponde a Santillana (educación), un 19,1% a Media Capital (audiovisual) y el 16,6% a la radio internacional. Centrándonos en la radio, podemos afirmar que la Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 500 internacionalización comienza en 1999 cuando PRISA llega a un acuerdo con el grupo colombiano Valores Ba- varia y realiza una inversión en dos sociedades: - Participaciones de Radio Latinoamericana S.L. - Radio Caracol (adquiere el 19% por valor de 12 mi- llones de euros) Valores Bavaria se constituyó en 1997 aunque en la ac- tualidad se denomina Valórem, está destinado a la adminis- tración de las empresas del Grupo Santo Domingo, entre las cuales se encuentra Caracol Televisión. Figura 2 - Acuerdo Prisa – Valores Bavaria (1999) Fuente: elaboración propia Las cadenas de Caracol Radio y Participaciones de Ra- dio Latinoamericana sufrirán como otras cadenas modifi- caciones en el futuro pero en el momento de la entrada de PRISA se componía de los siguientes productos: PRISA VALORES BAVARIA P. de Radio Latinoamericana Caracol Radio Chile, Costa Rica, Panamá, EE.UU. Francia Colombia Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 501 Figura 3 - Cadenas – Valores Bavaria Fuente: elaboración propia * Las cadenas ya no emiten este producto y han sido sustituidas por otras cadenas del Grupo. Este año PRISA al 50% con Caracol Radio creará el Grupo Latino de Radiodifusión, este será el primer paso para desembarcar en Latinoamérica en el negocio de la radio. A través de GLR invierte en Costa Rica. El 13 de julio del año 2000 GLR y el grupo costarricense Nación crearon GLR Costa Rica con una participación del 50% cada parte. El año 2000 será también el año en el que llega a Boli- via. Junto al grupo Garafulic crea 3 empresas filiales: - Inversiones en radiodifusión S.A. en la que PRISA tenía un 25% de participación. - 3 Grupo multimedia de comunicación S.A. con una 3. propietaria de los periódicos La Razón y El Extra.   CARACOL RADIO • Caracol Stéreo* • Radioactiva • Tropicana • La Vallenata * • Colorín Colorradio • Oxígeno • HJCK   Participaciones de radio latinoamericana • Chile: o radio Amistad* o radio Caracol Chile* • EE.UU.: Caracol Miami • Costa Rica: o Oxígeno* o Juntos* • Panamá: Radioacktiva* • Francia: radio Latina Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 502 participación de PRISA que ascendía al 76,9% - Inversiones digitales S.A. participada al 50% por cada grupo. El objetivo de la entrada en Bolivia es, a través de la filial Inversiones en radiodifusión S.A., gestionar los ne- gocios audiovisuales de las cadenas de televisión ATB y en radio crear tres cadenas musicales en el país, sin embargo el proyecto no se materializó y en 2009 venderá su par- ticipación a la sociedad Akaishi Investments por valor de 3,1 millones de euros. El siguiente paso será en 2001 con la entrada en el mer- cado de México. PRISA alcanza un acuerdo con Televisa por el que obtiene el 50% de las participaciones de 4 Tele- visa Radio, el coste de la operación ascendió a 50 millones de dólares y una aportación de capital a la compañía de 10 millones de euros. Figura 4 - Acuerdo Prisa – Televisa (2001) Fuente: elaboración propia En el momento de la adquisición de participaciones por 4. Antes conocida como Radiópolis PRISA 50% TELEVISA 50% TELEVISA RADIO Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 503 parte de PRISA, las cadenas que operaban eran: Radio Gallito La Consentida La Sabrosita La Poderosa Stereo Amor Sonido 103 Radio Enamorada El año 2002 el Grupo PRISA y Valores Bavaria firman un acuerdo para la constitución de Grupo Latino de Radio S.L. (GLR) con el objetivo de agrupar sus respectivas par- ticipaciones de Grupo Caracol, Participaciones de Radio Latinoamericana y Televisa Radio. Este nuevo holding nace con el objetivo de crear una red panamericana de radio y tendrá la siguiente participación: FIGURA 5- GRUPO LATINO DE RADIO S.L (2002) Fuente: elaboración propia PRISA 84,77% VALORES BAVARIA 13,24% GRUPO LATINO DE RADIO Caracol Radio 77,73% P. de Radio Latinoamericana 50% Televisa Radio 50% Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 504 Tras las aportaciones GLR es propietaria del 77,73% de Caracol Radio y mantiene el 50% de participación en el resto de empresas. Durante el año 2003 no se realizan inversiones en ad- quirir participaciones en ninguna empresa de radiodifusión sin embargo esto no significa que no haya novedades. Es un año en el que la estrategia a seguir es la consolidación de formatos radiofónicos como: Hoy por hoy, Carrusel De- portivo o Hablar por hablar. Además comienzan a desarrollar tres formatos paname- ricanos que en los próximos años se implantarán en varios países y que desarrollaremos más adelante. Otra novedad de este año es la creación de GLR Net- works, empresa productora y distribuidora de programas y espacios comerciales. En el año 2004 PRISA llega al mercado argentino al 5adquirir las emisoras de radio: Radio Continental y Radio Estéreo, dos operadoras pertenecientes al Grupo Telefóni- ca. El precio de la operación es de 10,5 millones de dóla- res (8,1 millones de euros). Las cadenas que originalmente emitían en Argentina eran: Radio Continental: - Radio Continental - FM Hit Este año también aumenta su área de influencia en México gracias a un acuerdo de afiliación con el Grupo Radiorama que le permitirá alcanzar una cobertura del 90% del territorio. 5. La compra se hará efectiva en 2005 cuando las autoridades argenti- nas concedan la autorización. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 505 Pasará de emitir en 41 estaciones a 89. Respecto a los contenidos se exporta la programación de Caracol radio Colombia a las estaciones de Panamá y EE.UU. Miami. En cuanto a la participación en GLR, PRISA la amplia- rá hasta hacerse con el 100%. La operación de adquisición del 13,24 % perteneciente a Valores Bavaria tendrá un coste de 20 millones de dólares. Llegamos al año 2005 y en medio de operaciones de adquisición en el mercado internacional, en esta ocasión invierte en España con la adquisición del 85% de ONA Catalana. Una parte se adquiere vía compraventa de ac- ciones a RAMSA (Radio Ambiente Musical S.A.) y otra mediante la suscripción de una ampliación de capital de ONA CATALANA S.A. Pero aunque este año no se materializa ninguna inver- sión en el extranjero sí que comienzan los contactos con la empresa Clear Channel para aumentar la presencia en EE.UU. en concreto en el área de Los Ángeles, sin embargo la operación no se llevará a cabo hasta el año siguiente. Otro movimiento importante este año es la entrada de 40 Principales en Ecuador y Guatemala, pero no con inver- siones sino con franquicias de marca, esto significa que las cadenas pertenecen a operadores que adquieren la explo- tación de la marca y reciben información y asesoramiento sobre los contenidos. En Guatemala el operador es el Grupo Nuevo Mundo y en Ecuador el Grupo Radio Centro. El año 2006 es un año de cambio y Unión Radio se configura con tres objetivos: - Favorecer el desarrollo de marcas globales - Apostar por los contenidos Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 506 - Reforzar sinergias comerciales De nuevo es un año de adquisiciones pero en merca- dos ya conocidos. En EE.UU. se materializa el acuerdo con Clear Channel y adquiere la emisora 690 AM Los Ángeles (que emitirá el formato W Radio). El acuerdo se autorizó finalmente el 26 de enero de 2006 con un coste de 17,6 millones de euros. La otra inversión se realiza en Chile, un mercado que ya conoce por la participación en Participaciones de Radio Latinoamericana. En esta ocasión compra el 100% de Ibero Americana Radio Chile al grupo Claxson Chile S.A por va- lor de 74,6 millones de dólares. Se trata de un grupo que opera a través de más de 140 emisoras con formatos diferentes: - Pudahuel - FM DOS - FM Corazón - Rock & pop - FM Hit 6 - FM Futuro - FM Imagina - FM Concierto - Radio Activa - Radio UNO 6. La cadena FM Hit se transformará en el año 2008 en Hit 40, los 40 principales. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 507 Pero no solo en Latinoamérica se invierte, este año irrumpen los negocios de radio de Media Capital, el grupo portugués del que PRISA adquiere el 46,32% de las participaciones. La radio portuguesa siempre ha ido de forma indepen- diente a los negocios de radio en español, Media Capital se compone fundamentalmente de cadenas de TV por lo que se incluye dentro del área de negocio audiovisual. Las emisoras pertenecientes a Media Capital Rádio son: - Rádio Comercial - Cidade FM - Star FM - Vodafone FM - M80 - Cotonete Durante los años posteriores no se realizarán más in- versiones en el extranjero salvo las ampliaciones de par- ticipaciones correspondientes a la adquisición de Media Capital Rádio en Portugal que con el lanzamiento de una OPA aumentará su participación hasta un 94,69% durante el 2007. Finalmente en septiembre de 2009 PRISA ven- derá hasta un 35% de Media Capital a Ongoing Strategy Investments por 157 millones de euros. La operación está enmarcada en una política de desinversiones para obtener beneficios y disminuir la deuda del Grupo. Desde 1999, año en el que comienza la internacionali- zación de los negocios de radio y hasta la crisis de 2008 no ha parado de invertir en la adquisición de participaciones, al Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 508 principio minoritarias, de los grandes grupos de la industria de la comunicación de los países en los que se ha establecido. En la actualidad PRISA Radio (no incluye Media Capital Rádio) está presente en 11 países hispanohablantes y el sur de EE.UU con una audiencia de 27 millones de oyentes y más de 1238 emisoras. En el siguiente cuadro podemos observar más detalla- damente las audiencias en cada país durante el año pasado. Cuadro 1 – Audiencias por Países (2011) Fuente: datos de la empresa Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 509 Figura 6 - Mapa De Radios Internacionales. PRISA Radio (2012) Fuente: elaboración propia * En el mapa de radios internacionales, en Colombia observamos dos emisoras nuevas: Vibra Bogotá y Candela. Pertenecen a Radiópolis pero mediante un acuerdo de co- mercialización con Caracol Radio desde 2006 se emiten en Colombia. Sinergias dentro del Grupo. El Grupo PRISA aúna tanto en propiedad como en participaciones un mapa de negocios diverso. Las sinergias * COLOMBIA • Caracol Radio • W Radio • Radioacktiva • Tropicana • Bésame (La Vallenata) • Colorín Colorradio • Oxígeno • HJCK • Candela • Vibra Bogotá CHILE • ADN Chile • Pudahuel • FM DOS • FM Corazón • Rock & pop • 40 P (FM Hit) • FM Futuro • FM Imagina • FM Concierto • Radio Activa • Radio UNO COSTA RICA • 40P • ADN Radio • Bésame (Oxígeno) MÉXICO • W Radio • Estadio W (La Po- derosa) • Ke Buena (Stereo Amor) • 40 P (Sonido 103) • Bésame (Radio Ena- morada) PANAMÁ • Radio Panamá • 40 P • Bésame ARGENTINA • Radio Continental • 40 P (FM Hit) FRANQUICIADOS • Ecuador: 40 p • Guatemala: 40 p EE.UU. • Caracol Miami • W Radio L.A. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 510 que se producen entre las diferentes empresas son variadas y amplias y constituyen un objetivo fundamental a conseguir según se ha manifestado en las reestructuraciones sufridas. Esta fórmula permite aprovechar las inversiones con una rentabilidad adicional En el negocio radiofónico el éxito de la Cadena SER en España es el modelo a seguir allí donde se implantan, los formatos más exitosos se han extendido por algunas de las cadenas en el extranjero. Mención aparte merece la cade- na 40 Principales cuya concepción como marca global ha permitido que esté presente con éxito en todos los países hispanohablantes donde PRISA tiene negocios de radio. En concreto diferenciaremos tres tipos de sinergias, aun- que existen más como las comerciales, técnicas etc. pero nos vamos a centrar en las que se refieren a contenidos y profesionales: - Expansión de formatos - Coproducciones de programas - Formatos radios panregional - la marca global: 40 Principales Por primera vez en el año 2003 aparece la idea de ex- portar y compartir formatos, los que se exportan son los emitidos en España en la cadena SER. En la actualidad estos formatos se emiten en: - Hoy por Hoy: España (SER), Colombia (Caracol Radio), México (W Radio) y EE.UU. (W Radio 690) - Hablar por hablar: España (SER) y Colombia (Ca- racol Radio) - Carrusel Deportivo: España (SER), México (W Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 511 Radio), Panamá (adn.fm), Colombia (W Radio) y EE.UU. (Caracol 1260 y W Radio 690) - La Ventana: España (SER) y Colombia (Caracol Ra- dio) - A vivir que son dos días: España (SER) y Colombia (Caracol Radio) En las coproducciones de programas se trata de aprove- char no solo la red de emisoras del Grupo sino también los recursos humanos con los que se cuenta. Estos programas se producen entre los equipos de diferentes emisoras situa- das en varios países y emitidos a la misma hora en sus res- pectivas cadenas. Evidentemente la diferencia horaria entre Latinoamérica y España hace que estos formatos se emitan en directo y en diferido en función de dónde se graben. En la actualidad son: - World Dance Music - Carrusel Mundial Carrusel Mundial se trata de un programa deportivo que fundamentalmente informa sobre los partidos de fút- bol de los equipos más importantes de los países en los que se emite. Comenzó en el año 2009 con el objetivo de convertirse en el referente de información deportiva para los hispanohablantes en Latinoamérica. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 512 Cuadro 2 – Carrusel Mundial (Junio 2012) Fuente: elaboración propia WDM es un programa de música dance que comenzó a emitirse en los años 90 en la los 40P España, su expansión por Latinoamérica comenzó en el año 2008 con Luis Ló- pez como presentador emitiéndose en diez países: España, Colombia, México, Panamá, Costa Rica, Guatemala, Ar- gentina, Chile, Ecuador y EE.UU. Los formatos de radio panregional de PRISA Radio son: - W Radio - Bésame W Radio es una emisora que combina información con éxitos musicales del país. Se emite en México, Los Ángeles y Colombia. CADENA PAÍS COLABORADOR Adn.fm Costa Rica Eduardo Solano W Radio y W Radio 690 México y L.A. Geo González ADN Chile Mauro Smith (coordinador) Continental Radio Argentina Sergio Kanevsky Caracol y Caracol 1260 Colombia y Miami Rafael Cifuentes   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 513 La emisora de Los Ángeles combina programación propia con la emisión de programas producidos por W Radio Mé- xico como es el caso de: La Hora nacional y Martha Debayle Lo mismo le ocurre a Caracol 1260 Miami, que emite programas de la Cadena Caracol Colombia. Sin embargo Caracol no está catalogada como radio panregional ya que Caracol Miami se considera una extensión de Colombia. Bésame es una cadena musical dirigida al público adul- to y que emite música romántica en español de grandes artistas de la década de los 60, 70 y 80, con incursiones de Rock & Roll, Tríos e Instrumentales. En la actualidad está presente en: México, Costa Rica, Colombia y Pana- má. Al igual que W Radio se comparte la imagen de la emisora en los diferentes países pero no existen formatos comunes ni coproducciones. Por último la marca global 40 Principales es mucho más que la emisora musical líder en España y está presente en nueve países: España, México, Costa Rica, Panamá, Colom- bia, Ecuador, Chile, Argentina y Guatemala. Desde el área de nuevos negocios se llevan a cabo varias iniciativas sobre la marca 40P con el objetivo como ya he- mos indicado antes de crear una marca global reconocible y que venda un estilo de consumo más allá de la música: ropa, ocio, viajes, móvil etc. Es el Universo 40. Algunas de estas iniciativas que están presentes en varios países son: - Tarjeta VISA 40 Principales: España y Colombia - Arte 40: España y México El futuro de los negocios de radio. En la actualidad el área de negocio PRISA Radio se encuentra en un momento en el que las inversiones están Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 514 paralizadas por la situación económica del Grupo aunque en el caso de que se produjeran lo más probable es que fueran en el mercado estadounidense. EE.UU. es un territorio muy amplio pero es el objeti- vo principal para el negocio radiofónico debido al elevado número de hispanohablantes que residen en el país y que consumen medios en español. Además PRISA tiene expe- riencia en los productos dirigidos a la comunidad hispana ya que posee la cadena de tv V me. Por el momento los esfuerzos se dirigen ahora a reforzar las marcas de la red de emisoras que poseen y a favorecer las sinergias entre emisoras. Mucho se ha hablado de la deuda del Grupo y de la po- sible venta de la Cadena SER. En febrero de 2011 saltaban rumores acerca de una posible negociación entre Liberty y Mediaset Fedele Confalonieri, rumores que vuelven a escucharse en la actualidad debido a la difícil situación eco- nómica que atraviesa. Desde PRISA Radio afirman que la venta de la SER y sus productos no se contempla, ha costado mucho crear una red en Latinoamérica y los resultados del área son positivos Lo cierto es que el área de PRISA Radio continúa ob- teniendo beneficios y mantiene a sus cadenas en los puestos más altos en los ranking de audiencias. Referencias FREIXAS, Emilio; Grupo PRISA, el gigante español ataca de nuevo. El Coubil de Emilio Scout, 2006. Dis- ponible en < http://emilioscout.blogspot.com.es/2006/07/grupo- prisa-el-gigante-espaol-ataca-de.html> Acceso en: 21, abril, 2009 NAVAS LÓPEZ, José Emilio / GUERRAS MARTÍN, http://emilioscout.blogspot.com.es/2006/07/grupo-prisa-el-gigante-espaol-ataca-de.html http://emilioscout.blogspot.com.es/2006/07/grupo-prisa-el-gigante-espaol-ataca-de.html Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 515 Luis Ángel. La dirección estratégica de la empresa. Teoría y aplicaciones. Madrid: Civitas, 1996. TIJERAS, Ramón; La conquista americana del Grupo PRISA. solidaridad.net, 2004. Disponible en Acceso en: 29, abril, 2009 http://www.solidaridad.net/noticias.php?not=571 http://www.solidaridad.net/noticias.php?not=571 Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 516 PARTE IV. TELEVISÃO E CINEMA TELEVISIÓN Y CINE Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 517 23. A (re) configuração do discurso cinematográfico no documentário brasileiro contemporâneo: filme-ensaio1, opacidade2 e convergência das mídias Djair Brito Amorim3 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil 1. De acordo com o conceito do pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Universidade de São Paulo (USP) Arlindo Machado. 2. Aqui, tomo emprestado o termo opacidade, do pesquisador, teó- rico de cinema e professor na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) Ismail Xavier, retirado do livro O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência, 3ª edição revista e ampliada, p. 99-164, cuja 1ª edição é de 1977, mas que se mantém em constante atualidade, como uma das principais referên- cias bibliográficas, no qual o autor teoriza a partir de um eixo que marcava (nos anos 1970) a oposição entre “opacidade e transparên- cia”, tendo como objeto a diferença entre estilos de composição da imagem e do som no cinema. 3. Djair Brito Amorim, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP – São Paulo, Brasil, email: djair.brito@uol.com.br Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 518 Resumo O presente artigo observa a (re) configuração do dis- curso cinematográfico numa vertente dodocumentário brasileiro contemporâneo, envolvendo convergências das mídias (especialmente audiovisuais) e hibridismos imagé- ticos, a partir do impacto do avanço tecnológico. Desde a primeira década do século XXI, a produção de docu- mentários demonstradiversidade de temas e significativo compartilhamento de linguagens audiovisuais. A tendência ensaística observada em alguns documentários, comnarrati- va construída por imagens de arquivo, fragmentos de filmes documentais e de ficção e incisiva montagem autoral, re- fleteum novo sentido ao real. A aplicação dos conceitos de filme-ensaio eopacidade, aliados à ideia autoral do cinema experimental, identifica uma nova tendência no documen- tário brasileiro contemporâneo. Palavras-Chave: comunicação; cinema brasileiro; docu- mentário; cinema experimental; filme-ensaio. “Filme-ensaio”, “opacidade” e cinema experimental Os conceitos“filme-ensaio” e “opacidade” surgiram nos debates acadêmicos, discussões e reflexões concentradas principalmente na segunda metade dos anos 1970, quan- do estava em efervescência a recepção à desconstrução das concepções de linguagem e da semântica do cinema, marcadas pela configuração de um discursocinematográ- fico tradicional, revertendo as noções do modelo-padrão estruturado de acordo com o conceito de progressão dra- mática griffithiana. A radicalização da linguagem do ci- nema underground norte-americano, uma diversidade de Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 519 obras seminais da nouvelle vague francesa e do novo ci- nema japonês, em versões de filmes de ficção e documen- tários, reverberaram positivamente no Brasil – o “Cinema Marginal”4e produções autorais independentes e dispersas por várias regiões do país são exemplos de uma conjuntura que possibilitou um período criativo e vibrante do cinema 4. O Cinema Marginal não possui, dentro do panorama do cinema brasileiro, uma coesão interna ao estilo do Cinema Novo: não se reconhece como grupo nem sobrevive ao início dos anos 70. Para defini-lo, podemos distinguir certa congruência em termos de es- tilo, ao qual se sobrepõe a um espírito de época, dando origem a um conjunto bem marcado de filmes. O Cinema Marginal não é a terceira geração do Cinema Novo, e a estética de seus filmes, seu modo de produzir, suas expectativas de divulgação da obra, vão se confrontar com algumas das ambições da geração mais velha. Nessa caracterização, dois elementos estruturais, ausentes das obras- -chave do Cinema Novo dos anos 60 passam a ocupar espaço cen- tral: a ideologia da contracultura (que emerge no final da década, importada dos Estados Unidos, pode ser sintetizada no horizonte ideológico de “sexo, drogas e rock&roll”) e a abertura para um diá- logo lúdico e intertextual com o classicismo narrativo e o filme de gênero hollywoodiano. As citações de O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968) ou Bang-Bang (Andrea Tonacci, 1970) têm pouco a ver com a referência imagética ao faroeste, presente, por exemplo, em Deus e o diabo na terra do sol. A intertextualidade lúdica, que caracteriza o recorte da modernidade em alguns dos cinemas novos dos anos 60 e 70 (e, em particular, na nouvelle vague francesa, vai, no caso brasileiro, deixar suas raízes nesta geração que começa a filmar seus primeiros longas-metragens em 1968-1969. É com esse espírito que o Cinema Marginal irá abrir os braços para a valorização e a citação das chanchadas como gênero, horizonte com o qual a primeira produção cinemanovista nunca conseguiu dialogar. E é dentro desse recorte intertextual afirmativo com o universo da sociedade de consumo e da comunicação de massa que O Bandido da Luz Vermelha nos fornece a dimensão de sua origina- lidade como filme-farol do Cinema Marginal. (FPR). Enciclopédia do Cinema Brasileiro, 2ª edição, p. 141. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 520 brasileiro de curta, média e longa-metragem, com reflexos na linguagemdo cinema documentário contemporâneo. O termo “opacidade”, que aqui tomamos emprestado do pesquisador, teórico de cinema e professor na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) Ismail Xavier, enfatiza as possibilidades de represen- tação pressupostas no cinema a partir do efeito da tela como superfície visualmente composta (opacidade). De acordo com o autor, em diferentes obras os dispositivos (aparatos econômico e tecnológico) colocam-se de modo mais ou menos revelador. Na opacidade, os dispositivos interpelam o espectador, possibilitando distanciamento, ao revelar a própria presença dos sujeitos.5 Ao pensamento defendido por Ismail Xavier sobre “opacidade” no cinema, e para dinamizar e tornar mais dialógicoo nosso estudo, acrescentamosas concepções do- pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e do Departamen- to de Cinema, Rádio e Televisão da Universidade de São Paulo (USP) Arlindo Machado (2007, p. 75), a respeito de “filme-ensaio”como uma forma de pensamento. Arlindo Machado tem no texto O ensaio como forma,6 de Theo- dor W. Adorno, um de seus eixos de apoio nos estudos que desenvolve sobre a estrutura do “filme-ensaio” ou “ensaio audiovisual”, desde a segunda metade dos anos 1970. Se- gundo ele, no texto de Adorno está “uma das abordagens mais eloquentes do ensaio”.7 5. Rosana Lima SOARES, Matrizes, p. 137. 6. Adorno, Theodor W. Notas de Literatura I. São Paulo: Duas Cidades: Ed. 34, 2003. 7. Jane de ALMEIDA (Org.), Alexander Kluge: o quinto ato. São Paulo: Cosac Naify, 2007. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 521 Arlindo Machado diz que o ensaio“nos fala a respeito de ideias, emoções e afetos através de um discurso de imagens e sons tão denso quanto o discurso das palavras”. Para ele, a ideia de “filme-ensaio” (ou, mais genericamente, de“ensaio audiovisual” já aparece explicitamente formulada em vários textos de Philippe Dubois sobre Godard, reunidos na an- tologia Cinema, Vídeo, Godard”8 (2004). Da mesma forma também, a antologia Jean-Luc Godard: El Pensamientodel Cine9 reúne artigos de diversos autores argentinos que dis- cutem o “método ensaístico” utilizado por Godard na série televisiva Histoire(s) duCinéma, de sua autoria.Machado expõea ideia de “ensaio audiovisual”, assim: Denominamos ensaio uma certa modalidade de discurso científico ou filosófico, geralmente apre- sentado em forma escrita, que carrega atributos amiúde considerados “literários”, como a subje- tividade do enfoque (explicitação do sujeito que fala), a eloquência da linguagem (preocupação com a expressividade do texto) e a liberdade do pensa- mento (concepção de escritura como criação, em vez de simples comunicação de ideias). O ensaio distingue-se, portanto, do mero relato científico ou da comunicação acadêmica, em que a linguagem é utilizada no seu aspecto apenas instrumental, e também do tratado, que visa uma sistematização in- tegral de um campo de conhecimento e uma certa “axiomatização” da linguagem. (2007, p.75). 8. DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: CosacNayf, 2004. 9. OUBIÑA, David (compilador)et al. Jean-Luc Godard: elpensamiento- del cine: quatro miradas sobre Histoire(s) du cinema. Buenos Aires: Pai- dós, 2005. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 522 Para um entendimento mais amplo sobre a ideia de “fil- me-ensaio”, o professorArlindo Machado ressalta: Toda reflexão sobre o ensaio, entretanto, sempre pensou essa “forma” como essencialmente “ver- bal”, isto é, baseada no manejo da linguagem escri- ta, mesmo que a relação do ensaio com a literatura seja, como vimos, problemática. Mas podemos ad- mitir também a possibilidade de ensaios não escri- tos, ensaios em forma de enunciados audiovisuais. Embora teoricamente seja possível imaginar en- saios em qualquer modalidade de linguagem artís- tica (pintura, música, dança, por exemplo), uma vez que sempre podemos encarar a experiência artísti- ca como forma de conhecimento, vamos, por co- modidade, nos restringir aqui ao exame do ensaio cinematográfico. Uma vez que o cinema mantém com o texto literário certas afinidadesrelativas à dis- cursividade e à estrutura temporal, além de contar também com a possibilidade de incluir o texto ver- bal na forma de locução oral, o desafio de pensar um ensaio em forma audiovisual fica facilitado, ou pelo menos mais operativo do que se invocásse- mos outras formas artísticas. Parece, portanto, per- feitamente justificável começar pelo cinema e seus congêneres numa abordagem do ensaio em forma não escrita, ainda mais se considerarmos que essa discussão poderá depois ampliar-se com a conside- ração de outras formas artísticas. (2009, p. 22). Sem deixar de ser objetivo, crítico e criativo, resguarda- dos limites e proporções, o discurso de um segmento espe- cífico do documentário contemporâneo brasileiro pode ser associado ao pensamento do cinema de “opacidade” que o teórico e pesquisador Ismail Xavier faz sobre o cinema poético de vanguarda francês, por exemplo. Ismail Xavier (2005, p. 103-104) se refere a esse fato da seguinte forma: Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 523 O cinema é instrumento de um novo lirismo e sua linguagem é poética justamente porque ele faz parte da natureza. O processo de obtenção da ima- gem corresponde a um processo natural – é o olho e o ‘cerébro’ da câmera que nos fornecem a nova e mais perfeita imagem das coisas. O nosso papel, como espectadores, é elevar nossa sensibilidade de modo a superar a ‘leitura convencional’ da imagem e conseguir ver, para além do evento imediato foca- lizado, a imensa orquestração do organismo natural e a expressão do ‘estado de alma’ que se afirmam na prodigiosa relação câmera-objeto. Neste artigo, portanto, a nossa proposta tem dois polos conceituais fundamentais que confluem e interagem, for- mando a base do estudo. Afora isso, completamos a nossa vi- são sobre uma determinada vertente do cinema documen- tário brasileiro contemporâneo nos apoiando também em ideias e conceitos expressados sobre cinema experimental norte-americano nos anos 1970, mas totalmente aplicáveis na atualidade. O pensamento exposto na época, a respei- to desta corrente cinematográfica, estáem perfeita sintonia com o nosso objetivo e, sobretudo, porque as discussões acadêmicas que estavam em processo naquele momento histórico continuam em constante debate, reatualizando-se, e, por este fato, não perderam sua validade, o quepreenche as possíveis lacunas da análise. Vertente de abordagem particular Desde a primeira década do século XXI, a produção de documentários brasileiros tem demonstrado uma grande di- versidade de temas e excelente qualidade técnica. Um exem- plo dessa nova configuração cinematográfica é a significativa Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 524 quantidade de documentários realizados tanto em película como em vídeo digital. No contexto dessa nova safra de do- cumentários sobre diferentes assuntos, se sobressai uma face criativa não apresentada, até então, na história do documen- tário brasileiro, com tanta intensidade: o documentário bra- sileiro está construindo também uma vertente de abordagem particular dos temas enfocados, com um teor mais intimista, alinhada a uma nova expressão. Divulgação Aboio (2005), de Marília Rocha Rocha que voa (2002) e Jards (2012), ambos de Eryk Rocha; Pan-cinema permanente (2007), de Carlos Nader; Aboio (2005), de Marília Rocha; Serras da desordem (2006), de Andrea Tonac- ci; Acidente (2005), de Cao Guimarães e Pablo Lobato; e Nós que aqui estamos por vós esperamos (2000), de Marcelo Masagão, para citar apenas alguns, são exemplos que enfatizam esse mo- mento, que na tessitura dos filmes, se justapõe, harmoniosa- mente, imagens de arquivo, fragmentos de filmes documentais e de ficção, áudios remixados, movimentos não convencionais de câmeras e montagens requintadas que buscam dar novo sentido ao real. Um novo lugar ao documentário. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 525 Pesquisadores e estudiosos, como Consuelo Lins e Cláu- dia Mesquita (2008, p.10-11), afirmam que o embrião desse processo começou com a retomada da produção do cinema brasileiro – cujo marco inaugural é o longa-metragem Car- lota Joaquina-Princesa do Brazil (1995), de Carla Camurati -, a partir de meados dos anos 1990, quando o tratamento dado aos filmes passa a ser esteticamente distinto, eviden- ciando espaço ao particular. Além disso, os níveis crescen- tes da produção documental se expandiram para todas as regiões do país, pelas maiores facilidades na obtenção de recursos técnicos e financeiros. A legislação de incentivo à produção apoiada em um conjunto de procedimentos de renúncia fiscal, que atrai empresas privadas e estatais para o patrocínio de produções audiovisuais e o estágio econô- mico favorável do país, também foram outros elementos essenciais no incentivo aos realizadores. Somado a esses fatores, é fundamental salientar que o cinema documentário não perdeu o ânimo com a extin- ção da Embrafilme pelo governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992), como aconteceu ao cinema de ficção, que depois retomou a produção com grande destaque, mas sem antes não vivenciar um difícil período até chegar ao patamar atual, com novos autores e mercado mais acessível. Ressaltamos que o cinema de ficção também tem con- tribuído de forma substancial para reforçar ainda mais o fluxo criativo do documentário contemporâneo – Baile Perfumado (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, ca- minha nessa direção. Nesse filme, cujo enredo toma em- prestado imagens do documentário Lampião, rei do cangaço (1936), do fotógrafo e cineasta libanês Benjamin Abrahão Butto, o foco sobre o lendário cangaceiro Lampião não é direcionado para suas atividades de fora-da-lei, mas de homem vaidoso e de preferências refinadas. O mais recentefilme deEryk Rocha– Jards (2012) - Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 526 ilustrade forma incisivaessa face ensaística e experimental de uma determinada vertente do cinema documentário brasileiro contemporâneo, que dialoga diretamente com o contexto de convergência das mídias e hibridização de imagens.O documentáriodetém-seno processo de cria- ção artísticamusical e na gravação do CD homônimo do compositor e músicoJardsMacalé. Ofilme ganhou o prê- mio de melhor direção no Festival do Rio 2012 e foi exibido também na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, realizada este ano. Divulgação Jards Macalé no documentário Jards (2012), de Eryk Rocha A narrativa do documentário Jards dá continuidade au- toral ao processo de criação do diretor Eryk Rocha. Para a construção fílmica, o diretor utiliza de procedimentos técnicos de cinema “expandido”1e recursos de videoarte, 1. Proposto de forma visionária por Gene Youngblood, na década de 1970, o termo cinema expandido expressa o alargamento que a con- cepção de cinema vem sofrendo nas últimas décadas, priorizando a convergência das linguagens no meio audiovisual. [...] As ideias de Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 527 que conformam ao filme Jards um permanente diálogo com todas as suas obras cinematográficas anteriores.O contraste nas tonalidades de luz e sombra, claro e escuro, zonas opacas e transparentes, sons e silêncios, posições de câmera, panorâmicas em planos muito próximo às pes- soas, objetos e instrumentos musicais que compõem a cena, como num processo de investigação das texturas das materialidades, evidenciam um cinema feito com grande carga de elementos híbridos e um processo de criação que revela singularidade. Aprofessora do Programa de Pós-Graduação em Co- municação e Semiótica da PUC-SP Cecilia Almeida Salles, expansão e convergência desdobraram-se nas últimas décadas no campo arte-mídia... [.] Em oposição a Youngblood, o pesquisador André Parente concebe o cinema expandido restrito à esfera das ins- talações. Para ele, há duas vertentes: as instalações que reinventam as salas de cinema em outros espaços e as que radicalizam processos de hibridização em diferentes mídias. “O cinema expandido é o ci- nema ampliado, o cinema ambiental, o cinema hibridizado.” Em tal acepção e levando em consideração a relação do espectador com as obras, cinema expandido pode ser pensado também como Transci- nemas– conceito criado por Katia Maciel – que focaliza a recepção das artes audiovisuais, o lugar no qual “o espectador experimenta sensorialmente as imagens especializadas de múltiplos pontos de vista, bem como pode interromper, alterar e editar a narrativa em que se encontra imerso”. Na esteira das convergências, Raymond Bellour explora a noção de passagens, ou seja, a relação entre as imagens, entre a fotografia, o cinema, o vídeo e as mídias digitais. Entre-imagens, portanto, pensadas como um espaço mestiço e de configurações pouco previsíveis. O vídeo, no olhar de Bellour, é o grande operador dessas passagens, o que nos faz entrar num outro tempo da imagem: um tempo em que a inclusão, o diálogo e as passagens de um a outro meio configuram o novo estado da arte e das mídias. Um tempo da impureza, marcado por um regime de miscelâneas onde as imagens deslizam uma sobre as outras.Sessões do Imaginário – Cinema – Cibercultura – Tecnologias da Imagem, p. 11. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 528 que estuda processos de criação nas mídias, ressalta alguns princípios que norteiam projetos poéticos de autores, na construção da obra artística: Em toda prática criadora há fios condutores rela- cionados à produção de uma obra específica que, por sua vez, atam a obra daquele criador, como um todo. São princípios envoltos pela aura da singula- ridade do artista; estamos, portanto, no campo da unicidade de cada indivíduo. São gostos e crenças que regem o seu modo de ação: um projeto pesso- al, singular e único. [...] É importante ressaltar que a mera constatação da influência do contexto não nos leva ao processo propriamente dito. O que se busca é compreender como esse tempo e espaço, em que o artista está imerso, passam a pertencer à obra, em como a realidade externa penetra o mun- do que a obra apresenta. O projeto poético está também ligado a princípios éticos do seu criador: seu plano de valores e sua forma de representar o mundo. Pode-se falar de um projeto ético cami- nhando lado a lado com o grande propósito estéti- co do artista. (SALLES, 2011, p. 44 e 45). Dessa forma, ao investir na opacidade (Cf. XAVIER, Is- mail), p. 99-164.), na explicitação das mediações e na ten- são entre as subjetividades e seus horizontes documentais, uma diversidade de filmes das mais variadas temáticas tem inovado a linguagem de uma vertente do cinema docu- mentário brasileiro contemporâneo, o que (re) configura o discurso fílmico.Ao adicionar ao texto fílmico novo dispo- sitivo de composição do discurso, a obra ao mesmo tem- po em que adquire um caráter de maior profundidade te- mática e “opacidade”, porque reflete em seu discurso uma unidade poético-visual inovadora, em cujo âmago há uma Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 529 forte carga de reflexão artística, corporifica no espectador a necessidade de uma reflexividade eo aumento da acuidade sensorial, para uma recepção completa da obra. A televisão e o documentário híbrido No Brasil, sobretudo no campo da televisão, a experi- ência da produção de documentários utilizando um mix de linguagens de diferentes mídias começou particularmente no programa jornalístico Globo Repórter, veiculadosema- nalmente pela Rede Globo de Televisão, cuja estreia ocor- reu em abril de 1973.2 Na época, pelo fato do jornalismo da Rede Globo ainda não possuir uma estrutura com o potencial necessário para a produção de um programa construído maciçamente de gravação de cenas externas, a empresa optou pela produção de documentários híbridos, um mix de cinema e jornalis- mo, com narrativas conduzidas a partir das imagens, dos depoimentos dos entrevistados e da locução esporádica em offdo apresentador. A Rede Globo tomou essa decisão porque já tinha ad- quirido experiência com o extinto programa Globo Shell Especial (criado em 1971), com formato documental se- melhante ao projetado para o programa Globo Repórter. No formato original do programa Globo Repórter, “o diretor não podia aparecer na imagem, e muito menos a equipe – só em casos excepcionais e inevitáveis, mas jamais falando para a câmera”.3 2. Disponível em: http://memoriaglobo.globo.com, Memória Globo. Acesso em:24 de outubro de 2012. 3. Consuelo LINS, O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 530 Na primeira década do Globo Repórter, os programas semanais produzidos apresentavam linguagem e fotografia cinematográfica, nos quais a marca autoral era um dos pon- tos de maior destaque. A equipe de diretores do programa Globo Repórter era formada basicamente de cineastas ex- perientes e premiados do eixo Rio-São Paulo. Faziam parte deste núcleo, Eduardo Coutinho, João Ba- tista de Andrade, Geraldo Sarno, Washington Novaes, Ge- orges Bourdokan, Dib Luft, Gregório Bacik, Maurice Ca- povilla, Walter Lima Jr., e Hermano Penna, que já haviam atuado no Globo Shell Especial, com o diretor do programa Globo Repórter, Paulo Gil Soares, que também era o chefe da Divisão de Reportagens Especiais. Da equipe, também faziam parte Luís Lobo (pauta), Fernando Peixoto (roteiro); Jotair Assad, Luiz Carlos Maciel, Luís González e Fernando Pacheco Jordão (edição); e Luís Edgard de Andrade e Ro- dolfo Gamberini (reportagem).4 A pesquisadora e professora Consuelo Lins (2007, p.29) diz que o programa Globo Repórter contava com três núcleos de produção: Núcleo de Reportagens Es- peciais, dirigido por Paulo Gil Soares, no Rio de Ja- neiro; Divisão de Reportagens Especiais de São Paulo, criada em 1974; e BlimpFilm, produtora independente também sediada em São Paulo. Apesar da constante censura ao Globo Repórter, o pro- grama conquistou audiência e se sobressaiu entre os forma- dores de opinião. Os diretores faziam experiências nos pro- gramas, utilizando a hibridização de cinema, jornalismo e ficção. Não somente devido a essa inovação, mas uma série cinema e vídeo, p. 21. 4. Disponível em: http://memoriaglobo.globo.com, Memoria Globo. Acesso em: 24 de outubro de 2012. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 531 de situações contribuiu para que o Globo Repórter fosse um programa bem-sucedido. A esse respeito, Consuelo Lins (2007, p. 19) informa: Primeiro porque a censura maior era a externa. Depois a concorrência não era tão brutal. Além disso, até 1981, o programa era feito em película reversível, um filme sem negativo, obrigando que a montagem fosse feita no próprio original. Isso complicava o visionamento frequente do material por parte da direção do telejornalismo. E mais: a equipe do Globo Repórter não trabalhava na sede da emissora, mas em uma casa próxima, o que di- ficultava o controle mais assíduo da produção [...]. Entre os programas com características de documentá- rios híbridos exibidos no Globo Repórter, durante os anos 1970, destacam-se, entre outros, O último dia de Lampião [exibido no Globo Repórter Aventura] (1975), de Maurice Capovilla, produzido pela BlimpFilm; Seis dias de Ouricuri (1976),Uauá: a dor e a esperança (1977), Theodorico, o impera- dor do sertão (1978) e Exu, uma tragédia sertaneja (1979), de Eduardo Coutinho; O Caso Norte (1977), de João Batista de Andrade; e A mulher no cangaço (1976), de Hermano Penna, também produzido pela BlimpFilm. Até determinado momento da história – porque vi- víamos num período ditatorial (1964-1985) -, após ex- perimentar uma nova estética e um novo formato para as produções, por meio de uma forma investigativa e de um trabalho autoral de filmagem e montagem, o trabalho desses profissionais apontou um rumo inovador para o documentário brasileiro – o docudrama, uma vertente do cinema documentário. Foi um período relativamente curto, mas muito rico em inventividade – de abril de 1973 até meados de 1981 (após Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 532 cinco meses fora do ar, o programa Globo Repórter voltou, em março de 1982, mas agora com um formato mais jorna- lístico) -, utilizando técnicas de “cinema direto”, que deixou marcas positivas na televisão e no telejornalismo brasileiro, renovando e dando outra forma ao documentário. Documentário poético e “opacidade” A partir da segunda metade dos anos 1990, a represen- tação do real pelo cinema documentário brasileiro toma contornos muito diversos daquela utilizada até então pelo documentário de estilo expositivo clássico, de acordo com a teoria de Bill Nichols, e o “modelo sociológico ou a voz do dono”, segundo o pensamento de Jean-Claude Bernar- det, sublinhando uma tendência ensaística no país, com a utilização de imagens pré-existentes, novas texturas e con- vergências de linguagens, além de outras inserções. O do- cumentário brasileiro contemporâneo não deixou de re- correr à “voz do saber”5do documentário sociológico (Cf. Jean-Claude Bernardet), mas agora ao invés de utilizar a entrevista apenas como elemento para abordagem central, a temática, a estética e a forma é diversa da utilizada pe- los documentaristas da época, cujo apogeu aconteceu entre 1964-1965. Segundo Jean-Claude, o filme que abre novas possibili- dades de criação no documentário brasileiro e define o “di- visor de águas” entre o cinema moderno (anos 1960-1970) e o documentário das décadas de 1980-1990, particular- mente, é o filme Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho. Com algumas observações, podemos avançar o 5. Jean-Claude BERNARDET, Cineastas e Imagens do Povo, p. 12-13. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 533 período histórico indicado e trazê-lo até o cinema docu- mentário contemporâneo. Neste, já existe claramente uma mudança de perfil estético, com variações de tempo, espaço, montagem, cores distorcidas, sobreposições, fusões, fragmen- tos de memória, cruzamentos estéticos, trajetórias pessoais de singularidade e a música fazendo um contraponto direto com a imagem, produzindo uma nova representação do real. As tendências do documentário brasileiro contempo- râneo têm raízes, sem dúvida, numa grande variedade de escolas e estilos de cinema documentário dos principais centros de produção cinematográfica mundial. O cinema undergroundamericano também se inserenesse contexto. Com relação ao cinema poético da vanguarda norte-ame- ricana Ismail Xavier (2005, p. 119-120) diz o seguinte: Sendo produzidos em plena capital do império da decupagem clássica e do cinema narrativo-repre- sentativo, os filmes da vanguarda americana cons- tituem uma radical destruição do espaço-tempo contínuo, da imagem que ajuda o espectador a perceber os ‘fatos’, do espetáculo claro e dotado de fotografias nítidas que abrem para um espaço fic- cional auto-suficiente. Em suas várias tendências, o cinema poético representa sempre a introdução de fatores que perturbam a fruição de uma imagem transparente. Com suas variações de luz, foque/en- foque, superposição, imagens fixas combinadas com movimento contínuo e convencional, com suas in- tervenções diretas na película (riscos feitos à mão, letras, impressões digitais), com seus movimentos rápidos e irregulares feitos com a câmera na mão, tal cinema radicaliza certos procedimentos comuns a produção dos cinemas artesanais dos anos 1960 (em outros contextos dirigidos para um discurso sociopolítico mais direto). Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 534 O teórico americano de cinema documentário e pro- fessor de cinema na San Francisco StateUniversity Bill Ni- chols também partilha semelhante posição analítica à do professor Ismail Xavier sobre o documentáriopoético. Bill Nichols (2005, p. 138) teoriza sobre esse gênero de filme, da seguinte forma: O documentário poético compartilha um terreno comum com a vanguarda modernista. [Ele] ...sacri- fica as convenções da montagem em continuidade, e a ideia de localização muito específica no tempo e no espaço derivada dela, para explorar associa- ções e padrões que envolvem ritmos temporais e justaposições espaciais. Os atores sociais raramente assumem a forma vigorosa dos personagens com complexidade psicológica e uma visão definida do mundo. [...] O modo poético é particularmente há- bil em possibilitar formas alternativas de conheci- mento para transferir informações diretamente, dar prosseguimento a um argumento ou ponto de vista específico [...]. Esse modo enfatiza mais o estado de ânimo, o tom e o afeto do que as demonstrações de conhecimento ou ações persuasivas. O elemento retórico continua pouco desenvolvido. Para Bill Nichols, a matéria-prima do documentário poético é o mundo histórico. No entanto, esse material bruto é transformado, lapidado e construído artisticamente. É um modo de documentário que nasceu com o moder- nismo, representando o real “em uma série de fragmentos, impressões subjetivas, atos incoerentes e associações vagas”. Bill Nichols (2005, p. 140) esclarece: N.Y., N.Y. (1957), de Francis Thompson [...] usa planos da cidade de Nova York que mostram como ela era em meados da década de 1950, mas Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 535 dá prioridade à maneira pela qual esses planos podem ser selecionados e arranjados para produ- zir uma impressão poética da cidade como uma massa com volume, com e movimento. O filme [...] continua a tradição da sinfonia da metrópole e reafirma o potencial poético do documentário para ver o mundo histórico de novas formas. [...] A divisão do tempo e do espaço em perspectivas, a negação de coerência a personalidades sujeitas a manifestações do inconsciente e a recusa de solu- ções para problemas insuperáveis cercavam-se de uma sensação de sinceridade [...]. No entanto, de acordo com ele,6“nem todos os docu- mentários participativos enfatizam a experiência ativa e aberta do cineasta” no filme. [...] O cineasta pode querer apresentar uma perspectiva mais ampla, frequentemente histó- rica em sua natureza. Como isso pode ser fei- to? A resposta mais comum inclui a entrevista. A entrevista permite que o cineasta se dirija formalmente às pessoas que aparecem no filme em vez de dirigir-se ao público por comentário com voz-over. No documentário participativo, a entrevista representa uma das formas mais co- muns de encontro entre o cineasta e tema. As entrevistas são uma forma distinta de encontro social. Elas diferem da conversa corriqueira e do processo mais coercitivo de interrogação, à cus- ta do quadro institucional em que ocorram e dos protocolos ou diretrizes específicos que as estruturem. As entrevistas ocorrem num campo de trabalho antropológico ou sociológico. [...] 6 Introdução ao documentário, p. 159. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 536 Os cineastas que buscam representar seu próprio encontro direto com o mundo que os cerca e os cineastas que buscam representar questões so- ciais abrangentes e perspectivas históricas com entrevistas e imagens de arquivo constituem dois componentes importantes do modo participati- vo. [...] Na verdade, com frequência, esse modo demonstra como os dois se entrelaçam para pro- duzir representações do mundo histórico pro- venientes de perspectivas específicas, tanto con- tingentes quanto comprometidas. Introdução ao documentário (p. 159, 160 e 162). Por fim, podemos fazer um paralelo entre o cinema de “opacidade” e o olhar visionário do cineasta Gregory Ma- rkopoulos, no contexto norte-americano dos anos 1960. Sobre essa analogia, a partir do pensamento de Gregory Markopoulos, Ismail Xavier diz que [ele] ...propõe o filme como uma série descontínua de fotogramas, com a valorização de cada imagem, de cada composição, como expressão concentrada da visão poética do cineasta. [...] 2005, p. 118-119. Ismail Xavier7explica ainda que esse diretor “procura dar ênfase à carga semântica contida em cada imagem, transfor- mada em uma espécie de hieróglifo”. E Ismail Xavier8es- clarece mais: para ele, para sentir a fruição no filme de van- guarda, o espectador tem que descontruir o olhar, formado pelo “habitual fluxo narrativo de um cinema acelerado”, e aumentar a acuidade sensorial, a “sensibilidade plástica”, 7. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência, p. 119. 8. Idem, p. 119. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 537 para poder ser receptivo “à nova temporalidade proposta aos sentidos”. Ou seja, é necessário “um olhar para dentro de si”, para sentir “a poesia feita de imagens”. Conclusão Com base nos pressupostos utilizados para análise deu- ma vertente do documentário brasileiro contemporâneo, fica evidente que as teorias de “filme-ensaio” e “opaci- dade”, alinhadas às ideias de cinema experimental como forma autoral de expressão artística, identificam uma nova tendência no documentário brasileiro, a partir da primei- ra década do século XXI, envolvendo a convergência das mídias e o hibridismo imagético, com o impacto das no- vas tecnologias. Os filmes Aboio, Rocha que voa e Jards são exemplos marcantes desse direcionamento. No entanto, acreditamos que o tema abordado neste artigo pode ser objeto de novas observações e pesquisas mais extensas e aprofundadas. O cinema documentário permite tantas ex- perimentações quanto o filme de ficção.E essa possibilida- de é o que move o desejo de se fazer um cinema autoral cada vez mais intenso em suas necessidades de dizer sobre si próprio. Sobre suas verdades. Referências BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. LINS, Consuelo e MESQUITA, Cláudia. Filmar o real: sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 538 LINS, Consuelo. Eduardo Coutinho – televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004. MACHADO, Arlindo.O filme-ensaio. In: MOURÃO, Maria Dora e SAMPAIO, Rafael (Orgs.). CatálogoChris Marker – bricoleur multimídia. Rio de Janeiro/Brasília/ São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2009. _________________. Kluge e a televisão. In: ALMEIDA, Jane de (Org.). Alexander Kluge: o quinto ato. São Paulo: Cosac Naify, 2007. NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas/ SP: Papirus, 2005. RAMOS, Fernão Pessoa e MIRANDA, Luiz Felipe A. de. (orgs.). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Edi- tora Senac, 2004. SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Intermeios, 2011. SATT, Maria Henriqueta Creidy. Cinema expandido: es- tratégias e conceitos audiovisuais. In: Sessões do Imaginário – Cinema – Cibercultura – Tecnologias da Imagem. Porto Alegre: nº 12, dezembro de 2009, Famecos, PUCRS. SOARES, Rosana de Lima. De convergências e hibri- dismos: remixagens e pilhagens em filmes de bordas. In: MATRIZes, vol. 5, n. 1 (2011). Dossiê: Novas Perspectivas em Teorias da Comunicação, revista do Programa de Pós- -Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo, p. 137. XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2005. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 539 24. Medios de comunicación social confesionales: La televisión y la Iglesia católica en España Javier Fariñas Martín1 Universidad San Pablo CEU – CEU, Madrid, España Resumen La cadena de televisión 13 TV es el fruto de un largo proceso con el que la Iglesia católica en España está presen- te en el panorama audiovisual del país. La presencia de lo católico en televisión es una apuesta clara por un mensaje diferenciado del resto, en un momento en el que la crisis económica está abocando al fracaso a infinidad de medios de comunicación. Palabras Clave: televisión, Iglesia católica, historia, televi- sión local, target. 1. Javier Fariñas Martín. Profesor Colaborador Doctor, Facultad Hu- manidades y CC. Comunicación, Universidad San Pablo CEU, Ma- drid, España, email: Javier.farinasmartin@ceu.es Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 540 1. En busca de tu público: lo religioso en la televi- sión española “Es un viejo debate: ¿debe el profesional especializarse en un área geográfica, en una cultura, en una materia? ¿O ser un buen periodista consiste en ser especialista en el ofi- cio, independientemente del tema que se trate?”2. La pre- gunta de Marc Basset en la reciente obra colectiva Queremos saber. Cómo y por qué la crisis del periodismo nos afecta a todos, es casi tan antigua como esta profesión que vive, ahora, una de sus crisis más interpelantes. No se trata de establecer una disyuntiva excluyente entre ser buenos profesionales o especialistas en una determinada material. Ambos facto- res son, y deben ser, compatibles, convergentes. Sin embar- go, la apertura de posibilidades que nos brindan los ya no tan novedosos soportes tecnológicos, hacen que sea cada vez más difícil adquirir, con exclusividad, grandes nichos de lectores, oyentes, telespectadores o usuarios de Internet. Los medios de comunicación ya no controlan el flujo de usuarios con la facilidad que lo hacían hace apenas un par de décadas. Ahora, cada vez más, es el receptor el que pro- tagoniza vaivenes de un medio a otro, de una cosmovisión a otra, de una tendencia a la opuesta. Y todo ello, porque es fácil, cómodo y, en muchos casos, gratuito. Por este motivo -volvemos a Basset-, no se trata de la disyuntiva de ‘x’ (léase profesionalización en el oficio de contar) o ‘y’ (entiéndase especialización geográfica, temática…) Ante el tsunami de oferta, hay que partir de una para crecer, ineludiblemente, a partir de la otra. 2. BASSETS, Marc. De Twitter al monstruo. En Queremos saber. Cómo y por qué la crisis del periodismo nos afecta a todos. Capellades: Debate, 2012. p. 36 Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 541 El periodista Enric González, ha señalado que “El me- dio generalista que no es capaz de proporcionarle al lector (o audiencia) un relato propio y veraz sobre lo que pasa en el mundo, está condenado, me temo, a malvivir o a des- aparecer en el magma cibernético y gratuito de los titu- lares agregados”3. De las dos premisas que propone Gon- zález, una es inviolable e indiscutible: la veracidad. La otra, la que subraya la importancia de que el relato sea propio, incide también en la cuestión inicial. La reflexión del pe- riodista español hace referencia, directamente, a la labor del corresponsal en el extranjero o en conflictos bélicos. Pero también podría extrapolarse a los medios en general. En la medida en que estos elaboran y presentan un relato propio, autónomo y con prismas diferenciadores de lo que hacen el resto de medios, ahí habrá comenzado a cimentar con mayor solidez su proyecto. No se trata solo de ser veraces. No se trata solo de ser buenos. Se trata, junto a lo anterior, de ser distintos. Y eso es lo que pretenden dos iniciativas televisivas que han aparecido en España en los últimos meses. El diario El País, el pasado 4 de noviembre de 2012, titulaba una de sus informaciones de forma elocuente: El ‘hijab’ se cuela en la TDT.4 En la información, firmada por Ignacio Cembrero, se contaba la existencia de dos canales de televisión Hispan 3. GONZÁLEZ, Enric. El semáforo de Mondoñedo. En Queremos saber. Cómo y por qué la crisis del periodismo nos afecta a todos. Capellades: Debate, 2012. p. 20 4. El ‘hijab’ se cuela en la TDT. [En línea] En El País, 4 noviembre 2012. [Fecha última consulta: 05 noviembre 2012] Disponible en: http://sociedad.elpais.com/sociedad/2012/11/02/actuali- dad/1351877216_814750.html Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 542 TV5 y Córdoba TV Internacional6, dirigidos a la población árabe y musulmana radicada en España. La primera difunde la actualidad a través de la perspectiva del gobierno iraní, mientras que la segunda busca divulgar el islam a la socie- dad de lengua española. La programación de esta última es claramente religiosa. Córdoba TV Internacional segmenta todavía más la población, ya que además de los aspectos culturales que completan su programación, se añaden los religiosos. Un target todavía más reducido. Una mayor es- pecialización. Una mayor diferenciación7. Aunque el islam se ha insertado en la oferta televi- siva española a través de estos programas y canales, la presencia confesional en televisión no es nueva para los españoles, ya que la Iglesia católica ha desarrollado en las últimas décadas algunas iniciativas que han ofrecido –y ofrecen- de forma explícita o implícita, una visión particular sobre la realidad o, como diría Enric Gonzá- lez, ‘un relato propio’. La presencia en la actualidad de diversos espacios en las emisoras públicas (nacional y autonómicas), más la aparición de canales como Popular TV, María Visión o la actual 13 TV acumulan una tra- yectoria relevante, pero que deberá seguir madurándose en el difícil mundo de la televisión y, en general, de los medios de comunicación. 5. http://www.hispantv.es/ 6. http://www.cordobainternacional.com/ 7. No es esta la primera vez que contenidos cercanos o vinculados al islam se hacen presentes en las televisiones españolas. El programa Islam hoy, que se emite en TVE todos los domingos, aborda temas de actualidad del colectivo en España. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 543 2. ¿Cómo debemos estar en los medios? Del Conci- lio Vaticano II a la actualidad La preocupación de la Iglesia Católica por los medios de comunicación social ha sido constante a lo largo de su historia. Buena parte de la estabilidad institucional de la Iglesia se ha jugado en el uso de los mensajes, y en el apro- vechamiento de los medios de comunicación que con el tiempo ha dispuesto el hombre. Desde Gutenberg hasta Internet, pasando por Guillermo Marconi, al que se en- comendó la puesta en marcha de Radio Vaticano, o mucho más cerca en el tiempo, el lanzamiento de la Red Infor- mática de la Iglesia en América Latina, RIIAL8, la Iglesia ha dispuesto de los medios de comunicación social para desarrollar su labor evangelizadora, misionera y para divul- gar sus enseñanzas a través de estos. Pero más allá de acon- tecimientos e iniciativas concretos, la Iglesia ha elaborado desde mediados del siglo pasado, a partir de la celebración del Concilio Ecuménico Vaticano II9, un pensamiento propio sobre el fenómeno de las comunicaciones de masas, lo que podríamos denominar como magisterio de los medios de comunicación social. En estas reflexiones encontramos el sustento doctrinal bajo el que se han amparado algunos de los proyectos televisivos de identidad católica que se han colado en los televisores españoles en las últimas décadas. Entre estos documentos podemos destacar el Decreto Inter 8. www.riial.org 9. Para tener una visión más completa de los contenidos fundamen- tales del magisterio eclesial sobre medios de comunicación social consultar los capítulos 3-6 de DÍAZ-BERNARDO NAVARRO, Juan. Anunciar a Cristo en la aldea global. Toledo: Estudio Teológico de San Ildefonso, 2002 http://www.riial.org Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 544 Mirifica10 en el que se pedía “que los instrumentos de co- municación social se utilicen, sin la menor dilación y con el máximo empeño, en las más variadas formas de aposto- lado, tal como lo exigen las realidades y las circunstancias de nuestro tiempo” (13). Casi una década más tarde, en la Instrucción Pastoral Communio et Progressio11, se reconocía que “la Iglesia puede expresar su pensamiento y opinión tanto por los medios de comunicación a los que en deter- minadas condiciones tiene acceso, aunque no sean suyos propios, como por aquellos que directamente administra y dirige” (132). En este repaso, podemos incluir también la Instrucción Pastoral Aetatis Novae12, de 1992, en la que se indica que “las comunicaciones sociales tienen que des- empeñar un papel en todos los aspectos de la misión de la Iglesia. Por ello, no hay que contentarse con tener un plan pastoral de comunicaciones, sino que es preciso que las comunicaciones formen parte integrante de todo plan pastoral” (17). 10. PABLO VI. Decreto Inter Mirifica [En línea] Santa Sede, 4 diciem- bre 1963 [Fecha última consulta 31 octubre 2012] Disponible en http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/ documents/vat-ii_decree_19631204_inter-mirifica_sp.html 11. SANTA SEDE. Pontificia Comisión para los Medios de Comuni- cación Social. Instrucción pastoral Communio et Progressio sobre los me- dios de comunicación social. [En línea] Santa Sede, 18 mayo 1971 [Fe- cha última consulta 31 octubre 2012] Disponible en http://www. vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/ rc_pc_pccs_doc_23051971_communio_sp.html 12 SANTA SEDE. Pontificia Comisión para los Medios de Comu- nicación Social. Instrucción pastoral Aetatis Novae sobre los medios de comunicación social. [En línea] Santa Sede, 22 febrero 1992 [Fecha última consulta 31 octubre 2012] Disponible en http://www.vati- can.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_ pccs_doc_22021992_aetatis_sp.html Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 545 Además del impulso directo a la presencia de la Igle- sia en el mundo de los medios de comunicación social, el Concilio Ecuménico Vaticano II instauró la Jornada Mun- dial de las Comunicaciones Sociales que, desde entonces, se celebra todos los años13. Con ocasión de esa cita, los su- cesivos papas han dedicado un mensaje sobre los medios de comunicación social. Pero, además de los pontífices, los obispos españoles también han aprovechado esta coyuntura para reflexionar en voz alta sobre esta realidad. En 1968, los obispos españoles pedían a los católicos una toma de conciencia: “Ante nuevas situaciones sociológicas, la evan- gelización exige nuevos métodos pastorales y hasta la fe- cha la presencia, institucional o personal de la Iglesia en el campo de la prensa, cine, radio y televisión, no responde a las exigencias del mundo actual”14. En 1974, la reflexión avanzaba algunos pasos más: “No se trata sólo de llegar a la fácil conclusión de que la Iglesia tiene que usar los medios para evangelizar. Esa conclusión, que es cierta, y más actual que nunca, implica mil problemas teóricos y prácticos del mayor interés y responsabilidad solidaria de todos los cris- tianos, en torno a la realidad compleja y preocupante del mundo, y en torno a la dimensión múltiple de la comuni- 13. Desde 1967, año en que se celebró por primera vez la Jornada Mundial de las Comunicaciones Sociales, cada una de ellas ha teni- do su propio lema, que marca un objetivo concreto y está vinculado con las preocupaciones de la Iglesia en ese momento determinado. El lema y tema de cada año son comentados en un mensaje que el Papa dirige expresamente cada año con motivo de esta jornada. 14. CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episco- pal de Medios de Comunicación Social. Prensa, radio, televisión y cine para el progreso de los pueblos. En SERRANO OCEJA, J. Francisco. (ed.) Op. cit. 1968 p. 21 Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 546 cación social”15. Dos años más tarde, los obispos españoles solicitaban el reconocimiento al uso de los medios de co- municación e, incluso, se atrevían a sugerir que ese derecho podía incluir la creación de nuevas iniciativas: “La Iglesia, en España como en el resto del mundo, no reivindica pri- vilegios en este campo. (…) Y proclama su correspondiente derecho-deber de estar presente en los Medios de Comu- nicación Social de gestión pública o privada y, si es nece- sario, el derecho a implantar sus propios medios al servicio de su deber primario como comunidad evangelizadora”16. En 1992, el mensaje del episcopado español reconocía que “hoy se ve más necesario que nunca concurrir con nuestra presencia y nuestra palabra cristiana a la palestra pú- blica de los Medios. La constelación de mensajes difundidos por la prensa, la radio y la televisión, así como por los cana- les de publicidad, ha crecido tanto que ha dejado pequeños nuestros esfuerzos tradicionales de comunicación”17. Un año más tarde, subrayaban que “Estamos emplazados ahora –con la proliferación en todo el territorio español de pequeñas emisoras de radio y TV- a crear en los próximos años algún o algunos centros de producción de programas audiovisuales, formativos de la cultura y de la conciencia, 15. CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episco- pal de Medios de Comunicación Social. Hacia una doctrina y una acción pastoral de la Jornada Mundial de las Comunicaciones Sociales. Ibídem. 1974 p. 48 16. CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episco- pal de Medios de Comunicación Social. Las comunicaciones sociales y los derechos y deberes fundamentales del hombre. Ibídem. Madrid, 1976. pp. 57-58 17. CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episco- pal de Medios de Comunicación Social. Brille la luz de Cristo. Ibí- dem. Madrid, 1992 p. 127 Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 547 que respondan a la Exhortación de la Iglesia y a las deman- das de nuestra sociedad”18. El magisterio episcopal sobre los medios, surgido de los mensajes publicados con ocasión de la Jornada Mun- dial de las Comunicaciones Sociales, subraya año tras año la preocupación de los obispos españoles sobre la relación Iglesia-Medios, con especial atención a la televisión, muy por encima de otras plataformas comunicativas. Así, en 1994, indicaban que “tendremos que liberarnos, por último, del atrincheramiento en un talante puramente defensivo o polémico, ante el fenómeno ingente y arrollador de la tele- visión. Es éste nuestro mundo. A él pertenecemos. Ningún cristiano, ningún sacerdote, ningún obispo, debiera sentirse extraño dentro de él”19. En este repaso apresurado del magisterio eclesial sobre el uso y la presencia de los medios de comunicación social, se percibe una clara evolución: de una mayor responsabilidad en el uso y la presencia eclesial en los medios, a un autén- tico compromiso por la mejora de los medios ya existen- tes y la apertura de nuevos campos: “necesitamos también ser más intrépidos y comunicativos para desarrollar nuevos medios y métodos de proclamación de la vida eclesial y del mensaje cristiano”20, decían desde la Comisión Episcopal de Medios de Comunicación Social en el año 2000, en 18. CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episco- pal de Medios de Comunicación Social. Vídeos y casetes en la forma- ción de la cultura y de la conciencia. Ibídem. Madrid, 1993 p. 133 19. CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episco- pal de Medios de Comunicación Social. Hacia un uso responsable de la televisión en la familia. Ibídem. Madrid, 1994. pp. 139-140 20. CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episco- pal de Medios de Comunicación Social. Necesidad de un mutuo acer- camiento entre la Iglesia y los medios. Ibídem. Madrid, 2000. p. 173 Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 548 un mensaje en el que ya reconocían la existencia de algu- nas iniciativas diocesanas en el ámbito de la televisión que había que apoyar. Esas iniciativas tenían nombre y lugar de nacimiento: Canal Diocesano de Televisión, en Toledo; y TMT, en Madrid. Este proceso de reflexión eclesial sobre los medios cul- mina en 2001. Entonces los obispos, en su mensaje con motivo de la XXXV Jornada Mundial de las Comunica- ciones Sociales enfatizaban en que “urge (…) a este respec- to la creación en España de una productora audiovisual de contenidos de inspiración cristiana, para poder así dar una adecuada respuesta a la demanda televisiva que se nos ave- cina, especialmente si logramos articular una red de televi- siones locales diocesanas, en la que ya se está trabajando”21. Además de la reflexión teológica y pastoral sobre los medios de comunicación social, los obispos españoles en sus documentos de trabajo y sucesivos planes de acción pastoral abordaron la necesidad explícita de contar con un medio televisivo propio. No solo se trataba de tratar teóricamente el asunto; el objetivo era ponerlo en prácti- ca22. Así, en los periódicos de 1992 encontramos titulares como los siguientes: “La Iglesia promoverá proyectos de 21. CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episcopal de Medios de Comunicación Social. Un compromiso más activo en las comunicaciones sociales. Mensaje de los obispos de la CEMCS. [En línea] 2001 (Fecha última consulta 29 octubre 2012) Disponible en: http://85.118.245.124/mcs/jornada/comision_2001.html 22. La Conferencia Episcopal Española, en sus planes pastorales para los periodos 1990-1993: Plan de acción pastoral de la CEE y programas de las comisiones episcopales para el trienio 1990-1993. ‘Impulsar una nueva evangelización’ y 1994-1997: Para que el mundo crea, incluyó como objetivos irrenunciables la puesta en marcha de una productora o canal de televisión, a partir de las iniciativas preexistentes en el país. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 549 televisión local en diócesis importantes” (La Nueva Es- paña, 28 abril 1992); “La diócesis estudiará un plan para instalar una televisión local” (Levante, 2 mayo 1992); “La Iglesia podría utilizar la televisión por cable para tener su propia cadena” (ABC, 30 abril 1992); o “La Iglesia estudia la posibilidad de promover canales locales de televisión” (Diario 16, 29 abril 1992). Se estaba fraguando la primera cadena de televisiones locales y autonómicas titularidad de la Iglesia, Popular Televisión. 3. De la palabra a los hechos: Tele 80, Canal Dioce- sano de TV y TMT En medio de este proceso de reflexión sobre qué presencia tener en la televisión, encontramos un peque- ño proyecto, no encabezado por el episcopado pero sí participado por un grupo de editoras, encabezadas por la Editorial Católica, que intentó la constitución de una cadena de televisión. La empresa promotora, denomi- nada Promotora de Televisión y Radio, S.A., fundada en 1979, solicitó al Ejecutivo nacional la concesión para doce emisoras de televisión. El objetivo era la creación de una cadena con presencia en todas las regiones es- pañolas, implantación en la mayor parte de las capitales de provincia y ciudades de más de 100.000 habitantes. El deseo de los promotores pasaba por instalar, en un primer momento, emisoras en Bilbao, Madrid, Barce- lona, Valencia, Sevilla y Zaragoza. El proyecto televisivo, que se denominaría Tele 80 , estaba basado en la defensa de los valores éticos, humanos, cristianos y occidentales, además de promover la unidad nacional. Este proyecto no cuajó e, incluso, apenas quedan las referencias que hizo del mismo Luis Ángel de la Viuda, a principios de Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 550 la década de los 80 del siglo pasado23. Las televisiones antes citadas, Canal Diocesano de TV y TMT, impulsadas por las archidiócesis de Toledo y Madrid marcaron la senda a la Conferencia Episcopal Española. O, si queremos ser más precisos, demostraron al episcopado es- pañol que había una ruta transitable en el mundo de la tele- visión y que ésta podía ser utilizada por la Iglesia en nuestro país para satisfacer su anhelo de contar con una televisión propia. En paralelo a todo este proceso, los contenidos ca- tólicos fraguaron, sobre todo, en la televisión pública. TVE comenzó a emitir hace treinta años, y dentro del marco de los acuerdos suscritos entre la Iglesia católica y el Estado Español, aprobados por el Consejo de Administración de RTVE el 7 de septiembre de 1982, programas específica- mente católicos24. Desde entonces, se mantienen en antena El Día del Señor, Pueblo de Dios, Testimonio y Últimas Pregun- tas. Junto a estos espacios de la televisión pública nacional, hay que destacar los huecos que en sus parrillas han dejado, para los contenidos católicos, las cadenas autonómicas de Galicia, Andalucía, Cataluña y País Vasco. El 1 de diciembre de 1997 el entonces arzobispo de To- ledo, Francisco Álvarez Martínez inauguró los estudios de Canal Diocesano de Televisión. Con este acto se ‘oficializaba’ la puesta de largo del primer canal de televisión titulari- dad de la Iglesia católica en nuestro país, sumándose a la diversificación de la oferta de televisión con el desarrollo 23. DE LA VIUDA, Luís Ángel. Tele-Ochenta. En Televisión pública. Te- levisión Privada. Actas de las VI Jornadas de Estudios para antiguos alumnos (Pamplona, 1981) Pamplona: Ediciones Universidad de Navarra, 1982. pp. 179-185 24. A estos acuerdos se sumarían los de las comunidades musulmana, judía y evangélica, tras el convenio suscrito entre sus más altos repre- sentantes, el Ministerio de Justicia y la Dirección General de RTVE Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 551 de los canales locales temáticos25. Canal Diocesano es una emisora de televisión local que comenzó su emisión en pruebas en el canal 50 de la banda de UHF, amparándose en la alegalidad vigente en aquel momento, y que ‘permitía’ la ocupación de canales si no interferían los que ya estaban en funcionamiento. Canal Diocesano de Televisión26 se convirtió en una realidad gracias al deseo explícito de la Iglesia toledana y al acuerdo de colaboración al que llegaron el Arzobispado de Toledo con la Cadena Católica Mundial Eternal World Television Net- work (EWTN)27, fundada en 1983 por la religiosa norteame- ricana Madre Angélica. Por este acuerdo Canal Diocesano de Televisión emitía la programación diaria en español que le ofrecía, de forma gratuita, EWTN. Junto a esos programas, recibidos por satélite, Canal Diocesano de Televisión comenzó la realización de espacios propios basados en la información, la participación, el entretenimiento, además de contenidos sociales, culturales y específicamente religiosos. Una de las particularidades de Canal Diocesano de Televi- sión desde sus orígenes (y que todavía mantiene) es su fi- nanciación ya que no contempla los ingresos publicitarios. “RTVD nació, pues, como una opción pastoral de la Iglesia en Toledo, que, por su identidad y sus objetivos fundacio- nales, debería estar desvinculada de cualquier otro tipo de finalidad que no fuera la específicamente misionera. Así, se 25. Para conocer la realidad de la televisión local en España, es muy interesante la obra de Pere Costa i Badía y Pere Oriol Pérez Tor- nero, Realidad y perspectivas de la televisión local. 26. Canal Diocesano de Televisión forma parte de Radio Televisión Dio- cesana de Toledo (RTVD) junto a Radio Santa María de Toledo que comenzó sus emisiones el 14 de septiembre de 1993. 27. www.ewtn.com Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 552 entendió que habría de estar sostenida y financiada por la Archidiócesis de Toledo, mediante recursos propios y tam- bién mediante los que, a través de donaciones y convenios, pudiera recibir de distintas fuentes, siempre sin contrapar- tida publicitaria”28. Para el director de RTVD cuatro han sido los factores determinantes que han garantizado la viabilidad del pro- yecto mediático de la Archidiócesis de Toledo: “[1] la iden- tidad eclesial diocesana (…), [2] la profesionalización y la promo- ción del voluntariado. (…), [3] adecuación de los mensajes (…) [4] los medios como servicio (…) Es aquí donde hay que situar la opción de renuncia a los ingresos publicitarios y a todo lo que pueda parecer una estrategia de competencia frente a los demás medios de nuestro ámbito29. En el año 2003, Canal Diocesano de Televisión se incorpo- ró como emisora asociada a la recién nacida Popular TV. En virtud de este acuerdo, la emisora de Toledo, que mantenía su denominación e identidad diocesana, así como su lo- gotipo y sus indicativos, integraba en su programación los espacios de ámbito nacional de la citada cadena.30 El camino recorrido por Canal Diocesano de Televisión ‘abrió los ojos’ a la vecina Archidiócesis de Madrid, que el 28. DÍAZ-BERNARDO NAVARRO, Juan. Radiotelevisión Diocesana. Una opción de la Archidiócesis de Toledo al Servicio de la Evangelización. Actas del Congreso Católicos y Vida Pública. Madrid, 26-28 oc- tubre 2001. En FARIÑAS MARTÍN, Javier. La televisión local en España: El modelo de negocio de Popular Televisión (2002-2006). (Te- sis inéditas) Director: Manuel Ángel Fernández Sande. Universidad Complutense de Madrid. Facultad CC. Información (2008) 29. Ídem 30. Con la aparición de 13 TV, de la que hablaremos más tarde, Canal Diocesano de Televisión se integró en la nueva cadena, y sigue compa- tibilizando la señal de 13 TV, con la programación propia. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 553 24 de septiembre de 2001 puso en marcha el canal de te- levisión del Arzobispado de Madrid. Comenzó a emitir en los canales 36 y 56 del UHF, a través de los que se cubría prácticamente el área metropolitana de Madrid. TMT nació confesionalmente católica y con una pro- gramación generalista, en la que a diferencia de Canal Dio- cesano de Televisión, sí se contemplaba la inclusión de bloques publicitarios y, por consiguiente, la financiación a través de los ingresos por publicidad. Además, TMT apostaba por la producción de programas propios, labor que encomendó a la productora Multipark. La televisión local del Arzobispado de Madrid contem- plaba ya desde su fundación como principios irrenunciables una línea editorial católica a partir de los valores del Evan- gelio, la defensa de la persona y de la familia, la promoción humana, social y cultural de la sociedad, la defensa de los de- rechos humanos, la solidaridad entre personas y pueblos, la importancia del ecumenismo, el diálogo religioso y la con- vivencia entre culturas, así como la difusión de la doctrina y actividades de la Iglesia Católica. Estos principios irrenun- ciables serían el armazón sobre el que levantar la programa- ción ‘generalista católica’ que quería ofrecer TMT. En noviembre de 2002, el Arzobispado de Madrid y la Cadena COPE (propietarios de TMT y Popular Televisión, respectivamente) suscribieron un acuerdo accionarial y de gestión que contemplaba, además, el desarrollo e intercam- bio de programas entre ambos, y establecía su autonomía a la hora de diseñar las respectivas parrillas de programación. 4. Popular TV; el proyecto se hace realidad Ciudadano Kane se convirtió en la primera página del libro de la historia de Popular Televisión. El 1 de julio de Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 554 2002 emitía la mítica película de Orson Wells, cumpliendo así con las previsiones de los responsables de la cadena que, desde hacía varios meses, habían empeñado buena parte de su ser y saber en la viabilidad de este proyecto. Pero si la primera página de esa ‘obra’ se escribió en pleno verano de 2002, el prólogo del mismo se estaba es- cribiendo desde hacía varios años. Los primeros contactos reales los encabezó el entonces arzobispo de Mérida-Ba- dajoz y presidente de la Comisión Episcopal de Medios de Comunicación Social (CEMCS), Antonio Montero, en los inicios de la década de los 90 del siglo pasado. Aquellas pri- meras tomas de contacto tuvieron lugar con algún grupo de empresarios y con algún operador de televisión privada. Estos tanteos no pasaron de eso, pero se abrió una nue- va puerta: las plataformas digitales. “Se abre la posibilidad de una doble presencia. Por una parte, en las televisiones locales, que pululan por todas partes y que tienen buena relación con hombres y mujeres de Iglesia. Por otra, en los canales digitales temáticos. Ahí se abre una posibilidad que no requiere unas inversiones astronómicas. Quizá mediante el acceso a un canal temático o cualquiera otra nueva fór- mula en los canales privados”31. El expresidente de la CEMCS ya apuntaba la posi- bilidad de cierto tipo de colaboración con algunas te- levisiones locales pero, en esos momentos, la vía más factible para la creación de una cadena de televisión de ámbito nacional era la de un acuerdo con una platafor- ma digital. Además del interés de la Iglesia por contar con una nueva presencia televisiva, los responsables de la plataforma Vía Digital también expresaron su deseo de 31. MONTERO, Antonio. ‘Soy un activista de la comunicación en la Igle- sia’. Vida Nueva, 6 diciembre 1997. pp. 8-10 Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 555 que eso pudiera convertirse en realidad. Así lo reconoce el anterior director del Secretariado de la CEMCS, José María Gil Tamayo, cuando afirma que “hay un interés mutuo por una presencia de la Iglesia en ese ámbito. En concreto uno de los operadores, Vía Digital, quie- re incluir en su paquete básico, lógicamente para una captación de clientes, la presencia de la Iglesia Católica con un canal temático religioso”32. Esta propuesta no convenció a los obispos por dos motivos: el primero, que la concepción del canal temático fuera específica- mente religioso y, por tanto, alejado del carácter ge- neralista que querían imprimir a su modelo televisivo y, en segundo lugar, el hecho más tangible de que los telespectadores, además de la suscripción a la plataforma digital, tuvieran que pagar para ver el canal de la Con- ferencia Episcopal. A pesar de que se frustró esa presencia, el anhelo tele- visivo continuó vivo en el episcopado español. Y por eso, cuando el Ejecutivo de José María Aznar convocó un con- curso para la concesión de canales digitales terrestres, los obispos decidieron optar a uno de ellos con un proyecto encabezado por COPE33, la radio generalista propiedad de la Iglesia Católica. El 10 de marzo de 2000, el Gobierno convocó los concursos para la explotación de dos canales digitales, de cobertura nacional, en abierto. El 13 de di- ciembre de 2000, el Gobierno otorgó las concesiones a So- 32. GIL TAMAYO, J. María. Director Secretariado Comisión Episcopal Medios Comunicación Social y consejero Iniciativas Radiofónicas y de Televisión, S.L. En FARIÑAS MARTÍN, Javier. La televisión local en España: El modelo de negocio de Popular Televisión (2002-2006). (Tesis inéditas) Director: Manuel Ángel Fernández Sande. Universidad Complutense de Madrid. Facultad CC. Información (2008) 33. www.cope.es Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 556 ciedad Gestora de Televisión Net TV, S.A. y Veo Televisión, S.A. Por tanto, la Conferencia quedó de nuevo fuera. Estos dos hechos: el fracaso de las negociaciones con Vía Digital y no resultar concesionarios de la televisión digi- tal no supusieron, ni mucho menos, un parón al proyecto televisivo de la Iglesia española. Entre los obispos fue cre- ciendo la conciencia de fomentar esa presencia y, el punto de inflexión tiene lugar en el 2000. En los primeros días de ese año se celebró en Palma de Mallorca una reunión de la CEMCS en la que se acordó iniciar un proceso de cons- titución de una cadena de televisiones locales, a partir del trabajo iniciado en la archidiócesis de Toledo. La idea, que cuajó firme, contemplaba la necesidad de un centro de pro- ducción central que, de alguna manera, coordinara esa red de televisiones locales diocesanas, a la vez que con su pro- ducción animara a las diócesis a adherirse al proyecto. Si una productora ofrecía los contenidos, o al menos buena parte de ellos, la inversión de las diócesis sería mucho menor. El proyecto inicial de la CEMCS se trasladó a dos ór- ganos de gobierno de la Conferencia, el Comité Ejecuti- vo y la Comisión Permanente. Al mismo tiempo, en este plan –que cada vez se iba haciendo más ambicioso- entró la Cadena COPE que, como otros grandes operadores me- diáticos del país, Prisa y Vocento, se interesó por el espacio de la televisión local. Popular TV34 comenzaba a tener cuerpo, 34. Durante todo este proceso comienzan ya a surgir iniciativas dioce- sanas como TMT, en Madrid, una televisión diocesana en Tenerife; y COPE adquirió una televisión local en La Rioja y pone en mar- cha la que posteriormente sería Popular TV Sevilla. La televisión de La Rioja se convertirá, como veremos, en soporte fundamental para el inicio de Popular Televisión. Además, la Archidiócesis de Mérida- Badajoz participaba entonces con el Grupo Correo en Telefrontera. Con el paso del tiempo, la sede extremeña abandonó ese proyecto y se unió a Popular Televisión. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 557 incluso empresarial. La CEMCS estaría presente, a través de su secretario, en el Consejo de Administración de Popular Televisión. COPE, a través de la sociedad Iniciativas Radiofó- nicas y de Televisión, S.A., cogió el testigo que le tendió la Conferencia Episcopal y, tras las frustradas intentonas vía televisión digital, emprende el proceso de la única mane- ra factible en aquel momento: decide crear una cadena de televisiones locales analógicas, y para ello se sirvieron de la sociedad Iniciativas Radiofónicas y de Televisión, constituida en 1984 y que en ese momento estaba ‘dormida’. La posibilidad que vislumbró COPE fue posible gracias a los resquicios legales que dejaba la Ley de Televisión Lo- cal por Ondas Terrestres (LTLOT)35, que hacían posible la ocupación de canales analógicos, en muchas ocasiones con la emisión de contenidos esotéricos o comerciales. De este modo, ceca de mil quinientos operadores locales de televi- sión han emitido en España hasta la digitalización. Además de la ocupación de canales en diversos lugares del país ad- quieren, en 2001, a través de su sociedad matriz, Iniciativas Radiofónicas y de Televisión, la emisora Rioja 4 que se con- vierte en la ‘televisión escuela’ de la cadena. Pero el objetivo real de Iniciativas Radiofónicas y de Radiodifusión no era crear, sin más, una cadena de televisiones locales analógicas. En el momento en el que el proyecto comienza a fraguar, el sector audiovisual español encara con cierta velocidad el tránsito hacia la digitalización. Por ello, el auténtico deseo de COPE –y, por extensión, de los obispos españoles- era crear una red de televisiones analógicas para que, una vez que salieran los concursos digitales, pasar esa red de analó- gica a digital. Y, la primera comunidad autónoma donde se 35. Ley 41/1995, de 22 de diciembre, de Televisión Local por Ondas Terrestres. Vigente hasta el 1 de mayo de 2010. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 558 convocó el concurso digital fue La Rioja. Rioja 4 concu- rrió al mismo, obteniendo la primera licencia digital auto- nómica para Popular Televisión36. A partir de ese momento, se estrecha el vínculo entre los responsables de Iniciativas y los de Rioja 4. El impulso que dan al proyecto culmina el 1 de julio de 2002, fecha en la que comenzó a emitirse programación las 24 horas del día a través del satélite Hispasat. La historia televisiva de Popular Televisión tuvo varios pi- cos ascendentes en audiencia y notoriedad. Sin embargo, no llegó a alcanzar los índices de seguimiento esperado y, sobre todo, los números de la cadena no repuntaron. La cadena popular, que formaba parte del Grupo COPE, inci- día también en los resultados de este, de modo que los res- ponsables de la misma abrieron la posibilidad de que otros grupos y/o accionistas entraran a formar parte del proyecto. 5. María Visión y 13 TV En mayo de 2010, Maria Visión37 se hizo con parte del ac- cionariado de Popular TV y, aunque no se convirtió en ac- cionista mayoritario [asumió el 8 por ciento], sí pasó a tener el control de los contenidos de la parrilla, y el presidente de María Visión, Emilio Burillo, pasó a presidir la cadena. María Visión propuso una programación estrictamente religiosa, en 36. Iniciativas Radiofónicas y de Televisión concurrió al concurso de tele- visión digital convocado por el gobierno autónomo de La Rioja. Éste planteó a la sociedad una serie de cuestiones que dificultaban la concesión para el proyecto de Popular Televisión. Esta situación impulsó a Iniciativas a adquirir Rioja 4, con la que finalmente con- curre al concurso, del que sale adjudicataria. 37. www.mariavision.com/historia.php Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 559 la que fueron cediendo espacio tanto los informativos como algunos de los programas que pretendían convertir a Popular TV en una televisión con identidad católica, pero generalista en su programación. El proyecto cargó la programación en lo familiar y lo religioso, y dejó de lado el diálogo entre la fe y la sociedad que intentaba proponer la cadena popular. Desde la Iglesia, y desde la audiencia, se consideró que el nuevo modelo tendía hacia una programación poco abierta y dialogante con una sociedad que, cada vez, está menos cerca de la confesión católica en España. Algunas de las emisoras locales o regionales que se habían adherido al proyecto de Popular TV dejaron de emitir los espacios en cadena. Las quejas y el malestar crecieron, y el proyecto duró tres meses. COPE decidió asumir, de nuevo, el proyecto: “Con esta decisión se pretende dar mayor solidez al proyecto de una televisión católica y generalista, encarnado desde su origen por Popular TV, que sirva para una presencia eficaz de la Iglesia en la opinión pública española”38. Esa presencia, con pretensión de eficacia e influencia entre la población española, cuajó con la aparición de 13 TV, en el último cuatrimestre de 2010 bajo el lema “Cree- mos”. A diferencia de la estructura de Popular TV, cons- tituida a partir de emisoras locales y autonómicas, 13 TV gestiona un canal digital nacional, del que no es propietaria. La presencia de la Iglesia católica española se ha traducido, incluso, en la participación mayoritaria en el accionariado. En abril de 2011 la Conferencia Episcopal Española adqui- rió el 51 por ciento de las acciones de la cadena. “La titu- laridad de 13 TV marcará las líneas principales del ideario 38. Popular TV se ‘fuma’ a María Visión. [En línea] En Fórmula TV.com. 31 julio 2010 [Fecha última consulta 10 noviembre 2012] Dispo- nible en: http://www.formulatv.com/noticias/15931/popular-tv- -fuma-maria-vision/ http://www.formulatv.com/noticias/15931/popular-tv-fuma-maria-vision/ http://www.formulatv.com/noticias/15931/popular-tv-fuma-maria-vision/ Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 560 y supervisará la gestión, que llevará a cabo el Consejo de Administración de la Cadena”39. Esta, que hasta el momento, es la última apuesta televisiva de la Iglesia en España, pretende ofrecer “una programación abierta a toda la familia, con contenidos alejados de la agre- sividad, la crispación política y la frivolidad social. Así, esta nueva cadena busca recuperar aquella televisión familiar que promocione los valores del humanismo cristiano frente al sensacionalismo que impera en la televisión actual”40. El concepto está claro y el público potencial es amplio. Se sabe qué se quiere contar y a quién hay que contárselo. En el caso de la actual 13 TV, igual que antes con Canal Diocesano, TMT, Popular TV o María Visión, ha existido y existe un mensaje diferenciado y propio que ofrecer. Aho- ra, tan solo falta, alcanzar el grado de profesionalización y perfección televisiva que permita sobrevivir al proyecto, sobre todo en un momento como el actual en el que la crisis económica está dejando en el paro a muchas personas vinculadas al mundo de la comunicación, y haciendo cerrar infinidad de medios de comunicación41. En una analogía 39. La Conferencia Episcopal Española adquiere el 51% de 13 TV. [En línea] Conferencia Episcopal Española. Madrid, 12 de abril de 2011. [Fecha última consulta 10 noviembre 2012] Disponible en: http://www. conferenciaepiscopal.es/index.php/notas/2011/2025-la-conferencia- episcopal-espanola-adquiere-el-51-de-13-tv.html 40. Nace 13TV, un canal generalista. [En línea] 13 TV.es. 24 enero 2011. [Fecha última consulta 10 noviembre 2012] Disponible en: http:// www.13tv.es/hemeroteca 41. La crisis se ceba con los medios de comunicación y deja en el paro a más de 6.000 periodistas [En línea] RTVE. 30 de abril 2012 [Fecha úl- tima consulta 08 noviembre 2012] Disponible en: http://www. rtve.es/noticias/20120430/crisis-dejado-ya-mas-6000-periodistas- paro/519182.shtml Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 561 que nos lleva de la radio a la televisión, tomamos presta- das, como conclusión, las palabras del director editorial de la Cadena Cope, José Luis Restán, quien ha señalado que “Nos estamos esforzando para que la programación reli- giosa tenga unos estándares de rigor, de profesionalidad, de formato, de velocidad, de presentación, sin nada que envi- diar a ningún otro programa”42; o lo que dice el periodista Ramón Lobo, para quien la clave es “tener claro el marco, lo demás son perchas”43. Referencias ARRESE, Ángel (coord.) Empresa informativa y mercados de la comunicación. Pamplona: EUNSA, 2003. ASOCIACIÓN DE LA PRENSA DE MADRID Anuario 2005 (versión electrónica). Madrid: APM, 2006. BRU ALONSO, Manuel María. Somos libres. Madrid: Ed. Encuentro, 2006. CHAPARRO ESCUDERO, Manuel (ed.) La democratiza- ción de los medios: radiotelevisión comunitaria. Actas Congreso de radios y televisiones locales, públicas y alternativas (Se- villa, 1998) Sevilla: Diputación Sevilla, 1999. CHAPARRO ESCUDERO, Manuel (ed.) Radiotelevisión 42. “Nuestro tono debe ser firme, pero amable”. [En línea] En Alfa y Ome- ga. Entrevista de Ricardo Benjumea. Madrid, 08 noviembre 2012. [Fecha última consulta 08 noviembre 2012] Disponible en: www. alfayomega.es/noticias_digital/2012/11/20121108_Restan.php 43. LOBO, Ramón. Epílogo. En Queremos saber. Cómo y por qué la crisis del periodismo nos afecta a todos. Capellades: Debate, 2012. p. 203 Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 562 pública, local y alternativa. Perspectivas. Actas del I Congreso de radio y televisiones locales, públicas y alternativas (Jerez de la Frontera, 23-25 enero 1997) Sevilla: EMARTV, 1998. CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episcopal Medios de Comunicación Social. Plan pastoral de la CEMCS 2003-2005 Una Iglesia esperanzada “¡Mar adentro!”. [En línea] 2002 Disponible en: http://confe- renciaepiscopal.es/documentos/Conferencia/plan_pasto- ral_2002.htm CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episcopal Medios de Comunicación Social. Por una cultura de la paz. [En línea] 1 junio 2003 Disponible en: http://85.118.245.124/documentos/Conferencia/comi- siones/mcs/medios2003.htm CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Comisión Episcopal Medios de Comunicación Social. Un compromiso más activo en las comunicaciones sociales. Mensaje de los obispos de la CEMCS. [En línea] 2001Disponible en: http://85.118.245.124/mcs/jornada/comision_2001.htm CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Plan de ac- ción pastoral de la CEE y programas de las comisiones episcopales para el trienio 1990-1993. ‘Impulsar una nueva evangelización’ [En línea] 1990 Disponible en: http://www.conferenciaepiscopal.es/index.php/docu- mentos-cee.html CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Plan pas- toral para la Conferencia Episcopal (1994-1997) ‘Para que el mundo crea [En línea] 1994 Disponible en: http://www. conferenciaepiscopal.es/index.php/documentos-cee.html http://85.118.245.124/documentos/Conferencia/comisiones/mcs/medios2003.htm http://85.118.245.124/documentos/Conferencia/comisiones/mcs/medios2003.htm http://85.118.245.124/mcs/jornada/comision_2001.htm http://www.conferenciaepiscopal.es/index.php/documentos-cee.html http://www.conferenciaepiscopal.es/index.php/documentos-cee.html http://www.conferenciaepiscopal.es/index.php/documentos-cee.html http://www.conferenciaepiscopal.es/index.php/documentos-cee.html Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 563 CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA. Plan Pas- toral de la Conferencia Episcopal Española 2002-2005 ‘Una Iglesia esperanzada ¡Mar adentro! [En línea] 2001 Disponible en: http://www.conferenciaepiscopal.es/index.php/docu- mentos-cee.html COROMINAS, M.; LLINÉS, M. La experiencia catalana de radiotelevisión local. En Telos, Nº 30. Junio-Agosto 1992. COSTA I BADÍA, Pere Oriol; PÉREZ TORNERO, José Manuel; MARTÍNEZ ABADÍA, José. Realidad y perspectivas de la televisión local. Barcelona: Diputación Provincial, 1992. DÍAZ-BERNARDO NAVARRO, Juan. Anunciar a Cristo en la aldea global. Toledo: Estudio Teológico de San Ildefon- so, 2002. ESCOBAR ROCA, Guillermo (coord.) El derecho de la te- levisión: situación y perspectivas en la Comunidad de Madrid. Madrid: Dyckinson, 2004. FARIAS, P. Y MULTIGNER, G. (eds.) La televisión ante el reto del cable. Actas de las Jornadas sobre Televisión Local (Zaragoza, 19-21 enero 1995) Zaragoza: Diputación Pro- vincial, 1995. FARIÑAS MARTÍN, Javier. La televisión local en España: El modelo de negocio de Popular Televisión (2002-2006). (Tesis inéditas) Director: Manuel Ángel Fernández Sande. Uni- versidad Complutense de Madrid. Facultad CC. Informa- ción (2008) Disponible en: http://eprints.ucm.es/8254/1/ T30610.pdf FUNDACIÓN UNIVERSITARIA SAN PABLO- -CEU. Actas del II Congreso Católicos y vida pública. Edu- car para una nueva sociedad. Madrid: Biblioteca de Auto- res Cristianos, 2001. http://www.conferenciaepiscopal.es/index.php/documentos-cee.html http://www.conferenciaepiscopal.es/index.php/documentos-cee.html Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 564 GARRIDO, Francisco Javier. Comunicación estratégica. Bar- celona: Gestión 2000, 2001. IGLESIAS, Francisco. La televisión dominada. Madrid: Rialp, 1990 JUAN PABLO II. Discurso a los representantes de los medios de comunicación social [En línea] Madrid, 2 noviembre 1982. Disponible en: http:www.vatican.va/holy_father/john_ paul_ii/speeches/1982/november/documents/hf_jp-ii_ spe_19821102_comunicazione-sociale_sp.html JUAN PABLO II. Evangelium Vitae. [En línea] Santa Sede, 1995. Disponible en: http://www.vatican.va/holy_fa- ther/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_ enc_25031995_evangelium-vitae_sp.html JUAN PABLO II. Exhortación Apostólica Post-Sinodal Chris- tifideles Laici [En línea] Santa Sede 1988. Disponible en: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_ exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_31121988_christi- fideles-laici_sp.html JUAN PABLO II. La fe y la cultura, llamadas a encontrarse. Mensaje de la XVIII Jornada Mundial de las Comunicaciones Sociales [En línea] Santa Sede, 1984. Disponible en: http:// www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/ communications/documents/hf_jp-ii_mes_24051984_ world-communications-day_sp.html JUAN PABLO II. Mensaje del Santo Padre para la XVII Jornada Mundial para las Comunicaciones Sociales. [En línea] Santa Sede, 1983. Disponible en: http://vatican.va/holy_ father/john_paul_ii/messages/communications/docu- ments/hf_jp-ii_mes_25031983_world-communications- -day_sp.html. http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_31121988_christifideles-laici_sp.html http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_31121988_christifideles-laici_sp.html http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_31121988_christifideles-laici_sp.html http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/communications/documents/hf_jp-ii_mes_24051984_world-communications-day_sp.html http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/communications/documents/hf_jp-ii_mes_24051984_world-communications-day_sp.html http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/communications/documents/hf_jp-ii_mes_24051984_world-communications-day_sp.html http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/communications/documents/hf_jp-ii_mes_24051984_world-communications-day_sp.html Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 565 JUAN PABLO II. Mensaje del Santo Padre para la XXXIV Jornada Mundial para las Comunicaciones Sociales. ‘Anunciar a Cristo en los Medios de Comunicación Social al alba del Tercer Milenio’ [En línea] Santa Sede, 2000 Disponible en: www. vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/communi- cations/documents/hf_jp-ii_mes_20000124_world-com- munications-day_sp.html JUAN PABLO II. Redemptoris missio. Sobre la permanente va- lidez del Mandato Misionero [En línea] Santa Sede 7 diciem- bre 1990. nº 37 Disponible en: http://www.vatican.va/ holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp- -ii_enc_07121990_redemptoris-missio_sp.html LAPORTE, José María. Entusiasmar a la propia institución. Gestión y comunicación interna en las organizaciones sin ánimo de lucro. Madrid: Ediciones Internacionales Universitarias, 2001 LÓPEZ CANTOS, Francisco. La situación de la televisión local en España. Barcelona: Universitat Autónoma de Bar- celona, etc., 2005. LÓPEZ LITA, Rafael; FERNÁNDEZ BELTRÁN, Fran- cisco; VILAR MORENO, Fernando (eds.) Radio y televisi- ón en el ámbito local. Actas del II Encuentro de Comunica- ción Local (Castellón de la Plana, 17-19 diciembre 2002) Castellón de la Plana: Publicacions de la Universitat Jaume I, 2003. LOSADA DÍAZ, J. Carlos (coord.) Gestión de la comunicaci- ón en las organizaciones. BARCELONA: Ariel, 2004. NAVARRO MORENO, J. Antonio. La televisión local en Andalucía: la nueva comunicación. Madrid: Fragua, 1999. NIETO, Alfonso; IGLESIAS, Francisco. Empresa informativa. Barcelona: Ariel, 1993. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 566 PABLO VI. Decreto Inter Mirifica [En línea] Santa Sede, 4 diciembre 1963. Disponible en: http://www.vatican.va/ archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat- -ii_decree_19631204_inter-mirifica_sp.html PEINADO MIGUEL, F.; RODRÍGUEZ BARBA, M. D.; GALLEGO PÉREZ, J. I. Perspectiva actual de la radio y la televisión local en Madrid. Hacia la aldea universal. [En línea] Revista Enlaces, nº 4. CES, Felipe II. 2005 Disponible en: http://www.cesfelipesegundo.com/revista/numeros.html PIZARROSO QUINTERO, Alejandro. De la Gazeta Nueva a Canal Plus. Madrid: Editorial Complutense, 2002. POBLACIÓN BERNARDO, J. Ignacio; GARCÍA- -ALONSO, Pedro Organización y gestión de la empresa infor- mativa. Madrid: Cie de Inversiones Editoriales, 1997. PONTIFICIO CONSEJO PARA LAS COMUNICA- CIONES SOCIALES. Ética en las Comunicaciones Sociales. [En línea] Ciudad del Vaticano, 4 de junio 2000 Disponible en: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_coun- cils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_20000530_ethics- -communications_sp.html PRADO PICO, Emili; MORAGAS, Miguel. Televisiones locales. Tipología y aportaciones de la experiencia catalana. Barce- lona: Col.legi de Periodistes de Catalunya, 1991. PRADO PICO, Emili. Las televisiones locales en Cataluña. Barcelona: Universitat Autónoma, Departament de Comu- nicació Audiovisual i Publicitat, [1988?] ROZADOS OLIVA, Manuel Jesús. La televisión local por ondas. Granada: Comares, 2001. RUEDA LAFFOND, José Carlos; CHICHARRO ME- http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19631204_inter-mirifica_sp.html http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19631204_inter-mirifica_sp.html http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19631204_inter-mirifica_sp.html Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 567 RAYO, María del Mar. La televisión en España 1956-2006. Madrid: Fragua, 2006 SABÉS TURMO, Fernando. La radio y la televisión local en Aragón. Lleida: Milenio, 2002. SANTA SEDE. Pontificia Comisión para los Medios de Comunicación Social. Instrucción pastoral Aetatis Novae so- bre los medios de comunicación social. [En línea] Santa Sede, 22 febrero 1992 Disponible en: http://www.vatican.va/ roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_ pccs_doc_22021992_aetatis_sp.html SANTA SEDE. Pontificia Comisión para los Medios de Comunicación Social. Instrucción pastoral Communio et Pro- gressio sobre los medios de comunicación social. [En línea] Santa Sede, 18 mayo 1971. Disponible en: http://www.vatican. va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_ pc_pccs_doc_23051971_communio_sp.html SANTOS DÍEZ, María Teresa. LA TELEVISION LOCAL EN EL PAIS VASCO. Universidad del País Vasco, 2010. SERRANO OCEJA, J. Francisco (ed.) Los obispos españoles y las Comunicaciones Sociales. Madrid: Edice, 2000. LATOURELLE, René (Ed.) Vaticano II. Balance y perspecti- vas. Salamanca. Ed. Sígueme. 1989 VARIOS. Queremos saber. Capellades: Debate, 2012. http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_22021992_aetatis_sp.html http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_22021992_aetatis_sp.html http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_22021992_aetatis_sp.html http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_23051971_communio_sp.html http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_23051971_communio_sp.html http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_23051971_communio_sp.html Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 568 25. Duopolio de Mediaset España y el Grupo Antena 3 Fernando García Chamizo1 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Madrid, España Resumen Los últimos cambios legislativos en el sector audiovisual español, especialmente la posibilidad de que dos operadores se puedan fusionar si no superan el límite del 27% de la audiencia, han desembocado en una realidad de concen- tración en dos grandes grupos editoriales: Mediaset España y el Grupo Antena 3, ambos con accionariado mayoritario italiano, que se reparten más del 55 por ciento del share y, lo que es más importante, casi el 90% del mercado publicitario. 1. Fernando García Chamizo (UCM), doctor en Ciencias de la In- formación Programa Gestión de empresas informativas de la Uni- versidad Complutense de Madrid –UCM- Madrid, España, email: fernando.chamizo@hotmail.com Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 569 Palabras clave: televisión; fusión; absorción; duopolio; publicidad. Duopolio de Mediaset España y El Grupo Antena 3 En febrero de 2009 el Gobierno de España aprobó una norma que introducía el criterio de la audiencia del mer- cado televisivo como elemento decisivo para autorizar o no las operaciones de integración de operadores de televisión. Según el Real Decreto-ley de 23 de febrero: Avanza en la liberalización del sector de la televi- sión garantizando el pluralismo. La nueva normativa, que fue incluida en la Ley 7/2010, de 31 de marzo, General de la Comunicación Audiovisual (LGCA), flexibilizó los criterios que eran necesarios para tener participaciones accionariales cru- zadas en las empresas de televisión por ondas terrestres hertzianas. Así, una misma persona o entidad puede po- seer más del 5% en más de una compañía de televisión siempre y cuando la audiencia media acumulada de los operadores en los que está presente no supere el 27% de la audiencia total. Además, se permite la fusión de dos operadores del sector cuando no superen dicho límite del 27%,en el momento de la fusión o compra de ac- ciones y siempre que se garantice como mínimo la exis- tencia de tres operadores privados de ámbito estatal con dirección editorial distinta. Por ejemplo, en el mes de octubre de 2012, los canales de Mediaset España supe- raron estos límites de audiencia puesto que sumaron el 28,8%; mientras que los del Grupo Antena 3 acariciaron Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 570 el límite legal con el 26,9%2. Este límite establecido del 27% no fue casual, sino que se fijó pensando en impedir una posible fusión entre las dos grandes cadenas de televisión privadas en España: Mediaset (Telecinco) y Grupo Antena 3, que habrían proporcionado una posición de dominio en el mercado publicitario, cer- cana al monopolio y que habría puesto en entredicho la pretensión gubernamental de “pluralismo”. Tras ser aprobado el referido Real Decreto-ley, durante todo el año 2009, las diferentes cadenas privadas españolas estuvieron negociando de dos en dos para explorar los ca- minos necesarios para fusionarse: - primero, Gestora de Inversiones Audiovisuales La Sex- ta (laSexta) con Sogecable (Cuatro), que estuvo bien avanzada y no cuajó; - después, La Sexta y Grupo Antena 3, a la que Jaume Roures, presidente de Mediapro (accionista de referen- cia de La Sexta) se refirió en estos términos: Uno de los procesos que se podría contemplar3. Aunque hasta el 1 de octubre de 2012 no se realizara el traspaso efectivo del negocio, en la fusión por absorción de La Sexta, por parte del Grupo Antena 34, ya entonces 2. Vertele [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.vertele.com^ [ref. de 1-11-2012]. 3. Fórmula TV [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.for- mulatv.com^[ref. de 28-4-2009]. 4. Fórmula TV [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.for- Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 571 apuntaban a ser los socios ideales porque la productora Glo- bomedia, fundador del Grupo Imagina junto a Mediapro, y socio indirecto de La Sexta, poseía una alianza estratégica para la creación de contenidos con Antena 35. - En diciembre de 2009, Telecinco acordó con Pri- sa la compra de Cuatro por 550 millones de euros, en una fusión por absorción, en la que Sogecable (Cuatro) pasó a contar con el 18% del nuevo grupo fusionado. El conglomerado pasó a gestionar ocho canales de TDT6 dirigidos por ofertas de segmentación a distintos tipos de públicos, llegando al 25,2% de audiencia conjunta, dentro, por tanto, del umbral legal permitido7. El 28 de octubre de 2010, y tras estudiarlo durante seis meses, la CNC (Comisión Nacional de la Compe- tencia) dio luz verde a la operación de fusión, ya que Telecinco se comprometió a no vender mediante un mismo paquete comercial la publicidad de los dos cana- les de televisión en abierto de mayor audiencia de entre los que gestiona, con la condición adicional de que la mulatv.com^ [ref. de 30-10-2012]. 5. GARCÍA CHAMIZO, F. El Nacimiento de La Sexta: Análisis de una nueva estrategia competitiva de televisión generalis- ta. Servicio de Publicaciones Universidad Complutense: EdUFF, 2009. 569 p. (Colección Digital de Tesis de la UCM) Bibliografía: p. 535. ISBN 978-84-692-7621-1. 6. Telecinco, Cuatro, FDF, La Siete, Energy, Divinity y Boing. 7. SPORT [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.sport.es^ [ref. de 26-2-2010]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 572 audiencia conjunta no sea superior al 22%8. - Y el 25 de abril de 2012 la Junta General de Accio- nistas de Antena 3 aprobó el acuerdo9 de 14 de diciembre de 2011 suscrito entre Antena 3 y La Sexta para la inte- gración de ambas compañías10. El 31 de octubre de 2012, Antena 3 elevó en el Registro Mercantil de Madrid la es- critura pública de su fusión con la extinción de La Sexta y la transmisión en bloque y la transmisión del patrimonio de ésta a favor de Antena 311 a cambio del 7% del capital social del nuevo Grupo Antena 3, que con la suma de La Sexta, alcanza también ocho canales de televisión12 que abarcan 8. El Mundo [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.elmundo. es^ [ref. de 5-11-2010]. 9. Los accionistas de La Sexta (GAMP Audiovisual S. A., Grupo Tele- visa S. A. B. y Gala Desarrollos Comerciales S. L., así como Imagina Media Audiovisual S. L., que sustituyó a Grupo Televisa S. A. B. como accionista de La Sexta) recibieron, por un lado, a cambio 13.438.704 acciones ordinarias de Antena 3 de nueva emisión, para negociar en el Mercado Continuo y, por otro, 1.181.296 acciones de nueva clase, que carece del derecho a percibir dividendos du- rante un plazo de 24 meses, desde la fecha de la inscripción de la fusión y cuya admisión a cotización no se producirá hasta dicha fecha. Una vez ejecutada la fusión, el capital social de Antena 3 pasa a estar representado por un total de 225.723.800 acciones. Grupo Antena 3. Comunicaciones de hechos relevantes a la CNMVde 14 de diciembre de 2011 y de 31 de octubre de 2012. 10. Grupo Antena 3. Nota de prensa de 25 de abril de 2012. 11. Grupo Antena 3. Comunicación de hecho relevante a la CNMV de 31 de octubre de 2012. 12. Antena 3, laSexta, Neox, Nova, Nitro, Xplora, laSexta 3 y Gol TV Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 573 de forma complementaria y variada demandas, tanto de es- pectadores, como de anunciantes. La ejecución de la fusión y de los acuerdos complemen- tarios estaba condicionada a la obtención de las pertinentes autorizaciones regulatorias y de competencia. En julio de 2012, la CNC autorizó con 5 condiciones la fusión entre Antena 3 y La Sexta para: Garantizar el mantenimiento de la competencia13 Durante el proceso de fusión, las dos empresas manifes- taron su disconformidad por las condiciones de la autoriza- ción de la CNC, que calificaron como: Injustas y discriminatorias, mayores que las que se fijaron en la fusión de Cuatro y Telecinco, haciendo la operación inviable de facto14. Comunes a ambos procesos, la CNC impuso: 1- El hecho de no poder vender en un mismo paque- te comercial la publicidad de los dos canales de mayor audiencia (Telecinco y Cuatro; Antena 3 y laSexta, res- pectivamente) 2- Imposibilidad de desarrollar políticas comerciales (en régimen de alquiler). 13. El Mundo [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.elmundo.es^ [ref. de 13-07-2012]. 14. El Mundo [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.elmundo.es^ [ref. de 17-07-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 574 que supusieran la imposición de unos productos publi- citarios sobre otros. En el caso de Antena 3-La Sexta la CNC añadió: 3- La obligatoriedad de la publicación trimestral de su oferta de productos publicitarios. 4- Prohibición de ampliar su oferta de canales de tele- visión en abierto, mediante el arrendamiento de canales de TDT de terceros operadores e imposibilidad de blo- quear las mejoras de calidad de los canales de televisión con los que comparta múltiplex de televisión digital te- rrestre hasta 2015. 5- Limitación de la duración de sus contratos de ad- quisición exclusiva de contenidos a tres años, sin in- cluir derechos de adquisición preferente o prórroga; y obligación de restringir su capacidad para excluir a las productoras de televisión nacionales como oferentes de programas a competidores de televisión en abierto. Estas condiciones estaban estipuladas para ser cumplidas durante cinco años15. Sin embargo, un mes después, el propio Gobierno, en decisión adoptada en el Consejo de Ministros, suavizó las exigencias de la CNC para posibilitar que se llevara a cabo la integración de manera definitiva. El Ejecutivo español eliminó la obligación a la entidad resultante de comercia- lizar los espacios publicitarios a través de sociedades dife- rentes, aumentando al 22% en lugar del 18% la limitación de la audiencia semestral media conjunta a las ofertas de 15. El Mundo [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.elmundo. es^ [ref. de 13-07-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 575 publicidad resultante, empaquetando varios canales de te- levisión (lo que, de hecho, permite la venta conjunta de espacios para los canales de mayor audiencia: Antena 3 y laSexta). Asimismo, el Gobierno modificó la prohibición de vinculación en la comercialización de espacios publici- tarios y descartó la obligación de informar trimestralmente sobre la oferta de productos publicitarios. Además, deses- timó las condiciones sobre el proceso de negociación con anunciantes y agencias de medios, sobre el mantenimiento de determinadas bases de datos y sobre la negociación de las primas extra. Respecto al plazo de vigencia de las con- diciones resultantes, a las que se supedita la operación de concentración, pasa a ser de tres años más otros dos pro- rrogables16 si no se modifican las circunstancias de mercado que hicieron necesarios los compromisos. Se trata de la primera vez desde la aprobación de la Ley 15/2007, de 3 de julio, de Defensa de la Competencia, que el Gobierno hace uso de la potestad de adoptar una deci- sión en una operación de concentración, cuando la CNC la da el visto bueno con condiciones. La vicepresidenta del Gobierno, Soraya Sáenz de Santamaría lo justificó alegando el interés general: No por razones de Competencia, sino por el mo- mento particular del mercado audiovisual. La ope- ración coincide con el proceso del dividendo digital y la necesidad de reorganizar el espectro radioeléc- trico, que aconsejaba la existencia de operadores de determinado tamaño, que ayudara a este tránsito y a 16. El Mundo [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.elmundo. es^ [ref. de 24-08-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 576 la existencia de un pluralismo informativo17. A propósito del dividendo digital y, en plena sintonía, el Gobierno y UTECA (Unión de Televisión Comerciales Asociadas) el 23 de agosto de 2012 firmaron un acuerdo para impulsar la televisión de alta definición El dividendo digital es un proceso que pone en marcha la UE (Unión Europea)con el fin de apro- vechar las ventajas que la telefonía móvil 4G (de cuarta generación) traerá a los ciudadanos en forma de innovación y servicios en movilidad, crecimien- to económico y empleo (unos beneficios estimados para Europa de 150.000 millones de euros). Con el acuerdo se reduce de seis a cinco el número de múltiplex asignados a los operadores privados de televisión, aunque se mantiene la oferta de televi- sión privada de 24 canales de ámbito nacional, uti- lizando el espectro de manera más eficiente, gracias a las mejoras tecnológicas en la compresión de las señales de televisión. El acuerdo se orienta a fo- mentar el desarrollo de la oferta de televisión HD (Alta Definición) y de la industria de fabricación de equipos y tecnologías asociadas a la TDT18. Sin embargo, el 7 de noviembre de 2012 en la reu- nión del Consejo Asesor de las Telecomunicaciones y de la Sociedad de la Información del Ministerio de Industria 17. El Mundo [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.elmundo. es^ [ref. de 24-08-2012]. 18. UTECA [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.uteca.es^ [ref.de 23-08-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 577 (CATSI) con UTECA, las televisiones privadas mostraron Su absoluto rechazo al borrador de Real Decreto regulador del proceso liberador del dividendo digi- tal, por entender que pone en riesgo la continuidad de la recepción por los ciudadanos de todos los ca- nales actuales de televisión gratuita, y traslada a los ciudadanos el coste de una nueva antenización de sus hogares19, después de que el Gobierno ingresara de operadores de telecomunicaciones más de 1.800 millones de euros por la subasta de las frecuencias asociadas al dividendo digital, cantidad que debería ser parcialmente destinada a financiar este proceso, según establece la Ley de Economía Sostenible20. Cabe señalar que en junio de 2012, la propia CNC abrió un expediente sancionador a Mediaset porque podría haber incumplido Varios de los compromisos que asumió voluntaria- mente y que posibilitaron la autorización de con- centración Telecinco / Cuatro21 Finalmente, tras la aprobación por parte de Competencia de la fusión, tanto la AEA (Asociación Española de Anun- ciantes) como una de las cadenas de televisión temáticas 19. UTECA calcula que unos 20 euros por hogar. 20. UTECA. Nota de prensa de 7 de noviembre de 2012. 21. El Mundo [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.elmundo. es^ [ref. de 7-06-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 578 afectadas, Intereconomía, emprendieron diversas medidas de protesta al entender que perturba el pluralismo. En el caso del Grupo Intereconomía presentó un recurso de reposición al Gobierno exigiéndole que prohibiera la concentración Las razones de interés general, que se esgrimen en el acuerdo impugnado de modificar las condiciones impuestas por la CNC, no son realmente razones de interés público, sino de interés particular entre Antena 3 y La Sexta. Con el acuerdo aprobado, se blinda la posición abusiva de dos macrogrupos que acaparan más del 85% de los ingresos de publicidad y se excluye de facto al resto de operadores22. Por su parte, la AEA tiene previsto recurrir la medida contra el supuesto interés general alegado por el Ejecutivo para cambiar las condiciones impuestas por Competencia a la fusión Puesto que el auténtico interés general, el de todos, es el del derecho a la competencia23. Económicamente, los efectos de la crisis del mercado publicitario en España, que en los primeros nueve meses de 2012 ha sido del 16,7%, (del 19,6% sólo en el tercer trimestre)24 también han afectado a los dos grandes gru- 22. La Gaceta [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.periodista- digital.com^ [ref. de 20-09-2012]. 23. Vertele [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.vertele.com^ [ref. de14-10-2012]. 24 Pr Noticias [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.prno- Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 579 pos audiovisuales privados que operan en el mercado espa- ñol. De tal forma, que entre enero y septiembre de 2012, Mediaset España Comunicación S. A. obtuvo un beneficio neto de 40,7 millones de euros, lo que supuso un descenso del 60,2 % con relación al logrado en el mismo periodo del año anterior- según informó la compañía a la CNMV (Comisión Nacional del Mercado de Valores)25-. Resultadosmediaset España nueve meses 2012 Vs. 2011 Peor le ha marcharon las cosas al Grupo Antena 3 en el mismo periodo, al ver reducidos sus beneficios en un 91% hasta los 4,6 millones de euros, por 52 millones de euros de ticias.com^ [ref. de 31-10-2012]. 25. El Economista [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.eleco- nomista.es^ [ref. de 24-10-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 580 los tres primeros trimestres de 201126. Los ingresos bajaron un 11,2% (512,9 millones de euros) y los gastos de explota- ción alcanzaron los 489 millones de euros, un 1,7% menos que entre enero y septiembre de 2011. En la nota enviada por el Grupo Antena 3 a la CNMV explica El mayor coste incurrido por la compra de los derechos de la Fórmula 1 ha podido ser com- pensado por el ahorro en costes de la progra- mación de televisión, la sistemática y racional política de contención de gastos y el descenso en las amortizaciones de películas de cine27. Resultadosgrupo Antena 3 nueve meses 2012 Vs. 2011 Fuente: Elaboración propia 26. Pr Noticias [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.prnoticias. com^ [ref. de 31-10-2012]. 27. Pr Noticias [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.prnoticias. com^ [ref. de 31-10-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 581 El 1 de enero de 2010, TVE dejó de emitir publicidad, liberando para las televisiones privadas alrededor de 500 millones de euros. En un contexto de crisis generalizada, UTECA recibió la noticia como si de una transfusión se tratase, en palabras de quien entonces presidía la asociación, Alejandro Echevarría. Ese primer año (2010) sin la compe- tencia del gigante público, Mediaset obtuvo beneficios des- pués de impuestos de: 113,934 millones de euros (146,349 millones de euros de explotación). Al año siguiente, sus nú- meros se incrementaron hasta 137,264 millones de euros (89,439 millones de explotación)28. En los mismos ejerci- cios, el Grupo Antena 3 registró unos benefícios de 91,818 millones de euros (123,057 millones de euros de explota- ción) y 96,184 millones de euros, respectivamente (97,351 millones de euros de explotación)29. Según los datos de inversión publicitaria aportados por InfoAdex, en 2011 el mercado tuvo una tasa de crecimien- to negativo del 6,5% hasta 12.061 millones de euros, tras la tímida recuperación que se había producido en el año 2010 (12.893 millones de euros). Los datos de inversión real esti- mada por este informe para el medio Televisión fueron aún peores con un decremento del 9,5%, ya que la cifra se situó en 2.237 millones de euros, frente a los 2.471,9 millones de euros de 2010. De ellos, cerca de 2.000 millones de euros (1.977 millones de euros) correspondieron a las televisiones nacionales en abierto, entre las que se encuentran todas las privadas: ya sean generalistas o temáticas. Respecto a 2010, 28. Mediaset España [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.me- diaset.es^ [ref. de 22-02-2012]. 29. Grupo Antena 3 [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.gru- poantena3.com^ [ref. de 22-02-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 582 este colectivo cayó un 7,1% (2.128 millones de euros de inversión real estimada). Conviene recordar que, antes de que estallara la crisis, en el año 2007 la inversión publicitaria en el medio Televisión alcanzó los 3.468,6 millones de euros, de los cuales más de tres mil millones de euros (3.002,9 millones de euros) se los repartieron los operadores nacionales en abierto, TVE incluída. En los primeros nueves meses de 2012, la contracción del mercado televisivo fue aun mayor, según InfoAdex: un 18,3%. Atendiendo a los datos de inversión que las cadenas que cotizan Bolsa (-12,8% entre Mediaset y Antena 3) han ido facilitando a la CNMV, y a falta de los números del cuarto trimestre, si aplicamos un porcentaje de descenso “generoso”de solo el 10%, podemos aventurar que el me- dio Televisión no llegará a recaudar 2.000 millones de euros en el ejercicio 2012. Esto quiere decir que en cinco años, habrán desaparecido del mercado publicitario más de 1.550 millones de euros: lo que significa un 45% de caída de la principal fuente de financiación de las televisiones privadas. Cada año, los distintos operadores han ido tratando de aquilatar sus cuentas de resultados, por la vertiente de los gastos, reduciendo sensiblemente la partida de inversión en derechos televisivos. Sin embargo, se veía que el mercado era demasiado pequeño para tantos operadores privados: seis. Y la dinámica incesante de retroceso en los ingresos por venta de espacios en su programación desembocó en toda una revolución del sector audiovisual, en donde el lo- bby de UTECA tuvo el poder suficiente para conseguir que los distintos gobiernos, socialistas y populares, legisla- ran de acuerdo a sus intereses en multitud de frentes como: - eliminación de la publicidad en TVE a través de las leyes: Ley 17/2006, de 5 de junio, de Radio y Televisión de Titularidad estatal y Ley 8/2009, de 28 de agosto, de Financiación de la Corporación RTVE; Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 583 - la Ley de 7/2010, de 31 de marzo, General de la Comunicación Audiovisual (LGCA), que agrupó la dis- persión de normas vigentes, que afectaban a la televisión privada, justifica en su exposición de motivos Y todo con la misión de dar seguridad jurídica a la industria y posibilitar la creación de grupos em- presariales audiovisuales con capacidad de competir en el mercado europeo y la apertura regulada de nuevos modelosde negocio como son: la TDT, la Alta Definición y la TV en Movilidad; y hacerlo garantizando también el pluralismo30. La LGCA amplió cinco años el periodo de concesión de la licencia a los operadores privados de televisión, hasta quince. Introdujo como novedades la renovación automá- tica si se cumplen determinados requisitos y reconoce la posibilidad de arrendar o ceder licencias en determinadas condiciones. Limita a los titulares de las licencias el acceso condicional o de pago al 50 % de los canales concedidos. En el título V crea y regula la autoridad audiovisual es- tatal: el Consejo Estatal de Medios Audiovisuales (CEMA). Con respecto a la concentración de operadores, aparte del límite ya referido del 27% de la audiencia, entre las doce leyes del audiovisual que derogó por completo o en parte (otras seis), cabe destacar dos: la Ley 46/1983, de 26 de di- ciembre, del Tercer Canal y la Ley 10/1988, de 3 de mayo, de Televisión Privada (1988); - el Real-Decreto ley de 23 de febrero de 2009, ya reseñado 30. Boletín Oficial del Estado. Número 79 (1 de abril de 2010), Ma- drid. 1936 -. p. 30157 y 30158. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 584 - y la propia resolución favorable del Consejo de Minis- tros del 24 de agosto de 2012, autorizando la fusión de Antena 3 y La Sexta. La mayoría de todas estas medidas, a petición del sector de televisiones privadas, iban destinadas a redimensionar el panorama del Audiovisual en España, que queda bien dife- renciado con dos grandes grupos: Mediaset y Antena 3. Am- bos gestionan dos múltiplex de TDT, ocho canales cada uno, siete reales, y utilizan parte del espectro radioeléctrico para sus canales principales en alta definición (Telecinco HD y Cuatro HD; Antena 3 HD y laSexta HD, respectivamente). La competencia entre los dos grupos, con mayoría ac- cionarial italiana31 es feroz, tanto en el sector de la audiencia como en el de la publicidad. Ambos gigantes comercializan sus espacios publicitarios a través de sus respectivas empresas exclu- sivistas de publicidad: Publiespaña (Mediaset) y Atres Adverti- sing (Antena 3). Por cierto, que el Grupo Antena 3 continúa apostando por la pauta única de publicidad, que empezó a utili- zar a la vez entre Antena 3, Neox y Nova, en tres de sus canales: Antena 3, Antena 3 HD y Nova. Esto significa que cuando el canal principal emite publicidad, los mismos anuncios salen simultáneamente al aire también en los otros dos canales. Estos dos grupos audiovisuales viven para sus accionistas, a los cuales destinan parte de sus beneficios anuales en for- 31. Tras la fusión, el nuevo accionariado del Grupo Antena se lo repar- ten Planeta-D’Agostini (41,7%), RTL (19,2%), Autocartera (7%) y La Sexta (7%), además del 25,1% que opera en Bolsa. El País [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.elpais.com^ [ref. de 6-10-2012]. El de Mediaset España, igualmente está dominado mayoritariamente por manos italianas a 31 de diciembre de 2011: Mediaset España (50,1%: Mediaset Investimenti 41,6% y Grupo Prisa 17,3%); Capital flotante (48,46%) y Autocartera (1,44%). Mediaset [en línea]. Dispo- nible en Web: ^http://www.mediaset.es^ [ref. de 27-12-2011]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 585 ma de dividendo: Mediaset repartió con cargo a los resulta- dos de 2011 55,2 millones de euros (0,14 euros por acción el 14 de abril de 2012) y Antena 3 89,4 millones de euros (en dos pagos de 0,23 y 0,22 euros por acción). Además, pueden encontrarse simetrías estructurales ineludi- bles en prácticamente cada una de sus áreas de actividad. Por ejemplo, Telecinco y Antena 3 son las cadenas generalistas prin- cipales que compiten por liderar los rankings de audiencia y, sobre todo, el target comercial32; a su vez, Cuatro y laSexta se mi- den por las audiencias generalistas secundarias, que hasta las res- pectivas fusiones, se circunscribían a los varones adultos jóvenes. Comparativaevolución audiencia cuatro y la sexta Oct. 2011-2012 Fuente: Formulatv.com 32. Share de audiencia en un determinado segmento de público objetivo. Cabe destacar que este concepto puede variar según las cadenas y los años. Sirva como ejemplo en 2012, el target comercial para Mediaset: grupo de audiencia compuesto por individuos entre 16 y 59 años, que vive en poblaciones de 16 a 59 años; cuando Antena 3 en 2009 lo limi- taba sencillamente a individuos entre 16 y 54 años. El punto esencial del target comercial, el preferido por los anunciantes a la hora de emplazar sus campañas publicitarias es que se trate de potenciales consumidores. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 586 Cada grupo tiene una estrategia multicanal con ofertas de segmentación temática, casi siempre enfrentadas a su rival: - infantil: de 4 a 12 años: Boing (Mediaset); - público joven de entre 13-24 años: FDF y La 7 (Me- diaset) y Neox (Antena 3); - dirigidas al público femenino: Divinity (Mediaset) y Nova (Antena 3); - dirigidas al público masculino, que emite deportes mi- noritarios: Energy (Telecinco) y Nitro (Antena 3); - dedicada al documental: Xplora (Antena 3) y - destinada al cine: laSexta3. Igualmente, compiten por la compra de derechos exclu- sivos, que puedan suponer, sobre todo,una inyección publi- citaria adicionalen lugar de únicamente grandes cuotas de pantalla. Así, mientras el Grupo Antena 3 heredó en febrero de 2012 de laSexta la emisión del Campeonato Mundial de Fórmula 133, que previamente y con idéntico formato había sido emitida también en Telecinco; Mediaset decidió apostar por el Mundial de Motociclismo, que había sido durante décadas exclusiva de TVE. Su intención es fabricar una octava franja semanal de prime time, coincidente con el horario de las carreras, para poder explotarlo comercial- mente, con la emisión durante gran parte de ellas en doble ventana: anuncios simultáneos a las pruebas deportivas con la partición de la pantalla. Merece la pena subrayar que ninguno de los dos grupos de operadores, en el contexto de crisis de ingresos publicitarios, 33. Promediando en los catorce Grandes Premios disputados hasta el 30 de septiembre una audiencia media de 38,3%. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 587 parece dispuesto a volver a pagar precios exorbitantes por la emisión de encuentros de fútbol, puesto que ambos coincidían en la inflación que la competencia por la audiencia entre dis- tintos canales había provocado en el sector. El último ejemplo, el 11 de octubre de 2012, fue la no emisión en abierto por primera vez en 31 años de un partido de la selección española absoluta de fútbol: Bielorrusia-España al no estar ninguno de ellos dispuesto a pagar lo que pedía la empresa tenedora de los mismos (3 millones de euros). Otra muestra es que el partido en abierto de la Liga BBVA, que cada jornada debe emitirse en España según dicta el Catá- logo Anual de Acontecimientos Deportivos de Interés Gene- ral, Mediapro se lo adjudicó a Marca TV, una cadena temática de Deportes, con la que está vinculada, al no satisfacerle el resto de ofertas a la baja com respecto a las subastas anteriores que le habían presentado otros cuatro operadores34. Por la Eurocopa de 2012 de Ucrania y Polonia, que ganó España y permitió a Telecinco terminar junio con su mejor audiencia mensual desde 2009 (16,7%), Me- diaset pagó 60 millones de euros por 31 partidos, mien- tras que por la Champions League de 2006-2009, Ante- na 3 abonó 26 millones de euros por emitir 13 partidos por temporada. Cada partido que emitió, le supuso una perdida de un millón de euros35. En cuanto a la producción cinematográfica, Mediaset posee Telecinco Cinema (Tadeo Jones y Lo imposible entre 34. Mediapro [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.mediapro. es^ [Ref. de 27-9-2012]. 35. 129º Seminario AEDEMO de Televisión. Toledo, 10-12 de febrero de 2010. GARCÍA CHAMIZO, Fernando. “La fragmentación de las audiencias de televisión como consecuencia del fútbol”. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 588 otros títulos) y Antena 3, Antena 3 Films (Fin, Los últimos días), que canalizan la obligación de financiación cinemato- gráfica de obras europeas, a las que obliga la LGCA. Los otros dos grupos privados con licencia de TDT son menores: Vocento y Unidad Editorial, con cuatro y tresca- nales de TDT, respectivamente y cuyos datos de audiencia acumulados se sitúan en torno al 8%36. Las cadenas de televisión que no pertenecen a los gran- des grupos, (Mediaset, Antena 3 y Corporación RTVE) co- sechan de forma conjunta algo más de la cuarta parte de la audiencia (26,7%) y en cuanto a ingresos publicitarios el reparto del resto del pastel es todavía másdesigual. Por ejem- plo, en los primeros nueve meses de 2012, Mediaset acaparó el 45,4% del mercado publicitario en Televisión; Antena 3 (aún sin laSexta) en torno al 37%, esto es, los dos grandes grupos se apropian de más del 82% de los ingresos televi- sivos. El descenso en las cadenas autonómicas agrupadas en la FORTA (Federación de Organismos de Radio Televisión Autonómicos) fue del 36,3%, en concreto pasó de 153,8 millones de euros entre enero y septiembre de 2012 a 98 millones de euros en el mismo periodo de 201237. El reparto de ingresos publicitarios en 2011 para estas ca- denas públicas que, aún cuentan con el sistema doble de finan- ciación (subvención pública del Gobierno de la Comunidad Autonóma respectiva y venta de publicidad)supuso alrededor del 9% del negocio televisivo español (198 millones de euros); 36. Vocento 4,5% (Disney Channel, Paramount Channel, Interecono- mía y MTV) y Unidad Editorial 3,6% (Marca TV, Discovery Max y 13TV), según datos de Kantar Media del mes de octubre de 2012. 37. Pr noticias [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.prnoticias. com^ [ref. de 2-11-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 589 por 60,2 millones en el mismo ejercicio para los canales de pago y apenas 2 millones de euros para las televisiones locales. Por el lado positivo y a pesar de las múltiples ventanas de exhibición (Internet, teléfonos inteligentes, y la propia pantalla tradicional) el consumo38 de televisión en España sigue aumentando, año a año (31 minutos más por persona y día en los últimos diez años). Asimismo, la fragmentación de audiencias por la mayor oferta de canales, que no de grupos editoriales, ha hecho que: 1- Se lidere el mes con varios puntos de cuota menos que hace pocos años39; 2- La audiencia se valore también en cuanto a grupos de canales, privados40 y públicos. 38. En octubre de 2012 batió el récord histórico de ese mes con 251 minutos por persona y día, 5 minutos más que en el mismo mes de 2011 y 17 minutos más que en septiembre de 2012. De promedio, desde el año 2008, el consumo de televisión en España durante el mes de octubre ha aumentado un 11,5%, desde 3 horas y 45 minu- tos hasta superar las cuatro horas diarias.Barlovento Comunicación [en línea]. Disponible en Web: ^http://www.barloventocomunica- cion.es^ [ref. de 2-11-2012]. 39. 14,9% en octubre de 2012 para Telecinco, líder initerrumpido des- de marzo de 2012, Antena 3 fue segunda en el mismo periodo con el 13,1%. Ambas cadenas subieron 1,1 puntos y 0,4 puntos, respectivamente, con respecto a septiembre de 2012, según datos de Kantar Media. Vertele [en línea]. Disponible en Web: ^http://www. vertele.com^ [ref. de 1-11-2012]. 40. En octubre de 2012, los siete canales del grupo Mediaset man- tuvieron su cuota conjunta, sumando el 28,8% de la audiencia, mientras que el Grupo Antena 3, que por primera vez incluyó a los tres canales de La Sexta en su agregado, mejoró cuatro décimas y sumó el 26,9%. Vertele [en línea]. Disponible en Web: Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 590 Antes de que terminara la temporada 2010-2011, Me- diaset decidió (en mayo de 2011) que no renovaría su con- trato con Gestmusic7, la productora que diariamente le reportaba en Cuatro importantes registros de audiencia: El Hormiguero y Tonterías las justas, que pasaron a emitirse la temporada 2011-2012 y producidos por 7 y Acción en dos canales del grupo rival: Antena 3, El Hormiguero 3.0 y Otra Movida en Neox. Esto supuso el descenso de Cuatro en medio punto en el primer trimestre sin su emisión, tal y como podemos observar en el siguiente gráfico. Share de cuatro tras su integración en mediaset España (Enero 2010- Diciembre 2011) Fuente: Formulatv.com El derrotero que parece haber tomado el mercado de la Televisión privada en España es el de una realidad muy concentrada, que podemos calificar como duopolio a favor de los dos grandes grupos Mediaset España y Antena 3. ^http://www.vertele.com^ [ref. de 1-11-2012]. Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 591 Estos no dudan en emplear su amplia gama de canales para cumplir con el ineludible compromiso de pagar dividen- dos a sus accionistas todos los ejercicios contables. Mientras, que los otros grupos de televisiones privadas, que ostentan la licencia de otros siete canales, entre propios y alquilados, solo podrán conformarse con las migajas de ingresos que les dejen estos, y excepcionalmente, con la posible publi- cidad que liberen las cadenas públicas de la FORTA, que aboguen por imitar el modelo RTVE(antes BBC) de eli- minación total de la publicidad. Referencias Boletín Oficial del Estado. Número 79 (1 de abril de 2010), Madrid. 1936 -. p. 30157 y 30158. GARCÍA CHAMIZO, F. El Nacimiento de La Sexta: Aná- lisis de una nueva estrategia competitiva de televisión ge- neralista. Servicio de Publicaciones Universidad Complu- tense: EdUFF, 2009. 569 p. (Colección Digital de Tesis de la UCM) Bibliografia: p. 535. ISBN 978-84-692-7621-1. 129º Seminario AEDEMO de Televisión. Toledo, 10-12 de febrero de 2010. GARCÍA CHAMIZO, Fernando. “La fragmentación de las audiencias de televisión como conse- cuencia del fútbol”. http://www.barloventocomunicacion.es [ref. de 2-11-2012] http://www.eleconomista.es [ref. de 24-10-2012] http://www.elmundo.es [ref. de 5-11-2010] http://www.elpais.com [ref. de 6-10-2012] http://www.formulatv.com [ref. de 2-11-2012] Panorama da Comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la Comunicación y de los medios en Brasil y España 592 http://www.grupoantena3.com [ref. de 22-02-2012] http://www.mediapro.es [ref. de 27-9-2012] http://www.mediaset.es [ref. de 22-02-2012] http://www.periodistadigital.com [ref. de 20-09-2012] http://www.prnoticias.com [ref. de 2-11-2012] http://www.uteca.es [ref.de 7-11-2012] http://www.vertele.com [ref. de 1-11-2012] Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 593 26. Retratos de “Gabriela” – um recorte cronológico/cultural na teledramaturgia brasileira sob o olhar da mídia Gláucia Jacuk Herman1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo O objetivo do presente artigo é tecer uma abordagem comparativa entre as duas “Gabrielas” da Rede Globo – 1975 e 2012. Assinalando as aproximações e os distancia- mentos e a apreciação da mídia ao tratar de um “remake” que resgata uma das personagens femininas mais emblemá- ticas da literatura e da teledramaturgia nacional. Palavras-chave: Adaptações; Telenovela ; Literatura; Narrativa. 1. Gláucia Jacuk Herman- Docente da UNIP – Universidade Pau- lista e da FIT – Faculdade Impacta de Tecnologia, Mestre e Dou- toranda em Comunicação pela UNIP – Universidade Paulista, sob orientação do Dr Antônio Adami. Email: gjherman@uol.com.br. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 594 1. Introdução O presente artigo pretende traçar um breve comparati- vo entre as Telenovelas da Rede Globo: Gabriela (1975) e a trama homônima ainda em exibição (out/2012). Nosso objetivo é o de construir um paralelo entre os dois produtos audiovisuais, sob o olhar da cultura popular brasileira: “... as novelas literárias trazem em- butida a ideia de uma recuperação do passado, das raí- zes e tradição, enfim, o resgate de uma brasilidade que seria repassada para o telespectador através de obras que enfocam diferentes momentos históricos”. (CALZA: 1996, P. 97) Nosso questionamento aqui proposto busca refletir sobre duas narrativas que têm a mesma fonte - o livro de Jorge Amado - e foram exibidas na mesma emissora, com uma distância temporal de 37 anos. Intentaremos apurar as principais disjunções, ou seja, as característi- cas diferenciadoras entre as duas obras ficcionais, apre- ender quais os efeitos destas reconstruções, e como estas disparidades poderiam se traduzir na maneira como é retratada a personagem principal - a morena Gabriela que chacoalha a cidade de Ilhéus com sua beleza , ino- cência, brejeirice e sensualidade. Lembrando que a obra é de 1958, observemos abaixo os trechos do texto que descrevem a personagem principal. Exclamações ressoavam à sua entrada: aquele passo de dança, os olhos baixos, o sorriso es- palhando-se dos seus lábios para todas as bocas. (AMADO, 2012, p. 141) - Quem não se apaixonou por ela na cidade? Se ela fosse candidata a intendente derrotaria o Capitão e Maurício, até os dois juntos. Todo mundo votava Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 595 nela.[...] Ela tem qualquer coisa que ninguém tem. Você não viu no baile de Ano-novo? Quem arras- tou todo mundo para a rua, para dançar reisado? Creio que é essa força que faz as revoluções, que promove as descobertas. (IDEM, p. 314) Trataremos também da sociedade brasileira, de sua história e do entrelaçamento entre as modificações nos costumes e o papel da teledramaturgia na configuração deste novo cenário. Nossa principal fonte de referência é a imprensa bra- sileira e como esta dialogou ( e ainda dialoga ) com as telenovelas, e em especial com “ Gabriela”, para tanto utilizamos como fonte de pesquisa o site TV Pesquisa da PUC – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro , que é um Banco de Dados sobre a Televisão brasileira com acervo de matérias publicadas em diver- sos jornais e revistas brasileiros , tais como: O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Isto É, Época, Veja entre outros - com atualização diária desde 1967 e 173240 matérias jornalísticas cadastradas em 21.10.2012. Nosso trabalho se justifica pela importância da televi- são, especialmente da Telenovela no cenário brasileiro e de sua influência em todas as camadas sociais, seu poder de mobilização e seus efeitos nos padrões de comportamen- to. O resgate de parte da história das Telenovelas no Brasil é fundamental para a melhor compreensão das dinâmicas sociais, políticas e econômicas envolvendo o indivíduo e a sociedade na qual está inserido. Hoje se reconhece a novela como instituição na- cional. [...] A telenovela tornou-se uma arte res- peitável em suas particularidades. Uma arte popu- lar, brasileira, com vida própria, desenraizada dos conceitos filosóficos e acadêmicos com que tentam Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 596 interpretá-la. [...] Isso não leva a definir o gênero como sub-arte. (FERNANDES, 1997, p. 21) Gostaríamos de salientar que não pretendemos aden- trar às discussões sobre a Cultura de Massas, e o conceito de alienação, ou seja, como o meio televisivo serviria de acordo com alguns teóricos, para disseminar uma padro- nização do agir e do pensar, reconhecemos que a TV é o meio de comunicação de grande importância e alcance na sociedade brasileira e vamos tratar da popularidade e abrangência da telenovela, tendo como eixo as diferentes representações de Gabriela e as suas repercussões. 2. A magia da Telenovela Uma definição objetiva de telenovela seria: uma nar- rativa transmitida em capítulos pela televisão. No Brasil ela assume um papel muito relevante, é o principal produto televisivo e alcança uma relevância social de proporções gi- gantescas como formadora de opiniões e fonte principal de entretenimento e informação de boa parte da população. Como produto da indústria cultural, de grande aceitação popular, a telenovela tem ocupado destaque na grade de programação das principais emissoras do país. 3. O Brasil e as telenovelas – a consolidação de um gênero Muitos estudiosos têm se debruçado sobre o fenômeno das telenovelas, sabemos que hoje o Brasil é um grande exportador do gênero que dissemina a cultura brasileira a mais de 80 países em todo o mundo, mas até o final da Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 597 década de 1960 , o país importava textos, roteiristas e dire- tores de países da América Latina. A primeira modificação nesse modelo de produção se deu quando a recém-inaugurada Tv Globo, sob a direção de Walter Clark, montou um departamento de produção de novelas dentro da própria emissora, rompendo com a organização da produção que deu nome às soap operas norte-americanas e ini- ciando o modelo verticalizado, até hoje em vigor. (HAMBURGER, 2005, p. 84) 4. Uma cronologia de Gabriela As três “Gabrielas”- da esquerda para direita: Janete Vollu (1961 – TV Tupi) , Sônia Braga (1975- TV Globo ) e Juliana Paes (2012 – Rede Globo) fonte:..http://trivialstilum.blogspot.com.br/2012/09/re- make-2012-de-gabriela-adoroooo.html Como parte do cerne de nosso trabalho, considera- mos oportuno delinear um panorama de “Gabriela” na teledramaturgia brasileira, acreditamos que tal incursão   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 598 ajudará na delineação do escopo de nossa pesquisa. Vamos iniciar pelo romance de Jorge Amado : Gabriela, cravo e canela: crônica de uma cidade do interior. O livro foi concluído em Petrópolis, Rio de Janeiro, no mês de maio de 1958, sua 1ª edição foi lançada pela Livraria Mar- tins Editora, São Paulo, com 453 páginas, capa de Clóvis Graciano e ilustrações de Di Cavalcanti e foi o ponto de partida dos dois produtos audiovisuais (1975/2012) , a obra retrata a cidade de Ilhéus – interior do estado da Bahia, no ano de 1925, o livro vendeu 50.000 exemplares em apenas cinco meses, um feito para o mercado editorial da época e em dezembro do mesmo ano chegou à 6ª edição. Jorge Amado considerava “Gabriela” (1975) uma das melhores adaptações de livros dele, embora tenha admitido que assistira a apenas cinco ou seis capítulos e parara de ver pois se irritara com o fato de na novela Nacib saber que era árabe, quando no romance só o leitor tem esta informação. O escritor acreditava que esta diferença violentava um as- pecto importante do texto, mas ainda assim não desquali- ficava o trabalho de Durst. Amado reconhecia o poder de divulgação das adaptações, o que sempre atraía um grande público para a obra escrita. Neste ponto, é consenso que: ...atualmente, dado o alcance dos meios de comuni- cação, é mais provável que o receptor seja primeiro um espectador e, posteriormente um leitor. Hoje, na maioria das vezes, é a existência de uma minissé- rie ou novela ou até mesmo um filme que aumenta a vendagem de livros. (BALOGH, 1996, p. 22) A primeira versão televisiva da obra foi em 1961 – na ex- tinta TV Tupi. Direção de Antônio Bulhões, e com a novata Jannette Vollu no papel principal, a moça fazia parte do elen- co de vedetes do produtor de espetáculos Carlos Machado e http://pt.wikipedia.org/wiki/Petr%C3%B3polis http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro http://pt.wikipedia.org/wiki/Livraria_Martins_Editora http://pt.wikipedia.org/wiki/Livraria_Martins_Editora http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo http://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%B3vis_Graciano http://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%B3vis_Graciano http://pt.wikipedia.org/wiki/Di_Cavalcanti Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 599 trabalhava para pagar seu curso de normalista. Uma “Gabrie- la” de olhos azuis, algo que ninguém na época repararia, pois a televisão era em preto e branco, este foi o único trabalho dela como atriz que se casou com um arquiteto logo após o fim da novela, abandonou a carreira artística e morreu jovem – aos 34 anos, no início da década de 1970. Há poucas informações ou imagens sobre esta versão, como a foto abaixo em que o próprio Jorge Amado apa- rece com a atriz (o escritor baiano é o segundo a partir da esquerda e Vollu está de vestido branco ao centro) fonte: http://histormundi.blogspot.com.br/2012/09/a- -novela-gabriela-versao-1961.html A segunda versão foi em 1975 – no horário das 22 horas, em comemoração aos dez anos da emissora, direção Walter Avancini e autoria Walter J. Durst. Avancini em entrevista à AMIGA TV na época, afirmou que achava que a novela estava indo ao encontro “de nossas raízes de brasilidade,   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 600 levando ao grande público mais do que um romance bem escrito - queremos aproveitar para mostrar toda a riqueza da linguagem regionalista.” E assim surge o ícone: Sônia Braga, a “Gabriela” realiza- da, encarnada. Fonte:..http://vegakosmonaut.blogspot.com.br/2012/06/ gabriela-1975.html Gabriela retirante, Gabriela cozinheira de mão cheia, Gabriela flor e mulher foge da imaginação dos mi- lhares de leitores de Jorge Amado para, pela primeira   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 601 vez, ter um corpo, um rosto, uma voz definida, a cores, via Embratel. Cada leitor, potencialmente um apaixo- nado de Gabriela, a imaginava a seu modo, cada ad- mirador do mito da mulher brasileira típica podia ver Gabriela na vizinha, amiga ou mulher. Agora, Gabriela tem um nome - Sônia Braga - e passa a conviver, não mais com os leitores mas com uma massa de telespec- tadores, de segunda a sexta-feira, no horário fixo das 22 horas. (SILVEIRA, 1975) Fonte:http://luciointhesky.files.wordpress. com/2012/06/gabriela-cartaz.jpg   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 602 Como parte do conjunto de adaptações do romance de Jorge Amado, temos ainda o filme de 1983 de Bru- no Barreto (imagem acima) que, embora muito critica- do, tinha uma bela trilha sonora de Tom Jobim e Mar- cello Mastroianni no elenco com o papel de Nacib. Faz ainda parte de nossa cronologia a reapresentação da novela em 1988 que foi um grande sucesso. Foi só entrar no ar, em uma segunda-feira, que dobrou a audiência do horário do programa para reprises de novelas - o Vale a Pena Ver de Novo. A audiência, no Rio, foi de 50% no primeiro dia e de 42% na terça-feira. É quase o dobro da média do horário (Jornal do Brasil, 27/10/1988). Chama atenção a matéria Cora Rónai no Jornal do Brasil (07.11.1988) que revela que nos treze anos que se- pararam a primeira da segunda exibição, a sociedade bra- sileira já havia passado por uma revolução nos costumes e o que em 1975 poderia ser veiculado apenas para o horário das 22 horas, depois daquele zeloso alerta à fa- mília comunicando aos senhores pais que, a partir daquele momento, a programação era imprópria para menores de 16 anos, em 1988 era tido como uma grande ingenuidade. Hoje, com o país inteiro impróprio para meno- res (ou maiores!) de 16 anos, não deixa de ser um exercício de nostalgia tentar adivinhar o que havia de tão ofensivo na brejeira saga de Ilhéus. A indefinição da Igreja? A prepotência dos coro- néis? As pernas da Sônia Braga? ( RÓNAI, 1988) Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 603 Foto da DM9Rio para a campanha da divulgação da novela  No anúncio, a protagonista, interpretada por Juliana Paes, em destaque, na clássica cena em que ela aparece em cima de um telhado. Ao seu redor, outros personagens importantes da trama, como Nacib (Humberto Martins), Ramiro Bas- tos (Antonio Fagundes) e Maria Machadão (Ivete Sangalo), entre outros, olham para Gabriela com admiração.   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 604 A versão atual (2012) de Walcyr Carrasco, com direção de Mauro Mendonça, demonstra o cuidado da emissora em comemorar o centenário do nascimento de Jorge Amado com uma grande produção. Carrasco enfatiza que não pretende fazer um remake da primeira versão escrita por George Walter Durst em 1975. O autor quer mostrar ao público a sua própria visão do livro. A antológica cena do telhado (foto abaixo) – que na verdade não ocorre no romance e seria claramente uma apropriação da versão de 1975 é mantida, e apesar da livre inspiração, mais de 80% dos personagens são os mesmos e o tema de abertura, “Modinha para Gabriela”, permanece na voz de Gal Costa. Fon t e : h t t p : / /n a t e l i nh a . uo l . c om .b r /no t i - cias/2012/07/04/gabriela-um-marco-em-minha-car- reira-diz-juliana-paes-sobre-cena-no-telhado-143602. php - Fotos: Divulgação/TV Globo e Reprodução. Acima a famosa cena em que Gabriela para a cidade ao subir no telhado para pegar uma pipa, deixando todos atordoa- dos com sua exuberância, sensualidade e espontaneidade. Com Juliana Paes (2012) à esquerda e Sônia Braga (1975) à direita.   http://natelinha.uol.com.br/noticias/2012/07/04/gabriela-um-marco-em-minha-carreira-diz-juliana-paes-sobre-cena-no-telhado-143602.php http://natelinha.uol.com.br/noticias/2012/07/04/gabriela-um-marco-em-minha-carreira-diz-juliana-paes-sobre-cena-no-telhado-143602.php http://natelinha.uol.com.br/noticias/2012/07/04/gabriela-um-marco-em-minha-carreira-diz-juliana-paes-sobre-cena-no-telhado-143602.php http://natelinha.uol.com.br/noticias/2012/07/04/gabriela-um-marco-em-minha-carreira-diz-juliana-paes-sobre-cena-no-telhado-143602.php Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 605 A novela alcançou a média de 19,5 pontos no Ibope2, tendo chegado a 29,5 no último capítulo , com pico de 32 pontos - cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande São Paulo. Fonte: http://trivialstilum.blogspot.com.br/2012/09/ remake-2012-de-gabriela-adoroooo.html Sônia Braga – 1975 (à esquerda) e Juliana Paes – 2012 ( à direita) Quando sua escolha como “Gabriela” gerou críticas, Juliana Paes chegou a afirmar que: “mexer com Gabriela é igual mexer com Nossa Senhora. É sagrado. Qualquer pessoa que escolhessem ia passar pelos mesmos questionamentos”. O que comprova a força de Sônia Braga no imaginário e na me- mória do público. 2. Empresa com grande notoriedade pela medição de audiência de TV e pelas pesquisas eleitorais e de opinião pública.   http://trivialstilum.blogspot.com.br/2012/09/remake-2012-de-gabriela-adoroooo.html http://trivialstilum.blogspot.com.br/2012/09/remake-2012-de-gabriela-adoroooo.html Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 606 Desde que Jorge Amado lançou “Gabriela, cravo e canela”, em 1958, e, principalmente, desde que Sônia Braga a interpretou, em 1975, ser Gabriela é bem mais que ter um bom papel na TV, é um traço de persona- lidade - o substantivo próprio vertido em adjetivo: ga- briela. Uma mistura de mar e sertão, cama e mesa, mu- lher e moleca, inteligência e intuição, Nossa Senhora e Iansã, branco e preto, o cravo e a canela, o amor e o sexo, a brisa leve e o furacão. Liberdade, acima de qual- quer outra coisa. (DAUROI, 2012) Repercussão internacional: Fonte:http://televisao.uol.com.br/noticias/reda- cao/2012/07/04/com-gabriela-juliana-paes-e-des- taque-em-jornal-americano.htm   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 607 Nos Estados Unidos, onde estreou em julho deste ano (2012) Julia- na Paes foi destaque no New York Post. Na imagem, Juliana está em pose sensual e com uma flor vermelha nos cabelos. Na legenda, o jornal descreveu: ‘’A atriz brasileira Juliana Paes em pose sexy durante as gravações de Gabriela’, remake da novela baseada no clássico de 1950 de Jorge Amado, que estreia nos Estados Unidos em 16 de julho”. Já em Portugal, onde estreou em setembro deste ano (2012), exibida pela SIC, a novela alcançou o posto de se- gundo programa mais visto de todo o país. A média alcan- çada foi de 16,3 pontos e com share de 32,4%. 5. Articulações comparativas: 5.1 Ficha técnica de 1975 Autoria: Walter George Durst Direção: Walter Avancini e Gonzaga Blota Supervisão: Daniel Filho Período de exibição: 14/04/1975–28/10/1975 Horário: 22h Nº de capítulos: 135 Coordenação de produção: Nilton Cupello Desenhos de produção: Carybé Edição: Roberto Talma e Luiz Paulo Sonoplastia: Antonio Faya Continuista: Carmem Ubilla Cenários: Mário Monteiro e Gilberto Vigna Assistente de cenógrafo: José Dias Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 608 Maquiagem: Eric Rzepecki Iluminação: Dante Lecioli, José Marques e Jorge Coelho  Figurinista: Marília Carneiro Assistentes: Cristina Guimarães e Luiz Tornelli Câmeras: Eid Walesko, Márcio Tanaka, Cassiano P. Filho, Carlos Alberto Giraldes, Edson da Silva e Myro Murad Vídeo: Ivo Soares, Paulo Carneiro e Jorge Câmara Áudio: Sergio Murilo e Mauro Araújo Contrarregra: Hamilton Loere, Vidal Cruz, Célio de Souza, Paracium Gonçalves e João Mário Desenhos da abertura: Aldemir Martins Montagem: Cyro Del Nero Supervisão geral de operações: René Proença e Joel Motta Supervisão técnica: Ivan Ferreira Guassalim, Antonio Braga e Nélio Garcia Terra Câmera portátil: José Mário Efeitos especiais: Gabriel Queiroz Trilha sonora: Guto Graça Mello 5.2 Ficha técnica de 2012 UMA NOVELA DE Walcyr Carrasco ESCRITA COM André Ryoki Daniel Berlinsky DIREÇÃO André Felipe Binder ,Marcelo Travesso,Noa Bressane,André Barros file:///Users/Marina/MARINA/Trabalhos_Independentes/TRABALHOS_EDITORES/COLEC%cc%a7OES/Colecao_GPs/GPs_VOL_6/E-BOOK%20Miolo_GPs_Vol_6/Parte_4_GPs_6/Word_GPs_6/javascript:fnLink('/Memoriaglobo/0,27723,GYP0-5271-252461,00.html'); Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 609 DIREÇÃO GERAL Mauro Mendonça Filho NÚCLEO Roberto Talma Autorização especial SATED RJ Elenco de apoio ALLAN PELEGRINO, ANTONIO CARLOS FEIO, BELLA FLOR, BIANCA MIRAN- DA, BIANKA FERNANDES, BRUNO FAGOTI, CASSIANO BARRETO, CHICO MELLO, CINTIA MEI, FERNANDA DIAS, IRIS TELLES, JERRI VEI- GA, JOÃO CUNHA, JULIANA AMADOR, LAER- CIO FONSECA, LIZ MORAES, LUCAS DOMSO, LUCIANO CAZZ, LUZIA AVELLAR, MARCIA DI MILLA, PAULA GUIMARÃES, RAQUEL FABBRI, RHAVINE CHRISPIM, SERGIO HENRIQUE, SER- GIO MOX, VAL PERRE, VANDERSON CAIRES, VERA FERREIRA, WERLES PAJERO Cenografia MARCELO CARNEIRO, KAKÁ MON- TEIRO Cenógrafos assistentes RAQUEL WINTER, MARCIA BEZERRA, JOYCE RANJAN, MARCIO FONTES, MICHELE CORSY, RENATA ALIMANDRO, UGO CELSO Figurino LABIBE SIMÃO Figurinistas assistentes JULIA BRANT, VERGINIA SCOFANO, FLAVIA NEVES, CLAUDIA MACHA- DO, HERICA PADILHA, JULIA FIGUEIREDO Equipe de apoio ao figurino HELENA RIBEIRO, RO- BSON SALOMÃO, CIRLEY BEZERRA DE FREI- TAS, JUAN CARLOS FERREIRA, CLEBER DOS SANTOS, WANDERLEY GOUVEIA DOS SANTOS, GRACIELA GIMENEZ, SHEILA HELENA PEDRA, MARCIO AVELINO, DALVA SANTIAGO, BIANCA Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 610 BOTTINO, WIDJA PEREIRA Direção de fotografia SERGIO MARINI Direção de iluminação JANDIR MAGALHÃES, JOR- GE LOPES Equipe de iluminação ADELINO VEIGA, ANTONIO PIMENTEL, DANIEL DOS SANTOS PAULINO, JOSE MAURO BERTOLINO, MICHEL SANTOS DE ARAÚJO, BRUNO SILVA BARBOSA, THIAGO OLIVEIRA SILVA Direção de arte MARIO MONTEIRO Produção de arte SILVANA ESTRELLA Produção de arte assistente HELENITA SILVEIRA, LUCILENE SILVA, RAQUEL MOHREZ, MARTA MIRANDA Equipe de apoio a arte JORGE OLIMPO, DELIO XAVIER, ANTONIO JOAQUIM MENDES, CAR- LOS VINICIUS DE OLIVEIRA, DIEGO RANGEL M AU R I C I O. . . M O R E I R A , . . . F E R N A N D O PRIMO,MARCELO MELO CARDOSO Produção de elenco DANIELA CIMINELLI Coreografia REGINA MIRANDA Corpo de baile AMANDA CORREA, DANÚBIA FIRMO,LARISSA LANDIM, ALESSANDRA PEI- XOTO, LUISA SABINO, VIVIAN VIEIRA, LIANA VASCONCELOS, MARIANA GOMES, RODRIGO RIVERA, CHARLES FERNANDES, BERNARDO ADLER, JONATHAN BARRETO Instrutores de dramaturgia  IRIS GOMES, SERGIO PENNA, MARIA SILVIA SIQUEIRA CAMPOS Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 611 Produção musical IURI CUNHA Direção musical MARIOZINHO ROCHA Caracterização JULIANA MENDES MENDONÇA, LUIZ FERREIRA Equipe de apoio à caracterização VIVIANE NAS- CIMENTO,...CAMILLA...PINTO,...LUCIANE ROSA, MAXWELL PINHEIRO, RAFAEL NSAR S H E I L A . . . R E I S , . . . DA G U I M A R . . . G O - MES, MARTA RONCETTE, CIDA RAMOS PAULO AZEVEDO, TANIA MENDONÇA, MARA EVANGELISTA, SUZETE BITTEN- COURT, CLAUDJA MAYARA, VANESSA MAIA, LUCIA THEODORO, BETH MELLO, CLAUDIA NUNES, ADRIANA APARECIDA, TERESA CRIS- TINA SILVA, ANTONIO CARLOS Edição CARLOS THADEU, MARCO SEIXAS, VA- LÉRIAS BARROS Colorista MARCELLO PEREIRA Sonoplastia IRAUMIR MENDES, LAÉRCIO SALLES,MARCO SALLES,OTTO RICCI Efeitos visuais RAFAEL AMBROSIO Efeitos especiais GLAUCO FALCI Abertura HANS DONNER, ALEXANDRE PIT RI- BEIRO, ROBERTO STEIN, ORLANDO MARTINS Ilustração da abertura MELLO MENEZES Direção de imagem ANTÔNIO MIZIARA Câmeras  PAULO CORADO, LEONARDO PARNA- CE, AFONSO COUTINHO, FREDERICO CASTI- LHO, MARCELLO SOOMA, ROBERTO DELMIRO Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 612 Equipe de apoio a op. de câmera CLAUDIO AN- DERSON, LUIS TEMPERINE, PEDRO LUIZ FERNANDES, FLAVIO GOMES, ROGERIO DA SILVA DAS NEVES Equipe de vídeo FILIPPE BASTOS, MANOEL TI- BURCIO DE MEDEIROS FILHO, JORGE LUIZ DE PAULA MENEZES, Equipe de áudio GILBERTO DA SILVA MEDINA, FLAVIO LUIZ FERNANDES, FILIPE GOMES OLI- VEIRA, DIOGO OLIVEIRA,RAPHAEL FACUN- DO OLIVEIRA Supervisor e op. Sistema MARCO LOURENÇO, RE- NATO SANTI, ROBERTO LUCAS, ADELTO MAR- TINS, DANNYO ESCOBAR, FELIPE FEIJO, GUAS- SALIN NAGEN Produtor cenografia DALMO MEIRELLES Gerente de projetos  ROSANA CORREA Supervisor de produção de cenografia REGINALDO DE ABREU RODRIGUES, JOSE FERNANDES SAN- TOS, CLAUDIO SILVA SANTOS, EDSON GONCAL- VES, REINALDO FONSECA, MANOEL JORGE, Equipe de cenotécnica ADRIANO MARIA ESTE- VES, ANDERSON ROLLEMBERG PEDRO, AN- TONIO CLAUDIO MARTINS DA SILVA, ANTO- NIO MARCOS OLIVEIRA POUBEL, ARILSON GARRIDO SIQUEIRA,,BEATRIZ ALVAREN- GA, BRUNO MARCELO VIEIRA DA SILVA, CARLOS ALEXANDRE SANTOS DA COSTA, CLAUDIO AUGUSTO DE PAULA, DIEGO DU- ARTE TORRES, DOUGLAS CONCEIÇAO DA SILVA, ERICK OSVALDO JOAQUIM MORAES Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 613 EVERTON AUGUSTO NUNES DE SOUZA, FA- BIO ALEXANDRE DO NASCIMENTO, FABIO BARROS ANTAO, GUILHERME DOS SANTOS NASCIMENTO, IREMAR XAVIER BRAZ, IVA- NILDO LUIZ DA SILVA LIMA, JAMERSON SOU- ZA DE ALMEIDA, JORGE HENRIQUE NOGUEI- RA DA SILVA, JULIO CESAR GODINHO FIALHO LEONARDO FALCI, LUCAS AVENO- SO, LUCIANO DE JESUS OLIVEIRA LUIS ANDRE DO NASCIMENTO WEBER, LUIZ ANTONIO PEREIRA DA SILVA, MARCELO MA- RINS DA CRUZ, MARCOS NARCISO DO CARMO MARCUS PAIVA, MARINALDO SANTOS SILVA, RAFAEL SENNA DO CARMO, RIBAI RODRI- GUES PRAXEDES, ROBSON ESTEVES DOS SAN- TOS, ROGERIO RODRIGUES DA SILVA, SAMUEL GONCALVES DA SILVA, SILVIO ANSELMO DA SIL- VA, SIVANILDO DOS ANJOS FERNANDES, THIA- GO DE FARIA MIRANDA, WAGNER DE PAULA CARNEIRO, WASHINGTON LUIZ DA SILVA Pesquisa MARCIO HAIDUCK Continuidade CARLA NEUMA, PRISCILLA DOMINGOS,CARYNE AFFONSO Assistentes de direção MARIANA RICHARD,BIA COELHO,FERNANDA KADLEC, CAIO CAMPOS Produção de engenharia MARCELO FERNANDES, LUIZ DANIEL GUIMARÃES Equipe de produção MARIA CAROLINA MELLO, VANESSA MARQUES RODRIGO RIFF, FABIO CONCEIÇÃO, PEDRO BONAVITA, KARIAN COSTA, GLAUCIO LUCIO, GABRIEL POROGER, CHICO MARINHO Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 614 Coordenação de produção LEONARDO OEST, VAL- TER SILVA Supervisão executiva de produção DANIELA ALBU- QUERQUE, LEANDRO PETERSEN Gerência de produção  VERÔNICA ESTEVES Direção de produção FLAVIO NASCIMENTO Baseado em Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado Licenciado por Warner Bros. Int´l Tv Production 5.3 Eixos Comparativos Vamos passar a discorrer sobre os eixos escolhidos na “Gabriela” de 2012 para cotejar e analisar as duas versões. a) Personagem Gay – Miss Pirangi imagem 1 imagem 2 Fonte:http://www.tribunahoje.com/noticia/42110/en- tretenimento/2012/10/09/saiba-quem-e-o-coronel-de- -miss-pirangi-em-gabriela.html     Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 615 Personagem com papel irrisório no romance e que não aparece na versão de 1975 – não podemos nos esquecer de que vivíamos no período da ditadura militar no Brasil (1964/1985). Em 2012, o personagem Gay – Miss Pirangi (Gero Camilo) – adquire relevância na trama com muito grande importância narrativa. Nesta última adaptação o personagem também cha- mado de xibungo e invertido (termos regionalistas para designar o homossexual) é o centro das atenções do Bataclã (imagem 2) – o ícone do prazer de Ilhéus - nome do mais famoso e gla- mouroso bordel da cidade, amigo e confidente das mulheres que lá trabalham , chega a ter um caso com o Coronel Amân- cio (Genézio de Barros, na imagem 1 à esquerda) , relação esta revelada a toda a sociedade ilheense, na porta da igreja, na saída de um casamento entre um coronel e uma quenga (regionalis- mo para prostituta). Miss Pirangi reluta em revelar o nome de seu coronel que lhe cobre de presentes caros e só o faz para ajudar uma das meninas do Bataclã a realizar seu sonho de casar de branco na igreja. Quando o coronel resolve sair da cidade para viver em sua fazenda onde estará livre dos comentários maldosos dos ilheenses, convida seu amante para ir morar com ele, mas este acaba sucumbindo às súplicas chorosas de suas amigas e permanece na cidade. http://www.tudosobrenovelas.com/2012/10/reta- -final-pirangi-vira-metade-mulher_23.html   Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 616 A noite é especial e, no meio da pista, Quitéria (Ildi Sil- va), Ina (Raquel Villar), Teodora (Emanuelle Araújo), Mara (Suyane Moreira) e Natascha (Nathália Rodrigues), de bra- ços dados, dançam o famoso “can-can” com Miss Pirangi (Gero Camilo) ao centro. O “invertido” está emblematicamente vestido como metade  mulher  e metade homem, e está sendo tratado como rei pelas amigas. Percebemos que a versão de 2012 mostra que a socieda- de está muito mais preparada para lidar com as diversidades de comportamento, por isso, tamanho destaque para Miss Pirangi não só é possível , como desejável, pois pode trazer uma identificação com diversos segmentos que não ha- viam sido retratados na versão anterior. b) Personagem –Lindinalva Fonte: http://televisao.uol.com.br/novelas/ga- briela/personagens/lindinalva.htm Desonrada, a personagem Lindinalva (Giovanna Lance- lotti) vai de donzela comportada à prostituta.     http://www.tudosobrenovelas.com/2012/10/reta-final-pirangi-vira-metade-mulher_23.html http://televisao.uol.com.br/novelas/gabriela/personagens/lindinalva.htm http://televisao.uol.com.br/novelas/gabriela/personagens/lindinalva.htm Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 617 Lindinalva, é personagem de outra obra de Jorge Ama- do: Jubiabá (1935). O autor Walcyr Carrasco resgata a histó- ria da moça branca que causa furor ao se apaixonar por um jagunço negro. A trilha da personagem é a mesma do filme Jubiabá, de 1986, de Gilberto Gil, sua trama se entrelaça à das personagens de Gabriela, cravo e canela, deste modo no- vos sentidos e novas relações são criadas/recriadas. Adaptar é como reconstruir uma casa em um novo local. Monta-se a lareira, os vitrais, os lustres, a pintura e está lá a casa. Pode-se manter a originalidade ou torná-la um “Frankstein”. É um exercício de constante reconstrução de imagens, a partir de sons, apenas pressupostas no texto de partida. (ADAMI, 2003, p. 86-91) A personagem passa por uma grande transformação (como se pode ver nas imagens acima) , o que causou muita comoção entre os telespectadores, a moça fica órfã e é seduzida pelo noivo que promete casamento e depois a abandona. Passa por humilhações e privações, pois a sociedade extremamente reli- giosa e hipócrita se recusa a ajudá-la, ela é rejeitada inclusive por sua madrinha, uma das principais beatas da cidade, pois a menina não quer abandonar sua velha ama negra que não é bem-vinda na casa de Florzinha e Quinquina. Lindinalva tem então como única opção de sobrevivên- cia: se tornar prostituta. A moça se dirige ao Bataclã, onde é bem acolhida e tratada com muita compreensão. Como nem tudo é sofrimento, sua personagem, consegue um final feliz e vai para Salvador casar-se com seu grande amor. Vemos que a construção do percurso de Lindinalva fo- caliza uma mulher que alcança a felicidade apesar das res- trições da sociedade, ou seja, nesta versão se vislumbra um novo destino - venturoso - o que se configuraria como um desafio às imposições rígidas de comportamento da época. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 618 c) Nudez e sensualidade Staff do Bataclã - Apelidado pela crítica de Moulin Rouge do Agreste globo.com/novelas/gabriela/batacla-na-intimida- de/platb/2012/09/04/wallpaper-do-batacla/ Na versão de 1975 a sensualidade era focada na persona- gem principal, “Gabriela”, que era uma moça ao mesmo tempo ingênua e atrevida, já que, por viver dentro de seus próprios padrões de comportamento era um ser pratica- mente “amoral”. Na versão atual, as moças do Bataclã desfilam espetácu- los elaboradíssimos, lingeries e toaletes glamourosas. Com grande destaque para as cenas de nudez e sexo. Embora sempre causando comentários maldosos, as mo- ças circulam com certa desenvoltura pela cidade, como na imagem abaixo, quando vão à sorveteria, o dono do es- tabelecimento é questionado pelas beatas de cidade e res- ponde que não pode enxotá-las pois seu dinheiro é válido,   http://tvg.globo.com/novelas/gabriela/batacla-na-intimidade/platb/2012/09/04/wallpaper-do-batacla/ http://tvg.globo.com/novelas/gabriela/batacla-na-intimidade/platb/2012/09/04/wallpaper-do-batacla/ Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 619 ele ainda comenta que as beatas nem em toda a sua vida gastaram tanto quanto as moças naquela tarde. Fonte: http://tvg.globo.com/novelas/gabriela/Vem-por- -ai/noticia/2012/09/pirangi-paga-sorvetes-todo-o-bata- cla-e-deixa-doroteia-desconfiada.html Há ainda as duas personagens que, embora moças- de- família, protagonizam cenas ardentes e ousadas com seus respectivos pares amorosos: Geruza (Luíza Valdeta- ro - neta preferida do Coronel Ramiro – o temido e respeitado intendente da cidade há décadas) e Malvina (Vanessa Giácomo - filha do Coronel Melk, a garota contestadora e revolucionária que se envolve com um homem casado e que acaba fugindo da cidade).   http://tvg.globo.com/novelas/gabriela/Vem-por-ai/noticia/2012/09/pirangi-paga-sorvetes-todo-o-batacla-e-deixa-doroteia-desconfiada.html http://tvg.globo.com/novelas/gabriela/Vem-por-ai/noticia/2012/09/pirangi-paga-sorvetes-todo-o-batacla-e-deixa-doroteia-desconfiada.html http://tvg.globo.com/novelas/gabriela/Vem-por-ai/noticia/2012/09/pirangi-paga-sorvetes-todo-o-batacla-e-deixa-doroteia-desconfiada.html Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 620 Fonte:http://www.abn.com.br/editorias1.php?id=71769 Percebe-se que atualmente a briga por audiência e um público muito mais acostumado com cenas ousadas, aceita com mais naturalidade a nudez e a sexualidade feminina. 6. Considerações finais Walcyr Carrasco juntou relatos de outros livros de Jorge Amado, criou personagens próprios e deu tom de comédia à sua adaptação (2012). Para ele as liberdades que tomou foram sempre dentro do universo de Jorge Amado, autor que diz conhecer em profundidade. “Gosto de arriscar. Claro que TV busca audiência, mas autor que tem medo de arriscar faz um trabalho ruim”. Diz ao fazer um balanço do percurso da segunda saga de “Gabriela” exibida na Rede Globo após 37 anos da primeira versão. Como afirma Balogh (1996: p 39 ) : “Cada obra literária,   http://www.abn.com.br/editorias1.php?id=71769 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 621 essencialmente plural e consequentemente ambígua, pode- ria ter um número ponderável de leituras e, portanto, de possibilidades de tradução.” Ao traçarmos um quadro comparativo entre as “Gabrie- las” de 1975 e 2012, gostaríamos de salientar que o término da novela (outubro/2012), marca o início de um trabalho que acreditamos seja o ponto de partida para uma reflexão que ainda terá muito a apurar e acrescentar dentro deste vasto e incrível universo das telenovelas brasileiras e das adaptações literárias para a televisão. O conceito de adaptação é limitado e dificilmente dará conta de todas as possibilidades e variáveis que podem ser contadas a partir de uma história original. Experimentar uma obra literária em uma outra, diferente daquela em que foi concebida originalmente, é sempre uma aventura... ( ADAMI, 2003, p.86-91) Referências ADAMI, A; HELLER, B. CARDOSO, H.D.F. (Org.). Mídia Cultura e Comunicação 2. São Paulo: Arte e Ciência, 2003. AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela: crônica de uma cidade do interior. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.   BALOGH, A M. Conjunções, disjunções e transmu- tações: do literário ao cinema e à TV. São Paulo: An- naBlume- ECA/USP,1996. CALZA, Rose. O que é Telenovela. São Paulo: Brasiliense, 1996. FERNANDES, Ismael. Memória da telenovela brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1997. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 622 HAMBURGER, Esther. O Brasil Antenado: A socie- dade da novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. Webgrafia Banco de Dados TV Pesquisa: Disponível em: http// www.tv-pesquisa.com.puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 AMIGA TV. “ AVANCINI: GABRIELA NÃO SERÁ UMA SUPER NOVELA” 2 abr. 1975. Disponível em: http//www.tv-pesquisa.com.puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 APOLINARIO, Sônia. Jorge Amado disseca sua obra na TV. 20 mar. 1994. Disponível em: http//www.tv-pes- quisa.com.puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 ARAUJO, I. “DONA FLOR” E “GABRIELA” MARCARAM ADAPTAÇÕES. 07 ago. 2001. Dispo- nível em: http//www.tv-pesquisa.com.puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 BRAVO, Zean. ‘GRABRIELA, CRAVO E CANELA – 1961. 01 jul. 2012. Disponível em: http//www.tv-pes- quisa.com.puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 DAUROI, Alline. O SAGRADO EM CORPO DE MULHER 22 abr. 2012. Disponível em: http//www.tv- -pesquisa.com.puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 DM9RIO CRIA PARA GABRIELA. Disponível em: http://voxnews.com.br/dm9rio-cria-para-gabriela/Aces- so em 21.10.2012 http://voxnews.com.br/dm9rio-cria-para-gabriela/Acesso http://voxnews.com.br/dm9rio-cria-para-gabriela/Acesso Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 623 LEMOS, Renato. UM RETRATO DE MULHER. 20 mai. 2012. Disponível em: http//www.tv-pesquisa.com. puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 NEVES, Lucas. HOJE SOU LINDINALVA. 20 ju. 2012. Disponível em: http//www.tv-pesquisa.com.puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 PEREIRA JR, Alberto. GLOBO EXIBE HOJE O ÚL- TIMO CAPÍTULO DE NOVELA ‘GABRIELA’ 26 out. 2012. Disponível em: http://www.tv-pesquisa.com. puc-rio.br/ acesso em 27.10.2012 RÓNAI, Cora. COMO ÉRAMOS INOCENTES 07 nov. 1988. Disponível em: http//www.tv-pesquisa.com. puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 SILVEIRA, Emília. O CHEIRO DE CRAVO, A COR DE CANEÇA EU VIM DE LONGE, VIM VER GA- BRIELA 13 abr. 1975. Disponível em: http//www.tv- -pesquisa.com.puc- rio.br. Acesso em 22.09.2012 Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa On-line, disponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm? http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 624 27. Perspectivas sobre a conversação no telejornalismo Fernanda Mauricio da Silva1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo Enquanto os telejornais recebem boa parte da atenção dos estudos acadêmicos, outros formatos, apesar da relevân- cia histórica, são pouco explorados para a compreensão do telejornalismo. O presente artigo reflete sobre programas de entrevistas e debates, tendo como centro a prática da conversação como base de sua relação com a audiência. Discute-se o papel informativo, argumentativo e testemu- nhal das conversações nesses programas e a relação com valores do jornalismo. 1. Graduada em jornalismo, mestre e doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia. Pro- fessora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Uni- versidade Paulista. Email: fernandamauricio@gmail.com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 625 Palavras-chave: informação; argumentação; testemunho; conversação; telejornalismo. 1. Introdução Boa parte dos recentes estudos acadêmicos voltados para o jornalismo dedica-se à compreensão dos produtos identi- ficados com o jornalismo diário: jornais impressos, telejor- nais, portais. Parte dessa atenção deve-se ao fato de que, na formação de seu discurso auto-legitimador, especialmente na Europa e Estados Unidos, no século XIX, o modelo in- formativo de jornalismo superou as práticas anteriores – o jornalismo literário e de opinião – tornando-as atividades importantes, porém com menor significado. No Brasil, o modelo informativo ganhava relevância a partir da primeira década do século XX, como se pode ver no editorial do Jornal do Brasil em 1901: “uma notícia abala mais o governo do que trinta artigos e trinta artigos não dão ao jornal a tiragem que uma notícia proporciona” (BARBOSA, 2007, p. 23). Assim, formava-se um discurso hegemônico sobre o jornalismo que se voltava para os fatos, para a atualidade, para o interesse público e para a vigilância do campo polí- tico que os produtos diários buscavam cumprir. Apesar de outros modelos de jornalismo continuarem existindo, eles se tornaram secundários na prática, na crítica e na pesquisa sobre o jornalismo2. Nas análises do telejornalismo, tal postura não é diferen- te, de modo que os telejornais, especialmente os do horário nobre, são o foco preferencial dos pesquisadores. Por outro 2. É necessário fazer a ressalva dos trabalhos clássicos de Luiz Beltrão (1980) e José Marques de Melo (1985) sobre o jornalismo interpre- tativo e o opinativo, respectivamente. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 626 lado, desde o final dos anos 1970, a programação televisiva tem se diversificado em programas de entrevistas e deba- tes que, naquele momento histórico, tinham o objetivo de discutir temas políticos que estavam ausentes da mídia por conta da repressão do governo militar. A proliferação desses programas influenciou, inclusive, os telejornais que surgi- ram no período, como o Bom Dia Brasil (TV Globo), que levava para o estúdio representantes da cena pública, a fim de serem entrevistados por seu mediador principal, o jorna- lista Carlos Monforte. Em todos esses casos, a conversação desponta como estratégia para o exercício de um jornalis- mo diferenciado, voltado para a discussão dos assuntos rele- vantes. Recentemente, cada vez mais programas utilizam a conversação como base de sua construção, seja para fomen- tar um debate público, seja para atribuir coloquialidade e leveza às narrativas noticiosas. O presente artigo tem como objetivo discutir os papeis da conversação no telejornalismo contemporâneo, levando em conta programas de entrevistas e programas de debate, a fim de observar transformações no jornalismo televisivo. A argumentação inicia com uma reflexão sobre a conver- sação no telejornalismo, seguida de uma avaliação de três modelos que a conversação pode assumir nos programas: a informação, a argumentação e o testemunho. 2. A conversação no telejornalismo A conversação passou a interessar os estudos acadêmicos em meados do século XX, especialmente depois do sur- gimento da sóciolinguística e da etnometodologia (Burke, 1995; Wolf, 1994). Até então, os escritos sobre a conversa- ção constavam de normas de conduta social e manuais que versavam sobre que assuntos deveriam pautar as interações, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 627 o tom de voz mais adequado a cada situação etc (Mon- taigne, 1961; Miller, 2006). O surgimento da corrente da Análise da Conversação, nos anos 1960, acelerou as inves- tigações sobre a conversação na vida cotidiana por meio de pesquisas empíricas das interações em ambientes espe- cíficos, como sala de aula, consultório médico e terapia de grupo. Baseados na sociologia de Erving Goffman (1986), os analistas da conversação assumem que cada relação de interação está diretamente vinculada ao cenário que a in- sere, direcionando os assuntos possíveis, as regras para troca de turnos de fala, os modos de tratamento, etc. Segundo a Análise da Conversação, certos marcos con- textuais impõem limites e modos de fazer específicos so- bre a conversação, criando formatos institucionalizados que obedecem mais ou menos aos mesmos princípios. De acordo com Marianthi Makri-Tsilipakou (2004), diferen- temente da vida cotidiana, a conversação institucionaliza- da na televisão é orientada a um objetivo específico que norteia a conduta dos participantes. Sendo assim, a lógica televisiva – controle do tempo dos programas, interrupções para comerciais, jogo de enquadramentos de câmera, distri- buição de papeis entre os participantes, entre outras carac- terísticas – influencia nas interações levadas ao ar. Tratando da conversação televisiva, José Luiz Braga (2006) afirma que toda sociedade dispõe de uma variedade de “dispo- sitivos conversacionais” que são ativados segundo as circunstâncias socioculturais das interações. Quando um programa de televisão põe em cena conversações, tem que se remeter a esses dispositivos; mas ao mesmo tempo deve obedecer a direcionamentos da ‘lingua- gem televisiva’ (para o ritmo, a duração, a vez de falar, os papéis desempenhados, etc). Esses dispositivos são geralmente reconhecíveis, como moldes nos quais se desenvolvem estratégias pessoais. (BRAGA, 2006, p. 2). Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 628 No telejornalismo, a conversação tem se firmado como atividade basilar de pelo menos dois formatos3: os progra- mas de entrevistas e os programas de debates. Manuel Mateo (1998) define as entrevistas jornalísticas como um espaço em que o apresentador é o condutor de perguntas que visam transmitir o conhecimento do entrevistado para a audiência, que é posicionada enquanto aprendiz. Sua função no progra- ma é dar visibilidade à fonte, um especialista ou representante oficial, que concede informações relevantes e atuais. Segundo Steven Clayman e John Heritage (2004), os programas de entrevistas estão diretamente vinculados ao campo político, permitindo que os assuntos referentes ao interesse público geral sejam discutidos com os represen- tantes das esferas de poder, configurando um papel social relevante na formação de uma esfera pública (Habermas, 1984). Assim, segundo os autores, a entrevista jornalística é [...] uma arena na qual os jornalistas representam certas funções democráticas: solicitando declarações sobre políticas oficiais, mantendo os políticos res- ponsáveis por suas ações, e controlando os parâme- tros do debate público, tudo isso sob o escrutínio da cidadania. (CLAYMAN e HERITAGE, 2004, p. 2). Os debates televisivos e suas características são um tema muito menos frequentado pela academia. Arquembourg, Lochard e Soulages (2006) consideram que, na França, os programas de debates passaram de uma lógica mais tradi- 3. Neste trabalho, a expressão “formato” designa as variações que o telejornalismo pode possuir. Considera-se que o telejornalismo é um gênero televisivo e que telejornais, programas de entrevistas, documentários, revistas eletrônicas, programas de debate são seus subgêneros ou formatos. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 629 cional - voltada aos debates sobre a política a partir de um ideal de serviço público - para um modelo mais próximo ao entretenimento, que se formou a partir da privatização das redes televisivas. Henrik Örnebring (2003) apresenta uma abordagem se- melhante a partir da caracterização histórica dos programas de debate suecos, que aponta para três fases de desenvol- vimento4. De 1956 a 1968, desenvolveu-se o que o autor denominou “debate cortês”, caracterizado pela presença de uma elite intelectualizada nos estúdios televisivos a fim de educar a população sobre os assuntos públicos através da deliberação de um consenso. De 1968 a 1984, desen- rolou-se a fase do “debate crítico”, motivado pela postura combativa da sociedade após as manifestações de grupos minoritários na década de 1960. A postura consensual do período anterior deu lugar a uma atitude questionadora e confrontadora por parte do público e, por conseguin- te, dos jornalistas que buscavam representá-lo. O terceiro momento transcorreu de 1984 a 1996, tendo como marco a publicização da vida privada de pessoas comuns e de ce- lebridades. O “debate popular”, como denominou o autor, foi resultado do acirramento da concorrência entre a TV pública e a TV comercial na Suécia e da influência de talk shows norte-americanos, como The Phil Donahue Show. No Brasil, os raros registros históricos sobre o desenvol- vimento de programas de entrevistas e debates dificultam a compreensão de seu desenvolvimento. Sabe-se que, nos anos 1950, os programas de debates surgiram no formato de mesa redonda com a proposta de oferecer aos telespectadores um 4. Örnebring (2003) não considera que essas fases possuam marcos distintivos rígidos. Pelo contrário, segundo o autor, é possível en- contrar na grade de programação programas que se enquadram em cada uma dessas etapas. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 630 “debate” sobre assuntos de interesse público. Esse “interes- se público” se cumpria na apresentação de “crianças aleija- das e seu arrimo, a muleta” (JORNAL DO BRASIL apud FREIRE FILHO, 2004, p. 92). Programas como Pinga Fogo e Território Livre buscavam pautar política e economia num debate acirrado de ideias. Além desses, eram comuns as mesas redondas esportivas para discutir sobre o último jogo e os placares da rodada5. A literatura nacional aponta, ainda, o período que vai do final dos anos 1970 até 1986 como o momento de dissemi- nação dos programas de entrevistas e debates no fluxo tele- visivo. Nesse momento, os programas pareciam dedicados ao debate de assuntos público, em função do início do proces- so de redemocratização do país (Rezende, 2000). Nos anos 1990, porém, a influência de talk shows norte-americanos aproximou programas de entrevistas e debates do modelo que Örnebring (2003) denominou “debate popular”, des- locando a ênfase do debate público para a celebrização da vida privada (Veja, 1992). Entretanto, pouca informação há disponível sobre as características desses programas e o modo como as interações se davam entre os participantes. Além disso, as abordagens se voltam para uma distinção rígida en- tre programas jornalísticos e programas de entretenimento, deixando de lado possíveis transformações nos valores do te- lejornalismo contemporâneo a partir da compreensão sobre os modos de interagir. O presente artigo busca suprir parte dessa lacuna oferecendo uma avaliação sobre três possibili- dades de uso da conversação no telejornalismo contemporâ- 5. O primeiro registro que se tem sobre esse formato no jornalismo esportivo é o programa Mesa Redonda, exibido pela TV Record, em 1954. Segundo André Ribeiro (2007), esse programa foi o “pre- cursor das atuais mesas de debates esportivos exibidas nos finais de semana” (2007, p. 158). Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 631 neo, focando em programas de entrevistas e debates histori- camente consolidados na grade de programação6. 3. Três modalidades da conversação no telejornalismo Os programas jornalísticos televisivos que têm a conver- sação como estratégia ocupam diferentes horários na grade de programação e estão presentes em contextos midiáticos distintos: TV pública, TV aberta comercial e TV fechada. O objetivo das considerações aqui levantadas não é identificar cada modelo com um programa específico, mas mostrar como os participantes em cena utilizam diferentes estraté- gias para transmitir as informações. Assim, não é objetivo deste artigo estabelecer padrões rígidos sobre a conversação. O que aqui se pretende demonstrar é de que formas os formatos televisivos analisados se ancoram nas conversações informativas, argumentativas e testemunhais. A conversação informativa faz referência ao padrão de programas de entrevistas e concerne às conversas com espe- cialistas ou representantes de órgãos oficias a fim de prestar à população esclarecimentos que lhes ajude a orientar sua vida cotidiana e cumprir seu papel na democracia. A conversação informativa se ancora no papel do jornalismo de nutrir a sociedade com informações e, pelo tempo estendido, que permite uma abordagem mais detalhada sobre os assuntos, a conversação informativa é muitas vezes definida pelos pró- prios jornalistas como um “aprofundamento”, em oposição 6. Alguns exemplos são extraídos dos programas Sem Censura (TV Brasil), Roda Viva (TV Cultura), Marília Gabriela Entrevista (GNT), Observatório da Imprensa (TV Brasil). Esses trechos serão identifica- dos pelo nome dos interlocutores, programa e dia de exibição. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 632 à superficialidade dos telejornais diários7 através de perguntas como: “[...] e a novidade neste campo, para a gente que não entende do assunto, como eu, é que Plutão foi ‘rebaixado’ [deixou de ser considerado um planeta pela comunidade científica]. Eu queria entender e que você explicasse para o público o que é que muda com isso, se é que muda algu- ma coisa” (Paulo Markum, então apresentador do programa Roda Viva, para o físico Mário Novello, 04 set. 2006). Além dos programas de entrevistas, a conversa infor- mativa caracteriza os debates classificados por Örnebring (2003) como corteses, nos quais se busca um consenso e a educação da população com relação a determinado assunto. Por conta disso é que perguntas informativas se mesclam com as de solução de problemas8 ou avaliativas9, a fim de se chegar num ponto comum que é defendido pelo programa. O exemplo mais evidente dessa modalidade conversacional é o Observatório da Imprensa (TV Brasil), que busca levar à audiência a um consenso acerca do jornalismo: “Tereza Cruvinel, alguns eleitores de nosso site [...] comentaram 7. Jornal das Dez (Globonews) e Bom Dia Brasil (TV Globo) apro- priam-se da conversação, a fim de superar os limites historicamente estabelecidos pelos telejornais, voltados para um panorama sobre o que de mais importante aconteceu no país no mundo. 8. Denomino perguntas de solução de problemas aquelas que buscam le- var ao público a informação necessária para que ele desempenhe seu papel cívico ou organize os problemas da vida cotidiana: “para o te- lespectador que está em casa, o que é possível fazer para resolver essa situação?”, “existe alguma medida prática que a gente possa adotar?”. 9. Perguntas avaliativas demandam uma opinião pessoal do entrevista- do, uma visão de mundo, a sua verdade sobre o assunto. Por vezes, essa modalidade de pergunta se traduz na forma “qual é a sua opi- nião sobre...?”, ou “o que você pensa sobre...?”. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 633 que os jornalistas não gostam de trégua. Eles precisam é de grandes confrontos que rendem notícias. Eu acho que não se está propondo uma trégua, quer dizer, o confronto político continua, mas há uma área demarcada onde deveria haver um esforço comum. Como é que você vê essa ques- tão? O jornalista realmente gosta de botar um pouquinho de lenha na fogueira?” (Alberto Dines à jornalista Tereza Cruvinel, edição de 06 jun. 2006). Outra prática recorrente à conversa informativa está li- gada a este momento de celebrização da televisão que usa como fontes seus próprios agentes. Assim, participam dos programas convidados notáveis na cena midiática para divul- gar um novo trabalho. A informação biográfica sobre celebri- dades tem-se estendido para diversos programas, no entanto, ela aparece marcadamente no Marília Gabriela Entrevista (GNT), quando a apresentadora solicita de seus entrevistados posições pessoais: “Fabiana, você se preparou bastante para seguir a carreira de cantora. Você estudou canto, teoria musi- cal, piano e violão, o que é um investimento grande, consis- tente. Você se considera recompensada já?” (Marília Gabriela à cantora Fabiana Cozzo, edição de 18 nov. 2007). Remetendo a um modelo de jornalismo que se baseia na opinião e na troca de ideias, a modalidade argumentativa põe em contato agentes de diferentes esferas sociais. A argu- mentação se articula mais visivelmente com os programas de debate em sua forma crítica (Örnebring, 2003), uma vez que promove a argumentação e contra-argumentação de questões diversas da vida social. A conversação argumen- tativa faz referência ao jornalismo de opinião, que entra em vigor historicamente a partir de uma vinculação estrita com a política e, em especial, com valores democráticos. A liberdade de expressão é um ponto fundamental para que a troca de ideias aconteça de maneira aberta e consistente. Segundo Josenildo Guerra (2003, p. 37), a matriz opinativa Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 634 remete ao jornalismo liberal inglês do século XVIII, que buscava “oferecer à sua audiência uma chave de leitura do mundo real, a partir da exposição de suas teses sobre os problemas abordados”. Apesar de ter dado espaço ao para- digma informativo, o jornalismo opinativo nunca deixou de existir, presente em colunas, artigos, editoriais, no caso do jornalismo impresso. Na televisão, esse modelo de jor- nalismo encontra na conversação um instrumento para sua prática, uma vez que, por meio dela, é possível dar visibi- lidade ao debate público e, supostamente, estimular a for- mação de uma esfera pública fora do ambiente midiático. O jornalismo opinativo é, portanto, um resíduo de antigas práticas jornalísticas, mas que permanecem em uso, em es- pecial pela vinculação com o campo político. Tanto Josenildo Guerra (2003), numa análise do jor- nalismo mais voltada para a formação europeia e norte- -americana, quanto Marialva Barbosa (2007), numa história cultural da imprensa brasileira, afirmam que momentos de instabilidade são mais suscetíveis à adoção desse modelo de jornalismo, o que justifica que, historicamente, esse modelo tenha surgido na Europa na passagem do absolutismo para a democracia e, no Brasil, da monarquia para a República. A própria história do fortalecimento de programas de debate e entrevistas no Brasil aponta para um momento de transi- ção política: da ditadura para a democracia. No entanto, essa instabilidade não necessariamente está presente, apenas, na transição de um governo para outro, mas em crimes contra o Estado, escândalos envolvendo parlamentares, abusos de poder, e também em questões de segurança pública, de- sequilíbrios ambientais, etc. A apropriação da conversação pelo telejornalismo brasileiro representa, em certa medida, uma liberdade para fornecer opiniões quando o contex- to político exige e, como os problemas do governo são frequentes no sistema político nacional, há sempre espaço Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 635 no fluxo televisivo para programas que promovam deba- tes sobre essas questões. Os programas jornalísticos fazem um jogo entre informatividade e opinião, que é consentido pela audiência, uma vez que visa promover o fortalecimen- to da democracia por meio do inquérito aos representantes das esferas sociais. Segundo Afonso de Albuquerque (1999), é essa instabilidade política que leva o jornalismo brasileiro ao papel de poder moderador, uma instância que reivindi- ca autoridade para colocar os poderes constitucionais um contra o outro. É nesse sentido que a conversação nos programas jor- nalísticos assume um caráter de denúncia e adota um pa- pel de cobrar das autoridades explicações calcadas em bons argumentos. No Roda Viva, a argumentação é o veículo privilegiado por meio do qual os participantes interagem e constroem um clima de tensão por meio da postura adver- sarial dos jornalistas em relação ao entrevistado. Nesse pro- grama, a conversa argumentativa é o que confere o caráter investigativo que as perguntas elaboradas pelos entrevista- dores possuem, como se pode ver na entrevista com a então candidata à presidência da República, Heloísa Helena: Luiz Carlos Azedo: Mas não respondeu a pergunta que eu fiz, com quem a senhora vai governar? Quem são as pessoas, os partidos? Heloísa Helena: Com todas as pessoas, todos esses setores. Agora, se você quer que eu reproduza a vi- são de governabilidade tradicional, eu não comparti- lho com ela. Eu vou respeitar o Congresso Nacional como manda a Constituição do país. O Congresso Nacional, embora enquanto promíscuo, represente a promiscuidade do Palácio do Planalto, ele foi elei- to pelo povo, então vou respeitar. Agora, estarei no Congresso Nacional, como em vários estados do país, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 636 debatendo com o Congresso Nacional. Por que não posso debater com o Congresso Nacional?  Por que essa mania e visão de governabilidade tem que ser governabilidade de distribuição de cargos, prestígio e poder? Eu preciso do Congressos Nacional para fis- calizar os atos do executivo, para estar sendo parceiro da sociedade e da construção coletiva. Paulo Markun: E a senhora acha que o Congresso vai embarcar nessa? Heloísa Helena: Não tenho dúvida. Vai [balançan- do a cabeça positivamente]! Fernando Rodrigues: Senadora, a senhora vai co- locar para correr o deputado que for lá na base da fisiologia exigir cargo para aprovar projeto? Heloísa Helena: Mas, meu amor, ele nem vai. E você acha que alguém vai?  Já disse várias vezes, não vão [...]. (Edição de 12 jun. 2006) A conversação argumentativa dispersa-se em outros pro- gramas da grade televisiva, mas às vezes de maneira mais pontual. No Marília Gabriela Entrevista, por exemplo, a argu- mentação pode existir quando o convidado busca discutir um assunto de interesse geral. Sendo assim, a entrevista com o jornalista Caco Barcellos, em certos momentos, atingiu o modelo argumentativo, a fim de obter uma avaliação sobre o assunto debatido - segurança pública: Marília Gabriela: Vou fazer uma coisa quase ir- responsável. Mas você, diante disso que você diz e que, nessa relação pobre/ polícia, você está resu- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 637 mindo ou concluindo que pobre é sempre bom e polícia é sempre ruim? Caco Barcellos: Absolutamente que não. Não te- nho essa ilusão e o dia-a-dia mostra isso, que os po- bres, aliás, os brasileiros, a sociedade em geral no Bra- sil, me desculpe a franqueza, mas tem uma vocação pelo ilícito e pela ilegalidade que é uma coisa preo- cupante. Seja pobre ou seja rico. Marília Gabriela: Você acha que viria de que isso? Caco Barcellos: Ah, acho que é herança do nosso passado [...]. (Edição de 07 set. 2008) Do ponto de vista das esferas produtivas, a conversação argumentativa evidencia um amplo trabalho da equipe de produção não apenas para a seleção das temáticas abordadas e dos convidados, mas do preparo dos participantes para se envolverem na troca. No Roda Viva, no Sem Censura e em outros programas, por exemplo, a produção disponibiliza aos entrevistadores convidados um resumo sobre o convi- dado para fomentar o debate e impedir que haja um esva- ziamento da conversa, ou que ela seja marcada por silêncios. O objetivo dos programas é oferecer à audiência uma troca de argumentos que demonstre a defesa de um projeto de sociedade (Guerra, 2003, p. 37). A audiência é envolvida a partir da necessidade de formar uma opinião própria sobre as problemáticas tratadas durante a conversa. Assim, espera-se que ela já possua informações básicas sobre o tema posto em debate e engaje-se na troca de argumentos a fim de obter perspectivas diferentes das suas e que as leve a reformular sua visão de mundo. O contato com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 638 a argumentação televisionada dos agentes dos programas leva ao reforço dos argumentos dos telespectadores sobre o as- sunto, seja para encontrar respaldo para o que já pensam, seja para reconfigurar e encontrar novos argumentos, o que for- talece a deliberação na democracia. Os atores no processo comunicativo argumentativo pos- suem a função de fornecer argumentos que corroborem com seu ponto de vista ou os negue, dando um sentido de disputa pela visão de mundo vencedora. Há um mediador que fun- ciona como debatedor, estimulando a troca e propondo as questões que devem ser abordadas durante a conversa. A terceira modalidade conversacional é testemunhal, marcada pela troca de experiências e de ideias que as ex- pliquem e deem significado. Perguntas biográficas10 e in- timistas11 são mais frequentes para oferecer um sentido de partilha e sociabilidade entre os participantes da conversa em cena e os telespectadores. A conversação testemunhal dá relevo ao papel do testemunho e seu significado para o jornalismo contemporâneo. Segundo François Jost (2003), o testemunho é a for- ma preferencial dos jornalistas na atualidade, uma vez que substitui as informações fornecidas por especialistas pela autenticidade de experiências vividas de qualquer pessoa. O testemunho envolve duas perspectivas: algo que se viu e algo que se viveu. No primeiro caso, o jornalismo valida-se pelo relato de alguém que presenciou um acontecimento e, por isso, possui autoridade para contá-lo aos outros. No 10. Perguntas biográficas buscam informações sobre a vida pessoal ou profissional de um participante. 11. São perguntas intimistas aquelas que procuram levar o convidado à confissão de segredos, à partilha de emoções. O objetivo dessas perguntas é criar um ambiente de intimidade no qual os assuntos podem ser abordados. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 639 segundo, o que está em jogo é a experiência, o sentimento que pode ser relatado por alguém que viveu uma situação e, por isso, pode ser exemplo de questões mais amplas e servir de exemplo para outros. Essa é a forma mais comum pela qual os testemunhos são tratados nos programas analisados. Opondo a conversa informativa à testemunhal, Daniel Dayan (2006) relaciona os testemunhos ao pouco aprofun- damento da televisão contemporânea: um especialista pode contradizer outro. Mas ao contrário, um especialista não pode contradizer o testemunho de alguém já que se refere a sua própria experiência. Ele não pode dizer a esse testemunho: ‘essa não é a sua experiência, essa não é a sua vivên- cia, você não sabe exatamente do que está falan- do, eu conheço sua experiência melhor que você’. (DAYAN, 2006, p. 180). Para o autor, os testemunhos entram na televisão com o peso de um argumento contra o qual ninguém pode re- futar. Segundo Dayan (idem), certos programas televisivos promovem uma “publicização” da vida privada, sem que haja um debate mais amplo que insira os testemunhos pes- soais concedidos. Deste modo, os programas levam seus convidados para o estúdio apenas para falar sobre algo que viveram, e não para usar a experiência pessoal como argu- mento sobre uma temática. Entretanto, a perspectiva de Dayan (idem) contrasta com o que se pode ver nos programas, quando as experiências são relatadas a fim de sustentar uma visão de mundo. O testemunho participa da conversa como prova de uma re- alidade percebida pelo falante que pode servir de exemplo para outros. Quando um programa põe em cena conver- sações sobre maternidade, por exemplo, e as participantes relatam suas dificuldades, ele está contribuindo para que Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 640 outras mães sejam informadas ou se sintam confortadas por experiências semelhantes às suas. Quando os entrevistado- res utilizam experiências pessoais para fundamentar suas perguntas, o relato transforma-se em ilustração para obter uma informação que se aplique ao caso. Tratando das con- versas na vida cotidiana, Ângela Marques (2009) afirma que [...] o testemunho pode ser visto como um proce- dimento prático empregado pelos indivíduos para tornar seus pontos de vista mais inteligíveis e passí- veis de serem aceitos como válidos. Ao assumir uma forma narrativa, o testemunho retira as experiências do locus de sua ocorrência particular e lhe confere um valor de ilustração, exemplo, prova ou argumen- to. [...] O emprego do testemunho em situações de conversação informal oferece a oportunidade de perceber a situação a partir da perspectiva do outro, o que pode contribuir para a mudança de modos de pensar e de compreender as histórias individuais e coletivas. (MARQUES, 2009, pp. 11-12). Do ponto de vista narrativo, o testemunho ganha o forma- to daquilo que os autores comumente denominam storytelling, o ato de contar histórias. Ao tratar sobre o storytelling, Mats Ekström (2003) refere-se a uma estratégia narrativa construída em torno de aspectos dramáticos: sequencia narrativa, cons- trução de personagens, elementos dramáticos que enquadram as interpretações a serem feitas, o desfecho da história e as possibilidades de explorar mitos da sociedade e valores morais. Capturando a audiência a partir de um vínculo emocional, o ato de contar histórias, para Ekström (2003), é o que melhor caracteriza o jornalismo contemporâneo. Segundo Makri-Tsilipaku (2004, p. 844), a conversação pode ser voltada para o relato de “como as coisas são”, for- necendo informações, análises e a verificação da verdade Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 641 – o que se enquadra nos modelos de conversação infor- mativa e argumentativa – ou pode voltar-se à reprodução de algo que aconteceu, relacionando-se à subjetividade e à afetividade, o que caracteriza os testemunhos. Por outro lado, o testemunho pode servir como fonte de aprendizado, como partilha de uma experiência que serve de exemplo para outras pessoas e, para isso, os falantes empregam rela- tos emocionais para incluir a audiência e despertar nela o interesse a partir da partilha de sentimentos. Sendo assim, a experiência de uma pessoa pode representar a de muitas, o que denota um caráter social dos acontecimentos vividos, como se pode verificar na conversa entre a escritora Maria Mariana e a apresentadora Leda Nagle no Sem Censura: Maria Mariana: Eu acho, assim, que a única manei- ra de a gente proteger o nosso filho é sendo amiga. Eu acho que esse investimento na amizade, eu acho que é a única forma. Porque, como vai proteger de um mundo tão violento? De um mundo tão absur- do? Eu procuro acreditar que o tempo que eu dedico a eles, e tudo, é querendo proteger, porque eu que- ro chegar neles adolescentes e que eles confiem em mim, e ser amiga para poder saber o que eles estão pensando, poder orientar. (Edição de 08 mai. 2009) Erving Goffman (1986) já tratava a conversação cotidia- na a partir de uma proximidade com atos teatrais, pois, ao contar o que se passou, ao relatar uma experiência, o falante precisa recuperar a cena de forma dramática. O drama, para Goffman, está mais presente nas conversas cotidianas do que a informação: “estou sugerindo que, frequentemente, o que os falantes afirmam fazer não é fornecer informação ao receptor, mas apresentar dramas a uma audiência” (GO- FFMAN, 1986, p. 508). Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 642 Por conta disso, é que se pode apontar o testemunho como elemento narrativo inovador no telejornalismo. Har- vey Sacks (1992) chama atenção de que, ao contar uma história que vivenciou, um falante procura provocar no ou- vinte os mesmos sentimentos que ele teve para que a expe- riência seja, também, do interlocutor. Assim, a partilha de problemas ou alegrias pode fazer referência a algo que foi vivenciado ou que poderia ter sido vivenciado pelo ouvin- te, retirando a experiência do plano individual e levando-a para o coletivo. Quando essas experiências recebem visibi- lidade midiática, o alcance efetua-se num nível maior do que nas relações interpessoais. As observações aqui levantadas não pretendem esgotar as possibilidades de uso da conversação no telejornalismo, tampouco firmar padrões rígidos. Pretende-se, apenas, sub- meter à comunidade acadêmica características pouco dis- cutidas acerca do telejornalismo em formatos que recebem escassa atenção dos pesquisadores. Os modelos informativo, argumentativo e testemunhal extrapolam os programas de debate e entrevista e começam a migrar para outros for- matos jornalísticos, como os próprios telejornais, que cada vez mais inserem a interação entre seus mediadores como modo de apresentação12. Deste modo, o telejornalismo pode dinamizar-se em novas formas de mediação, atraindo a audiência a partir de uma prática da vida cotidiana, a fim de estabelecer uma relação de proximidade. 12. Bom Dia Brasil e Jornal Hoje (TV Globo), Estúdio I e Jornal das Dez (Globonews) são apenas alguns exemplos. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 643 4. Referências ALBUQUERQUE, Afonso de. Um outro quarto poder. Imprensa e compromisso político no Brasil In Revista Fronteiras – estudos midiáticos, vol. 1, dezembro de 1999. ARQUEMBOURG, Jocelyne; LOCHARD, Guy; SOU- LAGES, Jean-Claude. La permanence d’um ideal de service public. In: LOCHARD, Guy (org). Les débats publics dans les télévisions européennes. Paris, L’Harmattan, 2006, 268p. BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa: Brasil, 1900-2000. Rio de Janeiro: Mauad, 2007, 262p. BELTRÃO, Luiz. Jornalismo interpretativo. 2ed. Porto Alegre: Sulina, 1980. BRAGA, José Luiz. Roda Vida – uma encenação da esfera pública. Texto apresentado no Encontro Anual de Núcleos de Pesquisa da Intercom, PJO – Núcleo de Jorna- lismo. 4-9 de setembro de 2006, Brasília, DF. BURKE, Peter. A arte da conversação. São Paulo: Edi- tora da Universidade Estadual Paulista, 1995. COM A LÍNGUA SOLTA. Com poucas idéias e pouco dinheiro, as emissoras entram na onda do falatório com imagens. Revista Veja. 22 de jul 1992, pp. 92-93. DAYAN, Daniel. Quand montrer c’est faire. In: La terreur spetacle. 2006, pp. 165-184; EKSTRÖM, Mats. Information, storytelling and attrac- tions: TV journalism in three modes of communication. In: Media, Culture & Society, 2000, Vol. 22, 465-492. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 644 FREIRE FILHO, João. ‘Notas históricas sobre o conceito de qualidade na crítica televisual brasileira’. Galáxia, 2004, número 7, pp. 85-110. GOFFMAN, Erving. Frame Analysis. Na essay on the organization of experience. Boston, Northeastern Univer- sity Press, 1986, 577pp. GOMES, Itania. Questão de método na análise do te- lejornalismo: premissas, conceitos, operadores de análise. In E-compós, abril de 2007, vol. 2. GUERRA, Josenildo Luiz. O percurso interpretativo na produção da notícia, Salvador/UFBA, 2003 (Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas); HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública. Investigações quanto a uma categoria da socieda- de burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. JOST, François. La télévision du quotidien. Entre réalité et fiction. Paris : Éditions De Boeck Université, 2003. MAKRI-TSILIPAKOU, Marianthi. The reiforcement os telleability in Greek televisio eyewitnessing. In: Media, Culture and Society, London, Thousand Oaks and New Delhi, 2004, vol. 26 (6), pp. 841-859. MARQUES, Ângela. A conversação informal na in- ternet: aspectos afetivos e políticos. Texto apresenta- do Grupo de Trabalho “Comunicação e Sociabilidade”, do XVIII Encontro da Compós, na PUC-MG, Belo Horizon- te, MG, em junho de 2009. MARQUES DE MELO, José. A Opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes. 1985; Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 645 MATEU, Manuel. La entrevista en televisión. In: BALSE- BRE, Armand; MATEU, Manuel; VIDAL, David. La entre- vista em radio, televisión y prensa. Madrid, Ediciones Cáte- dra, 1998, pp. 149-244.. MILLER, Stephen. Conversation – a history of a de- clining art. New York: Vail-Ballou Press, 2006. MONTAIGNE, Michel. Da arte de conversar. In: Ensaios 52, Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo: Editora Globo, 1961, pp. 224-239; ORNEBRING, Henrik. Televising the Public Sphere. For- ty years of current affairs debate programmes on Swedish television, in European Journal of Communication Vol 18 (4), 2003, 501-527; REZENDE, Guilherme Jorge de. Telejornalismo no Brasil. Um perfil editorial, SP, Summus Editorial, 2000; RIBEIRO, André. Os Donos do Espetáculo. História da imprensa esportiva no Brasil. São Paulo, Terceiro Nome, 2007. SACKS, Harvey. Lectures on conversation. Oxford, T.J. Press, 1992. WOLF, Mauro. Sociologia de la vida cotidiana. Madri: Cátedra, 1994. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 646 28. Eça de Queirós na Rede Globo: objetos reconfigurados nas minisséries Primo Basílio e Os Maias Solange Wajnman1 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo O artigo trata da reconstrução da narrativa de Eça de Quei- róz para minisséries na Rede Globo de Televisão do ponto de vista da reconfiguração de objetos. A partir do estudo da ma- terialização dos objetos do cenário e figurino do século XIX, com um século de diferença e em um suporte diferente daque- le do livro, podemos verificar com precisão os momentos em que características da midiatização ocorrem. 1. Professora do PPG Comunicação da Universidade Paulista, UNIP. Doutora em Sciences Sociales pela Sorbonne, Paris com pesquisa de Pós Doutorado na Escola de Estudos Superiores de Teatro e Cinema (ESTC), Lisboa. Líder do grupo Moda, Comunicação e cultura junto ao Cnpq. Email: wajnman@aclnet.com.br Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 647 Palavras−chave: cenário; figurino; minisséries. Introdução Quem conhece os romances Primo Basílio e Os Maias de Eça de Queiróz não deixa de se surpreender com a quan- tidade de descrições acerca dos objetos. Ora, pela presença destes objetos temos o retrato de uma época que define elementos de sua materialidade, estética e funcionalidade, temas de interesse deste artigo. Dentro deste contexto acerca de objetos perguntamos: como se dá a reconstrução de uma narrativa como a des- crita por Eça de Queiroz, em que os objetos que configu- ram a vida social da burguesia do século XIX são apreen- didos pela cultura contemporânea das mídias e veiculados pela mais poderosa emissora brasileira, a Rede Globo? O que esperar, quando a apresentação desta mesma narrativa retoma tais objetos em um suporte tecnológico distinto daquele que se deu o seu nascedouro, no caso, original- mente pela impressa do livro? Pode-se indagar, ainda, de que modo tais objetos, em especial, cenários e figurinos, colocados em ima- gem por recursos tecnológicos contemporâneos, podem materializar a vida burguesa do século XIX e como a comunicação destes se distingue daquela veiculada pelo livro? Enfim, como se constrói uma narrativa em que os objetos estão em permanente destaque do ponto de vista de pesquisa, produção e exposição em imagem? Há estudos2 sobre estes romances que acertadamente 2. Verificar o estudo de PAIVA e MOREIRA sobre o Primo Basílio e o estudo de FLORY e MOREIRA sobre Os Maias adaptados para as minisséries nas referências gerais. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 648 analisam a semiologia dos objetos colocados em imagem. Eles demonstram que a narrativa televisiva centrou-se em uma perspectiva que reafirma a dimensão audiovisual por meio da qual os objetos têm grande funcionalidade. No entanto, a nosso ver, esta semiologia dos significados não esgota toda a complexidade acerca das possibilidades de co- municação pelos objetos. Buscamos ir além. Ora, ao telespectador não é veiculada somente a mensa- gem do conflito inerente à trama da história que se narra. Ali estão presentes elementos que expressam a dinâmica de uma sociedade específica, sua época e organização so- cial. Nesse sentido, consideramos que é possível às investi- gações que abordam as dimensões materiais como objeto de análise, transcender a trama narrativa. Ou, dito de outro modo, é possível demonstrar que os objetos são portadores de significados não apenas no interior da trama. Para além da narrativa, carregam consigo informações de sua base tecnológica e são testemunhas de um determinado tempo histórico. E ainda, no caso de O Primo Basílio e Os Maias essa dimensão assume um caráter ainda mais complexo em razão dos processos de configuração e reconfiguração his- tóricos operados pela produção das minisséries. Nos estu- dos mencionados acima, os objetos em imagem trazem seu sentido somente quando falam de conteúdos internos à die- gese. Em nossa perspectiva - por outro lado – as condições em que eles são veiculados e expressos também se consti- tuem em fontes importantes, pois é através delas que o (s) sentido (s) se constróem ou se recompõem como no caso de uma leitura de uma obra em outro suporte e com um século de distância. Em outras palavras é possível tematizar sobre os objetos e verificar a maneira como foram tratados para constituir-se em sentidos sem que necessariamente se recorra aos significados internos da trama e da narrativa. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 649 Perspectiva da Materialidade Para avançarmos nesta perspeciva nos inspiramos na teo- ria das materialidades proposta por Hans Ulricht Gumbre- cht. Teórico alemão influenciado pelas idéias de Hans Ro- bert Jauss , Wolfgang Iser, Gumbrecht e ainda Mc Luhan, ele não se direciona para a interpretação de símbolos, palavras, textos, enredos, tramas ou narrativas. Seguindo por outra vertente, a teoria privilegia o papel da materialidade do cor- po do sujeito, do suporte do meio de comunicação e de seus condicionamentos socioculturais que concorrem para a configuração do sentido. Nas palavras do autor: Não mais procuramos identificar o sentido, para logo resgatá-lo; po- rém indagamos das condições de possibilidade de emergên- cia das estruturas de sentido. (GUMBRECHT, 1988, p.147) Não caberia, nos limites deste artigo, aprofundar a dis- cussão acerca de tais balizamentos. Porém, oferecemos al- guns elementos em torno de sua visão sobre os fundamen- tos materiais da comunicação como uma ferramenta útil para a análise da problemática aqui proposta. Neste sentido, recorremos a Bernadette Lyra: [...] a teoria da materialidade é uma teoria que se faz em torno dessa reconstrução da materia- lidade. Ela passa de modo conjunto, pelo meio de comunicação e pelas instituições responsáveis pela reprodução da cultura. As relações entre os meios de comunicação, instituições e hábitos de determinada época são vistas como o horizonte de condições em que os elementos das estrutu- ras de sentido podem se organizar. As pesqui- sas, então, se tecem em volta dessas relações e, para serem investigadas, exigem um reconhe- cimento sócio-histórico e de constituição ma- terial dos meios. Assim, a pesquisa deve levar Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 650 em conta tanto a reconstrução da época em que o objeto foi produzido, como as circunstâncias sócio-culturais que cercam essa época, quanto a tecnologia que permitiu a produção do objeto, de acordo com a época (LYRA apud ROCHA, 2005. pp 21-28), No domínio das materialidades, que tem como proposta um campo não-hermenêutico, prioriza-se, portanto, a te- matização do significante sem necessariamente associá-lo ao significado. Assim, o pesquisador deve estudar o ato de comunicação em relação ao suporte material tendo como princípio a idéia de que a materialidade do meio de trans- missão influencia e até certo ponto determina a estrutura- ção da mensagem comunicacional. É assim que desenvol- vemos esta pesquisa. I - Produção da Imagem e Modernização A construção tecnológica da imagem Dando encadeamento a proposição da perspectiva da materialidade abordamos em primeiro lugar as condições concretas de produção dos cenários e figurinos dentro do processo de modernização e racionalização da emissora ao qual estiveram sujeitas as duas minisséries. Trata-se aqui de apontar as condições gerais de melhoria da imagem e do sistema de operacionalização industrial e identificá-las como condicionantes que possibilitaram a criação de sen- tidos das minisséries. Renato Ortiz, Silvia Borelli, entre outros, já observaram como a televisão, na sua trajetória desde os anos 1960, veio abandonando a linguagem radiofônica, que a caracterizava como um rádio com imagens. Sabe-se que, cada vez mais, com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 651 os avanços tecnológicos, a televisão como veículo de imagem vem ganhando sua especificidade. Mas foi preciso todo um processo de algumas décadas bem descrito por Borelli. [...] dos anos 1950/60 a 1970 observa-se signifi- cativas transformações relacionados à tecnologia, ao gerenciamento administrado, à qualificação dos profissionais, ao fortalecimento do setor de teleco- municações e ao modelo narrativo [...] nas déca- das de 1950/60, destacavam-se os seguintes “mar- cos”: busca de uma linguagem televisual própria (distanciada da radiofônica, cinematográfica, tea- tral): narrativas melodramáticas, com tendência ao dramalhão, fabricação de produtos em bases mais artesanais que industriais; improvisação técnica e ausência de critérios para a divisão de trabalho; mi- gração de produtores culturais – autores, diretores, atores e demais componentes do processo – origi- nários de outros campos, como rádio, teatro e ci- nema; grande número de telenovelas adaptadas de textos literários; processo experimental de forma- ção de autores, diretores, atores e demais agentes. Já nos anos 1970, as transformações estão vinculadas a um conjunto de “acontecimentos” [...], tais como: aparecimento do videoteipe; câmaras filmadoras “mais leves” e responsáveis por imagens de melhor qualidade; introdução da cor; investimentos no trei- namento e formação de pessoal; processo efetivo de divisão do trabalho; transmissão em rede nacional (para algumas emissoras) e ações concatenadas en- tre setores das telecomunicações e potencialidades das novas tecnologias, em rápida ascensão no perí- odo. ( 2011, p. 63). Todo esse processo tecnológico e organizacional pode ter sido responsável pela melhoria das telenovelas e, em Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 652 especial, das minisséries. Uma das consequências dessa me- lhoria é a aproximação da imagem da tela com o real. Isso não se dá somente no nível narrativo, no sentido em que as tramas, de maneira progressiva, se ancoram em realida- des mais concretas, mas também no sentido fotográfico da imagem. Tudo isso favoreceu o processo de identificação do telespectador. Ao incorporar o ambiente externo além do estúdio (como paisagens e ruas), a telenovela se distin- gue do teleteatro. E ao trabalhar com poucas tomadas de câmera e de maneira a manter a continuidade da imagem sem fragmentá-la como na telenovela, a minissérie se apro- xima da linguagem cinematográfica. E enfim, com a intro- dução da tecnologia digital, em especial, a televisão, como um todo, se insere em uma nova etapa. Dentro desse contexto, as minisséries O Primo Basílio (1988) e Os Maias (2001) se encontram em estágios dife- renciados. Diferentemente de Os Maias, as cenas exteriores de O Primo Basílio não foram feitas em Portugal, por de- mandar maior investimento financeiro. Elas foram recons- tituídas em Bonsucesso e gravadas em um terreno plano de Guaratiba, cidade cenográfica que antecede o Projac, de Jacarepaguá. Para muitas dessas cenas, a solução foi o chroma key (recurso que permite a impressão de figura presencial e fundo projetado), e a técnica do newsmate (técnica que possibilita a colocação de uma imagem recortada por ou- tra), esta última utilizada para a figuração do Theatro São Carlos, um edifício barroco do século XVIII. Na opinião de António Casimiro, figurinista português e consultor da Rede Globo para minisséries, que nos prestou depoimento 3, em O Primo Basílio, os interiores do ambiente queirosiano foram reproduzidos, mas a reconstituição desse ambiente 3. Entrevista concedida para este trabalho em janeiro de 2009. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 653 nas cenas externas não foi bem-feita. Em Os Maias, ao con- trário, investiu-se muito mais na adequação dos ambientes portugueses legítimos ou próximos ao contexto verdadeiro, o que aumentou em muito a condição de verossimilhança. A construção visual do passado no presente Sob o ponto de vista da imagem, podemos dizer que, apesar dos progressos da cenografia, especialmente com Mario Monteiro, cenógrafo de O Primo Basílio, a quali- dade visual avança, mas há ainda uma restrição quanto às técnicas, câmeras e iluminação. A força da narrativa ainda continua sendo a interpretação, como, por exemplo, a atu- ação de Tony Ramos no momento em que descobre que sua personagem, Jorge, foi traída. São duas câmeras Ikegami, que captam com maestria, por ângulos diferentes, a dor e a raiva daquele momento. No caso de Os Maias, câmeras mais sofisticadas, edição eletrônica e efeitos de pós-produ- ção implicam uma diluição dos personagens na estética da imagem. Observa-se, assim, que em 2001 a televisão já apri- mora a linguagem televisiva de modo que os recursos visu- ais integrem de maneira mais intrínseca a própria narrativa. Muito provavelmente devem ter sido esses efeitos que leva- ram Luis Fernando Veríssimo a comentar, na apresentação do DVD que se seguiu à minissérie: A câmera extraordinariamente móvel do Luiz Fernan- do Carvalho “frequentou”, mais do que retratou, a frívola Lisboa da época e todas as atmosferas do romance. Mas no fundo havia aquela progressão majestosa, desde a primeira cena, para o desenlace, a câmera andante nos levando como um lento tema trágico que repassa uma sinfonia. Nunca uma câmera de TV foi tão cúmplice e envolvente, nunca a TV foi tão romântica. (Os Maias, 2004. [DVD]) Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 654 Além da qualidade da imagem, a preocupação com o detalhe dos objetos do contexto histórico também é grande, e, nesse aspecto, a produção mais esmerada foi sem dúvida a de Os Maias. Os objetos de cena e os figurinos ratificam a sensação do passado. As cortinas pesadas do Ramalhete, os tapetes que cobrem todos os cômodos, a forma regrada e artística como os pratos são distribuídos nas mesas para os jantares. A escolha dos objetos, que trazem em si a lembran- ça de outros tempos: taças de vinho decoradas com design leve, os arranjos de flores de centros de mesa respeitando os cânones da decoração oitocentista, as velas acesas que oferecem aos ambientes uma luz amarelada e escura. Além disso, em Os Maias, em especial, insistiu-se na linguagem tátil dos objetos e texturas. Como observa Cardoso, a nova tecnologia dos processos de captação, transmissão e recep- ção da imagem, entre os quais se incluem o sistema digital e as telas de alta resolução, somada à aceitação dos efeitos naturais causados pela retícula eletrônica, como o do moiré, trouxeram para a tela as texturas extremamente detalhadas dos salões da aristocracia portuguesa da metade do século XIX, as cores saturadas e contrastantes (Cardoso, 2009: 78). Neste caso, há um forte componente de efeito sinesté- sico. Os objetos na imagem solicitam a mistura dos sen- tidos: sente-se com os olhos aquilo que seria reservado ao toque; a tatilidade aveludada de um sobretudo ou a leveza de um vestido de seda da protagonista. Conhece-se pelos olhos o aconchego aristocrático dos tons de verme- lho que o palacete dos aristocratas ostenta antes de seu discurso verbal. Ficamos sabendo do estilo de vida da eli- te portuguesa com nosso corpo. Dito de outro modo, a linguagem sinestésica dos objetos de cenário e figurino intensificados pelos recursos de luzes e câmeras desponta atualmente como uma característica da linguagem audio- visual das minisséries, em especial. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 655 Além da construção dessa sinestesia que culminará em Os Maias, outros processos de modernização da emissora facilitam a imersão do telespectador na imagem. Esses detalhes dos cenários e figurinos também são “cientificamente” construídos. Trata-se dos próprios objetos que conferem verossimilhança à narrativa. Se antigamente, devido à precariedade da televisão bra- sileira, a imagem possuía uma dimensão metafórica, atu- almente ela tende a descrever o real de uma forma mais fotográfica. Essa conquista não é simplesmente um fato que pode ser constatado, é fruto de uma política que visa co- locar o espectador mais perto do “real”. Essa filosofia da empresa permeia os diversos setores da fabricação da tele- novela. Como afirma um cenógrafo, consciente da impor- tância do seu trabalho: “A minha preocupação ao montar o cenário não é decorar. Todas as coisas devem ter função no cenário, desde a parede, a colher que você pega, a es- tatueta. O aspecto se um objeto é da época ou não é da época, isto é fundamental” (Cf. Ortiz, 1988: 140). São esses detalhes dos cenários e figurinos que se tornam cada vez mais “cientificamente” construídos. São eles que podem conferir verossimilhança à narrativa. O que não impedirá os desvios conscientes, o que nós mostraremos mais adiante. Mas, ainda aqui é preciso discutir a questão da verossimi- lhança que os detalhes proporcionam para estas minisséries. Ora, a especificidade das minisséries históricas em relação às demais é o fato da narrativa dramatizar o passado cote- jando-o com os fatos históricos e situando o telespectador em um nível de vivência especial, próxima do fascínio. E dentro deste contexto a questão da identificação é crucial. Michelli observa: Essa fascinante sensação de colocar-se no lugar do outro, assumindo outra identidade, produzida pelas Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 656 obras de ficção, se intensifica nas tramas históricas, uma vez que fatos e personalidades reais estão sen- do apresentados. Com isso, a imaginação pode levar o telespectador a uma volta ao passado, a partir de um passado construído e ficcional, mas que teve existência concreta. Adayr Tesche (2006) aponta que a sedução das minisséries históricas acontece a partir da ilusão criada, que faz com que por um instante acreditemos ter vivido outra vida, numa milagrosa ampliação da nossa experiência. Ou seja, a experiência vicária provocada por todo tipo de narrativa ganha força e intensidade nas narrativas de época, o que faz com que, segundo o autor, as minisséries televisivas históricas incorporem uma realidade identificável e a submetam a uma remo- delação imprevisível. (MITCHELLI, 2010). Dito isto, passemos a trabalhar com os objetos de cena e as maneiras pela quais eles reconstroem o ambiente por- tuguês do século XIX e as implicações na produção do sentido da narrativa um século depois. II - A Importância das Reconfigurações dos Objetos na Emergência dos Sentidos O que importa tematizar aqui, após a discussão acima, são as reconfigurações efetuadas pela emissora a partir do seu trabalho de produção com os objetos descritos por Eça de Queiróz e suas implicações na emergência dos sentidos. Ora, a obra de Eça aborda o vestuário através de pequenas inclusões de qualidades de material, textura, cores mas não há uma descrição minuciosa e completa. Assim, aquilo que na obra literária pode ser deixado por conta da imaginação do leitor, na obra audiovisual neces- sita de esclarecimento. A visualidade deve ser construída Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 657 em todos os seus pormenores e detalhes para transformar em imagens, não apenas os personagens, mas toda a rea- lidade física que os cerca. É na criação da fisicalidade das obras de Eça de Queiróz que se encontra tanto o respeito ao seu conteúdo original como os artifícios dos ofícios da visualidade ou da direção criativa. Dito isto, questionamos como são (re)produzidos e (re) presentados na atualidade, tais objetos, considerando-se as distâncias técnicas e tecnológicas implicadas na escala tem- poral de mais de cem anos que separa a obra impressa de sua adaptação para televisão. Distorções podem ser iden- tificadas? O que muda e o que permanece? Será dentro deste exercício de verificação entre o dado histórico e o dado televisivo que poderemos identificar o tipo de filtro da emissora ao abordar as idéias e valores do mundo da elite portuguesa do século XIX. Poderemos perguntar: o que a emissora (re)cobre e o que (re) configura? Dentro dos limites deste trabalho apontaremos exem- plos de algumas destas soluções4 nas minisséries e vamos tematizá-los a fim de esclarecer a sua natureza, seu tipo de apelo e vinculação . As roupas de Luisa Juliana, como a “criada de dentro” (sic), está sempre às voltas com algum tipo de trabalho, de modo geral estafante. Arrumar, limpar, lavar, engomar, passar, servir são tarefas de seu cotidiano. Ora, estas tarefas não poderiam ser trabalhadas por uma só pessoa, sobretudo no trato com a roupa branca. 4. Estes exemplos receberam a consultoria de Mariana C.F.T Rodri- gues da Universidade Mineira de Arte, co-autora de outros traba- lhos sobre o assunto. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 658 Assim como no romance, a criada reclamava da quantidade de roupas brancas que Luiza usava e sujava, principalmente após iniciar seu romance com Basílio. A pesquisa histórica para adaptação da minissérie no livro não levou em conta o imenso trabalho que era a lavagem de roupa branca. Considerando-se todo o empreendimento, e deve-se frisar, apenas para a lavagem de roupas branca, podemos imaginar a quantidade de trabalho que era destinada tam- bém à lavagem das roupas de cor, que não podiam ser mis- turadas e ainda corriam o risco de desbotarem. Esta neces- sidade de mão de obra para manter o bom funcionamento de uma residência com apenas dois moradores nos leva a refletir sobre o figurino apresentado por Luisa na minissé- rie O Primo Basílio. Durante os capítulos exibidos, Luisa apresenta-se com pelo menos trinta e um looks diferentes. São vários os ves- tidos e conjuntos de saia e blusa, saia e colete, e paletó. A personagem aparece com sete chapéus e um arranjo de cabeça, assim como pelo menos 6 jabôs diferentes e três capas compridas, golas falsas, punhos falsos e duas sombri- nhas. Este é um guarda-roupa rico para uma burguesa co- mum exibir, uma burguesa cujo marido tem como fonte de renda o salário que o Estado lhe paga, ou seja, que não vive de investimentos e rendas, e aparentemente tem como posse apenas a casa simples em que vivem. Embora estes looks apresentados no seriado sejam compostos – muitas vezes – de peças separadas e possa-se entre eles formar-se combinações que proporcionam modelos diferentes, a idéia veiculada ao telespectador, que não tem conhecimento das técnicas de figurino, é que Luisa é dona de um guarda rou- pa repleto de ítens diferentes. A combinação dos modelos com os acessórios, chapéus, colares, broches, brincos, jabôs, coletes, sobressaias, véus, permite que Luisa entre em cena quase sem repetir as roupas. Ora, para se confeccionar uma Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 659 roupa nessa época era necessário muitos metros de teci- do, que davam vazão à moda da saias volumosas e cheias de folhos, uma despesa pesada para um orçamento familiar como demonstrou a pesquisa de Diana Crane em seu livro A moda e seu papel social (Crane, 2006). Verifica-se a distorção da realidade queiroziana para su- prir a necessidade de entretenimento do público especta- dor. O figurino de peças teatrais e filmes são elementos que cativam o público desde o século XIX. Atrizes que se exibiam no teatro oitocentista – quando o figurino ain- da não era um departamento especializado – contratavam couturiers para vestí-las. O figurino ainda é uma carac- terística apreciada dos produtos da indústria de entreteni- mento, e a TV Globo, ao fazer um investimento tão alto em produções nacionais como são os casos das minisséries, o utiliza também como um valor agregado ao seu produto. Luisa não teria condições de ter e manter um vestuário tão variado, mas a TV Globo tem e o leva ao ar, confundindo assim as percepções do telespectador comum em relação aos tempos passados. O brinco de Juliana Vamos nos deter na questão dos ornamentos, mais parti- cularmente na questão do brinco de Juliana. A produção da TV Globo segue, quase que à risca, a descrição de Eça de Queirós sobre Juliana, a criada de Luísa. Como no livro, o vídeo apresenta uma Juliana magra, seca, encovada, cansada. Seu figurino, a princípio, é constituído de pouquíssimas pe- ças de roupa, repetidas exaustivamente durante os capítulos. Seus trajes se modificam quando, chantageando Luísa, passa a receber desta algumas peças de roupas e acessórios. Gran- de parte dessas modificações é plausível na sua estilização Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 660 para o vídeo. Entretanto, o que fica mais destoante são os brincos dourados que a criada exibe em todas as cenas. Ora, Eça em nenhum momento faz menção ao uso des- sa peça, que brilha e chama a atenção na tela da televisão. Seu uso seria uma questão estética? Um pouco de brilho junto à face sombria da personagem, que usa roupas escuras e tem os cabelos escuros? Não temos essa informação, mas o fato é que os brincos usados por Juliana parecem-se bas- tante com os brincos da tradicional ourivesaria portugue- sa, que exibem uma pequena variação de modelos, entre eles a arrecada, um tipo de brinco trabalhado em filigrana de ouro ou prata. Levando em conta a importância dos adornos e dos brincos, particularmente para a tradicional mulher portuguesa, inclusive considerando que os modelos das arrecadas são oriundos de similares populares, pode-se entender a utilização dos brincos pela personagem. E, em- bora esses brincos não tenham sido descritos por Eça, o seu uso alia à personagem Juliana um objeto ícone do folclore português, um objeto que no imaginário popular se tornou conhecido por meio das imagens tradicionais divulgadas pela cultura de Portugal. Imagens estereotipadas que pudes- sem rapidamente vir a ser reconhecidas por todos. Trata-se evidentemente de uma idéia familiar de Portugal. A Festa da Uva Outra questão que pode ser discutida é o modo glamou- roso como os camponeses aprecem nas minisséries. Trata-se quase de um cartão-postal em que não há referências pro- priamente ditas à pobreza e situação desses trabalhadores. Vejamos: nos curtos capítulos que narram a trajetória do pequeno Pedro da Maia em Santa Olávia, ocorreram duas festas populares: a do milho e a da uva. A festa da uva é pre- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 661 cedida pelos momentos de colheita, quando todo o vinhedo se encontra cheio de pessoas colhendo os cachos escuros. Na cena temos um grupo de mulheres, camponesas, com uma aparência muito semelhante, ou seja, vestidos em va- riações de tons azuis, lenços na cabeça e xales nos ombros. O que soa falso nessa cena é o fato de essas mulheres parecerem uniformizadas. Ora, camponesas uniformiza- das, considerando-se a situação de penúria em Portugal no século XIX? A uniformidade dessas roupas – que aparece também entre os homens, quando estão pisando as uvas nas bacias de madeira – está elaborada em excesso. Além disso, na sequência do pisar das uvas, todos os homens estão de colete. Em uma festa, pode-se considerar que os campone- ses usariam boas roupas, mas em uma festa que envolve um tipo de trabalho corporal eles corriam o risco de que essas roupas se estragassem. No caso desse segmento da popula- ção, que quando muito teria duas mudas de roupa, a forma como a minissérie mostra a vindima torna-se bastante ci- nematográfica, quase que como um cartão-postal das clas- ses mais baixas trabalhando (e no caso, felizes). Os ternos de Afonso da Maia Ao levantar o fato de que o figurino se situa em épocas históricas diferentes daquela em que Eça aponta, estamos tratando de descontextualização histórica. Para fins estilís- ticos e ainda mantendo certa coerência com a narrativa, muitas vezes os figurinistas desprezam o detalhe histórico. Exemplos abundam nas duas minisséries. Assim, podemos observar tal situação no figurino de Afonso da Maia. Em uma cena inicial em que está jogando sinuca com os companheiros, Afonso se coloca em mangas de camisa, tendo retirado o paletó e permanecido com o Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 662 colete. Até esse ponto, há exatidão na pesquisa histórica. En- tretanto, ao verificarmos o tecido de seu colete, percebemos que se trata de uma risca de giz. Embora esse tecido da alfaia- taria masculina tenha ainda hoje uma percepção relacionada à sofisticação tradicional, advinda principalmente da célebre alfaiataria inglesa, é um tipo de tecido que só foi comumente utilizado a partir das primeiras décadas do século XX. Na falta de bibliografia apropriada para conferir essa in- formação, consultamos o especialista em alfaiataria de épo- ca e responsável pelo curso de graduação em figurino da Arts University of Bournemouth, na Inglaterra, Graham Cottenden. Segundo Cottenden, a risca de giz só aparece nos registros da alfaiataria masculina a partir das décadas de 1920 e 1930. É um tecido mais fino (em espessura), in- comum para os anos 1850, cuja característica principal das roupas masculinas era serem feitas de tecidos robustos, mais grossos e rudes, como os de lã. Embora o tecido seja, então, inapropriado para o período histórico, sua reputação con- temporânea auxilia na formação do estilo da personagem D. Afonso da Maia, reforçando as características de nobre- za e do orgulho de estirpe ressaltadas originariamente por Eça de Queirós. Além disso, pode-se pensar que a qualidade de imagem que o tecido exibe, em conjunto com outros detalhes do figurino, torna a opção mais harmoniosa este- ticamente. O espartilho de Maria Eduarda Outro exemplo é aquele que se vê nas últimas cenas da primeira parte de Os Maias: após o parto de sua filha Maria Eduarda, Maria Monforte, em meio a um sarau, passa mal, e quando o médico a examina lhe diz que está grávida nova- mente. Logo após, no quarto do casal, Maria está à vontade, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 663 com um robe, mas ainda espartilhada. É quando vemos mais de perto o espartilho, claro e recoberto de aplicações em rendas. Um espartilho mais apropriado à ideia que temos dessa peça como sendo feminina e sedutora. Entretanto, o espartilho como roupa de baixo só começa a ser mais en- feitado a partir do último quarto do século XIX, quando as indústrias jogam no mercado novos tecidos e aviamentos prontos (rendas, fitas feitas industrialmente). Até então, o es- partilho era uma peça que se apresentava como um modelo de funcionalidade. Feito de tecido grosso e resistente para cumprir o papel que lhe cabia, o de apertar a cintura e le- vantar os seios, não exibia em sua estrutura aspectos deco- rativos. Novamente, temos aí uma situação em que o efeito estético predomina sobre o dado histórico. Outro exemplo de descontextualização histórica – que ocorre durante a sequência em que Maria e Pedro namo- ram e conversam, sob o olhar complacente de João Mon- forte – é o dado histórico descontextualizado do uso da crinolina. Maria, em todas as cenas, usa uma crinolina sob seus vestidos, antecipando para o ano de 1850 uma arma- ção que veio a ser adotada pelas mulheres em 1856. A crinolina é uma armação feita com aros de metal que auxiliava a sustentar o excesso de circunferência e volume das saias usadas na Europa a partir da segunda metade da década de 1850, particularmente a partir de 1856, quando começa sua comercialização. Foi adotada em substituição às inúmeras camadas de anáguas utilizadas anteriormente para sustentar o volume das saias femininas (JOIN-DIÉTERLE, 2008: 19). Ao usar a crinolina, a atriz Simone Spoladore, que incorporava Maria Monforte, não poderia fazer a cena, que requer dos atores o movimento de rolar em um gra- mado. Fica claro que, para gravar essa cena, a crinolina foi momentaneamente retirada. Talvez aí novamente tenhamos a ideia do estereótipo do Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 664 vestuário associado à mulher do século XIX, mas que não corresponderia necessariamente à realidade. Antes uma re- presentação familiar ao conjunto de conhecimentos do te- lespectador médio. Dentro dessas sequências do casal, outro trecho incompatível com a realidade ergonômica é a cena de Maria Monforte a balançar-se, e isso por causa da mes- ma crinolina que deveria estar sob sua saia. Ao ser compri- mida para possibilitar que uma mulher se sente, a crinolina ocupava um grande espaço ao redor das mulheres, o que a impediria de segurar as cordas de um balanço. A minissérie Os Maias leva ao telespectador exemplos de comportamento em sociedade que não se adéquam a rea- lidades físicas da época. Aproxima, gentilmente, sutilmente, a narrativa oitocentista de Eça de Queirós aos hábitos mais comuns do contemporâneo. Considerações Finais Deve-se ressaltar , em primeiro lugar, a existência de uma identidade globalizada europeia em que Portugal des- crito criticamente por Eça de Queiróz aparece privado de uma existência autônoma. Em segundo lugar, deve-se atentar para o fato de que a emissora moderniza e qualifica sua imagem visual aperfeiçoando sua estrutura tecnológica e de pesquisa para apresentar um tipo de realidade histó- rica singularizada. Em outras palavras, deve-se atentar que a identidade globalizada na qual se encontrava Portugal no século XIX é retomada e atualizada para o contexto globa- lizado contemporâneo. Ora, a escolha de uma temática cujo alcance se pretende global implica no levantamento de características abran- gentes consoantes com o fenômeno da midiatização. É dessa maneira que a emissora vai, pela segunda vez – já que, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 665 existe um primeiro grau de indeterminação das referências portuguesas no próprio relato de Eça de Queiróz –, exage- rar na desreferenciação. E essa condição certamente é uma das estratégias da linguagem midiática. Linguagem essa que pode pertencer a todos, aproximar ou superpor contextos diversos e não manter vínculos fortes com a experiência singular. Trata-se de “ midiatização”, conceito muito bem desenvolvido por Braga (2007) e que mostra os mecanis- mos utilizados pela emissora. Para o autor, esses mecanismos são: rapidez nas comu- nicações, abrangência geográfica e populacional, captação, objetivação, transformação, transmissão e circulação de ti- pos de informações e comportamentos, e a possibilidade de usá-los diretamente em interações sociais. Tal lógica da cultura midiática, à qual a visualidade das minisséries se subsumiria até certo ponto, segundo nossa hipótese, teria também como característica a circulação ampliada e des- contextualizada das imagens e/ou sons, objetos e situações pelos meios de comunicação. Assim, tal como essa cultura midiática à qual Braga se refere, a visualidade das minissé- ries pautar-se-ia pela desreferenciação e abstração da expe- riência mais contextual. A globalização a que estão sujeitos os produtos televi- sivos desreferencia, descontextualiza e idealiza ou investe de glamour o dado histórico. A linguagem midiática tende a tornar o produto audiovisual algo compilado a partir de referências do senso comum. Como vimos, o brinco, ícone do folclore português, e a crinolina fora do seu tempo, o conjunto excessivo de trajes de Luísa, entre vários outros elementos, são objetos que podem alterar a referência do contexto específico e singular. Embora elementos do fi- gurino, esses conteúdos visuais também fizeram parte da linguagem da narrativa e desviaram até certo ponto a ideia de Eça de Queirós na sua referência e contexto. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 666 Por outro lado, não deixa de ser irônico o fato de que uma emissora da antiga colônia seja, justamente, a respon- sável por esse processo de (re)configuração da identidade portuguesa; uma espécie de colonização às avessas. Recen- temente, enquanto escrevíamos este artigo, uma exposição sobre a obra de Fernando Pessoa foi aberta ao público em Lisboa sob o patrocínio da Fundação Roberto Marinho. Com elementos de presentificação tais como cores, luzes e movimentos, é a ideia de Portugal do século XIX que se (re)configura. Não se trata exatamente de uma crítica, mas de se ques- tionar em que medida os produtos de linguagem midia- tizada podem estar agregando cultura. Certamente eles o fazem, mas presumimos que aí já se trata de outra natureza. Natureza pós-moderna, sem dúvida. Referências BORELLI, Silvia Helena Simões. Migrações narrativas em multiplataformas: telenovelas Ti-Ti-Ti e Passione. In: LOPES, Maria Immacolata Vassalo de et al. (Orgs.) Ficção televisiva transmidiática no Brasil: plataformas, convergência, comunidades virtuais. Porto Alegre: Sulina, 2011. BRAGA, José Luiz. Mediatização como processo intera- cional de referência. In: MÉDOLA, Ana Silvia Lopes Davi et al. (Orgs.) Imagem, visibilidade e cultura midiática. Livro da XV Compós. Porto Alegre: Sulina, 2007. CARDOSO, João Batista Freitas. A semiótica do cenário tele- visivo. São Paulo: Anablume; Fapesp, USCS, 2008. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 667 CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: Senac, 2006. FLORY, Suely F.V; e MOREIRA; L.C.M. de Miranda; Uma leitura do trágico na minissérie ‘Os Maias’, São Paulo: Arte & Ciência, 2006. GUMBRECHT, Hans Ulrich (1988). Corpo e forma: en- saios para uma crítica não hermenêutica. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1998. ____. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contratempo, 2011. JOIN-DIÉRTELE, Catherine. Revi- siter le style Second Empire. In: Sous l’empire de crinolines. Paris: Musée Galliera, 2008. MACHADO, Mitchelli. A construção da imagem de uma personagem histórica nas minisséries televisivas. Revista Fa- mecos . Porto Alegre: PUC RS, n.24, 2010. MATOS, A. Campos (Org.). Dicionário de Eça de Queirós. Lisboa: Caminho, 1993. ORTIZ, Renato et al. Telenovela: história e produção. São Paulo: Brasiliense, 1988. PAIVA, Élica Luiza e MOREIRA, L.C.M. de Miranda. O Primo Basílio: um estudo do processo de transcodificação da narrativa literária para a narrativa televisual. Revista de Recensão de Comunicação e Cultura, texto da Biblioteca onli- ne de Ciências da Comunicação. s/d ROCHA, João Carlos. O Universo das Formas Míticas em Star Trek-Jornada nas Estrelas, dissertação de Mestrado, Uni- versidade Paulista, UNIP, 2005. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 668 WAJNMAN, Solange e RODRIGUES, Mariana CFT, A construção material da midiatização: estudo dos procedi- mentos técnico-expressivos das minisséries Primo Basílio e Os Maias. Revista Famecos, Porto Alegre, v.19, n.2, maio/ agosto 2012. OS MAIAS [DVD]. Minissérie dirigida por Luiz Fernando Carvalho. Rio de Janeiro: Globo Vídeos, 2004. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 669 PARTE V. EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO EDUCACIÓN Y COMUNICACIÓN Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 670 29. Futebol, política e identidade: a questão independentista na Catalunha e sua repercussão no Brasil e na Espanha Aurea Cardoso1 Elaine Nogueira Dias2 Bruno Domingues Micheletti3 Universidade Paulista – UNIP, São Paulo, Brasil Resumo Em 11 de setembro de 2012, 1 milhão e meio de pessoas saíram às ruas de Barcelona para reinvindicar a independência da Catalunha. Menos de 1 mês mais tarde, em 7 de outubro de 1. Áurea Cardoso, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP – São Paulo, Brasil, email: aureacardoso@hotmail.com 2. Elaine Nogueira Dias, mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP – São Paulo, Brasil, email: elainedias@gmail.com 3. Bruno Domingues Micheletti, mestrando do Programa de Pós- Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP – São Paulo, Brasil, email: bruno.unip.jor@gmail.com Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 671 2012, outra grande manifestação chamou atenção da imprensa, políticos e população em toda a Espanha − neste dia, durante o clássico entre o FC Barcelona e o Real Madrid, aos 17 mi- nutos e 14 segundos de jogo, mais de 90 mil pessoas gritaram pela independência da Catalunha no estádio do Camp Nou4. Com esta breve pesquisa buscamos verificar a repercussão deste acontecimento no Brasil e Espanha entre os dias 7 e 8 de ou- tubro de 2012, traçando um paralelo de opiniões sobre o tema da independência da Catalunha e sua discussão no âmbito da política, do futebol e da identidade do povo catalão. Palavras chave: Catalunha; independencia; futebol; polí- tica; identidade Introdução No dia 07 de outubro de 2012, o FC Barcelona e o Real Madrid se encontram no Camp Nou para mais um super clássico do futebol espanhol. As expectativas, porém, iam além dos resultados da Supercopa, além da rivalidade entre estes que são os dois maiores times de futebol da Espanha, além do duelo de titãs entre Lionel Messi e Cristiano Ro- naldo. Neste dia, futebol e política deram as mãos. Transmitido no Brasil apenas pela ESPN5, o jogo do FC Barcelona contra o Real Madrid ganhou pouca atenção da 4. Camp Nou é o estádio do FC Barcelona, na cidade de Barcelona, Espanha. 5. Presente no Brasil desde 1989, a ESPN foi o primeiro canal exclu- sivo de esportes no país e atualmente possui dois canais de televisão com abrangencia de 3 milhões de domicílios assinantes. No mundo, a ESPN esta presente em aproximadamente 190 países. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 672 grande mídia brasileira, mesmo não havendo jogos locais concorrentes graças as eleições municipais realizadas em todo território nacional. No dia do jogo, 07 de outubro de 2012, o jornalista Sandro Macedo avisa os leitores do caderno de Esportes, do jornal Folha de São Paulo, através da seção Numerada, que o “El Clássico” acontece naquele dia e cita seis motivos, em uma espécie de infográfico, para que o público assista o jogo. Imagem 1 - Infográfico Folha de São Paulo Fonte: Acervo digital do jornal Folha de São Paulo Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 673 Entre eles, a “Figura 1” mostra que o “Orgulho Catalão” ocupa o quarto lugar da lista, depois de Macedo citar que os telespectadores mais atentos, talvez possam ver a Sara Carbonero6 e a possibilidade do jogador Lionel Messi7 fa- zer três gols durante a partida, equiparando-se ao jogador Di Stefano8, que detém o recorde de gols no clássico. Algumas semanas antes, em 11 de setembro de 2012, havia sido celebrada a Diada (Dia da Catalunha) com uma gigantesca manifestação em prol do movimento independentista desta re- gião organizado pela Asemblea Nacional Catalana (ANC). Se- gundo o jornal La Vanguardia (2012) na reportagem Una multi- tudinaria marcha clama por una Catalunya independiente, o número estimado de pessoas nas ruas chegou a 1 milhão e meio, de acordo com a polícia local, e 600.000 segundo a delegação do governo. A discrepância nos números apontados já serve para demonstrar o nível do problema quando o assunto é chegar a um denominador comum na atual questão separatista. Finalmente no dia do referido clássico, “o Camp Nou se converteu no portavoz perfeito para o processo separa- tista [...]” (EL MONDO, 2012, tradução nossa), em uma 6. Sara Carbonero foi eleita em 2009 a repórter esportiva mais sexy do mundo. Junto com seu namorado, o goleiro do Real Madrid, Iker Casillas, o casal ficou mundialmente conhecido após um beijo televisionado que aconteceu depois da final da Copa do Mundo de 2010, quando a Espanha foi campeã. 7. Lionel Messi é um jogador de futebol de nacionalidade argentina, que atualmente joga pelo FC Barcelona. Messi foi considerado o melhor jogador do mundo consecutivamente em 2009, 2010, 2011 e 2012. 8. Alfredo Di Stefano, nasceu na Argentina no dia 04 de julho de 1926, jogou pelo River Plate e chegou a ser convocado para a sele- ção Argentina. Depois naturalizou-se Espanhol e se tornou um dos maiores ídolos do Real Madrid. Nos anos de 1957 e 1959, recebeu a “Bola de Ouro” da revista francesa France Football. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 674 manifestação na qual milhares das 96.500 pessoas presentes no estádio gritaram a palavra independência aos 17 minutos e 14 segundo de partido. O momento escolhido não foi aleatório e está fundamentado justamente na história, uma das muitas, que explicam a rivalidade que existe entre a província e o resto do país, ou seja, entre a Catalunha e a Espanha, entre Barcelona e Madrid, e finalmente entre culés9 e madrinistas10. Quando o relógio marcou os 17 mi- nutos e 14 segundos do primeiro tempo, “o Camp Nou se cobríu de milhares de estelades enquanto os fãns gritavam in−inde−independencia” (EL PAÍS, 2012, tradução nossa). Repercussão no Brasil: a politização do futebol espanhol No dia seguinte ao jogo, segunda-feira, 08 de outubro de 2012, Sandro Macedo escreve para a mesma seção Nu- merada, uma curta matéria intitulada Sem rodada do Brasi- leiro11, futebol político da Espanha reina. Porém sobre política, o jornalista faz uma alusão as eleições no Brasil e escreve: Ontem foi dia de política e futebol, em campo também. Mas escolher a que partida assistir na tele- visão neste domingo de eleições foi bem mais fácil do que eleger algum político.” (MACEDO, 2012, Folha de São Paulo, pág. D2) 9. Culé é o termo utilizado para designar o torcedor do FC Barcelona 10. Madrinista é o termo utilizado para designar o torcedor do Real Madrid 11. Referência ao Campeonato Brasileiro de futebol. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 675 A questão independentista fica apenas supra citada com a descrição de que o repórter João Castelo Branco, da ESPN, esteve em frente ao estádio Camp Nou mostran- do como os torcedores “estavam mais inspirados a gritar pela independência catalã do que por Messi”; e os cartazes escritos “Proclamem a independência agora”. Depois, Ma- cedo mudou de assunto comentando a pouca audiência da transmissão do jogo Milan x Inter pela Fox Sports e do que o jornalista considerou uma “boa notícia” para a Rede Globo12 de televisão, que foi a segunda colocação do piloto Felipe Massa no GP do Japão, o que “praticamente garante mais um ano de brasileiros na F-1.” Ainda no Caderno de Esportes do mesmo jornal, uma matéria não assinada com o título Astros reinam em clássico da separação no Camp Nou teve como destaque a declaração do português José Mourinho, técnico do Real Madrid, que disse não ser possível comparar os jogadores Messi e Cristia- no Ronaldo falando: “São dois jogadores de outro planeta, deveria ser proibido dizer qual deles é o melhor jogador.”13 Para ilustrar a reportagem a foto do jogador Messi14 é es- 12. Globo Comunicação e Participações S.A. é detentora da maior emissora de televisão brasileira, com cobertura de 98,44% de todo território nacional, atingindo 5.482 municípios. Isto representa 99,50% da população brasileira atual. A emissora também possue o recorde mundial de teledramaturgia, produzindo cerca de 2 mil e 500 horas anuais de novelas e programas, além de 1 mil e 800 horas anuais de telejornalismo. A emissora não transmitiu a partida de futebol entre o FC Barcelona e o Real Madrid. 13. Tanto Lionel Messi como Cristiano Ronaldo podem concorrer ao título de Melhor Jogador do Mundo em 2012. 14. Foto de Albert Gea, da agência internacional Reuters com a legen- da “Messi vibra após marcar o primeiro de seus dois gols no empate em 2 a 2 no Camp Nou” Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 676 tampada no jornal e a matéria além de descrever os lances e os gols da partida, ainda cita as manifestações que aconte- ceram na entrada do estádio, o hino do Barcelona cantado pelos torcedores que compareceram ao estádio e as cores vermelho e amarelo que deixaram as arquibancadas colori- das “formando um mosaico com a bandeira catalã”. Sobre o grito de independência dos torcedores no meio da partida, a matéria no jornal Folha de S. Paulo escreve que a “outra manifestação separatista aconteceu aos 17min do primeiro e do segundo tempo”, sem mencionar os 14 segundos (17m14s), que completam a alusão ao ano de 1714, quando houve um levante catalão, porém sem êxito diante da monarquia na Espanha. No site do jornal O Estado de São Paulo, o jogo saiu da página de esportes para ser noticiado na segunda-feira, 8 de outubro de 2012, dentro da editoria Internacional e ser co- mentado no blog A CRISE NA TERRA DOS REIS: Um olhar brasileiro sobre os desafios de hoje no dia a dia da Europa, assinado por Karla Mendes e veiculado na seção de Eco- nomia. A matéria produzida pela Agência Estado (AE)15, e intitulada Espanha critica manifestação da torcida do Barcelona, divulga a informação de que o ministro das Relações Ex- teriores da Espanha, José Manuel García-Margallo criticou a torcida do FC Barcelona “pela exibição de um mosaico a favor da independência da Catalunha e pelos gritos de guerra separatistas entoados pelos torcedores do time ca- talão durante o clássico com o Real Madrid”, escreve o jornal. Segundo a matéria, García-Margallo teria declarado 15. Fundada em 1970, a Agência Estado é pioneira na distribuição de informações online em tempo real e provedora de soluções eletrô- nicas para os mercados profissionais. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 677 que as ações da torcida prejudicam a imagem do país, além de passar a impressão de uma divisão interna, no momento em que a Espanha precisa mostrar uma unidade nacional para superar a crise. O jornal online também explica que a região autônoma da Catalunha é a economicamente mais forte do país, porém, na atual conjuntura precisa da ajuda financeira do governo central para administrar sua dívida; cita a tentativa do parlamento regional da Catalunha de realizar um referendo sobre a independência da região, que deve ser barrado pelo governo central; fala sobre o placar do jogo, empatado em 2 x 2; e esclarece o motivo do grito de independência catalão ter sido entoado dentro do está- dio aos 17 minutos e 14 segundos, fazendo referencia direta a “ Guerra da Sucessão Espanhola” que aconteceu no ano 1714. A matéria explica: No episódio conhecido como Guerra da Sucessão Espanhola, apesar do heroico combate, a Catalunha teve de render-se às tropas do pretendente francês ao trono, Filipe V de Espanha (conhecido como Filipe de Anjou, era neto do rei francês Luís XIV). O novo rei incorporou os territórios da antiga Coroa de Ara- gão sob o nome de Catalunha. A região deixou de ter um Estado próprio (a Generalitat e o Conselho de Cento), perdeu os seus direitos e foi incorporada definitivamente ao Reino da Espanha.” (MACEDO, 2012, Folha de São Paulo, pág. D2) Realizada no dia 11 de setembro, a marcha pela inde- pendência da Catalunha, foi lembrada no blog da jornalista Karla Mendes, porém, ela que atualmente mora em Ma- drid, disse que não se sente “autorizada a emitir opinião sobre algo tão complexo que só quem é daqui [Espanha] conhece as minúcias dessa situação”. No texto, Karla des- creve a emoção que teve ao assistir o jogo de dentro do Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 678 estádio e alega que a sintonia da torcida do FC Barcelona foi de “arrepiar”. Sobre o movimento independentista, a jornalista se baseia em conversas com amigos catalães e bra- sileiros moradores de Barcelona e credencia à eles a expli- cação de que a arrecadação do governo central de Madrid privilegia as comunidades autônomas com menos recursos, gerando discrepâncias na distribuição do dinheiro público. Com base nessas conversas, Karla cita o exemplo do sistema de ensino público, onde, enquanto as escolas situadas na região de Andaluzia possuem a média de um computador por aluno, as escolas da Catalunha possuem uma compu- tador para cada dois ou três alunos. Para finalizar o post no blog, a jornalista pondera com a opinião de outro amigo, que ela diz também ser repórter de economia: Porém, conversando hoje com um amigo de Madri, que também é repórter de economia, ele diz que não é bem assim. Segundo ele, todos os economis- tas são unânimes em dizer que a independência da Catalunha seria um desastre, pois dois terços do que é produzido na região é vendido dentro da própria Espanha. E se for proclamada a independência, ob- viamente essa fonte de recursos secaria. Qual é a melhor solução para esse conflito então? Eu não me atrevo a dizer…” Na televisão brasileira, as manifestações realizadas no es- tádio Camp Nou, não foram divulgadas no Jornal Nacional, principal noticiário televisivo produzido pela Rede Globo, que trabalhou a questão do movimento independentista na edição do dia 12 de outubro de 2012, em chamada com duração de 22 segundos falando de uma manifestação con- tra a independência da Catalunha, realizada por milhares de simpatizantes no dia nacional da Espanha. Na reportagem, o jornalista Alexandre Garcia anuncia: Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 679 Na Espanha, milhares de pessoas participaram de uma manifestação contra a independência da região da Ca- talunha. A multidão percorreu as ruas de Barcelona no dia nacional da Espanha. Com a crise econômica, vem crescendo a pressão para que a Catalunha se separe do resto do país. A região acusa o governo de praticar uma cobrança injusta de impostos. No entanto, o portal de notícias da emissora, o G1, divulgou no mês anterior, no dia 12 de setembro de 2012, uma matéria da BBC Brasil16, na editoria de Economia, com o título Crise econômica espanhola aumenta pressão por independência da Catalu- nha, acompanhada da linha fina “Governo catalão quer coletar e gerenciar impostos da região”, que corresponde a 20% da economia nacional espanhola e abriga 7,5 milhões de pessoas. A matéria cita as manifestações que aconteceram em Barcelona em ocasião da celebração da Diada e apesar de relatar o evento como “uma das maiores manifestações já vistas”, relata a diver- gência no números de participantes divulgada: Segundo os organizadores da manifestação separa- tista, cerca de 2 milhões de pessoas participaram. A polícia catalã, conhecida como Mossos, fala em 1,5 milhão. A Guarda Civil Espanhola tem números menores, cerca de 600 mil manifestantes. Outra questão abordada é o chamado “pacto fiscal”. O pre- sidente da Generalitat de Catalunya17, Artur Mas, declarou a 16. Serviço de notícias inglês, presente no Brasil desde 14 de março de 1938, através do rádio. 17. “A Generalitat é o sistema institucional em que se organiza politica- mente o autogoverno da Catalunha [...] Os poderes da Generalitat emanan do povo da Catalunha e se exercem de acordo com o que está estabelecido neste estatuto [da Generalitat] e na Constituição [fe- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 680 BBC que caso não haja um novo acordo econômico18, “a es- trada para a liberdade está aberta”. Artur Mas pertence a uma corrente política nacionalista de centro-direita, que teorica- mente é contra a independência, mas diante a crise econô- mica, parece estar mudando de opinião. Sobre o jogo entre o FC Barcelona e o Real Madrid, na editoria Mundo do G1, foi divulgado às vésperas do jogo, no sábado, 6 de outubro de 2012, uma matéria19 em que o zagueiro Gerard Piqué, do Barcelona, lamentava o fato do clássico estar associado dis- putas políticas entre a região da Catalunha e o governo cen- tral. Segundo a matéria, Piqué teria publicado em seu perfil pessoal do Twitter20 a seguinte frase: “O Barça-Real está cada vez mais com cara de Espanha-Catalunha, mas não deveria ser assim, é apenas uma partida de futebol.” No Brasil a cobertura mais ampla sobre o jogo e suas peculiaridades foi veiculada pela ESPN, o canal de televi- são fechado que transmitiu a partida. No site da emissora existe uma página dedicada exclusivamente ao Campeona- to Espanhol, sendo que as reportagens televisivas também são veiculadas nesta página. Fazendo um recorte do final de semana em que aconteceu a partida, ou seja, catalogan- do as matérias veiculadas na sexta-feira, sábado e domingo, dentro das tabelas 1, 2 e 3, é possível verificar pelos títulos, horários e números de comentários feito pelos usuários do deral, válida para toda a Espanha]” (GENCAT, 2012, tradução nossa). 18. O Acordo Econômico faz referência ao citado Pacto Fiscal. 19. “Piqué lamenta tensões nacionalistas no clássico Real-Barça” Fonte: France Presse Site G1.com.br 20. No site oficial (www.twitter.com), a seção “Sobre o Twitter” des- creve o serviço como “uma rede de informação em tempo real que conecta você às últimas histórias, ideias, opiniões e notícias sobre o que há de mais interessante.” Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 681 site, como o jogo pautou a grade da emissora, gerando no- tícias sobre diversos aspectos. Tabela 1. Sexta-feira, 06 de outubro de 2012 Hora Matéria Comentários 22h47 Apesar da pressão, Mourinho mostra confiança e não vê dife- rença no Barcelona de Vilanova 3 21h51 Veja reportagem em que Vilanova desconversa sobre a chance de ba- ter recorde e escalação de Piqué 1 21h37 Às vésperas do superclássico, Barça e Real recebem visitantes ilustres; assista ao comentário 2 17h28 José Mourinho descarta usar Benzema e Higuaín juntos 0 16h50 Com um a menos, Espanyol cede empate ao Valladolid e segue sem vencer; Betis bate Real Sociedad 0 16h34 Vilanova não quer Piqué no sa- crifício no Superclássico: ‘Não sou partidário de fazer infiltra- ções para jogar’ 7 15h07 La Coruña perde para o Rayo e amplia série negativa; Getafe bate Zaragoza em jogo de 3 expulsões 1 14h52 Piqué volta a treinar no Bar- celona e pode ser novidade no Superclássico 4 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 682 09h38 De Ronaldo a Messi, relembre os melhores do mundo com as ca- misas de Barcelona e Real Madrid 8 08h03 As muitas opções de Barcelona e Real para o Superclássico 0 02h28 Por contexto e Messi x Ronal- do, Edmilson vê rivalidade do Superclássico fortalecida nos últimos anos 0 02h28 Quem vence no domingo: Bar- celona ou Real Madrid? Veja os palpites da equipe da ESPN 16 01h49 Kaká é destaque no noticiário e motivo de debate em programa de rádio de Madri 0 01h24 Torcedor do Real, Rafael Na- dal é provocado pelo tio: ‘Gosta muito de futebol, mas não en- tende do assunto’ 0 01h05 Superclássico já teve o brasileiro Sávio ajudando Raúl a ‘calar’ o Camp Nou 7 00h20 Em momento político agitado no país, superclássico aumenta rivali- dade entre Catalunha e Espanha 0 00h01 Números das bolsas de apostas, dos artilheiros e dos preços de ingres- sos dão a medida do superclássico 0 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 683 Tabela 2. Sábado, 07 de outubro de 2012 Hora Matéria Comentários 22h25 Veja a entrevista em que o técnico Tito Vilanova lamenta o empate no superclássico 0 21h44 Após pagarem 420 euros por ingresso, torcedores do Grê- mio comemoram show de Messi e Cristiano Ronaldo 3 21h37 Busquets contém euforia após empate no superclássico: ‘Falta muita liga’ 0 21h34 O Real Madrid tinha que ter arriscado mais contra o Barcelona, comenta Paulo Calçade 3 21h11 Vilanova lamenta empate e vê Lionel Messi ‘sem limites’ 3 21h10 Veja as melhores fotos do em- pate entre Barcelona e Real Madrid 0 20h24 Messi não lamenta empate: ‘Devemos celebrar que segui- mos a 8 pontos do Real’ 7 20h16 Vilanova evita polemizar com Mourinho e pede que ‘se fale de futebol’ 1 20h13 Barcelona (Messi) 2x2 Real Madrid (Cristiano Ronaldo) - O fantástico ‘empate técnico’ no Camp Nou 0 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 684 20h08 Cristiano Ronaldo sofre lesão no ombro e será avaliado por médicos 7 20h02 Falcao marca, Atlético de Ma- dri acaba com invencibilidade do Málaga e divide a ponta com o Barça 7 19h44 ‘Foi um grande clássico. Mas, com o empate, dificilmente o Real vence o Espanhol’, analisa Trajano 15 19h41 Pepe cutuca Barcelona: ‘Mui- to teatreiros’; Vilanova respon- de e fala em vídeo de ‘patadas’ do zagueiro 92 19h30 Time de Tito Vilanova está menos ‘Barcelona total’, ana- lisa PVC 16 18h58 Do Panamá ao Iraque, super- clássico Barça x Real reuniu torcedores de todos os cantos do mundo 1 18h44 Mourinho, sobre ‘ETs’ Messi e Cristiano Ronaldo: ‘Deveria ser proibido falar em melhor do mundo’ 46 17h55 Barça e Real reclamaram pênaltis, mas árbitro mandou lances continuarem; veja 0 17h40 Pepe exalta boa atuação do Real e admite: ‘Precisamos jo- gar assim para tirar a diferença do Barcelona’ 0 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 685 17h17 Daniel Alves deixa Superclás- sico com lesão e desfalcará seleção brasileira 4 16h44 Veja protesto pacífico da tor- cida do Barcelona, que pediu independência da Catalunha durante clássico 0 16h43 Lances polêmicos: Barça e Real reclamam pênaltis não marcados no superclássico espanhol 19 16h37 Espanhol: Melhores momen- tos de Barcelona 2 x 2 Real Madrid 110 16h11 Messi e Ronaldo marcam dois gols cada, e Superclássico termina empatado 335 15h28 Messi se aproxima de Di Sté- fano, e Cristiano Ronaldo faz história no superclássico 42 15h16 Torcida do Barcelona pede por independência da Catalu- nha durante o Superclássico 44 14h47 Corintiano e barcelonista: veja o torcedor ilustre no superclássico espanhol 1 14h26 Veja o cartaz que será usado pelos torcedores do Barça em protesto pacífico durante jogo contra o Real 0 14h23 Política e futebol: Torcedores do Barça reivindicam inde- pendência da Catalunha 0 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 686 13h35 Superclássico Barcelona x Real Madrid também é con- fronto político; José Trajano analisa 4 12h16 Paulo Calçade analisa duelo dos técnicos no superclássico espanhol: Tito Vilanova x José Mourinho 1 11h18 Sem Piqué, Barça tem bra- sileiro improvisado na zaga; Kaká fica no banco do Real 33 09h08 Na prévia do superclássico, Levante vence clássico de Valência 1 02h22 Messi ou Ronaldo? Di Sté- fano, ídolo do Real Madrid, responde à ESPN 3 01h40 Barcelona de Guardiola ou de Vilanova? Depende do resul- tado, analisa Paulo Calçade 0 01h34 Ex-Real Madrid, Zé Roberto acredita em vitória do Barce- lona no superclássico 0 00h15 Real Madrid tenta impedir feito histórico do Barcelona e ‘dar graça’ ao campeonato 21 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 687 Tabela 3. Domingo, 08 de outubro de 2012 Hora Matéria Comentários 20h29 Del Bosque elogia compor- tamento dos jogadores de Barcelona e Real Madrid 0 20h15 Jornal catalão entra na troca de farpas entre Pepe e Vila- nova e usa vídeo para ironi- zar o zagueiro 85 18h38 Espectador do Superclássico, Rivaldo ‘tieta’ Magic John- son e pega camisas de astros para leilão beneficente 12 12h13 Messi, contra o Real, e Ibrahimovic são destaques entre os golaços do final de semana no exterior 9 10h31 Messi e Cristiano Ronal- do, mais uma vez, fizeram a diferença; relembre como foi o clássico de domingo 3 10h19 Barça x Real foi mais que jogo de futebol, foi manifes- tação pela independência da Catalunha; reveja 0 09h50 Com grave lesão, meia brasi- leiro do Mallorca ficará seis meses fora dos campos 0 09h00 Ministro diz que manifesta- ções no Camp Nou prejudi- cam imagem da Espanha 27 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 688 No site da FIFA21, a matéria intitulada Tudo igual no Camp Nou, veiculada no domingo, 7 de outubro de 2012, simplesmente omite as manifestações realizadas pelos tor- cedores no estádio. O destaque da matéria fica na atuação dos craques Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, conforme mostra o lead: O superclássico entre Barcelona e Real Madrid disputado neste domingo, no Camp nou, provou mais uma vez a diferença que fazem Lionel Messi e Cristiano Ronaldo para seus respectivos clubes. Com dois gols cada em um jogo bastante parelho, eles definiram o empate por 2 a 2 na sétima rodada do Campeonato Espanhol. A notícia ainda cita os principais lances do jogo. Enquanto isso na Espanha: nem todos gritam? Reportagens do jornal El Mondo e do La Vanguardia enfatizam o fato que nem todos os torcedores do Barcelo- 21. FIFA - Fédération Internationale de Football Association 08h11 Sem lesão grave no ombro, Cristiano Ronaldo se juntará à seleção portuguesa 5 06h26 Moradores de Gaza protes- tam por visita de israelense ao Barcelona 0 01h02 Em Barcelona, política usa o futebol para “vender” a discutível ideia separatista 0 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 689 na são a favor das manifestações independentistas no meio esportivo. A reportagem Monago aprecia que hay más ‘culés’ que no gritan independencia, do La Vanguardia, ressalta que a realidade dentro e fora do estádio é distinta, e que há muitos torcedores do Barcelona que não gritam pela in- dependência. José Antonio Monago, presidente da Junta de Extremadura, que constitui uma das regiões autônomas da Espanha assim como a Catalunha, expressa sua opinião: “[…] utilizar o futebol para a política somente esquenta o ambiente e não creio que esse seja o assunto. O assunto é a crise e o emprego” (Monago apud LA VANGUARDIA, 2012, tradução nossa). A reportagem do jornal El Mundo entitulada Sánchez− Camacho asegura que no todo el Camp Nou coreó por la inde- pendencia, traz uma visão similar com foco na necessidade de unificação para o alcance do bem e interesses comuns a todos. Alicia Sánchez−Camacho, presidente do Partido Popular (PP) Catalão, afirma nesta reportagem que o úni- co momento no qual todos os mais de 96 mil espectadores cantaram juntos foi no momento em que tocaram o hino do Barcelona, e não durante o grito de independencia. Ressalta ainda a problemática de se usar o poder midiático do fute- bol, especialmente de um time como o Barcelona, para fins políticos, e neste caso para difundir a propaganda separatista. Além de ser citada por El Mundo, Sánchez−Camacho é tema também no jornal La Vanguardia, no artigo enti- tulado Camacho censura que se ‘pervierta el alma del deporte’ pidiendo la independencia en el Camp Nou, com ainda mais afirmações dentro desta temática. Segundo a reportagem, Camacho citou o próprio hino do FC Barcelona para ex- pressar a natureza “transversal” desta equipe, e para justificar que qualquer discurso excludente vem a ferir sua mesma Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 690 filosofia: “O futebol e o Barça22 têm um caráter transversal, amplo e integrador, assim mensagens excludentes como as de ontem [07 out. 2012] vão contra a própria essência do Barça” (Camacho apud LA VANGUARDIA, 2012, tradu- ção nossa). O hino em questão, e que fundamenta a opinião de Camacho, diz o seguinte: “Somos a gente azulgrana23, não importa de onde vimos, se do sul ou do norte, agora estamos de acordo, estamos de acordo, uma bandeira nos torna irmãos”24 (idem). Saindo, porém, deste recorte, ao ve- rificar a letra inteira do hino do Barcelona no site oficial do clube25, percebemos que esta “irmandade” entre os que vêm do sul e do norte, e dos que “estão de acordo” pode não ser uma referência a toda a Espanha, e sim restrita aos catalães e à Catalunha, e seria necessário todo um aprofun- damento sobre as condições de produção deste hino para tal afirmação. No mesmo dia, o jornal La Vanguardia publica uma re- portagem que traz como tema a censura à manifestação do dia 7 de outubro no Camp Nou sob o olhar de ou- tro político do Partido Popular (PP). Criado no início dos anos 70, o PP tinha como filosofia “criar e articular uma organização de cunho reformista e com ideología de cen- tro” (PARTIDO POPULAR, 2012, tradução nossa), o que 22. Barça é o termo utilizado para se referir ao FC Barcelona. 23. De cor azul e vermelha, as cores do FC Barcelona 24. Versão original em catalão : Som la gent blaugrana, tant se val d’on venim, si del sud o del nord, ara estem d’acord, estem d’acord, una bandera ens agerma- na. (LA VANGUARDIA, 2012, Camacho censura que se “pervierta el alma del deporte” pidiendo la independencia en el Camp Nou) 25. Versão completa do hino em castellhano (a versão oficial e cantada pelos torcedores é a versão em catalão): http://www.fcbarcelona. es/club/identidad/detalle/ficha/himno − Acesso 16 out. 2012 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 691 justifica o aparente alinhamento com aquilo que é de inte- resse do governo nacional fundamentado em um discurso de unificação. No referido artigo, o presidente do PP Vasco, Antonio Basagoiti, afirma: Depois de ver o jogo de ontem no Camp Nou entre o Barcelona e o Real Madrid tenho que dizer que, para mim, como vasco [pessoa nascida na País Vasco, que é uma das comunidades autônomas da Espanha, assim como a Catalunha], gostaria de ver que o principal no Anoeta e no San Mamés [estádios de futebol do País Vasco] segue sendo o futebol e que a política não che- gue a contaminar também o futebol (Basagoiti apud LA VANGUARDIA, 2012, tradução nossa) No jornal El Mundo, o artigo entitulado Margallo cree que lo ocurrido en el Camp Nou ‘prejudica’ a Espanha, traz mais uma vez declarações de um representante política contra a manifes- tação do dia 07 de outubro no Camp Nou. José Manuel Gar- cía−Margallo, que é ministro espanhol de Assuntos Exteriores e de Cooperação, fez referência à imprensa internacional e à má imagem promovida sobre a Espanha em todo o mundo. Me parece uma má imagem [...] uma imagem de di- visão interna em um momento de convulsão como o que estamos vivendo, em um momento em que todos os países do mundo estão competindo por um capital escasso [...] uma imagem de desunião em vez de uma imagem de esforço compartido” (Margallo apud EL MUNDO, 2012, tradução nossa). No mesmo dia, o jornal El País publica um artigo no qual a Generalitat de Catalunya se posiciona contra as de- clarações do ministro García−Margallo. O porta−voz exe- cutivo do governo catalão, Francesc Homs, afirma que Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 692 Margallo “não aceita expressão livre e democrática das pes- soas que estavam no estádio” e que tal atitude por parte do ministro “demonstra que em Madri não entendem nada” (Homs apud EL PAIS, 2012, tradução nossa). Assim como Margallo, Homs também faz referência à repercurssão in- ternacional dizendo que o Executivo catalão insiste na necessidade de que o processo soberanista se faça de forma pacífica e democrática para demonstrar à comunidade in- ternacional que sua estratégia é cívida e longe de qualquer classe de violência (Homs apud EL PAÍS, 2012, tradução nossa). Este discurso, o da prática da democracia por meios pa- cíficos, tem sido repetidamente usado na imprensa pelos independentistas. Os trechos a seguir são de declarações fei- tas por Artur Mas, presidente da Generalitat de Catalunya, no Camp Nou após o partido de 07 de outubro e em um encontro das Câmaras de Comércio Iberoamericanas em Lleida também no início de outubro: Mais que o resultado (2−2) temos que destacar o ambiente espetacular e sobretudo respirando este país, muito catalão, muito catalanista e ainda mais este ambiente muito positivo e muito educado. (Mas apud EL PAÍS, 2012, tradução nossa) O civismo e as boas maneiras [...] isso diz muito de nosso país. [...] Em um momento em que há certa tensão política, com projetos claramente distintos dentro do conjunto do Estado, a gente deste país, fãns do Barça, demonstraram um grande civismo e boas maneiras. (idem) Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 693 Apesar de estar no meio de seu mandato, Artur Mas convocou novas eleições para a mês de novembro de 2012, uma atitude que pode ser vista como prova do compromis- so de Mas com as reformas que levarão a região à indepen- dência, ou como uma manobra para se aproveitar do fervor separatista do momento e garantir outros 4 anos no gover- no. Outra hipótese é que estas eleições sirvam para verificar a tendência de votos dos catalães no caso de um referendo. Ainda segundo o mesmo artigo, Mas tem consultado au- toridades no exterior buscando apoio para a realização de um referendo (para que a população vote contra ou a favor da independência da Catalunha) pois, em teoria, tal atitude por parte da Generalitat é ilegal e inconstitucional. A questão da identidade: més que futbol26 O artigo da seção Scotland Politics no site da BBC News entitulado A political football in Barcelona traz algumas reflexões interessantes no tocante à identidade do povo catalão e a im- portância simbólica do FC Barcelona na discussão identitária. A própria Escócia está passando por um processo similar no momento, com aspirações de independência do Reino Unido e planos de consulta à população através de um referendo, assim como se pretende na Catalunha. O autor do artigo explica a importância do FC Barcelona para os catalães com exemplos hipotéticos nos quais Glasgow seria a capital da Escócia e te- ria apenas uma equipe jogando no campeonato inglês e sem equipe nacional. Em sua reflexão, chega a chamar a região da Catalunha de “nação” e explica que: 26 Més que futbol está em catalão e significa “mais que futebol” em portugues. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 694 Durante a ditadura que ocorreu após a queda de Barcelona durante a Guerra Civil Espanhola, a equipe de futebol da cidade [o FC Barcelona] se tornou um símbolo da indentidade catalã, um lugar onde sua língua [o catalão] podia ser falada enquan- to estava oficialmente banida durante o governo Franco. O slogan “més que un club” – mais que um clube – define o que muitos catalanes sentem sobre o Barcelona [...] (BBC NEWS, 2012, tradu- ção nossa, grifos nossos). Em entrevista para o Globo Universidade, Eni Orlandi faz referência a Michel Pêcheux sobre a relação entre sim- bólico e o político: O objetivo de Pêcheux era ver como é que esse político, que não é o partidário, está simbolizado e como o homem está nessa simbolização do po- lítico. O político está no fato de que, como nos- sa sociedade é dividida, há uma divisão nos sentidos, eles não significam a mesma coisa para todos, mas, sim, na diferença. Por seu lado, consideramos que a materialidade da ideologia é o discurso e a materialidade do discurso é a língua. Assim, articulam-se língua e ideologia com o discurso. (Orlandi apud GLOBO UNIVERSI- DADE, 2012, grifos nossos) Tais referências são importantes pois as diferenças cul- turais, linguísticas e ideológicas da Catalunha em relação à Espanha têm suas raízes, como não podia deixar de ser, em sua memória histórica e, consequentemente, na história de sua formação identitária, ideologia e na própria língua catalã. Alguns dias antes do partido, uma matéria do jornal El País entitulado Fútbol y política tratava da importância do esporte e da política para a sociedade, qualquer sociedade, Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 695 e portanto da dificuldade em se separar estes temas. Um exemplo disso foi a mudança de discurso de Sandro Ro- sell, presidente do FC Barcelona, que participou da Diada “a título pessoal”, e muitas vezes expressou publicamente que a equipe não se envolveria em questões políticas e não tomaria partido na questão independentista, mas que logo fez a seguinte declaração os sócios do clube e à imprensa: A instituição [o FC Barcelona] sempre será fiel a sua história a suas convicções. Sempre defendere- mos nossas raízes e o direito dos povos de decidir seu futuro. Somos parte da sociedade catalã e sempre defenderemos a vontade da maioria. Queremos que nos entendam e nos aceitem assim como somos: ca- talães. (Rosell apud EL PAIS, 2012, tradução nossa). O autor do artigo usa também como argumento a ma- neira como se tratava a política e o esporte na Inglaterra entre os séculos 18 e 19. Ele cita os sociólogos Norbert Elias e Eric Cunning (respectivamente alemão e inglês) que acreditavam no esporte como um “agente civilizador” e os historiadores Xavier Pujadas e Carles Santacana que expli- cam que as associações esportivas se formaram como inter- mediadoras entre as regras, os praticantes e os espectadores, dividindo−os conforme afinidades diversas (território, gê- nero, ideologia, etc), ao mesmo tempo em que acontecia a parlamentarização dos partidos políticos ingleses: [...] ambos processos contribuíram para mudar as estruturas de poder na Inglaterra e a civilizar os hábitos sociais da aristocracia e senhores ingleses, tanto no tocante a suas relações políticas como sua maneira de divertir−se, em um sentido menos violento e com base em normas regulamentadas e aceitas por todos os participantes. Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 696 Naquele 7 de outubro, antes do referido jogo entre o FC Barcleona e o Real Madrid, o La Vanguardia publicou um artigo entitulado Barça−Madrid: Algo más que fútbol, que trata justamente destas diferenças identitárias. Logo no iní- cio do texto, afirma que o ambiente que todos devem espe- rar no Camp Nou será de “[...] estimulação não apenas es- portiva mas também social e política”, sendo de um lado o barcelonismo (o Barcelona com 11 pontos de vantagem sobre o Real Madrid), e por outro o catalanismo, “moti- vado por mostrar ao mundo todo seus traços de identidade” (LA VANGUARDIA, 2012, tradução nossa). Cita também que enquanto a maioría dos jogadores do Real Madrid são estrangeiros, o Barcelona conta com uma maioria de joga- dores catalães, nascidos e criados na Catalunha. E ainda que os principais jogadores de ambas equipes sejam estrangeiros (Lionel Messi, argentino e Cristiano Ronaldo, português), Messi é produto do La Masia, que é a escola de futebol do FC Barcelona, famosa por formar grandes estrelas do futebol. Considerações Finais A relação entre a política e o futebol, ou a validade ou não da discussão política no meio esportivo, levanta ques- tionamentos de diferentes naturezas porém acaba por ser inevitável por se tratarem de temáticas populares de grande “paixão”. No artigo entitulado Fútbol y Política publicado na seção Esportes do jornal El País, verificamos a ambigui- dade desta análise: Uma coisa é certa: o esporte, a prática do esporte em si, não constitui a política em si mesmo. No entanto, é inevitável que duas disciplinas com ta- Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 697 manha raíz social e, portanto, de tamanha transce- dência convivam com a política. O problema não é essa convivência, ou sua quase coexistência, mas a utilização do esporte como um instrumento a ser- viço da atividade política; desta forma ele pode ser positivo ou negativo, para benefício individual ou coletivo. Acontece que essas qualidades estão quase sempre ligadas e sempre dependem de perspectiva do observador (EL PAÍS, 2012, tradução nossa). No tocante à mídia, tanto no Brasil como na Espanha a repercussão sobre o grito de independência no Camp Nou em 7 de outubro de 2012 demandou um passeio pela história da região e seus conflitos. Em ambos os países, a imprensa trata do assunto sempre traçando um paralelo com os fatores sócio−his- tóricos que fundamentam e moldam o ideal separatista catalão. E no caso da imprensa espanhola, geralmente posicionado nas declarações contra e a favor por parte de políticos partidários e representantes do governo. Verificamos também que além da política e do futebol está a questão da identidade catalã e toda sua complexidade quando considerada a história, a ideologia e a própria lín- gua como fatores de formação da identidade de um povo. Ao ponderar todos estes fatores, além da crise econômica, as divergências políticas e, por que não dizer, o futebol, não fica difícil entender porque a Catalunha deseja a indepen- dência, ainda que praticamente impossível prever o desfe- cho da questão e, sobretudo, as consequências. Referências AGÊNCIA DO ESTADO. Disponível em: . Acesso em: 03 nov. 2012 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 698 BALDWIN, A. Massa comemora e Alonso se lamenta no Japão. Reuters Brasil, Esportes, Artigo. 7 out. 2012. Disponível em: Acesso em: 01 nov. 2012 BBC BRASIL. BBC Brasil nasceu em 1938 com no- tícia sobre Hitler. Disponível em: Acesso em: 01 nov. 2012 BBC NEWS. A political football in Barcelona. Seção: Scotland Politics. Disponível em: Acesso em: 16 out. 2012 CARAS, Revista. Iker Casillas e Sara Carbonero dis- cutem com fotógrafo na Espanha. Caras, Notícias. 10 jul. 2012. Disponível em: Acesso em: 03 nov. 2012 ESTADÃO. Espanha critica manifestação da tor- cida do Barcelona. Internacional. 8 out. 2012. Dis- ponível em: Acesso em: 01 nov. 2012 ESPN.COM.BR. Espanhol. São Paulo, out. 2012. Dispo- nível em: Acesso em: 01 nov. 2012 EL MUNDO. El clásico se transforma en altavoz in- dependentista. 07 out. 2012. Barcelona. Sección – Po- lítica. Disponível em: Acesso em 14 out. 2012 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 699 __________. Sánchez–Camacho asegura que no todo el Camp Nou coreó por la independencia. 8 out. 2012. Barcelona. Sección – Política. Disponível em: Acesso em: 14 out. 2012 __________. Margallo cree que lo ocurrido en el Camp Nou ‘perjudica’a España. 8 out. 2012. Barce- lona. Sección – Política. Disponível em: Acesso em: 14 out. 2012 __________. Sara Carbonero, elegida la reportera deportiva más sexy del mundo. El Mundo, Televisión. 10 ago. 2009. Disponível em: Aces- so em: 02 nov. 2012 EL PAÍS. El PP arropa la concentración contra la independencia en Barcelona. Barcelona. 12 out. 2012. Sección Cataluña. Disponível em: Acesso em: 18 out. 2012 _______. La Generalitat acusa a Margallo de no res- petar el calmor del Camp Nou. Barcelona. 8 out. 2012. Sección Cataluña. Disponível em: Acesso em: 13 out. 2012 _______. Fútbol y politica. Barcelona. 4 out. 2012. Sección Deportes. Disponível em: Acesso em : 18 out. 2012 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 700 _______. Clamor soberanista en el minuto 17. Bar- celona. 7 out. 2012. Sección Deportes. Disponível em: Acesso em: 18 out. 2012 FIFA. Alfredo DI Stefano: Di Stéfano,um grande entre os grandes. Fifa, Futebol Clássico, Jogadores. Dis- ponível em: Acesso em: 02 nov. 2012 _____. Alfredo Di Stefano. Futebol Mundial, Estatís- ticas. Disponível em: . Acesso em: 02 nov. 2012 _____. Tudo igual no Camp Nou. Fifa, Futebol de Clubes. 7 out. 2012. Disponível em: Acesso em: 02 nov. 2012 FOLHA ONLINE. Astros reinam em clássico da separa- ção do Camp Nou: Espanhol Ronaldo e Messi fazem os gols do 2 a 2 entre Barcelona e Real. Folha de São Paulo, São Paulo, p. D3, 8 out. 2012. Disponível em: Acesso em: 31 oct. 2012 GENCAT. Portal oficial da Generalitat de Catalunya. Disponível em: Acesso em: 20 out. 2012 GLOBO.COM. Crise econômica espanhola aumenta pressão por independência da Catalunha: Governo ca- tação quer coletar e gerenciar impostos da região. G1, Eco- nomia. 12 out. 2012. Disponível em: Acesso em: 01 nov. 2012 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 701 GLOBO UNIVERSIDADE. Entrevista com Eni Or- landi. 05 out. 2012. Disponível em: Acesso em: 19 out. 2012 ITRI, B. El Clássico. São Paulo,p. D2, 7 out. 2012. Disponível em: Acesso em: 31 oct. 2012 JORNAL NACIONAL. Milhares participam de ma- nifestação contra independência da Catalunha. Jornal Nacional, Notícia. 12 out. 2012. Disponível em: Acesso em: 03 nov. 2012 LA VANGUARDIA. Camacho censura que se “per- vierta el alma del deporte” pidiendo la independen- cia en el Camp Nou. Barcelona. 08 out. 2012. Ediciones – Debate Soberanista. Disponível em: Acesso em 15 out. 2012 _______________. Basagoiti: “El nacionalismo lo conta- mina todo, hasta el fútbol”. 08 out. 2012. [S.l.]. Sección Politi- ca – Elecciones vascas. Disponível em: Acesso em: 12 out. 2012 _______________. Monago aprecia que hay más ‘culés’ que no gritan independencia. 08 out. 2012. Madrid. Ediciones – Desayunos informativos de Europa Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 702 Press. Disponível em: Acesso em: 11 out. 2012 _______________. Barça/Madrid: Algo más que fút- bol. 07 out. 2012. Barcelona. Sección Deportes. Disponível em: Acesso em: 17 out. 2012 MACEDO, S. Sem rodada do Brasileiro, Futebol po- lítico da Espanha reina.Folha de São Paulo, São Paulo, p.D2, 8 out. 2012. Disponível em: Acesso em: 31 oct. 2012 MENDES, K. Clássico entre Barça x Real Madrid vira palco do movimento independentista da Catalunha. Estadão, São Paulo, Economia e Finanças. 8 out. 2012. Dis- ponível em: Acesso em: 01 nov. 2012 PARTIDO POPULAR (PP). Seção: Conócenos − His- toria. Disponível em: Acesso em: 14 out. 2012 PRESSE, F. Piqué lamenta tensões nacionalistas no clássico Real-Barça. G1,Mundo. 06 out. 2012. Disponí- vel em: Acesso em: 01 nov. 2012 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 703 REDE GLOBO. TV Globo e você. Disponível em: Acesso em: 03 nov. 2012 TWITTER. A forma mais rápida e simples de ficar perto de tudo que você gosta. Disponível em: Acesso em: 03 nov. 2012 704 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 30. Estado de la comunicación en Brasil y España. Análisis comparativo Manuel Fernández Sande1 Yolanda Román Morán2 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Madrid, España Resumo La presente colaboración muestra la situación e impor- tancia que la comunicación ha adquirido en Brasil y Espa- ña, a través de un análisis comparativo de los últimos estu- dios de carácter global que se han llevado a cabo en los dos países, de la mano de las principales asociaciones de pro- 1. Manuel Fernández Sande (UCM) Profesor Doctor en la Facul- tad de Ciencias de la Información de la UCM - Departamento de Periodismo IV -. Coordinador del Grado de Periodismo de la Universidad Complutense de Madrid. Integrante de los grupos de investigación Mediacom UCM y Mídia, Cultura e Memória. manuel.fernandez@ccinf.ucm.es 2. Yolanda Román Morán, estudiante de doctorado de la Universi- dad Complutense y consultora experta en comunicación estraté- gica. yolanda.romanmoran@gmail.com mailto:yolanda.romanmoran@gmail.com 705 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España fesionales de la comunicación: Aberje en Brasil y Dircom en España. La comunicación empresarial ha experimentado un fuerte crecimiento en las organizaciones y se ha con- solidado como un área estratégica clave en la generación del valor de las compañías. Tras el estudio comparativo en ambos países se puede afirmar que la situación de la comu- nicación es muy similar en funciones, estructura, perfil de los profesionales y configuración de los departamentos. Palabras-chave: Comunicación empresarial, comunica- ción corporativa, profesionales de la comunicación, Aberje, Dircom Fundamentos conceptuales de comunicación En los últimos años, las empresas e instituciones han asisti- do a una transformación profunda de las características estruc- turales y de la dinámica de los entornos en los que ejercían su actividad. Hoy en día, no es concebible ninguna actividad social que sea sostenible y pueda prosperar sin tener en cuen- ta la comunicación. La comunicación, como materia prima que impulsa la totalidad de las interacciones entre todos los agentes sociales. Desde los años 90 las empresas e institucio- nes con vocación de alcanzar un protagonismo en el sistema social han ido dotándose de una estructura de comunicación y de comunicadores profesionales para poder alcanzar sus ob- jetivos. La tendencia es concebir la comunicación empresarial desde una perspectiva global e integral que determina la ren- tabilidad de los activos intangibles en las compañías. Dada la importancia que esta disciplina está adquiriendo en las organizaciones, en la última década se han publicado en numerosos países de Europa e Iberoamérica diferentes estudios desarrollados por instituciones de investigación o de carácter 706 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España profesional que abordan la situación de la comunicación. Una de las primeras dificultades que se plantea al adoptar este objeto de estudio es la diversidad de denominaciones o términos que son utilizados para referirse al fenómeno de la comunicación o las relaciones públicas en las empresas e instituciones. Mientras que en España son muy utilizados en la literatura científica y en la propia jerga profesional los términos comunicación empresarial e institucional y comu- nicación corporativa, en Brasil se habla de comunicación corporativa o comunicación empresarial y en el mundo anglosajón parecen imponerse las fórmulas public relations, corporate communication y communication management. Se ha consolidado el concepto al menos entre la comunidad académica y profesional, de que el papel de la comunicación corporativa es cuidar de la reputación de la compañía. En cuanto a la definición de comunicación, hemos elegido algunas de las más recientes, como la del profe- sor Martín que define la comunicación empresarial como la “Creación, coordinación, análisis, desarrollo, difusión y control de toda acción de gestión informativa interna y externa que diariamente reproduce en una empresa o cor- poración, tanto a nivel de actividades, servicios y productos, que afecta a un determinado público o colectivo social y que se transmite a través de los medios de comunicación internos y externos, para así potenciar su imagen corpora- tiva” (MARTÍN 2011). Por su parte, el profesor Villafañe habla de la necesidad de coordinar las políticas corporativas con la política de comuni- cación e imagen que “debe partir de una actitud general que impregne a toda la organización y que se concrete cotidiana- mente, entendiendo que cada acto corporativo tiene una re- percusión en su imagen corporativa” (VILLAFAÑE 1999). La complejidad de la comunicación empresarial radica en que abarca una gran cantidad de herramientas, activida- 707 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España des, canales… con impactos directos e indirectos muy di- versos para las organizaciones. “Llamaremos comunicación corporativa a la totalidad de los recursos de comunicación de los que dispone una organización para llegar efecti- vamente a sus públicos. Esta comunicación se realiza por medio de: la conducta corporativa de la empresa, es decir, su actividad y comportamiento diario (lo que la empresa hace) -es el <>; y la acción comunicativa, es decir, sus acciones de comunicación propiamente dichas -es el <>”(CAPRIOTTI 1999). La comunicación empresarial necesita generar credibi- lidad en su función mediadora entre la organización y los diferentes públicos (entre los que se incluyen, por supuesto, los medios de comunicación) para ello necesita, según Cer- vera, la “planificación y realización de diferentes tareas en- caminadas a establecer y mantener relaciones de confianza con aquellos públicos con los que la empresa está vinculada de alguna forma” (CERVERA 2004). Cada empresa debe hacer su propio mapa de stakeholders o públicos de interés, tanto internos (empleados) como ex- ternos (medios de comunicación, clientes actuales y po- tenciales, los organismos públicos o la comunidad). Algu- nos autores hablan también de públicos mixtos: accionistas, proveedores. Westphalen considera que cualquier política de comunicación debería iniciarse desde el seno de la or- ganización –puesto que los empleados de una organización son los primeros embajadores de la compañía- y dirigirse en la siguiente fase hacia los diferentes públicos del exterior (WESTPHALEN 2004). Las asociaciones de profesionales de la comunicación Para lograr el reconocimiento de la comunicación como 708 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España herramienta estratégica de las organizaciones y del papel del director de comunicación tanto en las entidades en que trabaja como en la sociedad en general, fueron constitu- yéndose las asociaciones profesionales y corporaciones que agrupan a los directivos de comunicación. Si bien existen antecedentes previos de finales de los años 60 –como CERP (Confédération Européenne de Relations Publiques), IPRA (International Public Relations Association), CONFIARP (Confederación de Relacionistas Públicos), la Sociedad Portuguesa de Relaciones Públicas o Aberje (Asso- ciaçao Brasileira de Communicaçao Empresarial), es en la dé- cada de los años 90 cuando se fundaron la mayoría de ellas. Además del reconocimiento, sus principales objetivos suelen ser la formación permanente y la mejora profesio- nal de los directivos de comunicación, la promoción de la comunicación institucional y empresarial en la sociedad, la creación de una sólida red de contactos e intercambio de experiencias entre profesionales y el desarrollo profesional y la formación continua de los dircom. Precisamente para clarificar el rol de la comunicación y de los dircom y promover su promoción y consolidación, muchas asociaciones han realizado investigaciones sobre la situación de la comunicación en las organizaciones con el objetivo de co- nocer la práctica de la comunicación, identificar la importancia dada a la comunicación y a la figura del responsable de comu- nicación y analizar las herramientas y técnicas de los profesio- nales de la comunicación y de los departamentos. En el análisis que presentamos, nos hemos basado en los estudios de las principales asociaciones que representan a los comunicadores en Brasil, Aberje, y en España, Dircom. Aberje, con sede en São Paulo, fue fundada el 8 de octubre de 1967, es una asociación civil, sin fines de lucro que tiene como objetivo discutir y promover una perspectiva local y glo- bal, una Comunicación Empresarial y Organizacional como 709 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España función administrativa, política, cultural y simbólica de gestión estratégica de las organizaciones y de fortalecimiento de la ciu- dadanía. En la actualidad cuenta con más de 530 socios. “El think Tank de la Comunicación Empresarial Brasile- ña” como se autodenomina, tiene como visión ser el centro de referencia para la producción y difusión de conocimien- tos y prácticas de comunicación y relación, inspirando a las organizaciones en sus estrategias de gestión. Y centra su misión en articular la Comunicación de las organizaciones a través de iniciativas en la Educación, Gestión del Conoci- miento, y el reconocimiento de las relaciones, produciendo y compartiendo conocimientos, difundiendo mejores prác- ticas y reforzando el papel estratégico del comunicador. Por su parte, la Asociación de Directivos de Comunica- ción, Dircom, es una entidad profesional que agrupa a los directivos de comunicación de las empresas e institucio- nes más importantes en España, así como a los máximos responsables de las consultoras de comunicación. Nace en 1992 de la iniciativa de un grupo de profesionales de la comunicación motivados por la creciente importancia y al- cance de sus responsabilidades en la empresa y la sociedad. Tiene como visión poner en valor la función de Comuni- cación y del director de comunicación en las organizacio- nes, y persigue cuatro ejes estratégicos: reconocimiento, de- sarrollo profesional, networking y Responsabilidad Social. En la actualidad, cuenta con más 800 socios. La comunicación en España y Brasil: análisis de resultados Metodología La investigación llevada a cabo por DatABERJE, el Insti- tuto de Investigación de ABERJE “Comunicaçao Corpora- 710 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España tiva nas organizaçoes” es la mayor investigación realizada, de ámbito nacional en Brasil. Recoge los datos relevantes sobre las características de la comunicación en las grandes empre- sas. Se trata de un estudio cuantitativo, basado en una muestra aleatoria simple de 282 profesionales responsables de comu- nicación en las empresas (elegidos entre las 1000 empresas de mayor facturación). Se realiza mediante un cuestionario apli- cado por teléfono, compuesto principalmente por preguntas cerradas. La recogida de datos tuvo lugar en agosto de 2008. Estudio coordinado por el D. Paulo Nassar, director general de ABERJE y por la profesora Suzel Figueiredo, directora de DatABERJE, el Instituto de Investigación de ABERJE. El estudio desarrollado por la Asociación de Directivos de Comunicación, Dircom, El estado de la Comunicación en España 2010, se trata del tercer estudio realizado sobre la comunicación en las empresas españolas. Dirigido a los res- ponsables de comunicación de las 1000 empresas de mayor facturación en España, recoge las respuestas de 265 empre- sas españolas. El trabajo de campo se realiza mediante un cuestionario estructurado online de 37 preguntas, la mayo- ría cerradas, realizado entre enero y febrero de 2010. La Comunicación, área estratégica La Comunicación es percibida como un área estratégica por la mayoría de los profesionales consultados en España y en Brasil. En Brasil se aprecia una mejor consideración cuanto mayor es el número empleados. Así, en el 70% de las em- presas de más de cinco mil empleados la Comunicación es considerada un claro valor estratégico para las empresas. Sin embargo, no se apuntan diferencias significativas cuando el criterio de corte es el capital (si son empresas brasileñas o sedes de empresas extranjeras). Para el 90% de los responsables de comunicación españo- les, la comunicación ha ganado peso en los últimos cinco años 711 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España y la mayoría augura una mayor trascendencia en el futuro. Nombres distintos para la misma comunicación Como hemos apuntado, llama la atención la heterogeneidad a la hora de denominar a los responsables de comunicación en las organizaciones. En Brasil, son muchas las denominaciones, aunque una de cada cuatro empresas se decanta por Comunicación Corporativa / Empresarial /Institucional. En los estudios españoles se identifican hasta 77 denominaciones distintas, si bien la mayoría contiene la palabra Comunicación, sola o acompañada (Relaciones Institucionales, Relaciones Externas, RSC, Marca…). Dirección o gerencia La casi totalidad de las empresas brasileñas cuenta con un área específica de comunicación (95%). En cuatro de cada cinco organizaciones la Comunicación Corporativa es una dirección o una gerencia. Se decantan por una dirección las empresas extranjeras, las del sector servicios y las de más de 5000 empleados (una de cada tres tiene una dirección). En el resto, cerca del 65% de los encuestados afirma os- tentar el cargo de gerencia, coordinación o supervisión en la empresa en que trabajan. Las inversiones están aumentando y, por consiguiente, el área tiene más prestigio y poder dentro de la corporación. Algunas empresas apuntan a la figura de asesor externo o un área de comunicación poco estructurada. Los datos son muy similares a los profesionales en Es- paña, donde sólo el 3% de las empresas no cuentan con un área de comunicación. Además, en tres de cada cuatro em- presas las funciones de comunicación las ostenta un único responsable. Otro elemento importante para establecer la relevancia de la dirección de comunicación en España es la situación 712 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España del responsable de comunicación en el organigrama de la empresa: más del 70% depende del primer nivel ejecuti- vo (presidente, director general o consejero delegado). Se apunta una clara tendencia ascendente, al igual que los res- ponsables que participan en el Comité de Dirección de las empresas. Sin embargo, en la mitad de las empresas brasileñas el área de comunicación aún no tiene representación en el comité ejecutivo. Equipos de comunicación En España se aprecia un ligero descenso en el número de empleados de las direcciones de comunicación, en la actualidad las empresas cuentan con 7 personas de media (frente a 10 hace cinco años), tres de cada cuatro son es- pecialistas, aunque también incluye a administrativos. En cuanto al género, más del 60% son mujeres. La edad media de la dirección de comunicación es de unos 36 años. Las respuestas dadas por los responsables brasileños son muy similares, casi el 80% de las empresas tienen equipos de Comunicación de menos de 10 personas. Como es de su- poner, el número de personas del departamento de comu- nicación está muy vinculado al número de empleados de la compañía. Así, en las empresas de más de 5000 empleados, más del 60% cuentan con equipos de más de 10 personas. Al igual que en los departamentos españoles, las muje- res predominan en comunicación en Brasil (un 60%) y la franja de edad se sitúa entre los 25 y los 44 años. Entre los gerentes, los hombres y mujeres dividen su posición. Formación académica Ambas investigaciones arrojan el mismo resultado: uno de cada tres profesionales de comunicación brasileños y es- 713 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España pañoles procede de la carrera de Periodismo. Después de Periodismo, las carreras más habituales son Económicas/Empresariales, Derecho o Publicidad y Rela- ciones Públicas. En España destaca que ha mejorado la formación en los últimos años, en la actualidad tres de cada diez profesionales completan su formación con un master o un doctorado. Modelos de comunicación diferentes entre la sede y la matriz Tanto los profesionales que trabajan en empresas brasile- ñas que operan en el extranjero como los profesionales que trabajan en empresas extranjeras han afirmado que solo en uno de cada cinco empresas brasileñas “exporta” el modelo de comunicación, y apenas una de cada diez entidades ex- tranjeras aplica el modelo de comunicación de la matriz en la empresa de Brasil. La principal diferencia radica en que en las matrices suelen tener una estrategia de comunica- ción diferente con sus stakeholders. En la matriz suelen ser habituales las relaciones con el gobierno o los inversores, con los empleados, con la comunidad, la prensa o la socie- dad civil y poco contacto con los proveedores. Tendencias en Comunicación Corporativa, integrar públicos Hay un equilibrio en las respuestas sobre la tendencia en el área de la Comunicación en lo relacionado con los Stakeholders: el 53% afirman que trabajan con todos los públicos de forma integral, frente a un 43% que afirma que trabaja con algunos de forma segmentada. Este comporta- miento se repite tanto en las empresas de capital nacional como extranjero. Brasil tiene un gran terreno por recorrer en el ámbito 714 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España de la comunicación corporativa, particularmente en lo que respeta al ámbito interno. La creatividad de los profesionales locales, asociada al perfil receptivo de los brasileños, propor- ciona una situación favorable para la implantación de mode- los colaborativos de comunicación y aumenta la receptividad en relación a las iniciativas emprendidas en este ámbito. Las relaciones con medios están muy vinculadas al área de comunicación, sobre todo en las empresas de servicios, donde llega casi al 70%. Además, apuntan una gran profesio- nalidad por parte de los periodistas de medios, ya que afir- man que los asuntos publicados en la prensa coinciden con la realidad y son verdaderos siempre o la mayoría de las veces. Respecto a las relaciones con el gobierno, está más con- centrada en las empresas extranjeras que las nacionales, con una variación de 11 puntos. En general, las empresas prio- rizan las inversiones en clientes y o consumidores, seguido del público interno. Respecto a los medios sociales, el 65% de los profesionales brasileños considera que las empresas están preparadas para tra- tar con los medios sociales, sobre todo en el sector de servicios. En España, seis de cada diez profesionales participan en redes sociales profesionales, siendo Twitter y Linkedin las más citadas por la gran mayoría, sola o combinada con otras como Facebook, Xing o Twitter. Sin embargo, menos de un 20% cuenta con un blog propio. Competencias del responsable de comunicación En los estudios españoles se indican las tres grandes com- petencias del responsable de Comunicación: la definición de la estrategia de comunicación, la aprobación de acciones específicas de comunicación y la selección de agencias de comunicación externas. Se apunta la tendencia a ser más estratégico que táctico. Así, entre las cualidades más importantes para desempeñar la coor- 715 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España dinación de comunicación, los españoles hablan de la capacidad de comunicación, la accesibilidad a los medios y su influencia en la Alta Dirección de las empresas. Muy por encima de otras como la empatía, el alto conocimiento técnico de los productos o servicios de la empresa, la creatividad o el liderazgo. Respecto a las actividades del departamento de comu- nicación, se aprecia un gran avance de la responsabilidad social, la comunicación interna o la gestión de intangibles. Aún así, las funciones que con más frecuencia realizan los departamentos de Comunicación en España siguen siendo las Relaciones con los medios, la Comunicación corporati- va y las relaciones públicas y eventos. Estrategias y planes de Comunicación Los profesionales de comunicación españoles insisten en la importancia de que la estrategia de comunicación se alinee con la estrategia general de la empresa. La mitad de los entrevistados posee una estrategia de Comunicación que se alinea con la de la compañía y está formalmente escrita. El 39% de las empresas no cuentan con una estrategia formalmente escrita. Los directores de comunicación son los primeros involu- crados en la definición y desarrollo de esa estrategia de Comu- nicación. Seguidos, casi con el mismo peso, por el Comité de Dirección y, en menor medida, el presidente de la compañía. Como era de esperar, el 85% de los responsables de Co- municación consultados en España considera que la estra- tegia de Comunicación contribuye a la estrategia general de la compañía (un 40% manifiesta que contribuye “mu- cho” a la estrategia general). Además, se están haciendo un gran trabajo para formali- zar los planes de Comunicación integrales en las empresas. Así, el 76% de los entrevistados manifiesta tener un Plan de Comunicación, formalmente escrito (en el 46,1% de los casos) o en desarrollo (30,2%). 716 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Por el contrario, las empresas que aún no tienen un Plan de Comunicación, pero lo están considerando o no existe, se sitúan en el 11%. Incluso, se aprecian grandes avances en temas tan concre- tos como la formalización de manuales o estrategias de ac- tuación frente a las situaciones de crisis, casi el 37% de los en- cuestados asegura tener un Plan de Comunicación de Crisis formalmente escrito, una de cada cinco está en desarrollo y tres de cada diez no cuenta con un plan para hacer frente a situaciones de riesgo para la reputación de las organizaciones. La medición Para tres de cada cuatro entrevistados, la comunicación cor- porativa tiene mucho impacto en la reputación de la empresa. Por ello, un 30% de las empresas en Brasil evalúan el desempeño de la Comunicación a través de: monitorización de los medios; opinión del público interno, abriendo espacios para que los co- laboradores se expresen, mediante encuestas u otros canales y opinión del público externo: clientes, proveedores, usuarios. En España también se aprecia la preocupación por con- tar con criterios objetivos que permitan aportar sistema de medición y resultados tangibles sobre el valor de la comu- nicación para la cifra de negocio de las empresas. Tres de cada cuatro empresas afirman haber aumentado la medición de resultados, principalmente de la eficacia de las acciones de Comunicación, seguidas de las investiga- ciones destinadas a identificar y seleccionar los medios y soportes a emplear. Una vez al año suelen realizar investiga- ciones y estudios con el fin de definir los objetivos de Co- municación y fundamentar las estrategias en esta materia. Perspectivas de inversión De cara al futuro, el 65% de los profesionales brasileños 717 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España afirman que se incrementará la inversión en Comunicación Corporativa. Sobre todo, se aprecia un mayor optimismo en las empresas brasileñas, más de veinte puntos por encima de las extranjeras que no prevén cambios. En España, aunque la percepción de la importancia de la comunicación es mayor, los presupuestos solo han aumen- tado en una de cada tres empresas y auguran un manteni- miento o un descenso de las inversiones en comunicación de cara a futuros ejercicios, dada la crisis económica que experimenta nuestro país. Conclusiones Los estudios de Aberje y Dircom señalan que la Co- municación Estratégica se ha configurado como un área estratégica tanto en Brasil como en España. A pesar de la disparidad de denominaciones, el estudio evi- dencia la importancia de la comunicación en las empresas – nueve de cada 10 compañías dispone de un departamento de Comunicación- y su posición en el organigrama dependiendo del primer nivel ejecutivo en la mayoría de los casos. El número de personas que forman estos departamentos ha descendido ligeramente en España y aumentado en Brasil en los últimos 5 años. Sin duda, el difícil entorno de nuestro país y las excelentes perspectivas del mercado brasileño tie- nen que ver en este descenso y aumento, respectivamente. Los directores de comunicación siguen siendo mayori- tariamente periodistas, seguidos de licenciados en Econó- micas o Derecho, y están mejor preparados, con estudios de doctorado o postgrados. Al tratarse de una actividad que aglutina numerosas compe- tencias, la Comunicación Corporativa agrega profesionales con diferente formación y perspectivas, promoviendo un análisis interdisciplinar de relaciones de las empresas con sus públicos. Comunicación y Marketing conviven y dividen sus responsa- 718 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España bilidades con los públicos externos y comparten presupuestos para la construcción de la marca corporativa. La comunicación no es una atribución definida en la es- tructura del organigrama. Si bien el responsable de comuni- cación es el que diseña la estrategia, es importante contar con la implicación de toda la organización, desde el presidente, y lograr una actitud transversal de las empresas que entien- dan que la comunicación es imprescindible para competir en los negocios. En un mercado globalizado, donde no existen grandes diferencias en los productos o servicios, el valor di- ferencial viene de la mano de la comunicación. El responsable de comunicación en España se centra principalmente en definir la estrategia de comunicación y asesorar a la alta dirección de las organizaciones y está me- nos centrado en las tareas más tácticas. La función principal del departamento de Comunicación sigue siendo la relación con los medios, pero también adquie- ren gran importancia la Responsabilidad Social Corporativa, la comunicación interna o las estrategias digitales y, sobre todo las redes sociales, tanto las profesionales como las generalistas. Las empresas están invirtiendo más y trabajando con sus públicos y mensajes de forma integrada. Esto revela el cre- cimiento de la Comunicación Corporativa, una profesión en alza, que abre nuevas perspectivas para los profesionales del área y lo coloca en un lugar privilegiado de debate en el universo de los negocios. La gestión de la comunicación corporativa en Brasil está sirviendo de modelo y benchmarking para muchas empre- sas globales, que están siguiendo las tendencias marcadas por el talento y la creatividad de los brasileños. Se aprecia un gran avance en la definición de públicos y estrategias específicas con los accionistas, la comunidad, el gobierno, los medios de comunicación, la sociedad civil y –sobre todo- con sus clientes y empleados- actores fun- 719 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España damentales como embajadores de la marca y agentes indis- pensables en la construcción de una buena reputación con el alineamiento de la imagen y la identidad corporativas. Otro de los aspectos que denota que se trata de una actividad estratégica, es la búsqueda de sistemas de medición de resultados que contribuyan a avalar la eficacia de los procesos de comuni- cación. Para ello, la investigación destaca la escucha de los públi- cos, tanto internos como externos, relacionados con la empresa. En definitiva, estas investigaciones muestran la consoli- dación de la comunicación como valor estratégico para las organizaciones y ofrecen buenas perspectivas de reconoci- miento, de futuro y mayores desafíos para los profesionales de la comunicación corporativa. Referencias ABERJE (2009) Communicaçao Corporativa nas organi- zaçoes. Pesquisa 2008. DatAberje, Sao Paulo. CAPRIOTTI, Paul. (1999) Planificación estratégica de la imagen corporativa. Ariel, Barcelona. CERVERA FANTONI, Ángel Luis. (2004) Comunica- ción total. ESIC, Madrid. DIRCOM. (2010) “El Estado de la Comunicación en Es- paña”. En Anuario de la Comunicación 2010. Dircom, Madrid. MARTÍN MARTÍN, Fernando. (2011) Comunicación Empresarial e Institucional. Universitas. Madrid. VILLAFAÑE, Justo. (1999) La gestión profesional de la imagen corporativa. Pirámide, Madrid. WESTPHALEN, Marie-Hélène. (2004) Communicator. DUNOD, Paris. 720 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 31. Símbolos e os Códigos da Comunicação: a semiótica de Vilém Flusser1 Michael Hanke2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Natal, Brasil Resumo A obra de Vilém Flusser abrange uma grande variedade de temas, entre elas, menos conhecida, a semiótica, influenciada entre outros por Aristóteles, Ernst Cassirer, Edmund Husserl e Umberto Eco. O artigo apresenta uma primeira sistemati- zação conceitual do tema da semiótica em Flusser no con- texto da teoria da comunicação, a partir da obra publicada e dos artigos não publicados Como ler sintomas e Códigos. Palavras-chave: Vilém Flusser; semiótica; teoria da comu- nicação. 1. Este trabalho contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoa- mento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD). 2. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia, na linha de pesquisa “Estudos de Mídia e Produção de Sentido”, da UFRN, email: michaelhankebeaga@yahoo.com.br. 721 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Introdução O homem, segundo Vilém Flusser, é um animal symbo- licum (1975, p. 53).3 Ou seja, como o mundo que é seu próprio não é natural, mas cultural, é ele mesmo, enquanto “animal não natural” (2007, p. 89), que tem que produzir este “mundo codificado, o véu da arte, da ciência, da filoso- fia e da religião” (2007, p. 91). E os artifícios, ferramentas e instrumentos desenvolvidos, indispensáveis para o homem - que tem que se comunicar com os outros, porque é um “animal político”, e por isso “incapaz de viver na solidão” (2007, p. 91) - são “símbolos” (2007, p. 89). Assim sendo, o pensamento semiótico tem um lugar cen- tral no pensamento de Flusser. Ele apresenta esse raciocínio em lugares de destaque, por exemplo, no primeiro paragráfo da te- oria da comunicação (FLUSSER, 1998), ou seja, a constatação lhe é importante e fundamental para a argumentação. A semió- tica, consequentemente, é um elemento fundamental da teoria de Flusser. Entretanto, ele não desenvolve uma teoria de signos isoladamente, mas esta sempre encaixada em outros contextos, de preferência na teoria da comunicação, pelo menos na obra publicada. Entre os manuscritos não publicados, encontram-se alguns sobre signos. A seguir realizamos uma primeira sistema- tização conceitual a partir dessas fontes. Fontes Flusser faz uso de pelo menos três referências, que, como de costume, não são tratadas explicitamente. O primeiro autor é Aristóteles. Flusser deixa uma pista para o pensador 3. Literalmente: “ l’homme est ‘symbolisant’ ” (FLUSSER, 1975, p. 53) 722 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España grego quando usa o termo zoon politikon que remete à Aris- tóteles. O segundo é Ernst Cassirer, que define o homem como animal symbolicum. Para Cassirer a herança dos pen- samentos grego e kantiano foram marcantes. Ainda, Flusser faz uso de um dos autores que marcaram o pensamento dele, Immanuel Kant, também destacado explicitamente como influência (FLUSSER, 1999, p. 235). Uma das qua- tro perguntas kantianas iniciais para a filosofia dele é “O que é o homem?”, e a resposta gera a antropologia. Vendo o homem como animal symbolicum, Flusser dá uma resposta á essa pergunta kantiana em termos do pensamento semio- ticista. Um quarto autor é Umberto Eco. Flusser (2002, p. 205) cita o autor e a expressão “a estrutura ausente”, de Eco - também título de seu livro denominada mais tarde por Introdução à Semiótica - em 1969, ou seja, bem cedo, no seu artigo “Em busca do significado”, contribuição para a obra “Rumos da filosofia atual no Brasil em auto-retratos” (publicado em 1976, mas escrito em 1969). Depois Flus- ser também se refere à semiótica e a Eco repetidas vezes, sempre com afirmação. Toda a bagagem filosófica implícita, trazida por estes autores, passa a integrar a argumentação de Flusser. Aristóteles destaca que “não é possível comunicar ou conversar utilizando as próprias coisas. Ao invés disso, utili- zamos os nomes no lugar das coisas como símbolos” (Elen- chi sophistici 165a). O homem, definido como zoon logon echon, dispõe de logos (língua-pensamento) indispensável para este zoon politicon (animal político) e para a constitui- ção de uma comunidade política (Politeia 1, 2 1253a). E o logos, tão essencial para o ser humano, depende de símbolos. Sem entrar mais em detalhes sobre a semiótica aristotélica (HANKE, 1986) podemos constatar que a definição flus- seriana do homem como animal simbólico já aparece em Aristóteles. 723 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Ernst Cassirer, que em sua obra Filosofia das Formas Simbólicas desenvolveu a ideia do animal symbolicum, é ci- tado por Flusser como referência já em Língua e Realidade (FLUSSER, 1963, p. 207) e destacado na sua biografia Bo- denlos como um dos autores com influência forte (FLUS- SER, 1999, p. 235). Para Cassirer, assim também como para Flusser, o sím- bolo é “uma chave para a natureza do homem” (CASSI- RER, 2001, p. 45), constituindo “uma nova dimensão da realidade” (CASSIRER, 2001, p. 48). Esta vai além de um “universo meramente físico”, “natural” em termos de Flus- ser, de modo que “o homem vive em um universo simbó- lico”, do qual a “linguagem, o mito, a arte e a religião são partes” (CASSIRER, 2001, p. 48). Até as expressões fio e rede são usados por Cassirer: são “os variados fios que tecem a rede simbólica” (2001, p. 48). Enfim, em consequência, para “compreender as formas da vida cultural do homem em toda a sua riqueza e variedade […] deveríamos definí- -lo como animal symbolicum.” (CASSIRER, 2001, p. 50) As ideias paralelas com Flusser são óbvias. Apesar de que Leonidas Hegenberg, um dos primeiros tradutores e organizadores da obra de C. S. Peirce no Bra- sil (PEIRCE 1975) ter sido um amigo e colega de Flus- ser (foi Hegenberg que convidou Flusser para dar aulas no ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutico de São José dos Campos, que resultou na publicação “Linguagem e Fi- losofia”), Flusser não teve influência nenhuma de Peirce. A transformação da filosofia kantiana em um pragmatismo universal, que K.-O. Apel atribui a Peirce, não chegou a influenciar Flusser. Entretanto, Flusser, e em consequência sua semiótica, foi influenciado pela fenomenologia de Ed- mund Husserl. Hegenberg possivelmente trouxe para Flusser conheci- mento de um outro autor, Nelson Goodman. Hegenberg 724 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España agradece a Flusser pela leitura crítica e pelas recomenda- ções do mansucrito do livro Explicações Científicas, especial- mente a do capítulo sobre a língua; neste, Hegenberg trata o livro de Nelson Goodman, “Fact, fiction and forecast” de 1955 (HEGENBERG, 1969, p. 17). Ways of Worldmaking (GOODMAN, 1978) implica uma multiplicidade de mun- dos e, assim, não é mais possível diferenciar entre “fiction” e “fact” (FLUSSER, 2002, p. 27), “entre l´imaginaire et le real” (FLUSSER, 1973, p. 40), como Flusser não cansa de enfatizar. E estes mundos são construções simbólicas. Sintomas e Símbolos Como todo semioticista, Flusser se vê ante uma decisão terminológica: qual termo usar para designar o objeto cen- tral: “signo” ou “símbolo”? Flusser escolhe “símbolo” como termo geral e aplica o conceito da representação do signifi- cado a este termo, definido da seguinte maneira: Je vais définir “symbole”. Je crois que chez vous on dit signe, mas je vais dire symbole. Et je dirai qu´un symbole est une phénomène qui represente un autre phénomène présent ou absent et celui-ci, representé par le symbole, est la “signification” du symbole. (FLUSSER, 1974, p. 11) Flusser, ainda, segue a tradição aristotélica da dicotomia signos naturais – signos convencionais e diferencia entre sinto- mas e símbolos, sendo sintomas naturais e símbolos culturais. São dois os textos pertinentes nesse contexto: Como ler sin- tomas (FLUSSER 19__?a) e Códigos (19__?c). Em Como ler sintomas, o foco de interesse está na leitura da- queles fenômenos que são atribuídos um valor sígnico. E essa 725 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España atribuição depende da ontologia que está sendo utilizada. É bom lembrar que, antes de ser semioticista, Flusser se dedicou à Filosofia e Evolução da Ciência, matéria que ministrou a partir de 1967 na Escola Politécnica da USP (VARGAS, 1998, p. 19). E é a partir dela que surgiu o interesse pela comunicação. A ontologia que Flusser tem em mente é a ontologia ocidental. Ela parte do presuposto de que “o mundo da natureza é livro” (19__?a, p. 1), o que implica que ele seja composto por sintomas que podem ser lidos. “A dialéti- ca produtiva entre observação e teoria, […] que caracte- riza a ciência do Ocidente [...], tem suas raízes neste tipo de ontologia” (19__?a, p. 2). Essa “evolução que resultará na ciência” é renascentista, mas historicamente vem dos gregos e não foi, como se supõe correntemente, passada aos renascentistas pelos escolásticos, mas pelos mouros e cabalistas (19__?a, p. 2). Flusser se mostra bem informa- do. O Aristóteles que chegou em Paris no início do séc. XIII e incentivou a universidade moderna foi difundido pelos pensadores árabes da península espanhola (como Ibn- -Rushd aliás Averroes). E é tal “curiosa ontologia”, aquela “que fundamenta a opinião islâmica e renascentista que o mundo da natureza é livro”, “muito importante na história da ciência”, que forma o ponto de partida das reflexões flusserianas (19__?a, p. 1). Ler a natureza como se fosse um livro implica decodi- ficá-la e a prática contemporânea só é diferente da antiga no sentido de não crer mais num “autor” atrás dos fenô- menos. A leitura baseada em sintomas, que são isentos de significado, supera a ontologia tradicional, mas essa falta de significado provoca uma “crise epistemológica” (idem, p. 2). Recorrendo a outro autor de estimação, Hans Kelsen, Flusser sugere pensar a “história” como um “processo pelo qual a leitura sintomática vai substituindo a simbólica pau- latinamente”, ou seja, o mundo perde seu caráter simbóli- 726 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España co - “cheio de deuses” os quais transparecem, “epifainein” - pelos fenômenos, enquanto seu caráter sintomático está sendo descoberto e prevalece cada vez mais. É o “desencan- tamento” do mundo diante do processo da modernização descrito por Max Weber (que Flusser nunca utilizou), uma constatação desagradável, porque ele “afirma que a perda de significado é a medida do progresso” (idem, p. 6). A crise epistemológica da atualidade (idem, p. 4) é provocada pela confusão entre os dois tipos de modelo, que resulta ao mes- mo tempo numa extensão do conhecimento e uma perda de significado. Do ponto de vista da teoria da comunicação, a dico- tomia entre natureza e cultura se reproduz em sintomas e símbolos. Sintomas são o domínio das ciências exatas e símbolos das ciências da cultura ou humanidades. O sintoma presupõe uma cadeia de causa e efeito, sendo o fenômeno que é sintoma efeito do fenômeno do qual é sintoma, ou seja, o laço entre os dois é uma causa física, secundidade em termos peirceianos - enquanto a conexão entre um símbolo e o simbolizado presupõe um “convênio codificador” (idem p. 3), ou seja, uma lei ou terceiridade em termos peirceianos. Os dois presupostos são incompará- veis, porque no primeiro caso o sintoma e o sintomatizado procedem ao mesmo patamar da realidade, enquanto no outro caso os dois fenômenos que constituem o símbolo pertencem a realidades distintas. O símbolo exige mate- rialidade física, mas o significado dele vai mais além. Por isso, “o sintoma se comunica imediatamente com o sin- tomatizado (`apresenta´ o sintomatizado), e o símbolo se comunica mediatamente com o significado (`representa´ o significado)” (FLUSSER, 19__?a, p. 4). Há uma “ruptura óntica” entre o texto lido (a materialidade da letra, a tinta, a cor, “do signo-veículo”) e a realidade apontada pelo texto (o significado), ruptura que não há no patamar de leitura 727 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España sintomática dos fenômenos. Flusser alega, recorrendo a um dos seus autores-chave, Martin Heidegger, que “a ruptura óntica que caracteriza a leitura simbólica é justamente o que caracteriza o `estar- -no-mundo´ humano, isto é a `cultura´” (idem, p. 4). O outro lado da materialidade é constituído pelo “espírito”, “Geist”, (“inteligência” em Peirce não necessariamente humana). O “estar-no-mundo” quer capturar a condition humaine, a forma como o homem está no mundo, que é, querendo ou não, obrigado a interpretá-lo. Ou, formulado de maneira diferente: o homem só pode ser pensado no contexto da cultura (e do mundo-da-vida, “Lebenswelt”) e jamais fora desse contexto. A leitura sintomática, cujo objeto é a natureza, dispensa toda a problemática ontológica, pois as duas leituras for- necem “conhecimento” (episteme) distinto, sendo que os “dois conhecimentos obedecem a dois modelos diferentes” (idem, p. 4). A “despeito de Snow” (quer dizer, as duas cul- turas estipuladas por Snow (1959)) distinguir nitidamen- te entre as duas leituras é praticamente impossível, porque todo símbolo é em parte sintoma (por sua condição físi- ca) e “todos sintomas são simbolizáveis: a natureza toda é culturalizável” (idem, p. 5). O “homem simboliza sempre, inclusive quando lê sintomaticamente” (idem, p. 7, ênfase de Flusser), porque todo símbolo como todo texto “é tex- to `para nós´, faz parte da nossa `Lebenswelt´, e portanto `significativo´. O caráter simbólico da nossa circunstância é dado pela nosso `estar-no-mundo´ humano” (idem, p. 9). Somos parte da natureza e da cultura. Em outros termos: a teoria da comunicação pode ajudar-nos a ler o mundo sintomaticamente, (como conjunto de problemas a serem resolvidos), mas com humildade resultante do saber que no fundo o 728 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España mundo se impõe como contexto simbólico, (como conjunto de enigmas a serem decifrados). Talvez tal humildade seria uma forma de superação da crise? (FLUSSER, 19__?a, p. 9) Códigos: a comunicação como um problema semiótico A comunicação é endendida por Flusser em termos da semiótica: “A comunicação humana” é “um processo arti- ficial” e baseia-se “em símbolos organizados em códigos” (2007, p. 89). “Artificial” quer dizer que os símbolos têm que ser produzidos culturalmente (eles não surgem “natu- ralmente”). Assim, Flusser utiliza a dicotomia cultura – na- tureza, alocando a comunicação e a devida ciência dela no campo da cultura, não da natureza. Em consequência, ela é uma parte das ciências humanas, e não das exatas. A comunicação e a produção sígnica são entrelaçados: Os códigos e os símbolos que os constituem fornecem “o mundo codificado e cheio de significados em que vive- mos” (2007, p. 90). É “a comunicação humana” que “tece o véu do mundo codificado, o véu da arte, da ciência, da filosofia e da religião, ao redor de nós” (2007, p. 91). Por isso, a teoria da comunicação é “uma disciplina semiológi- ca” (FLUSSER, 1998, p. 261). Entretanto, a comunicação não é pensada somente em termos da semiótica, mas também em termos da teoria da informação (cibernética). Nesse sentido, o termo da in- formação é de importância fundamental para Flusser. É “a transformação de informações adquiridas de geração em geração” que é “um aspecto essencial da comunicação hu- mana”, o que leva Flusser a uma definição do homem ba- seada nessa característica: “um animal que inventou truques para acumular informações adquiridas” (FLUSSER, 1998, 729 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España p. 12, 2007, p. 93, tradução nossa). O modelo comunicacio- nal é informacional: supõe emissor, receptor, mensagem, e um acordo entre emissor e receptor da mensagem, ou seja, um código comum e compartilhado. Na sua teoria da comunicação, comunicologia (“Kom- munikologie”) Flusser define os dois conceitos de símbolo e código explicitamente. O símbolo é “qualquer fenôme- no que significa outro fenômeno de acordo a com uma convenção” (Übereinkunft). O código, por sua vez, é um sistema que organiza esses símbolos para serem utilizados (FLUSSER, 1998, p. 74-75). O símbolo “é uma ferramenta, produzido intencionalmente pelo homem, para realizar a comunicação” (FLUSSER, 1998, p. 75). O que seria essa convenção, um tipo de contrato social ou um acordo? Flusser descarta esse tipo de solução, porque um contrato exige um código anterior para fazer o con- trato. Um dos autores sempre utilizados como referência é Edmund Husserl e a sua fenomenologia. A partir dela, Flusser desenvolve uma epistemologia dialógica da seguinte maneira. A aquisição de conhecimento (providenciado pelo código) é um velho problema posto da maneira como o sujeito adquire um conhecimento adequado de um objeto. “Adaequatio intellectus ad rem” teria sido a resposta tradi- cional da teoria de conhecimento, a epistemologia, passan- do de Aristóteles por Descartes e Hegel, às vezes favorável ao sujeito (“idealismo”), às vezes favorável ao objeto (“rea- lismo”). Husserl teria reformulado o problema na maneira de colocar em primeiro plano o conhecimento como fato concreto do mundo da vida (“Lebenswelt”), demonstrando que o sujeito e o objeto são derivações desse conhecimen- to. O “eu” se constitui pelo conhecimento, e o conheci- mento depende de um sujeito que o realiza (FLUSSER, 19__?b, p. 1). O conhecimento precede tanto sujeito como objeto. E o vínculo entre sujeito e objeto é fornecido pela 730 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España característica da intencionalidade do conhecimento, que gera uma relação dinâmica entre um sujeito, direcionado a um conhecimento, e um conhecimento intencionado por alguém (idem, p. 2). A realidade é a troca das interações comunicativas e são elas que produzem os códigos (não im- porta aqui a fidelidade das considerações de Flusser com a teoria de Husserl. Elas convergem mais com a interpretação de Berger/Luckmann, em A construção social da realidade). O que importa é que o Mundo-da-Vida (Lebenswelt) fornece uma rede de significados, e que Flusser se apropria desse conceito para seu conceito de sociedade em rede: Under a phenomenological vision society will be seen as a net composed of intersubjective inten- tional relations. The knots in the net are what used to be called “individuals” before Husserl. It can be seen that they are nothing concrete: if the net is unknotted, they disappear. There can be no such thing as an “I” which is unrelated. In fact: I am the sum of my relations. It can equally be seen that there is no such thing as a “society”. If the knots are unknotted, the net will collapse and disappear: it comes out from the knots. “I” and “society” are abstract extrapolations from concrete intersubjec- tive relations. And those relations are intentional, they “mean”. (FLUSSER, 19__?b, p. 4) Essa visão parece idêntica ao interacionismo de G. H. Mead, discípulo de Peirce e seu pragmati(ci)smo, e, porque foi derivada de Husserl, mostra a proximidade entre Hus- serl e Peirce. Flusser extrapola essas ideias para o futuro: The vision of a future intersubjectivity which runs through the channels of telematics, this “universally dialogical” vision, which is sometimes called “in- 731 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España formation society”, seems to me a consequence of Husserl´s vision, although of course mostly unknown to those who prepare it. (FLUSSER, 19__?b, p. 4) A versão em português, não publicada do artigo On the Theory of Communication, (FLUSSER, 2002, p. 8-20), é in- titulada Códigos, o que mostra como o funcionamento da comunicação é visto por Flusser a partir de códigos. E “có- digos”, por sua vez, “são resultados de convênios que esta- belecem símbolos e suas regras” (FLUSSER, 19__?c, p. 4). Flusser, assim, entende a comunicação como um problema semiótico.4 Comunicação no sentido lato é definida como um “processo no curso do qual um sistema é alterado por ou- tro”, e abrange os dois tipos de comunicação “natural” e “cultural”. Enquanto o sentido restrito – cultural – é de- finido “de tal forma, que a soma de informação seja maior no fim [do] que no início do processo” (idem, p. 1). É o crescimento da informação que caracteriza a neguentropia, processo este oposto à tendência da natureza rumo à en- tropia. Flusser entende, assim, o processo da cultura como trabalho neguentrópico, mesmo sendo, afinal, submetido à entropia que caracteriza todo o universo. Flusser, pelo cunho da cibernética, entende a comuni- cação em termos do modelo informacional composto por um emissor, um receptor, e um canal (idem, p. 1). No caso de uma palestra, “the air in the room is a ̀ medium´ (it trans- mits the waves)” (2002, p. 8) - em português o ar “pode ser chamado `canal´, porque transmite as ondas” (idem, p. 1), ou seja, medium é entendido como canal. Levando-se em conta que as ondas podem ser vistas como palavras, “the 4. Em sintonia com a principal meta do GP Semiótica da Comunica- ção da Intercom. 732 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España language is a `medium´” (canal), “porque a comunicação é transmitida dentro de sua estrutura” (idem p. 1). Vista como um processo termodinâmico, a palestra é uma difusão e perda de energia. Mas vista como um processo negentró- pico (cultural), representa um crescimento de informação ao final do processo compartilhado pelo emissor e receptor. A estrutura neguentrópica não é objetivo, ou seja, um observador necessariamente tem que ter “algum conheci- mento prévio do canal `cultural´, da língua” (idem, p. 2). O que significa compartilhar o código “`intersubjetivamente´ (isto é: por participantes de uma cultura)” (idem, p. 2). Apesar disso, a observação pode ser realizada com o mesmo rigor das ciências exatas, pois pode ser calculada “graças a teoria de informação” (idem, p. 2), porque a estrutura neguentrópica “é resultado de códigos que são, em grande parte, calculáveis quantitativamente” (idem, p. 2). Assim sendo, “a análise de códigos é um método poderoso (um dos poucos métodos atualmente disponíveis) para uma observação quantificável de fenômenos intersubjetivos” (idem, p. 2). E códigos, por sua vez, são definidos como “sistemas simbólicos, isto é: sistemas que consistem de elementos que representam (substituem) algo. Tais elementos são chama- dos `símbolos´, e o algo que representam é chamado `sig- nificado´” (idem, p. 2). Os códigos são sistemas simbólicos, ou seja, os símbolos são sistematizados, em consequência, obedecem “a regras de acordo com os quais são cambi- nados”. A soma das regras de um código é sua “estrutura” e a soma dos símbolos o seu “repertório”. Tanto estrutu- ra quanto repertório são quantificáveis e calculáveis, “pelo menos em tese”, deixando ao lado “problemas práticos ain- da não resolvidos”. O número total de combinações de símbolos é chamado de “competência” do código e indi- ca o seu “universo significativo” (idem, p. 3). O universo significativo de um código pode ser identificado de uma 733 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España maneira quantitativa e exata. Dessa perspectiva, pelo menos em tese, pode ser inferida qual a competência de um có- digo, ou seja, “permitir a distinção entre o terreno no qual um código é competente (no qual tem significado) e um terreno no qual é incompetente (no qual não tem signi- ficado)” (idem, p. 3). Pode ser diferenciado “com nitidez entre a competência de códigos” como línguas, códigos de sonhos, códigos científicos, artísticos, “herméticos”, ideoló- gicos, lúdicos, pragmáticos e assim por diante. “De maneira que, pelo menos em tese, uma análise de códigos (a `teoria da comunicação´ num sentido restrito do termo), pode vir a ser arma poderosa” (idem, p. 3) da ciência humana. O problema “genética” questiona a origem do código. Códigos podem ser “resultados de convênios que estabele- cem símbolos e suas regras” (idem, p. 4), o que, entretanto, não vale para todos os códigos. Muitos deles não surgiram a partir de convenções no sentido de serem explicitamente estabelecidos, como por exemplo, as línguas faladas. Expres- sões (como gestos da dança) ou sintomas (de doenças psi- cossomáticas, por exemplo) certamente não foram estabe- lecidos por convenções. Ainda, alguns códigos (da química por exemplo) baseiam-se na organização do significado (leis da natureza) e refletem essa organização. O conceito do acordo (ou convenção) não responde qual seria o código usado para estabelecer e comunicar o código em questão, o que leva a dois dilemas: a reductio ad infinitum (cada código exige outro código anterior e assim por diante), ou uma creatio ex nihilo (do nada). Nenhuma solução é satifatória. Por isso, Flusser quer substituir a perspectiva “genética” por uma atitude “estrutural”. Análises formais, segundo o autor, são mais fecundas que históricas (idem, p. 6). Assim, os símbolos podem ser analisados sob três aspectos. Primei- ramente, a relação entre os símbolos e seus significados (o que corresponde à semântica, expressão que Flusser, no en- 734 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España tanto, não usa). Segundo, a relação entre os símbolos em si enquanto elementos de um código (a sintática); e terceiro, a relação entre os códigos (semelhante à tradução intersemi- ótica em termos de Jakobson (2010, p. 81)). Flusser consi- dera também a dimensão pragmática, chamada “`dinâmica´ por falta de melhor termo” (idem, p. 12). Já que comunica- ção é processo, tematizar essa dinâmica transfere a atenção dos próprios códigos para seus utilizadores, os emissores e receptores (idem, p. 12). Essa última evita o perigo dos ou- tros perspectivas de “`objetivar´ o código” (“a reificação”, “the `reification´ of codes”, 2002, p. 17), e esquecer a sua função humana. Enfatiza o contexto cultural (“their cultu- ral context”) (idem, p. 17). A relação entre símbolo e significado é analisada a par- tir da dicotomia denotação e conotação proveniente da lógica tradicional e utilizada por Flusser repetidas vezes. Ela marca dois extremos polos. Códigos, cujos símbolos têm um úni- co significado no seu universo significativo, quer dizer, com uma relação bi-unívoca, são considerados “denotativos”. Códigos, nos quais a relação entre símbolo e significado é altamente indeterminada (um simbolo com vários signifi- cados, cada significado com símbolos diferentes) “conotati- vos” (idem, p. 7). Casos extremos são raros: um exemplo do primeiro sendo a lógica formal, e o segundo como sendo a simbologia dos sonhos. A maioria dos códigos é misturada, com repertório de símbolos denotativos e conotativos e com significados representados, seja por um único símbolo ou por vários, como línguas faladas. Códigos denotativos não são necessariamente mais conscientemente convencionados e vice-versa: códigos co- notativos não são menos convencionados. Existem “códi- gos altamente `artificiais´, isto é, convencionados tão cons- cientemente quanto o código da lógica simbólica, e cuja meta é alcançar um máximo de conotação possível”, como 735 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España “certos códigos artísticos (por exemplo literários), de um lado, e certos códigos ideológicos (por exemplo os da pro- paganda comercial e política), do outro” (idem p. 7, FLUS- SER, 2002, p. 13). No fundo, as mensagens dos códigos denotativos são mais nítidas e exatas, mas perdem muitos aspectos do seu universo. Enquanto os conotativos captam seu universo mais denso e plenamente, mas de forma mais confusa e equívoca. De modo que podemos dizer que mensagens de códigos denotativos são, do ponto de vista do re- ceptor, mensagens `fechadas´, (permitem apenas uma única interpretação), e as de códigos conota- tivos são mensagens `abertas´, (abrem do receptor parâmetro de interpretações variadas). (idem, p. 8) A relação denotativa ou conotativa é estabelecida ten- do em vista o efeito a ser realizado no receptor, evocando determinadas atitudes e comportamentos. Cabe à teoria da comunicação a análise dos códigos e a de revelar a finalida- de ao qual se destinam para “des-ideologizar” (“de-ideolo- gize”) o código (idem, p. 8, FLUSSER, 2002, p. 14). A relação entre os códigos é marcada pela “traduzibi- lidade”, que impõe à conclusão que há “vários universos significativos, como há vários códigos, mas o conjunto dos códigos não corresponde de forma bi-unívoca ao conjunto dos universos” (idem, p. 8). Em consequência, essa conclu- são nega a existência de uma única realidade ao qual uma mensagem se refere, assim como nega que o universo seja projeção de um código que o comunica. Ou seja, são as po- sições “realistas” e “idealistas” que são contestadas. Flusser defende, entre ontologia tradicional e idealismo, um reino intermediário de códigos, ou seja, a instância onde a natu- reza da realidade é desenvolvida é o das trocas simbólicas. 736 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España A relação entre os símbolos dentro do código do qual fazem parte tematiza a estrutura dos códigos e se dá em dois aspectos distintos: do ponto de vista físico e lógico. Apesar de existir uma interrelação entre os dois, eles têm que ser diferenciados. Do ponto de vista físico, parece que qualquer fenôme- no pode servir como signo e, portanto, verificamos que qualquer “fenômeno físico pode ser convencionado para representar” qualquer “outro fenômeno, físico ou não, que será seu significado” (idem, p. 9). Ou seja, “símbolos podem ser pontos, ou linhas, ou superfícies, ou corpos. Qualquer aspecto de um fenômeno – a sua forma, a sua cor, o seu efeito sonoro, os seus efeitos olfáticos e tácteis - pode ser estabelecido” (idem, p. 9, FLUSSER, 2002, p. 14). E os códigos podem utilizar um tipo só, ou misturar os fenômenos físicos. Por isso, o número de códigos existen- tes e possíveis pode ser infinito, o que “parece tornar toda tentativa de catalogar códigos tarefa impossível” (idem p. 9). Contudo, aqueles que são realmente utilizados “na situação cultural da atualidade” para transmitir mensagens impor- tantes são de três tipos apenas: os que codificam os aspectos visuais de fenôme- nos (códigos visuais), os que codificam os aspec- tos sonoros de fenômenos, (códigos auditivos), e os mistos, (audio-visuais). Os códigos visuais podem, por sua vez, serem ordenados em códigos que co- dificam pontos e linhas, (por exemplo os alfabe- tos), os que codificam pontos, linhas e planos, (por exemplo desenhos), e os que codificam corpos e seus movimentos, (por exemplo arquitetura e dan- ça). Os códigos auditivos podem ser ordenados em códigos que codificam sons produzidos pela boca humana, (por exemplo línguas faladas), e os que codificam tôdo outro tipo de som, (por exemplo 737 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España música instrumental e códigos de tambores). E os códigos audio-visuais, (os quais podem ser conside- rados mistos dos dois tipos mencionados), podem ser ordenados em códigos que recorrem a métodos tradicionais, (por exemplo representações teatrais), e a métodos avançados, (por exemplo TV e cinema) (FLUSSER, 2002, p. 15, 19__?c, p. 9). Na perspectiva dessa simplificação radical, “talvez exces- siva”, da variedade e onipresença dos códigos na cultura humana, a “situação atual parece dominada por três (e ape- nas três) tipos de códigos: um visual, (o alfabeto latino), um auditivo, (as línguas faladas, principalmente a inglesa), e um audiovisual recorrendo à técnicas avançadas, (a tele- visão)” (idem, p. 10). Escrito em 1986-87, Flusser constata que existem “numerosos outros códigos pelos quais a hu- manidade se comunica, códigos `avançados´, (por exemplo as linguagens de computadores)”, além de códigos tradicio- nais como a pintura, e imemoriais como imagens míticas. Vale a pena ressaltar que o uso da internet se encaixaria nos três primeiros códigos dominantes (quem usa o computa- dor, por este motivo, não necessariamente usa a linguagem de computador). Como esses três tipos de códigos predominaram, a te- oria da comunicação os estudou perferencialmente. Este enfoque se explica devido à juventude da disciplina. Mas centrar-se apenas nesses tipos de códigos é considerado pe- rigoso “no sentido de limitar desnecessariamente o campo de pesquisas da comunicologia” (idem, p. 10). O caráter físico tem maior influência na estrutura do código que o critério do significado. Flusser enfatiza: “The structure of a message reflects the physical character of its symbols more than the structure of the universe it commu- nicates. This explains the famous sentence `The medium is the message´” (2002, p. 15). Na tradução flusseriana para 738 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España o português: “A mensagem reflete, na sua estrutura, muito mais o caráter dos seus símbolos, e muito menos uma pre- tensa `realidade´ que comunica”, o que “explica a famosa sentença (por certo exagerada), que `o canal é a mensa- gem´” (idem, p. 10). Flusser, que em outras oportunidades criticou bastante McLuhan, aqui se posiciona mais favorá- vel e reformula a observação mcluhaniana com seus pró- prios termos para enfatizar a importância do caráter físico da mensagem. Podemos ainda distinguir três tipos de estruturas: a or- ganização de símbolos em series lineares (as diacrônicas), em superfícies (as sincrônicas planas) e no espaço (as sin- crônicas tridimensionais). Exemplos do primeiro tipo são as línguas faladas e o alfabeto; do segundo a escrita chinesa e a pintura; do terceiro a dança e a arquitetura. Os três tipos podem ser combinados, como na estrutura da TV, com “es- trutura complexa que combina diacronia e sincronia plana em vários níveis” (idem, p. 10). Cada um dos tipos tem seu próprio tempo com conse- quências profundas para nossa vida, nossa comunicação e a ciência que a trata. “Não é exagero dizer que vivenciamos o mundo, conhecemos o mundo e agimos nele dentro de estruturas que nos são impostas pelos códigos que nos in- formam” (idem, p. 10). Isso tem importância existencial, epistemológica e política. Os resultados alcançados neste campo pela teoria da comunicação são ainda muito provi- sórios, mas abrem novos horizontes. Permitem não apenas uma nova visão da nossa maneira de “estar-no-mundo”, mas também visualizar perspectivas da elaboração de novas estruturas de códigos, a modifica- rem radicalmente este “estar-no-mundo”. Destarte a teoria da comunicação pode vir a ser autêntica arma em futura revolução no verdadeiro significado do termo (idem, p. 11). A estrutura lógica dos códigos pode ser exemplificada 739 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España pela estrutura da língua falada, sendo esta o código até en- tão o melhor analisado. Flusser chega, surpreendentemente, a uma conclusão semelhante a de Karl Bühler e Roman Jakobson, de que a língua permite três tipos de mensagens ou “funções” (referencial, conativa, e emotiva (JAKO- BSON, 2010, p. 160)). Nas palavras de Flusser: sentenças que afirmam (conhecimento, mensagens epistemológicas); as que mandam (modelos de comportamento, mensagens ideológicas); e as que exclamam (articulações de vivências imediatas). Estes três, em alemão “Darstellung” (referencial), “Appell” (apelo, controle) e “Ausdruck” (expressão) foram usados também por Jürgen Habermas no seu modelo de ação comunicativa (“a função cognitiva da representação factual, a função expressiva da expressão de um comunica- dor, e a função apelativa de mensagens dirigidas a um outro ator” (HABERMAS, 1982, p. 372)). Estes três constituem a tricotomia de signos chamados simbolo, sintoma e sinal (Symbol, Symptom, Signal) introduzidos por Bühler (1934, 1982, p. 28) e utilizados por inúmeros autores, fora os cita- dos Jakobson e Habermas. Ou seja, o raciocínio de Flusser (que muito provavelmente nunca leu nenhum destes auto- res) se encaixa perfeitamente nesta corrente da semiótica. As três funções aparecem em todo uso de signo, porém com ênfase diferente e específica. Em consequência, aspec- tos epistemológicos, ideológicos e estéticos podem ser mis- turados, o que dificulta a análise. Existem códigos eminen- temente especializados em mensagens epistemológicas (os científicos), mensagens ideológicas (nas mídias de massa), e mensagens estéticas (os artísticos). Mas eminentemente não quer dizer exclusivamente, nem evidentemente (idem, p. 12). O conhecimento científico contém, de forma mascarada, ideologia e estética, e a estética nas artes contém ideologia. Uma tarefa da teoria da comunicação, por isso, 740 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España é analisar as mensagens dos canais de massa [mídia de massa] para mostrar que as mensagens aparente- mente epistemológicas e estéticas por eles transmi- tidas, (por exemplo: notícias de jornal ou cantor de televisão), são na realidade ideológicas, (por exem- plo: modelos de comportamento de consumo) (idem, p. 12). Esta “análise sistemática de códigos” que “pode vir a constituir método poderoso na des-ideologização” (idem, p. 12) faz lembrar da função da retórica segundo Aristóteles, concebido não somente como instrumento para fazer, mas também para descobrir as armadilhas do discurso. Finalmente, Flusser recorre a uma distinção bem cara e muitas vezes utilizada entre discurso e diálogo, dois tipos de códigos. No discurso, que é unilateral, a mensagem corre a partir de um emissor em direção a um ou mais receptores. Quando ela oscila entre vários participantes do processo é dialógica. Embora a distinção não possa ser mantida rigo- rosamente, porque todo discurso pode ser visto como par- te de uma estrutura maior de diálogo e um diálogo pode anteceder um discurso, as duas correspondem às funções da distribuição de informação (discurso) e da produção de informação (diálogo). A dinâmica da comunicação é com- posta pelas duas formas num equilíbrio entre a elaboração de informação (dialogicamente) e a transmissão (discursi- vamente). Na nossa situação, avalia Flusser, enfrentamos, por causa das mídias de massa unilaterais, uma preponderância do dis- curso com consequências indesejáveis. Porém, as estruturas podem se tornar dialógicas, por exemplo, na TV. Se isto fosse coroado de êxito, a televisão dialógica poderia transformar a humanidade realmente em aldeia global, com não apenas bate-papo na feira 741 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España cósmica, mas também com participação muito nu- merosa na elaboração de informações estéticas, ide- ológicas, e talvez até de conhecimento. Seria isto uma verdadeira democracia (idem, p. 15). Flusser, com essas palavras, não somente alfineta mais uma vez McLuhan, mas defende uma ligação entre comu- nicação e democracia. Com mais um porém: um diálogo onipresente eliminaria todo o espaço privado, e igualmente o discurso onipresente eliminaria todo espaço público ver- dadeiro (os dois somente existem enquanto contrapontos dialéticos). Por isso, um diálogo onipresente é tão perigoso como um discurso onipresente (FLUSSER, 2002, p. 20). “But all this shows a wide field for the future activities of the theory of communication” (FLUSSER, 2002, p. 20). Porém, como, no caso da teoria da comunicação, “se trata de disciplina tão nova, é muito difícil prever se, quando, e como resolverá seus problemas internos, e se, quando e como evoluirá uma metodologia unificada” (FLUSSER, 19__?c), p. 16). O que nos impressiona é a atualidade de Flusser e a sua clareza de análise. Referências ARISTÓTELES. Politeia. Politics. London: W. Heine- mann, 1954. ________ . Elenchi sophistici. On Sophistical Refuta- tions. London: W. Heinemann 1965. BÜHLER, K. Sprachtheorie. Die Darstellungsfunktion der Sprache. Mit einem Geleitwort von Friedrich Kainz. Stuttgart: Fischer, 1982 [1934]. 742 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España CASSIRER, E. Ensaio sobre o Homem. Introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 2001. FLUSSER, V. Como ler sintomas. Manuscrito não publi- cado. Berlim: Arquivo Vilém Flusser, 19__?a. ____________ . On Edmund Husserl. Manuscrito. Ber- lim: Archivo Vilém Flusser, 19__?b. ____________. Códigos. Manuscrito não publicado. Ber- lim: Arquivo Vilém Flusser, 19__?c. _____________ . Língua e Realidade. São Paulo: Herder 1963. _____________ . Filosofia da Linguagem. São José dos Campos: ITA-Humanidades, 1965. _____________ . Contribuições em mesa redonda. Klaus Blasquiz et al., Technologie et Imaginaire. Table ronde du 8 mai 1973 à l´Institut de l´Environment. Paris: l´Institut de l´Environment, 1975. _____________ . Kommunikologie. Frankfurt am Main: Fischer, 1998. _____________ . Bodenlos. Eine philosophische Biogra- phie. Frankfurt am Main: Fischer, 1999. _____________ . Writings. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2002. _____________. O mundo codificado. Por uma filosofia do design e da comunicação. Organização Rafael Cardoso. Tradução Raquel Abi-Sâmara. São Paulo: Cosacnaify, 2007. GOODMAN, N. Ways of Worldmaking. Indianapolis: Hackett, 1978. 743 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España HABERMAS, J. Theorie des kommunikativen Han- delns. Band 1: Handlungsrationalität und gesellschaftliche Rationalisierung. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1981. HANKE, M. G. Weltrings “ΣHMEION in der aristotelis- chen, stoischen, skeptischen und epikureischen Philoso- phie”. Kodikas/Code 9, 1986, p. 7-38. HEGENBERG, L. Explicações Científicas. Introdução à Filosofia da Ciência. São Paulo: Herder/USP, 1969. JAKOBSON, R. Linguística e Comunicação. São Pau- lo: Cultrix, 2010. PEIRCE, C. S. Semiótica e Filosofia. Introdução, seleção e tradução de Octanny Silveira da Mota e Leonidas He- genberg. São Paulo: Editora Cultrix, 1975. SNOW, C. P. The Two Cultures. London: Cambridge University Press, 2001 [1959]. VARGAS, M. Apresentação. Vilém Flusser: Ficções Filo- sóficas. São Paulo: Edusp, 1998, p. 17-21. 744 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 32. Principales factores que motivan cursar estudios de grado en comunicación en la Comunidad de Madrid: análisis del perfil de entrada de estos estudiantes 2010-2012 Fernando Peinado Miguel1 Miguel Angel Ortiz Sobrino2 María Dolores Rodriguez Barba3 Universidad Complutense de Madrid – UCM, Madrid, España 1. Fernando Peinado Miguel (UCM) Profesor Titular de Universidad. Investigador Responsable del Grupo de Investigación Research and Learning of Media and Communications Management/ Investi- gación y enseñanza de la Gestión de los Medios y de la Comu- nicación. Director del Departamento de Periodismo IV (Empresa Informativa) peinado@ccinf.ucm.es 2. Miguel Ángel Ortiz Sobrino (UCM) Profesor Contratado Doctor, De- partamento de Periodismo IV. Delegado Responsable de la emisora de radio de la Universidad, InfoRadio UCM. maortiz.@ccinf.ucm.es 3. Maria Dolores Rodríguez Barba (UCM) Profesora Contratada Doctora. Departamento de Periodismo IV. Gestora del grupo de investigación MediaCom UCM. lolar@ccinf.ucm.es mailto:peinado@ccinf.ucm.es mailto:maortiz.@ccinf.ucm.es mailto:lolar@ccinf.ucm.es 745 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Resumo Análisis comparativo para conocer mejor el perfil de los estudiantes de los Grados en Comunicación en la Univer- sidades de la Comunidad de Madrid (Periodismo, Comu- nicación Audioviusal o Publicidad y Relaciones Públicas) realizado a partir de diferentes proyectos OTRI que el gupo de investigación de la UCM Research and Learning of Media and Communications Management/ Investi- gación y enseñanza de la Gestión de los Medios y de la Comunicación (MediaCom) ha realizado durante los años 2010, 2011 y 2012 a partir de la Summer Media School de la Fundación FIDES y la Universidad Francisco de Vitoria (UFV). ¿Qué motiva y cómo se sienten los futuros pro- fesionales de la comunicación para iniciar estos estudios superiores en un momento de retroceso del sector y de incertidumbre laboral? Palavras-chave: Perfil Profesional; Periodismo; Comuni- cación Audiovisual; Publicidad y Relaciones Públicas; Mo- tivación; EEES. Introducción Desde el curso 2010-2011 el Espacio Europeo de Edu- cación Superior (EEES) se encuentra implantado en España y toda la oferta que las universidades realizan está adaptada a este nuevo sistema. Los estudios de Grado en Periodismo, Comunicación Audiovisual y Publicidad y Relaciones Pú- blicas, se imparten en veintiún centros universitarios públicos 746 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España (tres en la Comunidad de Madrid) y dieciséis privados4 (siete en Madrid) además de una titulación conjunta en Comu- nicación en cinco universidades privadas (dos en Madrid) y que en algunos casos se contempla exclusivamente como no presencial. El EEES ha creado un mercado de 46 países en el que se favorece la movilidad, tanto de las personas como del conocimiento, argumento suficiente para comprender el aumento del número de matriculados en estos estudios su- periores y que sitúan, por ejemplo a la titulación de Perio- dismo, entre los 50 títulos más solicitados en el mercado la- boral. Una demanda que ha ido creciendo desde los 15.980 alumnos al inicio del dos mil y que en el curso 2010-2011 alcanzaba los 19.068 alumnos (de los que cerca de 4.300 se han matriculado en Madrid y que representa el 22,6%) Los autores de este artículo forman parte del equipo de in- vestigadores que realizan los correspondientes trabajos de in- vestigación que han dado lugar a los Informes Anuales de la Profesión Periodística que edita la Asociación de la Prensa de Madrid y que desde el año 2006 dirige el profesor Pedro Farias Batlle. Precisamente en el último de estos informes (APM, 2011) se apreciaba la difícil situación por la que atraviesa el mercado de la comunicación. Un mercado acentuado por la crisis financiera y el arrastre económico del sector que, al igual que ocurre en otros países, ha desacelerado la inversión y desa- rrollo de cuantas perspectivas favorables pudieran producirse y ha deteriorado las condicionales laborales de los profesionales de la comunicación mediante la pérdida de puestos de trabajo, condiciones salariales y exigencia de calidad. Estos estudios entroncan con la investigación que los participes de los últimos informes han desarrollado a partir 4. https://educacion.gob.es/ruct/home 747 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España del Proyecto I+D+i CSO2008-05125 del Ministerio de Ciencia e Innovación, y que han permitido un conoci- miento de la realidad del mercado español y de la profesión periodística que aplicado a las elevadas tasas de abandono de los estudios universitarios5, suscitaron la necesidad de comprobar cual era el estado motivacional de esos alumnos, preuniversitarios, que deseaban cursar estos Grados Supe- riores, y conocer mejor ese perfil de entrada que les motiva, para adecuar el desarrollo de los programas lectivos y la do- cencia teórico – práctica a sus objetivos y establecer líneas de estudio comparadas con la realidad que se encontrarán en ese difícil mercado laboral. Metodologia El objetivo primordial, desde el principio, es hacer una fotografía del futuro estudiante en cualquiera de las titulacio- nes y formas de grado en Comunicación, a partir de la ela- boración de un perfil de entrada de esos alumnos en función de su alfabetización multimedia y los diferentes motivos que les impulsan a matricularse en estos estudios en las Univer- sidades de Madrid, para conocerles más y atenderles mejor. Todo ello se ha llevado a cabo durante los años 2010, 2011 y 2012 mediante diferentes proyectos OTRI que el gupo de investigación de la UCM Research and Learning of Media and Communications Management/ Investiga- ción y enseñanza de la Gestión de los Medios y de la Co- municación (MediaCom) ha realizado a partir de la Sum- mer Media School de la Fundación FIDES y la Universidad Francisco de Vitoria (UFV). 5. http://catedraunesco.es/escuela/Inicio_files/dossier.pdf 748 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España La metodología se ha basado en la utilización de un cuestionario de treinta y cuatro preguntas con multires- puesta, sobre una muestra de 300 alumnos, que representa casi el 10% de los estudiantes que se matriculan en la Co- munidad de Madrid en algún Grado en Comunicación. Además, se seleccionaron doce alumnos para hacer un fo- cus group cualitativo que representaban proporcionalmente a los alumnos que optaban a los diferentes Grados. En este focus group se demandó al alumno una verbalización sobre los aspectos mas relevantes que se habían planteado en el cuestionario utilizado en la investigación cuantitativa. Pos- teriormente, los verbatings obtenidos en el focus group fueron transcritos para reforzar y matiz Para completar la ficha de la muestra, la procedencia de los alumnos es en su mayoría de la Comunidad de Madrid (del 71% en 2010 al 85% en 2012) si bien también han participado alumnos de otras Comunidades Autónomas: Comunidad Autónoma de Galicia, Castilla-La Mancha, Andalucía, Asturias, etc. Por sexos la muestra respondía a la proporción habitual en estas carreras con una mayoría de presencia femenina: en 2010 era el 75%, para en 2011 ser el 77% y en 2012 alcanzar el 83%. En cuanto a edades, la mayoría de los estudiantes en 2010 tenían entre 17 y 18 años (95%) cifra que ha bajado en 2012 hasta el 88%. Respecto al origen de los estudios de los futuros universi- tarios, en 2010 el 66% venían del Bachiller y un 33% de otras titulaciones o Formación Profesional. En 2011 esta media se elevaba al 82% para descender la 52% en 2012, incrementán- dose al 34% los que proceden de otras titulaciones o ciclos de Formación Profesional y un 13% se reservan su origen. Tanto en el cuestionario como en el focus group, se insis- tió a lo largo de todo el trabajo de campo en una serie de 749 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España ideas/ítems que permitieran extraer conclusiones acordes a los objetivos planteados en la investigación, entre los que destacaban: motivación y referencias; consumo y relación; modelos profesionales; influencia de los medios; imagen de la Universidad y expectativas. Todas estas ideas nos mues- tran durante estos tres años la posibilidad de establecer unas comparativas de los principales valores representativos de estos jóvenes que se incorporan al estudio de estos grados en la Comunidad de Madrid. Comparativa para conocer el perfil de la muestra de estudio Durante los tres años de estudio hemos tratado de de- finir el perfil de estos jóvenes estudiantes a partir, básica- mente, de cuatro premisas que entendemos son fundamen- tales: sexo, edad, procedencia geográfica y origen de sus estudios, con el objetivo de tener clara la muestra a la que se le iba a someter al cuestionario y la evolución respecto a la realidad que nosotros podríamos contemplar en el aula. Los primeros datos tratados se refieren al quienes son según el sexo, mujeres u hombres, y los datos son tan rotun- dos como la propia realidad. Las mujeres dominan las aulas tanto de Periodismo como en Comunicación Audiovisual y en la Publicidad y Relaciones Públicas durante los tres años de la muestra, siendo en Publicidad donde los porcen- tajes están muy por encima de la media en cada año. Seis puntos porcentuales en 2010 por encima (80%) y doce en 2012 (98%) da la impresión de que es un Grado dominado por el sexo femenino, tal y como se puede apreciar en el gráfico 1. Es Periodismo el Grado que tira la media a favor del sexo masculino en 2010, pero en 2011 y 2012 son los jóvenes que desean cursar Comunicación Audiovisual los 750 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España que rompen las medias trece y diez puntos por debajo res- pectivamente (64% y 74%) La segunda cuestión es la edad. La mayoría de los estu- diantes que se incorporan a la universidad se sitúan entre los 17 y los 18 años, rango que se cumple durante los tres años con porcentajes mayoritarios en las medias anuales (67% en 2010; 94% en 2011 y 88% en 2012) y que de- bemos comprender por tratarse el lugar de la muestra de un campus de verano para estudiantes que proceden en su mayoría de cursar estudios de Bachiller, pero que a pesar de todo cumple con la realidad (algo superior en el estudio) de la edad de quienes se matriculan año a año. Gráfico 1: MUJERES 76% 64% 74% 80% 85% 98% 67% 81%83% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 2010 2011 2012 Periodismo CAV Publicidad Si en 2010 los jóvenes que se deseaban cursar el Grado de Publicidad eran los que mayoritariamente tenían entre 17 y 18 años (77%), en 2012 son los de Comunicación Au- diovisual con un 96% los que se encuentran en la edad más joven. Es posible que la evolución de estas edades a la hora de incorporarse a los estudios universitarios tenga alguna relación con la crisis financiera que ha motivado a conti- nuar con los estudios ante la imposibilidad de encontrar un trabajo nada más acabar el Bachiller. 751 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Gráfico 2: Edad de ingreso 17-18 años 72% 95% 81% 58% 91% 96% 77% 95% 87% 67% 94% 88% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 2010 2011 2012 Periodismo CAV Publicidad Media anual Puede tener una cierta complicidad con la edad y las diferentes fases por la que atraviesa su formación preuni- versitaria, pero los que desean cursar Publicidad/RRPP se deciden en Bachiller (50%) mientras que los que van a cursar estudios en Periodismo y en Comunicación Audio- visual lo deciden, mayoritariamente en Secundaria (78% y 74% respectivamente) El tercer dato para conocer la muestra a perfilar y que nos ofrece los primeros accesos motivacionales para reconocer el perfil de los jóvenes futuros estudiantes universitarios en al- guno de los Grados en Comunicación en las universidades de Madrid es el origen, tanto geográfico o lugar de procedencia, como los estudios realizados para acceder a estos estudios supe- riores. El promedio más alto es el que deriva de los estudios de Bachiller con medias superiores al 50% para los tres Grados. El año que más altos porcentajes coincide con el establecimiento del Plan Bolonia en todos los centros universitarios del Estado, superando la media en un 25% y es Comunicación Audiovi- sual el Grado que presume de recibir a los más jóvenes, mien- tras que Periodismo se encuentra en el polo opuesto con las cifras más bajas (gráfico 3) Lo que no ha variado es el porcentaje de estudiantes de la Comunidad de Madrid que pretenden curso a cur- 752 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España so, estudiar en las universidades públicas y privadas de esta región y que se ha incrementado del 71% en 2010 al 85% en 2012 (nueve puntos más que en 2011), muestra inequí- voca de cómo afecta la crisis a las familias del país y que les impone buscar estudios en sus zonas de proximidad para evitar grandes inversiones económicas, pero que para el de- sarrollo de la universidad en su concepto mas amplio es un dato muy negativo. Gráfico 3: Origen BACHILLERATO 67% 86% 48% 70% 97% 57%58% 91% 56% 66% 91% 54% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 2010 2011 2012 Periodismo CAV Publicidad Media anual Son diferentes planteamientos los que se han solicitado a los jóvenes estudiantes para conocer porqué desean cursar estu- dios en estos Grados en Comunicación. Cuestiones mediante las que pretendemos conocer mejor sus deseos y expectativas a partir de factores motivacionales tanto de carácter externo como interno, ya sean relacionadas con su acentuación social como por la dependencia e interés de las mismas. Análisis de los principales factores motivacionales en el trienio 2010-2012 Durante este trienio se ha tratado de elaborar el perfil de entrada de los futuros alumnos de las Facultades de Co- 753 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España municación en la Comunidad de Madrid que asistieron a la Summer Media School, a partir de los principales factores motivacionales y con el objetivo de completar el análisis que se inició en 2010, desde los diferentes motivos que les impulsaban a realizar estos estudios. Y durante estos tres años, hemos intentado averiguar la ima- gen que los futuros estudiantes tienen de la enseñanza de la Comunicación en la Universidad, qué expectativas y demandas en el tipo de formación esperan recibir como alumnos en la Universidad (ya sea pública o privada) así como determinar las razones por las que ha elegido cursar estos estudios. Y la primera gran prueba ha estribado en si se trata, como desde el principio se apuntaba, de estudios con una importante carga vocacional. Y en el caso de Periodismo, se cumple al estar siempre por encima de la media en los tres años (gráfico 4) mientras todo lo contrario ocurre con Publicidad/RRPP, que en ninguno de los periodos alcanza esa media anual. Destaca sin embargo Comunicación Au- diovisual que en 2010 y 2011 son los más vocacionales solo superados en 2012 por Periodismo. Gráfico 4: Ingreso vocacional 66% 76% 92% 76% 88% 82% 52% 64% 81% 65% 76% 85% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 2010 2011 2012 Media Anual Publicidad CAV Periodismo Estos niveles de vocación son reforzados cuando se les pregunta si tienen aficiones relacionadas con el ejercicio profesional de las titulaciones que desean elegir. En el caso 754 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España de Periodismo, la afición a escribir se contempla con un 74% en el 2010 para alcanzar el 81% en 2012. Porcentajes más controlados pero muy equilibrados son los que pre- fieren la Comunicación Audiovisual con una media en el trienio del 57% a la hora de describir sus pasiones relacio- nadas con la radio, escribir y elaborar textos (guiones) para cine e incluso en crear formatos para la televisión. En lo que respecta a quienes desean cursar el Grado de Publi- cidad, la afición principal tiene que ver con los anuncios, sobre todo los spots de televisión y su idea principal trata sobre su capacidad de creatividad publicitaria, que les in- centiva año tras año hasta alcanzar en 2012 un 94% de las respuestas. Gráfico 5: Afición a escribir, hacer radio, tv/vídeo, publicidad 74% 57% 57% 78% 58% 75% 81% 57% 94% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Periodismo CAV Publicidad 2012 2011 2010 Por lo tanto, un primer elemento a tener en cuenta de estos jóvenes preuniversitarios es que se sienten vocaciona- les, sobre todo los alumnos de Comunicación Audiovisual y Periodismo y en menor medida los de Publicidad, algo que se apuntaba en 2010 en el apartado de motivaciones específicas como el interés por contar historias o por la actualidad y que motivaba tanto a los de Comunicación Audiovisual (79%) como a los de Periodismo (65%), mien- tras que los de Publicidad y RRPP tan solo sentían interés por la creación de spots publicitarios (75%) y en cuestiones 755 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España relacionadas con la creación de eventos, el marketing o las relaciones públicas apenas alcanzaban el 47% de media. Uno de los principales factores que motiva a la elección de alguno de estos grados es la consideración de ser pro- fesiones con un gran atractivo al permitir viajar y conocer otras culturas (gráfico 6) sobre todo los de Periodismo que en los tres años han alcanzado los porcentajes más altos, mientras los de Comunicación Audiovisual son los que menos viajeros se sienten. A este aspecto motivacional se le suma otro de las facto- res como es el de considerar la actividad de estos profesio- nales en sus diferentes apartados como nada rutinarias en el día a día, algo que se entiende a partir del desarrollo físico e intelectual (gráfico 7) Y ocurre lo mismo que en el anterior apartado, incluso con valores más ajustados, siendo los de Periodismo los que alcanzan porcentajes más altos, siempre por encima de la media y los de Comunicación audiovisual siempre por debajo, aunque esta vez, Publicidad y RRPP en los dos últimos años desprenden una mayor ilusión por la actividad profesional que entienden se enmarca en esta línea de actuación. Gráfico 6: Oportunidad de viajar y conocer otras culturas 87% 82% 85% 67% 75% 57% 70% 72% 75% 75% 73% 72% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 2010 2011 2012 Media Anual Publicidad CAV Periodismo 756 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España     Gráfico  7:  Una  profesión  atractiva  y  nada  rutinaria   2010 81; 34% 80; 33% 78; 33% 2011 90; 34% 83; 31% 92; 35%   2012 89; 33% 83; 31% 94; 36% PERIODISMO C. AUDIOVISUAL PUBLICIDAD Y RRPP   Gráfico 8 Una profesión atractiva y nada rutinaria Media anual 80; 31% 88; 34% 89; 35% 2010 2011 2012 En lo referente a las cuestiones económicas, si bien las retribuciones no son razón principal de la elección, en los tres casos consideran que pueden llegar a vivir en condi- ciones dignas aunque los porcentajes de credibilidad como elemento motivacional establece unos valores más bajos de lo habitual, con medias que no alcanzarían el notable. Puede resultar consecuencia de la crisis económica y financiera que padecemos el que sea este el factor motivacional menos re- conocido y solo los que eligen Publicidad superan la media mientras que los de Periodismo no la alcanzan y, en especial 757 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España en el último año (gráfico 9) los de Comunicación Audiovi- sual lo consideran casi veinte puntos por debajo de la media. Gráfico 9: Buenas expectativas económicas 62% 49% 59%62% 63% 35% 71% 62% 68%65% 58% 54% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 2010 2011 2012 Periodismo CAV Publicidad Media anual Otro elemento que sin duda ayuda a conocer el perfil de estos jóvenes es su compromiso y la función social que van a desarrollar. La búsqueda de la verdad (a partir del gusto por conocer la actualidad) y del interés por saber cuál es la realidad global, mediante búsquedas en la red (instrumento más utilizado para informarse junto con la televisión) con- figuran otros dos valores intelectuales y sociales de tremen- da importancia, pues les hace pensar en principios éticos y sociales como son: la actividad profesional que desempeñe tiene que ayudar a que el mundo sea más justo y mejor. Con unas medias que apenas alcanzan el suficiente (grá- fico 10) en 2010 eran lo futuros publicitarios los que inte- riorizaban este compromiso con la sociedad mientras que Periodismo y Comunicación Audiovisual rallaban por en- cima del 50%. Dos años más tarde es Periodismo quien se da cuenta de la realidad y quien muestra unas expectativas para con la sociedad muy superiores –casi el treinta por ciento más que la media- mientras que los de Comunica- ción Audiovisual tanto en 2011 como en el 2012 pierden ese compromiso motivacional. 758 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Gráfico 10: Compromiso y función social 54% 57% 51% 36% 30% 64% 44% 50% 56% 46% 55% 81% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 2010 2011 2012 Periodismo CAV Publicidad Media anual Es evidente que no es este el mejor de los escenarios para afrontar un futuro profesional cuyas perspectivas sean buenas, argumento principal de unas medias porcentuales tan bajas, y sin embargo tan poco lejos de evitar que en algunos casos estén por encima de la media anual como en Comunicación Audio- visual en 2011. Si se aprecia un descenso en Periodismo que pierde un 10% en el trienio, aunque la media en Publicidad se mantiene al alza seis puntos por encima de la anual. Gráfico 11: Buenas perspectivas laborales y salidas profesionales 40% 39% 30%31% 52% 26% 36% 33% 37%36% 41% 31% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 2010 2011 2012 Periodismo CAV Publicidad Media anual Puede resultar como contrapeso el factor relacionado con la capacidad de relacionarse, de influir en los demás y de obtener alguna relevancia. Cuando se les pregunta si 759 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España desde su profesión podrá influir en los demás, las respuestas de Periodismo, si bien han ido cayendo en los sucesivos años (gráfico 12) se encuentran notablemente por encima de la media del conjunto y son los futuros alumnos de Co- municación Audiovisual los que tienen porcentajes peores. Gráfico 12: Obtener popularidad y relevancia social 63% 46% 55% 57%60% 64% 62%59% 64% 60% 71% 73% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 2010 2011 2012 Periodismo CAV Publicidad Media anual La socialización por la forma de trabajar es un valor que tienen estas nuevas generaciones de estudiantes, motivados sin duda alguna por los reflejos enviados desde Bolonia y en donde conviven desde el curso 2010-2011 en todo el estado español (si bien en muchos centros se inició con an- terioridad) Los más dispuestos a trabajar en equipo son los de Publicidad y Relaciones Públicas que superan siempre las medias anuales y en algunos casos como en 2012 trece pun- tos por encima. Se aprecia un crecimiento en la disponibili- dad de trabajar en equipo en Periodismo, doce puntos más en 2012 que en el primer año de estudio. Es en los futuros estudiantes de Comunicación Audiovisual en los que se da un descenso de trece puntos en el mismo periodo y que les sitúa como los menos dispuestos contrariamente al 2010 que fueron los más motivados por este factor (gráfico 13) 760 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Gráfico 13: Motivación por el trabajo en equipo 55% 72% 67%70% 73% 57% 66% 77% 63% 74% 68% 81% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 2010 2011 2012 Periodismo CAV Publicidad Media anual Durante los tres años que ha durado el estudio, una se- rie de cuestiones han sido rechazas mayoritariamente por los futuros estudiantes que se iban a matricular en la Co- munidad de Madrid en alguno de los grados en Comu- nicación por no resultar motivación suficiente para ellos. Estas cuestiones planteadas refuerzan los ítems anteriores y contemplan su elección no por ser un Grado que esté de moda por su repercusión profesional o porque tenga una gran demanda, al igual que no les motiva el nivel de in- fluencia en los referentes directos, ni de familiares y amigos. Respecto a un valor primario como es el respeto, existen diferentes estimaciones en el grado de admiración según en qué titulación se corresponda. Donde es más alto es en Comunicación Audiovisual, seguido de Periodismo y de Publicidad, pero el prestigio profesional que les pueden tri- butar los líderes profesionales en sus vertientes correspon- dientes tampoco es argumento suficiente de motivación. En cuanto a la aplicación del Espacio Europeo de Edu- cación Superior, el grado de dificultad que puede represen- tar cursar los estudios en Periodismo, Comunicación Au- diovisual o Publicidad y Relaciones Públicas no es tampoco factor que motive a estos futuros universitarios, pero si se ven atraídos por los nuevos planes de estudio adaptados a 761 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España los que popularmente se viene denominando Plan Bolonia. El nivel de aceptación de estos nuevos grados a partir de sus planes de estudio resultó en 2010 enormemente alto, so- bre todo en el Grado de Publicidad y RRPP (82%), para su- frir un desploma en esta misma titulación en 2012 del 27%. Gráfico 14: Plan de estudios atractivo y adaptado al EEES 51% 45% 37% 59% 55% 52% 82% 65% 27% 66% 55% 39% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 2010 2011 2012 Media anual Publicidad CAV Periodismo Es Comunicación Audiovisual el Grado que desprende mayor credibilidad en relación con la adaptación durante los tres años de estudio y Periodismo es el Grado que ha generado unos valores más bajos, en los tres años por deba- jo de la media. En relación con sus deseos de formación, cuando se les pregunta si lo que desean es aprender a desarrollar técnicas, cada uno en su parcela profesional, para escribir noticias, reportajes o elaborar entrevistas (por ejemplo para los de Periodismo), para trabajar en medios audiovisuales y ela- borar guiones, realizar programas, etc. (Comunicación Au- diovisual) o para hacer spots de televisión y anuncios (Pu- blicidad y Relaciones Públicas) las respuestas son las más contundentes del estudio (gráfico 15) Seguramente, dado que el nuevo plan de estudios de Gra- do les resulta medianamente atractivo, el reto de los centros superiores de formación universitaria tiene la obligación 762 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España por no defraudar a estos estudiantes que al incorporarse tie- nen toda la ilusión puesta en su formación. Es Periodismo el Grado que determina un descenso importante en 2012 en cuanto al interés de estos alumnos con una pérdida de diecisiete puntos sobre 2010 y doce en el interanual. Para los que desean cursar Comunicación Audiovisual el grado de motivación para aprender técnicas que les permita en los próximos años en profesionales es el más alto. Gráfico 15: Interés por aprender técnicas profesionales 97% 98% 70% 96% 83% 88% 97% 94% 94% 82% 100% 98% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 2010 2011 2012 Media anual Publicidad CAV Periodismo Para terminar de definir el perfil de estos futuros estu- diantes de Grado en comunicación en las universidades de la Comunidad de Madrid, dos preguntas de carácter intuiti- vo, debido al desconocimiento del mercado y de la realidad profesional, en las que se les pregunta su opinión sobre en qué medida piensan que los profesionales que trabajan en los medios de comunicación y en la comunicación en ge- neral consideran que están influidos por el poder político. Los que van a estudios Periodismo y Publicidad/RRPP son los más contundentes en sus respuestas, con porcentajes que de media superan el 75% en 2010, el 66% en 2011 y el 77% en 2012. Se puede concebir un menor grado de independencia cuando se añaden las respuestas a la pregunta relacionada 763 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España con la influencia del poder económico en la actividad pro- fesional. En este caso son los de Publicidad /RRPP (79%) los que creen que existe, seguidos de Periodismo (66%) y en tercer lugar los del Comunicación Audiovisual (57%). No obstante, a pesar de estas cifras, los estudiantes de las tres titulaciones consideran que los periodistas ejercen su trabajo con independencia en un 62%, mientras que los publicistas lo sufren más (74%). Y sobre la credibilidad que ofrecen los profesionales que trabajan en los diferentes medios, para los que desean matricu- larse en Periodismo, la prensa escrita es la que facilita una mayor margen de confianza (35%); a continuación la televisión (26%) y los blog con el 23%. Es de destacar que si cruzamos los datos del análisis motivacional con el de consumo de medios, los me- dios escritos y sobre todo en papel son los menos seguidos por los propios futuros estudiantes de Periodismo. Los futuros licenciados en Comunicación Audiovisual otor- gan, igualmente, mayor credibilidad a la prensa escrita (si bien con un 27%), a continuación se encuentran los profesionales de la radio (25%) y los de televisión con un 24%. Para los de Pu- blicidad y Relaciones Públicas, los más creíbles son la televisión un 34% y después la radio (28%) y la prensa escrita con un 22%. En cuanto a los medios, los que salen mejor parados para los que cursan Periodismo y Publicidad son la Televisión (35% y 43% respectivamente) y el cine (55% para los de CAV y 42% para Periodismo) mientras que la radio queda en tercer lugar excepto para Publicidad que introduce a los que diseñan productos multimedia. Conclusiones Hemos analizado los principales factores que motivan, con los diferentes grados de participación correspondiente, 764 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España a los alumnos de la Summer Media School de la Fundación FIDES y la Universidad Francisco de Vitoria a los que du- rante los veranos de 2010, 2011 y 2012 realizado el Group for Research and Training of Media and Communications Management (MediaCom UCM) ha tratado de perfilar para establecer una identificación en la decisión de estos alumnos para cursar uno u otro grado en Comunicación en alguna de la Universidades de la Comunidad de Madrid. Este análisis del perfil de entrada nos ofrece cuatro prin- cipales conclusiones: 1 - Estos alumnos, gracias a su capacidad de aprendi- zaje y al esfuerzo en su formación, demandan, atraídos por la enorme difusión del Plan Bolonia, unos planes de estudio adaptados a la realidad el mercado, mediante un aprendizaje directo, teórico-práctico, capaz de inte- grarles rápidamente en el ejercicio profesional. Además, debido a que el transcurrir del tiempo deteriora la ilu- siones y se van conociendo las aplicaciones reales sobre todo por la imposibilidad de llevar a cabo en plena crisis económica y financiera el EEES, se desprende, como mal menor, un enorme interés por las dobles titulacio- nes, sobre todo los que desean cursar el Grado de Pe- riodismo y los de Publicidad, y en menor medida los de Comunicación Audiovisual. 2 - Son alumnos que buscan la autorrealización a partir del compromiso con sus creencias lo que fundamen- tan en la elección de sus respectivas titulaciones en el principio vocacional, que se aprecia con solvencia en los que quieren estudiar Periodismo y Comunicación Au- diovisual y en menor medida aquellos que van a cursos el Grado de Publicidad. Esta conclusión queda refor- zada con la elección de sus vocaciones, siendo las dos 765 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España primeras en Secundaria y en el caso de Publicidad en Bachillerato. Además, en todos los casos, se aprecia un estimulo por el gusto a escribir, sobre todo a los que es- tudian Periodismo y Comunicación Audiovisual, y por los medios audiovisuales. Se consideran creativos, y su talento está influido, según reconocen, por los mass me- dia, a la hora de buscar cultura y temas sociales. La ma- yoría utiliza las redes sociales para relacionarse. Estamos ante una estética relacional y socializadora de la Web 2.0 3 - Para todos ellos, se trata de estudios que les permiti- rán realizarse profesionalmente en actividades nada ruti- narias. Interesados por la actualidad, consideran que los profesionales con mayor credibilidad están en la prensa escrita, a los que admiran, pero principalmente consu- men contenidos en Internet y en la televisión. No com- pran prensa papel (excepto fines de semana y revistas de moda) y tampoco pagan contenidos en la red. Aunque tienen como referencia profesional los medios de co- municación generalistas y convencionales, sus valores no están en el negocio tradicional. Su riqueza y su confort económico se fundamentan en bienes virtuales, parti- cipativos, cooperativos y sostenibles. Son responsables, sobre todo desde la conciencia global, y piensan que pueden trabajar por un mundo mejor, más justo, a pesar de que la crisis está dejando huella en sus maltrechas conciencias. Su compromiso social, con esfuerzo, talento y preparación, les dará frutos, lo que indica un valor eco- nómico de confianza y seguridad. Son sus principales bienes y ellos lo saben. 4 - La crisis económica y financiera se nota en el seno de las familias españolas y se traslada a los que van a cursar estudios universitarios. Preocupa, por supuesto, la subida de las tasas académicas para aquellos alumnos que se ini- 766 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España cian así como para los que se rematriculan. Pero se nota una particularidad a partir del estudio durante estos tres años en la respuesta de los jóvenes como es el no resultar gravosos económicamente para sus familias. Este hecho ha motivado que cuando en 2010 el 72,5% de los es- tudiantes de Periodismo se inclinaban por la enseñanza pública; el 70,5% de los de Comunicación Audiovisual y algo más del 58% de los de Publicidad, dos años más tarde, en 2012, la inclinación por la Universidad Pública, más asequible para sus familias, pero que le obligaba a obtener unas notas de corte más altas, se eleva al 74% en Comunicación Audiovisual, 75% los de Periodismo y el 635 lo de Publicidad/RRPP. La tendencia durante estos tres años de los futuros alumnos de comunicación de que la Universidad, en general, formaba bien a los que serán futuros nuevos profesionales ha descendido dos puntos y ha pasado del 56% al 54% de media, con los de Publicidad en el plano más optimista (62%) y los de Periodismo en el contrario (48%) Referências APM. Informe Anual de la Profesión Periodística. A11, ed. Asociación de la Prensa de Madrid, 2011. Director: Farias Batlle, Pedro. 220 pp. ISSN: 2171-2824 FERNANDEZ SANDE, M. y PEINADO-MIGUEL, F. Reflexión sobre la motivación de los alumnos de Grado en la elección de estudios de Comunicación en las universidades de Madrid. Revista Estudios sobre el Mensaje Periodístico 383 Vol. 17 Núm. 2 (2011) p. 383- 400. ISSN: 1134-1629 http://dx.doi.org/10.5209/rev_ ESMP.2011.v17.n2.38121 http://dx.doi.org/10.5209/rev_ESMP.2011.v17.n2.38121 http://dx.doi.org/10.5209/rev_ESMP.2011.v17.n2.38121 767 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España LOPEZ VIDALES, N. y ORTIZ SOBRINO, M. A. Perfi- les profesionales en la radio española. En Revista Telos, nº 87, pp. 63 a 72. ISSN: 0213-084X ORTIZ SOBRINO, M. A.; RODRÍGUEZ BARBA, D. El perfil de entrada de los alumnos de grado en las Facultades de Comunicación de las Universidades de Madrid: el caso de la Summer Media School de la fundación FIDES/UFV [en línea]. Revista de Comu- nicación Vivat Academia, nº 114, marzo de 2010, recupe- rada el 22/X/2012 en: http://www.ucm.es/info/vivataca/ numeros/n114/DATOSS.html ORTIZ SOBRINO, M.A.; PEINADO, F., RODRIGUEZ BARBA, D., FERNÁNDEZ SANDE, M., GONZALEZ, C; PÉREZ, M.J. (2011). Perfil de entrada de los alumnos de Comunicación en la Comunidad de Madrid. Edit. E-book Colección UFV, 2011. ISBN: 978-84-15423-00-3. PEINADO MIGUEL, Fernando. Motivación + Innovación + Bolonia = Formación Superior Necesaria. En Anuario de la Comunicación 201, p.114-115. Dircom, Madrid. PEINADO MIGUEL, F.; FERNÁNDEZ SANDE, M.; ORTÍZ SOBRINO, M. Á. y RODRÍGUEZ BARBA, MD. Hacia un aprendizaje activo de la empresa in- formativa en el EEES. Aplicación del podcasting y otras herramientas de comunicación 2.0. En Razón y Palabra, nº 75, 2011. México, http://www.razonypalabra. org.mx [Fecha de consulta: 10 de marzo 2011] PEINADO-MIGUEL, F.; FERNANDEZ SANDE, M.; GONZALEZ ROMAN, C. Análisis de los principa- les valores que identifican a los jóvenes que se in- corporan a los nuevos estudios de Grado en Co- municación. III Congreso Internacional de la AE-IC 768 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 2012, Tarragona “Comunicación y Riesgo” ISBN 978-84- 615-5678-6 http://www.aeic2012tarragona.org/esp/abs- tracts3.asp?id_seccion=7&id_slot=78 WEAVER, David H. y WILLNAT, Lars. The global Jour- nalist in the 21st Century. Presentación del estudio en la Facultad de Ciencias de la Comunicación de la UMA, el 11 de enero. Editado por la Universidad de Indiana, EEUU, en agosto 2011, en: http://www.uma.es/contenido.php?id m=29&clase=p&id=2245&tipo=n http://www.uma.es/contenido.php?idm=29&clase=p&id=2245&tipo=n http://www.uma.es/contenido.php?idm=29&clase=p&id=2245&tipo=n 769 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España 33. Cultura Digital, Felicidade e Entretenimento na Publicidade Lucimara Rett1 Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil Resumo A convergência das mídias e a cultura digital são fatores que vêm influenciando o posicionamento e transformando a comunicação das marcas. Este estudo exploratório com- pila algumas ações recentes, de 2009 a 2011, da Volkswa- gen – The Fun Theory, do McDonald’s – Piccadilly Circus e Playland, da Coca-Cola – The Real Life Like e Máquina da Felicidade, e da Nike - Umbabarauma, a fim de propi- ciar uma reflexão acerca das tendências na comunicação 1. Lucimara Rett, publicitária, Doutora em Comunicação pela Umesp e Professora Adjunta da Escola de Comunicação da UFRJ – Universi- dade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ. Integrante dos grupos de pesquisa Imagem, Mercado e Tecnologia (UFRN) e Mídia, Cultura e Memória (Unip). E-mail: lucimararett@uol.com.br. 770 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España publicitária e a utilização criativa de pontos de contato al- ternativos, que complementam ou não, campanhas de co- municação veiculadas nos meios convencionais. Tais ações envolvem o público com uma abordagem do fun, do en- tretenimento e da felicidade, estabelecendo uma relação di- ferenciada das empresas com os consumidores, bem como buscando uma maior interatividade com os mesmos. Palavras-chave: Convergência; Cultura Digital; Entrete- nimento; Felicidade; Marcas. Introdução A convergência das mídias não pode mais ser encara- da como uma tendência, como um fenômeno latente, mas sim, como uma realidade com a qual nós temos que nos adaptar enquanto receptores, produtores e consumidores de informação, seja ela persuasiva ou não. Enquanto partici- pantes desse processo, não mais como meros receptores, te- mos que compreender os impactos dessas mudanças. Villém Flusser (2007, p. 127) enfatiza que “a revolução no mundo da comunicação (cujas testemunhas e vítimas somos nós) influencia nossa vida com mais intensidade do que tende- mos habitualmente a aceitar”. O consumo, segundo Henry Jenkins (2009, p. 30), tornou-se “um processo coletivo”, o que se entende por inteligência coletiva. Entretanto, para Zygmunt Bauman (2008, p. 60), “o valor mais caracterís- tico da sociedade de consumidores, na verdade seu valor supremo, em relação ao qual, todos os outros são instados a justificar seu mérito, é uma vida feliz”. E essa felicidade é pontual e efêmera. Busca-se, constantemente, a felicidade com o consumo de bens. 771 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Os valores realmente importam. A propaganda visa claramente mudá-los – mudar nossa preferência por um produto a outro. Mas essa experiência nos torna mais felizes? Se a propaganda simplesmente forne- cesse informações, seria muito difícil ser contrário a ela. Mas grande parte da propaganda nos faz achar que precisamos de algo de que obviamente não precisávamos. O anunciante quer apenas que com- premos sua marca, em vez de outra. Mas o efeito geral é fazer as pessoas quererem mais (LAYARD, 2008, p. 189-190). Apesar disso, com a atenção dos consumidores dissipada entre tantos pontos de contato, não há mais tempo para o discurso persuasivo que só fornece informações. Os apelos para o consumo são, assim, exponencialmente incrementa- dos. Chris Anderson (2007, p. 131) afirma que, em termos de distribuição e consumo, “a aposta mais segura é partir do princípio que tudo acabará por ficar disponível”. Em um mercado onde se tem tudo disponível, portanto, o desafio torna-se conquistar a atenção do receptor/consumidor, já que “embora a quantidade total de informação possa con- tinuar crescendo, a quantidade de atenção humana é limita- da”, como elucidam Adler e Firestone (2002, p. 19). Diante disso, as marcas, em seu posicionamento e em suas ações de comunicação, vem percebendo, gradativa- mente, que a mídia convencional já não basta para a per- suasão de seu público. Muitas vezes, mesmo sem abrir mão de sua comunicação em meios convencionais, são propostas ações de guerrilha ou nas mídias sociais, que trazem muito mais a abordagem emocional, a proposta de felicidade, la- zer ou entretenimento ligadas às marcas, do que a aborda- gem racional e a apresentação dos diferenciais do produto ou serviço. Em meio a um conteúdo de entretenimento, a marca aparece de maneira sutil e não impositiva. 772 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Em todas essas situações, há sem dúvida, muita téc- nica envolvida (razão, análise e tal...), mas sensibili- dade é seu agente dileto. Precisamos resgatar ternu- ra, simpatia, empatia e compaixão por dói motivos. Primeiro, porque nos torna melhores profissionais e marcas, mais antenados com a epidemia de carência afetiva de nossa época. Portanto, mais eficientes em nossa resposta ao meio e ao que nos pedem nossos consumidores. E também porque somos humanos, em desuso com a característica que nos define. Sen- sibilidade é, portanto, um ativo e uma inspiração para estabelecer conexões e entregar o aconchego que tantas pessoas anseiam (FURTADO, 2008, p. 115). Acredita-se que o surgimento de mídias sociais e digi- tais, bem como a evolução da interatividade e da cultura participativa, tenham favorecido o desenvolvimento dessa nova forma de abordagem, uma vez que o processo da con- vergência não deve ser visto como meramente tecnológico. Henry Jenkins (2007, p. 29-30) esclarece que ela “represen- ta uma transformação cultural, à medida que os consumi- dores são incentivados a procurar novas informações e fazer novas conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos”. Assim, devem ser consideradas, segundo o autor, transfor- mações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais. As mídias sociais são parte dessas transformações e devem ser levadas em conta na elaboração da comunicação publici- tária das empresas. Raquel Recuero (2011, p. 15) elucida que sites de rede social foram especialmente significativos para a revolução da “mídia social” porque vão criar re- des que estão permanentemente conectadas, por onde circulam informações de forma síncrona (como nas conversações, por exemplo) e assíncrona (como no en- vio de mensagens). Redes sociais tornaram‐se a nova mídia, em cima da qual informação circula, é filtrada 773 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España e repassada; conectada à conversação, onde é debatida, discutida e, assim, gera a possibilidade de novas formas de organização social baseadas em interesses das cole- tividades. Esses sites atingem novos potenciais com o advento de outras tecnologias, que aumentam a mo- bilidade do acesso às informações, como os celulares, tablets, smartphones e etc. Segundo Mike Walsh (2009, p. 138), a viralização tam- bém é favorecida nos espaços sociais, sobretudo em um am- biente digital. se a propagação de novos produtos de entreteni- mento é essencialmente randômica e não controla- da por um pequeno grupo de indivíduos, como os distribuidores aumentam suas chances? A resposta é a super distribuição, em outras palavras, semeando o seu conteúdo no maior número possível de espaços sociais voláteis, quanto for possível [tradução nossa]. De acordo com Cecilia Almeida Salles (2009, p. 141), “há, nas propriedades associadas à interatividade, algo que, para compreendermos as conexões da rede da criação, parece-nos importante destacar: a influência mútua – um elemento agin- do em outros e sendo afetado por outros elementos”. Nesse “mundo da convergência das mídias, toda história importante é contada, toda marca é vendida e todo consumidor é cortejado por múltiplas plataformas de mídia (JENKINS, 2009, p. 29). O fenômeno conhecido como gamification parece, então, ser outra alternativa eficiente na comunicação publicitária. Segundo Luiza Dalmazo (2011, online)2, 2. Disponível em . 774 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España trazer para dentro de negócios tradicionais caracte- rísticas de games não é uma ideia exatamente nova. Há anos, companhias aéreas e seus programas de mi- lhagem estimulam clientes com sistemas de pontua- ção e categorias distintas, algo comparável às fases de um jogo. A diferença agora é que, além de mecânicas mais complexas, os novos jogos têm como princi- pal objetivo apenas estreitar a relação entre marcas e clientes, não necessariamente vender mais produtos no curto prazo. “Estar perto do cliente em momen- tos de lazer ou no ato da compra é uma necessidade hoje para as empresas”, diz Asif Khan, presidente da Associação de Marketing Baseado na Localização. “Ações como essas serão cada vez mais frequentes.” Assim, qual seria a melhor maneira de se conquistar a atenção desse novo receptor? Xavier Dordor (2007, p. 29) enfatiza que “todas as mídias alternativas se engalfinham para ocupar o vazio deixado pelo discurso de emissor da publici- dade, para dar o lugar de honra ao consumidor, ou ao cida- dão”. O autor (2007, p. 112), acrescenta: “Numa época em que o consumo é exibicionista e espetacular, a publicidade é o espetáculo”. Outros autores já buscam compreender o fenômeno e suas implicações na comunicação publicitária. Rogério Covaleski (2010, p. 50), por exemplo, observa que “as mídias de tecnologia interativa devem redimensionar o impacto das peças publicitárias tradicionais e as marcas estão buscando formas de trabalhar proativamente”. Esta pesquisa fomenta reflexões acerca das tendências e evolução da comunicação publicitária, sobretudo a que uti- liza a cultura colaborativa, o entretenimento e a felicidade como argumentação. Neste artigo são compilados alguns cases, apresentados a seguir, que de alguma forma demons- tram a utilização desta temática pelas marcas. 775 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Volkswagen: The Fun Theory Na campanha The Fun Theory, desenvolvida em 2009, pela DDB de Estocolmo, a Volkswagen procura associar sua marca à diversão, mostrando que este pode ser um cami- nho para mudar o comportamento das pessoas para melhor. Os vídeos dos experimentos foram disponibilizados no site www.rolighetsteorin.se e a versão em inglês, no endereço www.thefuntheory.com. Um dos vídeos mais conhecidos da campanha é o Piano Stairs (figura 1), onde uma escada que imita um piano e emite os sons do instrumento, tenta demonstrar às pessoas que é mais saudável (e, neste caso, mais divertido) utilizar a escada do que o elevador. O resultado da experiência é de que 66% das pessoas utilizaram a escada, mais do que o normal, ao invés do elevador. Outro vídeo bastante conhe- cido é o Bottle Bank Arcade Machine, onde as pessoas ganham pontos ao depositarem garrafas de vidro para reciclagem. Figura 1 – Site e imagens do projeto The Fun Theory Fonte: www.thefuntheory.com 776 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Em 2010, o projeto anunciou o concurso The Fun Theory Award, premiando com 2500 euros, o vídeo que retratasse da melhor forma, uma experiência com a essência da campanha. Segundo o site Ypsilon2 (2009, online)3, o vencedor foi Kevin Richardson, dos Estados Unidos, com o experimento The Spe- ed Camera Lottery. A ideia era premiar os motoristas que res- peitassem a velocidade com ‘Rewarding Speed Limit Signs’. Esses motoristas também eram fotografados por radares e as informações eram registradas em uma espécie de loteria. Os vencedores desse sorteio eram notificados pelo correio e re- cebiam um prêmio em dinheiro, sendo este proveniente das multas pagas pelos que excederam a velocidade. Outros vídeos podem ser conferidos no site The Fun Theory e, pelo número de acesso dos mesmos, pode-se confirmar o envolvimento do público e a associação da marca Volkswagen às boas condutas e ao fun. McDonald’s e a cultura digital Em 2009, a Leo Burnett de Londres, considerando o público médio de 34 milhões de pessoas que circula anual- mente pelo Piccadilly Circus, segundo o site I Believe in Ad- vertising (2009, online)4, utilizou um painel LED gigante para envolver as pessoas numa atmosfera de diversão e alegria no contato com a marca McDonald’s (figura 2). Foi criado um Flickr para a postagem das fotos das pes- soas que transitavam pelo local e interagiam com balões, 3. Disponível em < http://www.ypsilon2.com/blog/publicidade/ volkswagen-anuncia-o-vencedor-do-the-fun-theory-award/>. 4. Disponível em . 777 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España martelos, halteres e bolos de aniversário, entre outras ima- gens divertidas que apareciam no painel, sempre assinadas com a marca McDonald’s (figura 2). Além do Flickr, as fo- tos e vídeos do público se espalharam rapidamente pelas mídias sociais como Facebook, Orkut, Twitter e Youtube. Figura 2 – McDonald’s Piccadilly Circus Fonte: www.ibelieveinadv.com 778 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España A diversão e alegria do público associada à marca McDonald’s também foi o objetivo da Playland (figura 3), desenvolvida em 2010, pela DDB Sydney, Austrália, para a marca. Figura 3 – McDonald’s Playland Fonte: www.coloribus.com Foi construído ao ar livre, um parque gigante, com brin- quedos proporcionais ao tamanho dos adultos executivos que circulavam pelo local, recebidos por um boneco do Ronald McDonald de dois metros e meio de altura, sen- tado em um banco. A reação de envolvimento do público pode ser conferida no vídeo McDonald’s - Playland (Aus- tralia), disponível no Youtube5. 5. Disponível em . 779 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Coca-Cola e a felicidade A Definition 6, agência com escritórios em Atlanta e Nova Iorque, desenvolveu em 2010, a ação da ‘Happiness Machine’, ou ‘Máquina da Felicidade’ (figura 4), para a Coca-Cola. Figura 4 – Máquina da Felicidade Coca-Cola Fonte: www.syslater.com.br A.J. Brustein, Global Senior Brand Management da Coca- -Cola, e Paul McClay e Paul Iannacchino, da Definition 6, esclarecem alguns detalhes da ação em entrevista ao Masha- ble (2010, online)6. Brustein conta que o objetivo era ativar a plataforma digital, atingindo sete localidades pelo mundo, utilizando as mídias sociais, aplicativos para iPhone, papéis de parede, protetores de tela e um vídeo que pudesse se tornar um viral. Iannacchino explica que a Saint John’s University foi o 6. Disponível em . 780 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España local estrategicamente escolhido para a ação inicial, tanto pelo tráfego de estudantes, como por ser uma instituição afiliada à Coca-Cola. A máquina, ao invés de refrigerante, entregava aos consumidores itens inusitados, como pizzas e flores. Havia uma câmera escondida para registrar a surpresa e a reação das pessoas. O vídeo foi carregado para a página da Coca-Cola no Facebook e, em pouco tempo, foi ampla- mente divulgado por diversos blogs e pelo Twitter. McClay, em entrevista ao Mashable (2010, online), dá a dica para que um vídeo se torne viral: “dedique o mesmo esforço na criatividade como se fosse produzir um comer- cial para a televisão e você produzirá um conteúdo surpre- endente. Não pense pequeno” [tradução nossa]. Depois do sucesso da Máquina da Felicidade, a mais nova ação da Coca-Cola é o ‘Happiness Truck’. Agora a Coca-Cola adapta a ideia e traz o “Ha- ppiness Truck” (“Caminhão da Felicidade”) com o mesmo objetivo, entregando não só refrigeran- tes grátis, mas também brinquedos, óculos de sol, pranchas de surf, etc. A ação aconteceu aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, e nas Filipinas (COMU- NICADORES, 2011, online)7. The Real Life Like (figura 5) foi outra ação da Coca- -Cola, desenvolvida pela Publicis E-dologic Israel, em 2010, envolvendo tecnologia e mídias sociais. 7. Disponível em . 781 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España   Figura 5 – The Real Life Like Coca-Cola Fonte: http://adsoftheworld.com Utilizando pulseiras que transmitiam sinais RFID8, os adolescentes que estavam na The Coca-Cola Village, uma atividade de verão, podiam postar em seus perfis de Face- book, um ‘Like’ relacionado às facilidades oferecidas pelo acampamento. Também era possível postar fotos e comen- tários. O conteúdo era postado simultaneamente na pági- na da Coca-Cola Village no Facebook. De acordo com Enon Landerberg, CEO da E-dologic (ADSOFTHEWORD, 2011, online)9, 8. RFID  é uma  sigla de “Radio-Frequency  IDentification” originária da língua inglesa que, em português, significa Identificação por Rádio Frequência. Trata-se de um método de identificação automática atra- vés de sinais de rádio, recuperando e armazenando dados remotamen- te através de dispositivos denominados etiquetas RFID (WIKIPÉDIA, 2011, online). Disponível em . 9. Disponível em . 782 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España estamos continuamente procurando meios para co- nectar os mundos físico e virtual. A ideia por trás da ‘The Like Machine’ é uma solução perfeita. É um método pioneiro e inovador e, por meio dele, a possibilidade de envolver seus amigos do Facebook em eventos e experiências que acontecem ao redor do mundo se torna realidade [tradução nossa]. O envolvimento do público e a viralização desta ação só foi possível graças à tecnologia empregada, estando, mais uma vez presente, o conceito da felicidade momen- tânea compartilhada pelas mídias sociais. Nike e entretenimento O Branded Content foi a estratégia utilizada pela Nike em 2010, com a regravação da música Umbabarauma, o ponta de lança africano, de Jorge Ben Jor (figura 6). Apro- veitando a época de Copa do Mundo, a empresa reuniu grandes nomes da música, entre eles o próprio Jorge Ben Jor, o rapper Mano Brown, vocalista dos Racionais MC’s, e a cantora Céu, para regravar, com uma base de hip-hop, a música que é considerada “um dos maiores clássicos da música brasileira e da cultura do futebol” (INSIDE.NIKE, 2010, online)10. 10. Disponível em . 783 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Figura 6 – Jorge Ben Jor e Mano Brown em gravação do clipe Umbabarauma para a Nike Sportswear Fonte: http://inside.nike.com Após ampla divulgação do teaser nas mídias sociais, o clipe, gravado no estúdio YB e produzido pela Big Bonsai, foi lançado e, logo em seguida, transformado em um do- cumentário de 30 minutos de duração, exibido pela MTV. Vale dizer que todas as pessoas que apareceram no docu- mentário utilizavam roupas da Nike. Além do documentário, foi proposta a comercialização virtual da música e de outras versões pelo UOL Megastore e pelo Terra Sonora, no valor de R$ 1,99 a faixa. Segundo o Inside.Nike (2010, online)11, o valor arrecadado foi rever- tido para o projeto social Capão Redondo Futebol Clube, que “busca a inclusão social de jovens por meio do esporte e da cultura. [...] O projeto é apoiado pela Nike e manti- 11. Disponível em . 784 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España do pela ONG Periferia Ativa – apadrinhada pelo músico Mano Brown – em parceria com APEAS/Centro Esporti- vo Educacional Joerg Bruder”. Considerações finais Diante das transformações referentes à convergência das mídias e à cultura participativa, o grande desafio para as marcas é encontrar alternativas que consigam captar a aten- ção dos receptores. Dado esse contexto, produzir e veicu- lar publicidade extrapola, aos poucos, e cada vez mais, os veículos de massa tradicionais. O conceito que surge é de pontos de contato. Posto isso, as mídias sociais parecem ser um ambiente fa- vorável para a interação com o público-alvo, por meio de ações diferenciadas propostas pelas marcas, proporcionando, também, a viralização do conteúdo. Nos exemplos apresen- tados neste estudo exploratório, vimos que tecnologias como o RFID, utilizado no Real Life Like da Coca-Cola, agregadas à criatividade, podem resultar em soluções de comunicação que se destacam de tudo que vimos até agora. Em outros exemplos, como o da Máquina da Felicidade, também da Coca-Cola, percebe-se, entretanto, que a estratégia criada é baseada em elementos simples, mas, graças ao poder das redes sociais e da cultura colaborativa, a ação ganha grandes pro- porções e visibilidade em pouco espaço de tempo. O mesmo pode ser dito com relação às ações do McDonald’s, que não envolvem tecnologias recentes na sua execução, mas mesmo assim, conseguem o buzz por meio das mídias sociais. A abordagem da alegria, da felicidade instantânea que pode ser compartilhada e da diversão é percebida em todos os cases apresentados, com destaque para o The Fun Theory, que já traz a essência da proposta no próprio nome do projeto. 785 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Já o entretenimento e o Branded Content, são explora- dos de maneira muito eficiente na ação da Nike, com o clipe Umbabarauma, provando que se não há mais atenção do público para 30 segundos de conteúdo persuasivo, pode haver para 30 minutos de entretenimento proporcionados pela marca de maneira sutil. Como já comentado, este é apenas o início de uma pes- quisa e os cases foram selecionados pela sua pertinência e adequação aos temas propostos pelo artigo, que são cultu- ra digital, felicidade e entretenimento, elementos presentes isoladamente ou em conjunto, em todos os exemplos apre- sentados, que parecem ser uma das chaves para a conquis- ta da atenção desse novo público, tão disperso entre tanta informação, relevante ou não. Referências ADLER, Richard P.; FIRESTONE, Charles M. A con- quista da atenção: a publicidade e as novas formas de comunicação. São Paulo: Nobel, 2002. ADSOFTHEWORLD. Coca-Cola: Real Life “Like”. Disponível em . Acessado em 30 ago. 2011. ANDERSON, Chris. A cauda longa. 2.ed. Lisboa: Actual, 2007. BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transfor- mação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. COLORIBUS. Creative Advertising Archive. McDonald’s: Playland. http://adsoftheworld.com/media/ambient/cocacola_real_life_like http://adsoftheworld.com/media/ambient/cocacola_real_life_like 786 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Disponível em . Acessado em 30 ago. 2011. COMUNICADORES. Depois da “Máquina da Felicida- de” agora a Coca-Cola traz o “Caminhão da Felicidade”. Disponível em . Acessado em 02 set. 2011. COVALESKI, Rogério. Publicidade híbrida. Curitiba, PR: Maxi, 2010. DALMAZO, Luiza. Gamification: a vida é um jogo. Disponível em . Acessado em 28 ago. 2011. DORDOR, Xavier. Mídia/ Mídia alternativa: a escolha de uma estratégia global de comunicação para a empresa. São Paulo: Nobel, 2007. FLUSSER, Villém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naify, 2007. FURTADO, Beth. Desejos contemporâneos: Patchwork de tendências, idéias e negócios em tempos de paradoxos. São Paulo, Gouvêa de Souza GS&MD, 2008. I BELIVE IN ADVERTISING. McDonald’s: Piccadilly Signs. Disponível em < http://www.ibelieveinadv.com/2009/12/ mcdonalds-piccadilly-signs/>. Acessado em 29 ago 2011. INSIDE.NIKE. Umbabarauma (2010). Disponível em < http://inside.nike.com/blogs/sportswear-pt_BR/2010/06/10/umba- barauma-2010>. Acessado em 27 ago. 2011. ______. Umbabarauma: compre a música e ajude o Capão Redondo F.C. http://www.coloribus.com/adsarchive/outdoor/mcdonalds-playland-13940255/ http://www.coloribus.com/adsarchive/outdoor/mcdonalds-playland-13940255/ http://comunicadores.info/2011/02/22/depois-da-maquina-da-felicidade-agora-a-coca-cola-traz-o-caminhao-da-felicidade/ http://comunicadores.info/2011/02/22/depois-da-maquina-da-felicidade-agora-a-coca-cola-traz-o-caminhao-da-felicidade/ http://comunicadores.info/2011/02/22/depois-da-maquina-da-felicidade-agora-a-coca-cola-traz-o-caminhao-da-felicidade/ http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0997/noticias/a-vida-e-um-jogo http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0997/noticias/a-vida-e-um-jogo http://www.ibelieveinadv.com/2009/12/mcdonalds-piccadilly-signs/ http://www.ibelieveinadv.com/2009/12/mcdonalds-piccadilly-signs/ http://inside.nike.com/blogs/sportswear-pt_BR/2010/06/10/umbabarauma-2010 http://inside.nike.com/blogs/sportswear-pt_BR/2010/06/10/umbabarauma-2010 787 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España Disponível em < http://inside.nike.com/blogs/sportswear-pt_ BR/2010/06/14/umbabarauma-compre-a-m-sica-e-ajude-o-cap-o- -redondo-fc>. Acessado em 27 ago. 2011. JENKINS, Herry. Cultura da convergência. 2.ed. São Paulo: Aleph, 2009. LAYARD, Richard. Felicidade: Lições de uma nova ciên- cia. Rio de Janeiro, Best Seller, 2008. MASHABLE. How Coca-Cola created its “Happiness Ma- chine” [INTERVIEW]. Disponível em < http://mashable.com/2010/07/21/coke-happi- ness-machine/>. Acessado em 02 ago. 2011. MCDONALD’S - Playland (Australia). Disponível em . Acessa- do em 04 set. 2011. RECUERO, Raquel. A nova revolução: as redes são as mensagens. In: BRAMBILLA, Ana (org.). Para entender as mídias sociais. E-book, abril de 2011. p. 14-16. SALLES, Cecilia Almeida. Processo de criação nas mídias. In: CARAMELLA, Elaine; NAKAGAWA, Fábio Sadao; KUTSCHAT, Daniela; FOGLIANO, Fernando (org.). Mídias: multiplicação e convergências. São Paulo: Senac, 2009. p. 137-146. SYSLATER. Design Criativo. Máquina da Felicidade. Dis- ponível em < http://www.syslater.com.br/?p=1760>. Acessado em 01 set. 2011. THE FUN THEORY. Disponível em . Acessado em 28 ago. 2011. http://inside.nike.com/blogs/sportswear-pt_BR/2010/06/14/umbabarauma-compre-a-m-sica-e-ajude-o-cap-o-redondo-fc http://inside.nike.com/blogs/sportswear-pt_BR/2010/06/14/umbabarauma-compre-a-m-sica-e-ajude-o-cap-o-redondo-fc http://inside.nike.com/blogs/sportswear-pt_BR/2010/06/14/umbabarauma-compre-a-m-sica-e-ajude-o-cap-o-redondo-fc http://mashable.com/2010/07/21/coke-happiness-machine/ http://mashable.com/2010/07/21/coke-happiness-machine/ http://www.youtube.com/watch?v=G4xnReWwFDM http://www.syslater.com.br/?p=1760 http://www.thefuntheory.com/ http://www.thefuntheory.com/ 788 Panorama da comunicação e dos meios no Brasil e Espanha Panorámica de la comunicación y de los medios en Brasil y España WALSH, Mike. Futuretainment: yesterday the world changed. Now it’s your turn. [s/l]: Phaidon, 2009. YPSILON2. Publicidade + propaganda + marshmallows. Volkswagen anuncia o vencedor do ‘The Fun Theory Award’ Disponível em . Aces- sado em 30 ago. 2011. http://www.ypsilon2.com/blog/publicidade/volkswagen-anuncia-o-vencedor-do-the-fun-theory-award/ http://www.ypsilon2.com/blog/publicidade/volkswagen-anuncia-o-vencedor-do-the-fun-theory-award/